Poetas em cárcere de privado.

sábado, 3 de setembro de 2011

Semana passada, fui surpreendido pelo internauta Ivo Soares, poeta, morador há vários anos no Complexo do Alemão no Rio de Janeiro, mais conhecido como Goiano, que me enviou um Email dizendo ter lido alguns artigos meus publicados no jornal Diário da Manhã e no blog vanderlandomi gos.blogspot.com  Disse também que passa a maior parte do tempo bisbilhotando a internet,  principalmente quando se trata de crônicas, romances e poesias goianas. Encabulado, não me restou alternativa senão em homenageá-lo, mesmo me considerando um aprendiz de poeta. Lembrei-me de fatos pitorescos ocorridos naquele morro quando da invasão de policiais militares e aí fiz esta simples poesia, que intitulei “Poetas em Cárcere Privado”:

Na janela do lado de lá, tem um poeta
De lá ele vê a lua se esconder no horizonte.
Tem um poeta na janela do lado de cá.
Dali ele vê o sol nascer detrás dos montes.
Do lado de lá vê somente a penumbra da noite, silêncio fúnebre e estrelas cadentes.
Contrastando com a luminosidade do lado de cá imposta pelo sol bastante quente.
Do lado de cá ele não se vê o breu da noite, a lua, estrelas e constelações.
Do lado de lá,  somente a luminosidade lunar, criminalidades, desejos e emoções.
Do lado de cá o poeta vê barricadas, policiais protegidos por coletes e carros blindados
Do lado de lá o outro vê traficantes sobre as lajes com armas às mãos e descamisados
Do lado de lá atiram contra os policiais para intimidar
Do lado de cá vê a milícia subir o morro e o povo comemorar
Do lado de cá o poeta ainda pode ver a sua musa de sagitário.
Do lado de lá o outro também vê sua musa de aquário.
O poeta do lado de lá, em cárcere privado, pede para passar para a janela do lado de cá
Da janela de cá o poeta aceita, mas sai pesaroso para o cárcere do lado de lá
O poeta do lado de cá, assustado, vê pela janela, tiros se ecoarem e a lua se esconder no horizonte.
O poeta do lado de lá, agora vê a milícia subir o morro, gritos, e o sol nascer detrás dos montes.
Os raios solares queimam o rosto do poeta que era do lado de lá.
A penumbra e o silêncio da noite assustam o poeta que era do lado de cá.
O poeta que era do lado de cá sente saudade de sua musa de sagitário.
O poeta que era do lado de lá também sente saudade de sua musa de aquário.
O poeta antes de retornar para o lado de cá vê soldados pendurar a bandeira no pico do morro.
O poeta que era do lado de lá, deixa o cárcere e juntos, assistem feliz a comemoração do povo.

VANDERLAN DOMINGOS DE SOUZA é advogado, escritor, ambientalista. Presidente da ONG Visão Ambiental (www.ongvisaoambiental.org.br ). É diretor da UBE - União Brasileira dos Escritores.Escreve às quartas. Email: vdelon@hotmail.com BLOG: vanderlandomingos.blogspot.com.

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