Uma "viagem" para além das Cantareira e Tietês...

segunda-feira, 2 de março de 2015

Vejo a imprensa escrita e televisiva noticiar sobre o problema de escassez de água por falta de chuvas sabe lá. Como sei que muitos discutem sobre qual a real situação em que está levando a mudança dos padrões climáticos e regimes de chuvas, então questiono: Porque não se fiscaliza o desmatamento da Amazônia e de outras regiões do País? Porque não se plantam mais árvores nas cidades? Porque não se fiscaliza a agricultura responsável por imenso consumo de água? E o desperdício de águas nas ruas? Porque permitem a especulação imobiliária sem precedentes e a invasão de áreas de preservação ambiental e de nascentes? O problema do Brasil é na origem e não no uso, agora estamos mudando o padrão climático do sudeste para semi-árido, pode isso?

Hoje, estupefato com tantas notícias ruins sobre falta de água que diz originar da escassez de chuva, resolvi fazer uma viagem para além de mais além das Cantareira e dos poluídos “Tietês”. Nem pensei muito e como a um pássaro, aventurei-me por brenhas selvagens, já banhei nas águas calmas do Araguaia, do Babilônia, do Turvo, do Verdão, do Rio dos Bois, do Corrente e até do rio Meia Ponte, hoje poluído; pesquei lambaris em suas águas piscosas, entreguei-me a amassos imaginários do tempo, ora entrelaçados pela luz tênue do sol, ora pelo pela lua, que retalhavam os galhos de árvores milenares; mergulhava, emergia e imergia naquelas águas profundas, num vai e vem inesquecível. O rio, eu e minha canoa imaginária, assim como as cintilantes luzes dos astros estelares, seguíamos céleres, enfrentando curvas, recepcionando brisas vindas de outros rincões e sob o cantar dos pássaros, mostrávamos a aqueles que passaram e viveram o amor, que naquele local jamais existiria seca, poluição ou a brusquidão do quente asfalto. Aos incautos, o rio sempre dizia que as aves que lá gorjeiam jamais irão para mais além, onde o ser humano poderia aprisioná-las e fazê-las ouvir o ruído infernal de suas máquinas insones.

Os rios e eu íamos para além de mais além, onde a natureza jamais mostraria sua verdadeira face, onde não se ouvirá suspiros nem gemidos, onde não se veriam cidades incharem e o povo passar sede; onde não se respirariam o mesmo ar do ser humano; onde seguiria navegando sobre o seu próprio leito, suscitando sons inebriantes, poéticos, sob o silêncio sombreado das árvores que debruçam sobre suas águas límpidas e deleitam em suas rústicas margens. Momentos de uma viagem nostalgia me fez recordar de coisas obscuras impregnadas no meu cérebro há tempos, e com emoção à flor da pele, restou-me quedar diante daquele ambiente místico e esquecer-se dos sustos da cidade, da escassez de água, das enfermidades, da violência, da criminalidade e dos cotejos de morte.

Naquele recanto aprazível tentava fugir do real, da verdade noticiada sobre escassez de água que nada mais é que um evento climático de grande magnitude que está afetando vários Estados com o deslocamento das massas de ar do Pacífico, as quais se encontravam com as massas de ar do pólo sul e norte. Uma viagem para fugir da realidade, encaixotar de vez minhas ansiedades, aflições e sensações oriundas de um mundo profano e de certa forma, procurar entender a própria existência do homem no universo que diante das adversidades climáticas continuará sendo apenas uma gota de orvalho e não terá mãos firmes e limpas para levantar aos céus e pedir ajuda a Deus, pois rapidamente ela se evaporará sob os raios de sol. Não importa se vamos mais além para ouvir e assistir o nascer de um novo amanhã, e ou se por extrema necessidade, termos que usar asas para voar no afã de visualizar nesse amanhã um novo amanhecer, vermos o meio ambiente preservado, assim como a fauna a flora, e principalmente, o reflorestamento de áreas próximas às mananciais pelo fato de que a erosão é um problema muito grave, que vemos acontecer em várias regiões de nosso País e estes rios são normalmente os culpados pelas enchentes e causadores enormes de buracos e crateras, tanto no sertão como nas cidades.

Mas, enfim, vejo o sol se pôr no horizonte entregando-me a lua que já nascia soberba detrás da densa mata. Não obstante o palco mostrado pela natureza se diversificasse a cada momento, observava que o rio seguia seu rumo e eu o acompanhava com olhar complacente de um admirador. Era óbvio que ele precisava também de chuvas, pois no seu caminho encontraria em suas margens banco de areias que antes não existiam, erosões, desbarrancados, serrados ingentes, mortos, e mais além, queimadas praticadas pelo próprio homem. O fogo atiçado sobre o capim e galhos secos torna suas chamas ardentes, implacáveis, os quais, silenciosos, quedariam esbatidos sobre a terra que chora de dor. Por mais que procurasse me aquietar naquele voo insano, sem asas, não conseguia ficar indiferente e como ambientalista, precisava agir não obstante saber que a vida humana é cheia de contrastes em relação ao ambiente em que vive. A sua ação devastadora acordou-me, devolveu-me ao mundo real, mas deixaram impregnados em minha memória imagens surreais, mistérios e mitos contados por moradores ribeirinhos para que eu pudesse soltar pequenos flashes arquivados, onde poderão ser revelados os níveis insuportáveis de desmatamentos, revelarem a falta de cuidado com as nascentes dos rios, a falta de fiscalização com relação agricultura e agroindústria, não deixando de citar logicamente violência, a corrupção generalizada, o descrédito absoluto da classe política, o apagão ético e moral, acrescentando-se nessas revelações, as agruras que o cidadão vem enfrentando, impotente, sem ter a quem recorrer. A sociedade está órfã e foi este fato me fez “cair na real” e “viajar” em busca de um mundo incógnito, para além daquilo que o rio e suas águas podem oferecer.

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