Lápides, mensagens que vão além de mais além...

domingo, 11 de setembro de 2016

Dia 11 de setembro de 2001, ocorreu um atentado terrorista no Estado Unidos onde destruiram as torres gêmeas World Trade Center causando a morte de milhares de pessoas. Ao relembrar essa data concluo que a memória se reacende e traz de volta à vida o homem e sua conduta, mesmo que lhe reste apenas o pó dos ossos sob a lápide. Hão de se convir  que no campo santo todos os mortos se tornam iguais, exceto a memória que deixam. Hoje, a maioria das famílias que visitam os locais ou o campo santo assim o fazem para reverenciá-los, enaltecer suas qualidades e até matar a saudade que deixaram, assim como, em respeito às suas obras sociais, ao trabalho que realizavam e ao amor que ainda paira na lembrança de cada um. No campo santo não são enterrados somente pessoas, mas também sonhos. Homens e mulheres que passaram rapidamente pela terra e outros, mais afortunados, que viveram muito sobre ela. Nas lápides vemos representados sonhos e projetos que não foram realizados, vemos nomes de crianças que foram levadas prematuramente, e por mais capricho em que elas foram feitas de nada adianta, pois os corpos estão a sete palmos dentro da terra. São impressos nas lápides nomes de ricos e pobres, de pessoas boas ou más, mas o que resta é apenas a lembrança. Vê-se, então, em cada lápide, que a morte não respeita idade, nacionalidade, posição social, pois quando menos se espera ela chega para todos sem pedir licença.

O campo santo torna-se um lugar da memória porque ali cada lápide é uma imagem que enclausura um objeto de representação social ou familiar. E a presença dos parentes e amigos não só traz o significado do respeito e da fé religiosa como também o da mudança que se opera em todos os homens e mulheres diante da inflexibilidade da morte. Torna-se também lugar de oração, culto e reflexão. Defuntos de todas as classes sociais estão enterrados nele. É um local freqüentado por pessoas de todo tipo, que expressam seus sentimentos das mais diversas maneiras, inclusive, já vi pessoas serem homenageadas com pompas fúnebres pela ilibada conduta pessoal e profissional que tiveram, assim como já vi impropérios, pessoas jogando pedra em cadáver só porque tinha sido contaminada pelo Césio 137.

Embora já não represente mais tanto mistério nem incuta mais tanto medo, o “campo santo” esteja onde estiver é apenas mais um dos tantos aparatos urbanos encravados e irremovíveis que chegam a causar muitos problemas para as administrações municipais. Principalmente os de natureza ambiental, porque o corpo apodrecido polui densamente os lençóis freáticos das suas redondezas, algo semelhante quando combustíveis como óleos ou gasolina penetram no subsolo. Não obstante isso, a homenagem aos mortos passa a ser um acontecimento um tanto quanto banalizado pela força do capital que se instaura em qualquer lugar, seja onde for. Lá se vê de tudo, de alimentos, velas e flores. Alguém vai sempre lucrar com isso. E como a morte rende… Não é à toa que cada vez mais aumenta o número de vendedores e de produtos diversificados nas proximidades das necrópoles. Não é à toa que o comércio abre suas portas mesmo sendo feriado.

Segundo a cultura judaica, “as lápides não podem ser ostentosas, feitas com pedras caras. Baseiam-se, para isso, no texto de Salomão, que diz: “O rico e o pobre se encontram; a todos o Senhor os fez” (Pv 22.2), cujo conteúdo remete à igualdade social diante da morte.” “O hábito de construir lápides nos túmulos remonta aos dias dos patriarcas hebreus, quando Jacó erigiu uma lápide à sua mulher, Raquel: “E Jacó pôs uma coluna sobre a sua sepultura; esta é a coluna da sepultura de Raquel até o dia de hoje” (Gn 35.20). A construção de uma lápide é importante, pois simboliza o respeito pelo morto. Tinha a função de evitar que o sacerdote, involuntariamente, mantivesse contato, ainda que por meio do túmulo, com o morto, visto que ao sacerdote era proibido tocá-lo. Além disso, serviria para identificar o local, facilitando sua visualização aos visitantes. Contudo, a decisão de construí-la é livre.” (fonte: icp.com.br”

Muitas pessoas querem deixar uma frase derradeira gravada numa lápide. Acham que alguém em visita ao túmulo vincularia o morto à frase. Por isso imaginam uma frase que causasse um bom efeito naquele momento. Talvez a importância dessa frase esteja em pensar nela, pois, pensar nela é estar vivo. Interessante este modo de pensar, mas pra mim não, porque acho que ela vai além de mais além. A melhor frase que carrego todos os dias é aquela que impregnei em meu coração: o amor e saudade da pessoa amada que se foi para outra dimensão. Na lápide, todo o ano eu ajoelho, oro e coloco sobre ela um buquê de flor.


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