Sonhos além do espelho...

terça-feira, 17 de março de 2015


Cheguei bastante cansado depois de uma passeata em prol de um Brasil melhor. Sentei-me num sofá e liguei a TV. Depois de uma canseira danada ainda tinha que assistir Ministros da Dilma falar sobre a mobilização ocorrida naquele dia 15 de março. Estiquei as pernas sobre o sofá e fiquei observado... Foi tanta balela, mentiras e cinismo que não conseguia dormir, deu-me insônia. Na maciez de um travesseiro fechei os olhos e comecei a contar carneirinhos, mas, desta vez, de tão cansado e chateado cheguei a contar mais de mil, pois só assim, conseguiria dormir. De repente me vi diante de um enorme espelho. Atônito, vi um corpo bizarro sendo todo espelhado. Era o meu corpo e de início uma imagem escura, mas eu não era um fantasma e desesperado, tentei empurrar o repugnante espelho, mas nada e o pior é que foram aparecendo imagens desagradáveis. Num repente uma cueca cheia dinheiro aparece, mas eram pequenas notas de dois reais. Ela estava pendurada numa parede atrás de mim e se refletia no espelho. Olhei o meu corpo e notei que não estava sem essa peça íntima a ainda usava calça jeans, camisa branca e gravata, desbotadas. Vi-me um ser totalmente sem elegância e mais, descobri que não era rico e morava numa casa cheia de rachaduras adquirida do programa “Minha Casa Minha Vida”. O espelho mostrava que eu tinha um nariz desproporcional, como o do Pinóquio. Então era mentiroso e observando mais, descobri que usava tapa-olho. Era pirata também. Pensei: Meu Deus! O que aconteceu comigo! Procurei freneticamente na escrivaninha a minha carteira de identidade para verificar se era daquele jeito, no entanto, achei somente o velho passaporte e naquele documento descobri que não era eu e nem goiano era. Lá constava que era nascido na cidade de Garanhuns em Pernambuco. Continuando com o rosto voltado para o espelho, também observei que ele já estava carcomido pelo tempo e aí me senti inconsolável, pois estava numa cadeira de rodas. Exclamei: Meu Deus, isso não é possível! Se eu estava com tanto pés de galinhas no rosto e numa cadeira de rodas, significava que  além de pobre, deselegante, velho, nariz grande, mentiroso, pirata e nordestino, era também deficiente físico. Claro que era impossível, dizia para mim mesmo: Poxa!  Além de pobre, deselegante, velho, nariz grande, mentiroso, pirata, nordestino, deficiente físico, nem goiano era, além de corrupto, improbo, ligado a uma facção criminosa chamada de “mensaleiros”, tudo graças a um recorte de jornal que encontrei jogado sobre o piso. Na foto, lá estavam eu junto com José Genoíno, Paulo e José Dirceu e outros. Noutra foto, uma edição mais recente de outro jornal, exposto sobre a escrivaninha, foi mais incomodativo ainda, pois vi a figura do ilustre Ministro do Supremo Joaquim Barbosa com o dedo em riste para mim, dizendo: Você está preso! Fiquei assustado, é claro, pois no texto escrito em letras garrafais, dizia que eu fazia parte do Conselho da Petrobras e era amigo do Paulo Roberto Costa e do Nestor Cerveró. Na foto estampada no jornal a Dilma dava gargalhada e detrás de sua mesa, uma foto do Lula pendurada na parede entre Hugo Chaves e Fidel Castro. Aquela cena foi demais para mim!

Passados alguns segundos, apareceu um homem bem vestido e me perguntou com uma voz meio rouca: Já contou o dinheiro senhor? Fiquei pasmo! Que dinheiro? Era a voz do Presidente da Casa da Moeda derrubado por suspeita de recebimento de propina. Vixe! Só me faltava essa! Logo onde se fabrica o papel moeda que chamamos de real. Com a voz embargada disse:

- Ó Deus!  Pobre, deselegante, velho, nariz grande, mentiroso, pirata, nordestino, deficiente físico, não era goiano, corrupto, improbo, ligado a facção criminosa denominada de mensaleiros, sussurrei: Agora estou frito de vez!

Desesperado, gritei diante do espelho, passei a mão sobre a cabeça e tive outra surpresa: Era careca e meio banguela! Alguém tocou a campainha, abri a portas e apareceu uma mulher com uma pasta preta debaixo do braço, que antes de entrar na sala foi logo dizendo:

- Vim te avisar que você deve devolver os cartões corporativos porque o seu perfil não se enquadra dentro do nosso padrão, aprovado pela FIFA, e ainda por cima, você está desempregado. Estupefato, fiquei olhando aquela figura e comecei a gaguejar, mas pasmem: era a Ideli Salvati, mulher forte do Palácio do Planalto. 

Que merda! Nem cartão tinha! Além de não ter cartão e nem uns míseros trocados, também estava desempregado. Tentei explicar a aquela senhora o quanto era difícil encontrar trabalho no Brasil, principalmente quando se é pobre, deselegante, velho, nariz grande, mentiroso, pirata, nordestino, deficiente físico, não goiano e corrupto, improbo, ligado a facção criminosa denominada de mensaleiros, careca, banguela, gago e desempregado. Chateado com aquela figura metida, tentei fechar a porta com a única mão, pois na outra, tinha um dedo decepado quando tentei ser aprendiz de torneiro mecânico e bastante contrariado, fui até a janela olhar a paisagem e vi centenas de barracos ao meu redor. Senti uma pequena parada no marca-passo e uma leve tontura, pensei: Poxa! Além de pobre, deselegante, velho, nariz grande, mentiroso, pirata, nordestino, deficiente físico, não ser goiano, corrupto, improbo, ligado a facção criminosa denominada de mensaleiros, careca, banguela, gago e desempregado, descobri, que além de maneta e favelado, usava marca-passo e sentia tonturas.

Comecei a passar mal e sentir calafrios, situação que me obrigou a ir até ao guarda-roupa para pegar uma camisa para trocar e novamente outra surpresa: quando abri a gaveta encontrei duas camisas vermelhas bastante encardidas com o símbolo do PT e MST. Só podia ser sacanagem! Resmunguei... Entrei em surto, pois além de pobre, deselegante, velho, nariz grande, mentiroso, pirata, nordestino, deficiente físico, não ser goiano, corrupto, improbo, ligado a facção criminosa denominada de mensaleiros, careca, banguela, gago e desempregado, maneta, favelado, usando marca-passo, sentir tonturas e calafrios, e ainda, ser cabo eleitoral do PT e diziam que eu tinha invadido a fazenda de Eunício. Aí foi demais! Então questionei: Não sou cabo eleitoral, não sou eleitor do PT, nem invasor de terras, nem possuo lotes no Jardim da Paz ou no cemitério Jardim da Palmeiras, e esse tal de Eunício não é Garanhuns?

Naquele momento alguém passou detrás do espelho e que já tinha feito um saboroso café da manhã apareceu brava e disse repetidas vezes, e em voz alta: 

- Francenildo!!!  Vamos!!! Acorde! Mas eu não era o Francenildo, aquele trabalhador que denunciou e foi injustiçado em Brasília. Mas se eu não era o Francenildo, nem conhecia a bela Rosemary Noronha, nem fazia parte do dossiê dos aloprados, da CPI dos Correios, dos escândalos do Ministério dos Esportes, do Mensalão, ou da corrupção Petrobras e nem era funcionário fantasma porque tinha em mãos documentos que provavam a minha disposição e frequência junto ao gabinete de um Deputado. Quem era eu então? Mais um grito ensurdecedor que levanta até defunto ressoou nos meus ouvidos: Cara! Levanta-te, pois já terminou a entrevista dos Ministros há várias horas. Já passa da meia noite. Amigo leitor foi um tremendo susto! Num sobressalto, abri os olhos e meio desorientado disse a mim mesmo: Cruz credo! Onde estou? Com o suor descendo pelo rosto olhei pra minha mulher e disse: Que bom você me acordar, estava tendo um sonho e me via diante de um espelho. Ufa! Que alívio! Levantei-me rapidamente do sofá, olhei através da sacada do meu AP e realmente a cidade adormecia e não se ouvia mais os panelaços e buzinaços, então, naquele instante, percebi que tudo não passara de um sonho ou pesadelo sei lá, e aí murmurei baixinho dizendo: Graças a Deus! Moral da história: Às vezes não é a gente que olha para o espelho, é ele que olha pra gente e na escada da vida somos todos meros reflexos daquilo que realizamos cotidianamente, mas quando se trata de sonhos, a imagem do espelho às vezes pode vir invertida.



0 comentários:

Postar um comentário

 
Vanderlan Domingos © 2012 | Designed by Bubble Shooter, in collaboration with Reseller Hosting , Forum Jual Beli and Business Solutions