A teia do destino

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Costumeiramente, vou à sacada para olhar o vazio da rua. Certo dia, de repente, eu me senti extasiado diante da grandeza do universo e dos enormes prédios que circundava o meu. Olhei para o infinito e observei milimetricamente cada detalhe que o compõe e notei que todos fazem parte da teia que rege o universo, cada um com seu destino e importância. Era tanta beleza que um sorriso brotou em meu rosto, meus olhos brilharam diante do ambiente místico e um charme especial foi trazido pelo vento que adentrou e se misturou como se ele fizesse parte de uma orquestra cheia de mistérios. E, toda vez que estou na sacada eu me mostro ao mundo da forma que sou e o mundo me mostra a forma que ele é, e aí me extasio diante do brilho do sol que também penetra trazendo sua quentura, mas o céu queria encantar-me mostrando todo o seu esplendor, o vento que fazia parte desse universo soprava suave trazendo fragmentos de amor que saiam das teias do destino em direção ao meu peito e tudo se transformava em sorrisos, entre eu e ele. O ambiente místico parecia desabar, mas boquiaberto e olhando para a teia do destino, declarava que amava tudo ao meu redor

Em certo momento vi a saudade chegar, sentar junto comigo numa pequena mesa exposta na sacada. Olho com certa tristeza para o infinito e emudeço, esperando, que ninguém chegasse a ouvir de meus lábios um grito de saudade mesmo que tivesse sobre a mesa uma bebida impregnada de sabor. Não tinha nada e nem bebia qualquer coisa continha álcool, pois traria mais saudade. Peguei uma folha de papel, uma caneta, comecei a rabiscar e notei que ninguém estava lá para me azucrinar. Dei uma pausa e naquele mesa pensei na tal saudade, depois, de cabeça baixa eu comecei a juntar os escritos, ou rabiscos, sei lá. Foram horas e horas para que eu pudesse definir sobre o porquê daquela saudade e porque ela estava ali diante de mim. Perguntei a mim mesmo: Será que é mania de poeta criar coisas assim para ter a satisfação de decifrar o que sente, pois à saudade vinha em forma de poesia. Era um final de tarde, nem fria ou chuvosa, mas deixava o meu coração triste e solitário. Submergido numa teia de pensamentos e reflexões, mas imbuído de ir à busca do impensável, de compreender e aceitar a realidade que me circundava quedei-me diante do meu desabafo interior na tentativa de afugentar tudo aquilo que vinha da teia universal que de certo modo controlava o meu destino e trazia muitas incertezas.

Com a caneta na mão e a poesia no coração, constatei que nem tudo era só saudade que se impregnava em mim, mas também a alegria. As magoas corroboravam na formatação de rimas que se espalhavam no quadriculado papel, versos sobre amor que já não valiam mais, mas sempre deixava algo para me machucar. Rabiscos e mais rabiscos enchiam a esbranquiçada folha, se misturavam, se convergiam, nascia mais um poema, mas o poeta e sua caneta, nem sabia se a dor era à toa, ou se era de verdade, se era poesia ou poema, se alguns versos podiam magoar alguém, Então a saudade e poeta juntos naquela sacada se tornaram partes de uma moeda de pouco valor comercial, a tinta incrustada na caneta pouco valia, somente o papel rabiscado e cheio de poemas tinha o seu valor. Valor que o poeta não contabiliza e nem soma a eles sua dor, pois faz parte do seu jeito de pensar e escrever.

Sempre existirá um mundo repleto de inocência quando se tratar do olhar infinito de uma criança, por isso, acredita-se que existe algo diferenciado quando se vê coisas originárias da teia do destino, ocorrendo um contraste de revelações pelo que podemos continuar sendo. É fato que o amor é inevitável quando tudo é frágil, mas, todavia, admiramos a fortaleza dos sentimentos que guiam os bons. Quando se trata de envelhecimento a juventude demonstra certo desequilíbrio, porque estão cercados de escolhas, pelas quais o mundo é confuso na sua lógica.  Ensiná-los cedo a distinguir o caminho e que o futuro é uma sombra de fatos, continuamente o que se faz a cada dia e, não importa se for no amanhecer, na noite, nas horas que mudamos o senso da virtude, tudo estará no lugar de espera. 

Olhando para a teia que cobre o infinito ou coordena o destino de cada um, esse limite do olhar ultrapassa o improvável e sempre rouba o nosso tempo e o pensar empobrece a certeza.  Essa teia esconde nossas dores e os segredos vagam por um mundo sem respostas, culpando o passado, como abrir um álbum de fotos repletos de rostos, talvez com semblantes de saudade e remorso, que nos intriga e instiga à realidade e a comparação da felicidade. O olhar fora do alcance, seja no espaço das ilusões, seja numa fila interminável, sem saber quem é o primeiro ou o último; uns e outros indo para lugares certos expressando sorrisos, imbuídos de esperança, e tudo aquilo que jamais traria o desassossego ou brincar com o que não se tem.

Olhando pela sacada rumo ao universo infinito como eu sempre faço, sem os insultos do silêncio de ontem, sei que diminuo o meu sofrer, todavia, a fragilidade de existir entre o que é eterno e mortal, às vezes posso ter trazido desde a infância até ao envelhecer. Sentir na pele as mudanças, sentir na mente os pensamentos as lembranças, sentir na atitude de escrever alguns arrependimentos; porque destes, somos de uma complexidade de corpo inspirado pela alma. Então, devemos remanejar a teia que controla nosso destino, deixá-la livre, assim como a nossa vida e as expressões que se tornaram ociosas. 


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