Detrás da sombra de nossos sonhos

sábado, 9 de abril de 2016


Tempos idos os pais não se preocupavam se o seu filho poderia sair sossegado, à noite, assistir filmes e shows musicais; andar sem medo pelas calçadas, pois naquele tempo não existiam pivetes, assaltantes, usuários de drogas e traficantes. Não se importavam com a filha que ia a pé ou de ônibus até a escola ou outro destino qualquer?! Nem celular tinham! Naquele tempo, ao lado de uma agitação que era considerada como normal tudo acontecia sem grandes sobressaltos. A televisão que era em preto e branco, não mostrava cenas horripilantes como hoje e são repetidas sem a anuência do telespectador, tudo em nome da mídia. Adultos e adolescentes caminhavam pelas ruas de madrugada, sem medo de serem felizes, cantavam para as estrelas e nem ouviam os roncos de motores, buzinas ou latidos de cães. A cidade era pacata. Hoje tudo é diferente. E pra pior, é claro! Podemos enumerar uma série de vantagens, mas na certeza de que o sol hoje não brilhará como antes. As fumaças que saem das queimadas, chaminés, veículos, sobem aos céus e tapam-lhe os seus olhos flamejantes. O céu, que outrora se apresentava estupidamente azul, claro e limpo, hoje se encontra coberto de poeira e gases carbônicos, produzindo o efeito estufa que a deixa ruborizado. As nuvens, nem se fala, quando caem, trazem borrascas inesperadas e incontidas.

Ainda me lembro dos dias em que passeava nos parques, provando deliciosas maçãs do amor, pipocas e o famoso refrigerante Grapette, à sombra das árvores que o tempo permitiu crescerem e hoje, pela insensatez humana, muitas foram derrubadas e em seu lugar, construíram famigerados parques de diversão, prédios e condomínios de luxo. Quanto bem fazia aquela sombra fresca durante o solstício de verão que parecia querer esconder detrás dela os meus sonhos de menino.

Fora daquele parque dos sonhos vivia o autoritarismo e a ditadura. Talvez fosse verdade e até ocorria poucos casos de homicídios e crimes hediondos, mas já passaram alguns anos e hoje o que mais há são esses acontecimentos. Vivemos num país onde o crime acontece todos os dias e em toda a parte. Assaltam-se bancos explodindo caixas eletrônicos, assaltam postos de gasolina, e roubam dos seguranças mal treinados e levam suas armas; estupram crianças e ainda constatamos a existência de rixas entre gangues e de crime organizado; filhos matam pais e vice versa; mulheres são espancadas pelos maridos e pessoas são assassinadas sem pena ou dó e o criminoso, insensível, parece sentir prazer de ouvir o gemido do desafeto; assaltam-se carros de valores e ninguém é culpado de nada. O que se nos dá a conhecer é o outro lado da questão. Empolga-se o caso deste ou daquele criminoso estar doente, ter sido atingido por uma bala ou saber a razão pela qual aconteceu ter-se atingido mortalmente um rapaz que estava associado a um assalto. Só falta começarmos a defender os criminosos e condenar os que sofrem na pele às arbitrariedades dos assassinos e assaltantes.

Ninguém se sente seguro em lado algum. Já não falo de políticos e afins, pois esses andam sempre com guarda-costas. Tem grana para pagar e o pior, é que sai de nosso bolso. Por outro lado, é justo pararmos no sinaleiro e ter receio de um assalto e ainda dar dinheiro ao elemento para alimentar o seu vício. Temos consciência de que muitos caixas de banco são explodidos no Brasil e com a maior das facilidades. Eles nem se preocupam. O banco está com apólice de seguro e ainda quem paga o prejuízo somos nós. Podem notar que tudo o que é mal acontece ao Brasil, e rapidamente. O pior é que ninguém faz nada. O combate deveria ser eficaz, rápido, duro e desmotivador para quem estivesse a pensar fazer alguma malandragem. A segurança é urgente e necessária. Não podemos andar numa insegurança total pelas ruas das cidades, esperando ser atacado por alguém que sabe nada vai lhe acontecer, mesmo que seja apanhado. Pagam uma mísera fiança e fica solto. A impunidade não pode ser prêmio de criminosos, não importa qual seja o crime.

Afinal onde está a segurança? Que País é este que de um dia para o outro se transformou de tal forma que mais parece uma penitenciária, onde existe um amontoado de gente e tudo acontece. Mata-se, estupra-se, droga-se, corrompe-se, invadem terras, prédios abandonados, matam, destroem propriedades ninguém se importa ou interfere. E o Poder Público onde está? É com muita pena que tenho de admitir que detrás da sombra de meus sonhos parecesse existir um amontoado de sentimentos frustrantes, depressões, desamor, confrontando-se com sentimentos de amor, amizade, paz, todos eles comuns à humanidade como a um todo, e o fio êmulo, resistente, que talvez ainda os unam no espaço sem luz ocupado por um corpo opaco, todos deveriam se agarrar e ao serem amparados pelo bastão da benevolência, procurar encenar no palco da vida um novo modelo para sociedade para que ela se torne mais justa, humana e fraterna... Aliás, se isso não acontecer, nem o sol e a lua voltarão a brilhar como antes e as árvores milenares morriam mesmo com as chuvas de verão.



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