Amigo leitor (a)

Amigo leitor (a). Quando lemos um livro, ou qualquer texto, publicados ou não, que são sinônimos do prazer, por mais simples que forem, sejam reais ou surreais, nos permite exercitar a nossa memória, ampliar nossos conhecimentos e nos faz sentir as mais diversas emoções, por isso, sensibilizado, agradeço a sua visita ao meu Blog, na esperança de que tenha gostado pelos menos de um ou que alguns tenha tocado o seu coração. Noutros, espero que tenha sido um personagem principal e encontrado alguma história que se identificasse com a sua. PARA ABRIR QUALQUER CRÔNICA OU ARTIGO ABAIXO É SÓ CLICAR SOBRE O TÍTULO OU NA PALAVRA "MAIS INFORMAÇÕES. Abraço,Vanderlan

Goiânia e o escriba, do sonho à realidade.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013



Goiânia que completou 80 anos, de alguma forma, há tempos vem fazendo parte de minha vida, e de alguns anos para cá, venho me transbordando alegria, aos pouquinhos, e isto é o que me importa. Neste dia festivo, ao passar diante da estação ferroviária e caminhar pelas calçadas parecia ouvir as goteiras daquele tempo e no intervalo de cada uma, senti-me interpelado por um vozerio, sons estridentes de buzinas ou roncos de motores que me azucrinavam os ouvidos e tiraram-me os momentos de nostalgia. Não sei se deveria dizer agora, mas desde os tempos idos quando caminhava por aquelas ruas poeirentas do bairro popular jamais pensava em coisas vãs ou divagava com o pensamento alhures e caprichos imaginários como deixo transparecer hoje. Não sei realmente o porquê, mas hoje basta uma faísca de tristeza para que tudo ao meu redor se torne absolutamente questionável. Queria ter as certezas e os sonhos de antes. Se os realizei plenamente ou não. Naquela época, era um menino simples, sonhador, esperto, tão esperto que pensava saber todas as respostas – o conforto da superficialidade. Hoje, com os cabelos procurando a brancura, mais experiente e cabeça pensante, ainda fico na dúvida se estou pronto para ouvir perguntas, assim como, a capacidade para reportá-las. Mas de certa forma, ligo, se a razão está ou não comigo.

O tempo passou, o tempo voou e durante essa caminhada sempre procurei me adaptar a alguma coisa palpável, certa, correta, legal. Todos. Eu, você, nossos amigos e amigas, o pobre coitado do moto taxista que detesta dias chuvosos tem que adaptar a intempéries do tempo, afinal, em realidades um tanto quanto diferentes, e é óbvio, queremos basicamente a mesma coisa dos dias que vem e vão: a paz.

A minha escola primária não era tão simples descrevê-la. Uma construção de alvenaria e telhas francesas, pronto! Todo mundo sabia exatamente o que eu queria dizer. E se não entendesse, sempre colocava no desenho um texto poético, infantil. E ela nem precisava de fato parecer uma escola. Era só rabiscar as folhas de caderno e um quadrado com portas, janelas, uma pequena cerca, uma árvore e um quintal – a folha do papel já era branca, então não precisava pintar as paredes, pois eu gostava do branco. Depois do primário veio o ensino médio no glorioso Liceu de Goiânia e nas aulas de português e história das quais mais gostava, a paz virou o contrário de guerra. Era a revolução que se avizinhava. Um conflito entre dois poderes, o governo federal e as forças armadas que disputavam bens naturais e o próprio poder. Meu professor dizia com tanta convicção, que eu nem pensei em contestar. Então tá! Para chegarmos à paz é isso, tem que haver guerra. Que loucura!

Há tempos que procuro não falar muito e esconder coisas até de mim mesmo. É uma luta interna. Preciso sempre ir até o final, mesmo que esse seja um caminho solitário. Dito isso, até parece besteira, mas ainda tenho dificuldades de lidar com os meus próprios sentimentos de outra forma, mas estou tentando. Tenho medo de me corromper ou ser corrompido, por isso, como simples escriba, procuro exercitar as palavras "lisura" e "retidão" dia a dia. Medo de me tornar vulnerável claro que tenho, mas sempre me desvencilho. Medo de compartilhar a confiança que me resta também, mas este resquício de confiança eu partilho, porque acredito em quem está do outro lado. 

Parece mais fácil quando deixamos o mundo saber o quanto é difícil hoje ser bom, honesto, não ter medo da realidade, mas fazê-los pensar que existe um culpado não nos torna inocente. Somos donos dos nossos próprios medos, de toda a insegurança acumulada, escolhas e também dos receios que a vida nos fez ter. Armaduras ou grades nenhuma nos protegem de nós mesmos. Ou seja, tudo isso infelizmente não significa que conseguiremos controlar essa bagunça social em forma de insônia ou ansiedade, mas nos mostra que se trata de uma pendência interna que antecede qualquer promessa feita e desfeita.

O tempo passa e voa e às vezes não deixa rédeas para que possamos segurá-lo. As memórias vão fazendo uma trança nos fios de cabelo da nossa história. Carregamos ali um pouco de tudo e todos que conhecemos – a parte madura e também a parte podre. Transferimos manias, conhecimento e afeto por aí. Até que um dia as antigas músicas servem de trilha sonora para novos momentos; as palavras que um dia penetraram em nossos ouvidos hoje são usadas sem a mesma ternura numa mesa de bar, assim como aquele cheiro jasmim impregnado no travesseiro desaparecer por completo. Será que nós continuamos os mesmos?  Será que eles continuam os mesmos? Entretanto, este questionamento não quer dizer nada, pois não se trata de um jogo de sete erros – é muito mais.

Por fim, pense se sua vida fosse um ônibus. Eu diria que seríamos todos passageiros da agonia. Alguns descem mais cedo. Outros nos fazem querer mudar de lugar. Ora, em alguns momentos ficamos distraídos olhando através da janela, noutros, só queremos jogar um pouco de conversa fora para o trajeto parecer mais curto. Às vezes adormecemos sem querer num ombro de um desconhecido, e às vezes, fechamos os olhos por querer ou medo de enxergar o imprevisível, pois o pior cego não é aquele que não vê, e sim, aquele que finge não enxergar o previsível. Mas, com o olhar absorto ou não, o importante é não deixarem de sonhar e continuarem com a mesma vontade de chegar a algum lugar.

Encaminhado ao Diário da Manhã, para publicação no dia 30 de outubro.

Festa da cultura em Goiás

segunda-feira, 21 de outubro de 2013



As mãos mágicas do artista do barro, da pintura, e outras, também baluartes da cultura e literatura em Goiás, foram homenageados com Diplomas e o Troféus no dia 15 de outubro findo, durante a XIV Coletiva de Escultores e Pintores, realizada na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, promovida pelo Instituto Cultural Movimento Santuário da Arte em Goiás, com a participação da Academia Goiana de Letras; da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás; da UBE – União Brasileira de Escritores e do Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais. 

Sabemos que a arte é uma forma de o ser humano expressar suas emoções, sua história e sua cultura através de alguns valores estéticos, como beleza, harmonia, equilíbrio. A arte pode ser representada através de várias formas, em especial, na escultura, na pintura, no cinema, entre outras. De outra parte, após o seu surgimento, há milhares de anos, a arte foi evoluindo e ocupando um importantíssimo espaço na sociedade, haja vista que algumas representações da arte são indispensáveis para muitas pessoas nos dias atuais, como, por exemplo, a pintura e a escultura, que são capazes de nos deixar boquiabertos diante de quadros e peças trabalhadas com mãos mágicas que massageiam o barro e argila trazendo pura magia e expressões surrealistas, que nos deixam atônitos, encantados. Eles, pendurados ou não em paredes ou expostos em galerias de arte, funcionam como uma distração e nos fazem esquecer nossos problemas cotidianos. É um jeito especial que o artista usa para expressar com as mãos o que imagina do mundo real ou surreal.

Muitas pessoas dizem não ter interesse pela arte ou por movimentos ligados a ela, porém o que elas não imaginam é que a arte não se restringe a pinturas ou esculturas, também pode ser representada por formas mais populares, como a música, o cinema e a dança. Essas formas de arte são praticadas em todo o mundo, em diferentes culturas. Quanto a essa Coletiva promovida pelo Instituto Cultural, depois que muitos se enveredaram pelo mundo das crônicas, poesias e romances, é importante observar que essas coisas não se governam, elas tomam conta da gente e fazem a gente sonhar com o possível e o impossível. Tem gente que nunca pintou quadros ou fez qualquer escultura, nem por brincadeira, mas, de alguma forma, queria ter um “gostinho” de pelo menos, pintar o rosto de sua amada. Os artigos, crônicas e poesias escritas semanalmente em jornais por grandes escritores e articulistas, também é uma arte que muitas vezes nos trazem o espanto, um sentimento corriqueiro ou um acontecimento inusitado que pode abalar a sociedade em razão de sua contundência. Essas pessoas quando escrevem no seu habitat, devem gostar do silêncio porque ele faz viajarem no mundo da imaginação e o barulho, por menor que seja, espantam-nos, tiram deles a máquina imaginária que poderia trazer, no último flash, uma resposta plausível à sociedade. A Arte é uma coisa imprevisível, é descoberta, é uma invenção da vida. E quem disser que fazer poesia, escrever uma crônica ou um romance é um sofrimento, está mentindo: é bom, mesmo quando se escreve sobre uma coisa sofrida. 

Quanto aos “mecenas” da escultura e da pintura, hoje tão brilhantemente representados em Goiás pelo mestre Elifas Modesto, me desculpem queridos artistas, mas a arte está em toda parte e, por mais simplórios que possamos ser, por mais embrutecidos que venhamos a ser, cada um de nós tem a noção da beleza e a arte atua em nossa vida, nas suas mais variadas formas. Todas elas são necessárias, porque é só através da arte que o homem inventa o mundo em que vive e todos nós estamos em maior ou menor grau, dependentes dela. Observem que o homem do sertão, que por si só, já é um artista por natureza, pois quando ouve o cantar dos pássaros sabe que já é época de acasalamento ou de alçar os primeiros voos ou quando se reúne em volta da fogueira para contar seus causos de saci, onça pintada, vampiros, quadrilha, festa junina, folclore, que nada mais é do que a reinvenção da vida através da beleza da arte.  

Todos nós artistas sabemos que a arte trabalha com outros elementos que não a razão. Ela não quer agradar, ela não busca o agrado, ela busca um sentimento que nos tire do chão, que nos leve para um lugar onde não frequentamos nos nossos dias comuns; ela nos entorta a cabeça, nos faz pensar, e às vezes, duvidar de tudo aquilo que presenciamos a olho nu. A vida, comum, não é o suficiente, deve-se procurar algo além dela, pois se ficar parado, mesmo que metaforicamente, é o primeiro passo rumo à morte e isso o artista não almeja.  Se o artista optar apenas pela sobrevivência e não pela expressão máxima do que é o prazer pela própria vida de nada adianta uma bela escultura sobre o jardim ou lindo quadro na parede. A arte, abstrata ou não, nos move, nos eleva e nos transporta a um mundo surreal, e é graças a ela que viajamos em busca do improvável e isto nos deixa encantados e fascinados pela vida.

Publicado no Diário da Manhã, edição do dia 23 de outubro de 2013

O grito silencioso da primavera.

domingo, 13 de outubro de 2013




Numa certa tarde caminhei por uma estrada que serpenteava no meio das plantações de milho ainda sem pendo e folhas caídas, e depois, mais adiante, me embrenhei por entre um canteiro de flores todas nativas criadas pela própria natureza, esparsas, alinhadas à beira de outra estrada brindada por um pé de Ipê cujas flores transformavam o chão num tapete colorido que resistiam as intempéries do tempo. À medida que a fazendinha ficava mais próxima, a estrada ia se tornando mais retilínea e até certo ponto monótona. Nem o canto dos pássaros se podiam ouvir, pois não existiam árvores, todas foram derrubadas para plantação daquele imenso milharal.  

No silêncio daquelas estradas, alguns transeuntes passavam usando roupas parecidas, com trejeitos iguais, penteados semelhantes, atitudes repetidas e sorrisos melancólicos. Deviam ter saído daquelas palhoças construídas perto de uma mata fechada que deixei para trás. A uniformidade era tanta que me deixava confuso. Uma igualdade unissex que fazia desaparecer o quanto possível a distinção entre homens e mulheres. Pareciam seres de outro planeta, mas não eram, pois alguns usavam chapéu e baforavam ao ar uma fumaça preta que saíam de cigarros de palha.

Não se ouviam cumprimentos entre si, nem conversas, mas não eram mudos. Tentava interpretar cada ação, cada movimento deles, porém, observei que, para eles parecia não existir a manhã, tarde ou noite, mas não eram sonâmbulos e nem robôs. Tinham pernas, braços, um corpo como o nosso, mas, sentia que eram realmente estranhos. Um alô podia servir para qualquer fase do dia ou para qualquer pessoa conhecida, amiga, ou até para os que se viam pela primeira vez, mas, passavam mudos e mudos seguiam seus caminhos.

O trânsito de pessoas, pouco a pouco, foi se acumulando quando cheguei a um cruzamento de estradas vicinais e não era um estrangulamento qualquer. Era muita gente e esquisitas mesmo! Saíam de todos os lados. Algumas se moviam lentamente, outras paravam, e depois, andavam sem compasso, e preguiçosamente, mais adiante, paravam novamente. Aquilo me deixava atônito. Uns iam voltavam levando e trazendo nos braços machados e motosserras. Outros, com trouxas nas costas seguiam sem rumo em busca do improvável. As estradas, ora serpenteadas, ora retilíneas, pareciam ter sido construídas para loucos, mas eu não era louco e o que eu estava fazendo lá? Depois pensei: Poxa!  Esqueci que sou poeta e dizem que todo poeta tem um pouco de louco, ainda mais quando se procura sinais de primavera para captar inspirações e escrever loucuras poéticas. A impaciência buzinava no meu ouvido direito e do outro lado, a outra, talvez mais paciente nem respondesse, mas, as impacientes entraram para tumultuar, até se formar uma zoeira danada de vozes roucas, acompanhadas de sons estridentes de motosserra e berros metálicos que vinham da  única mata sobrevivente.

De repente, silêncio total. Tudo parado. De novo a impaciência nervosa e a paciente protestaram em conjunto. De novo responderam as vozes roucas e os berros metálicos que protestavam e se multiplicavam. Parei. Pensei e lembrei-me de quando era um menino inocente e sonhador, que criava frases às vezes sem nexo, mas, embebido do amor extraído daqueles quintais e campos floridos sequer sabia, que existia entre medo e emoção o gosto do pecado e a certeza da paixão... Lá, eu ouvia às vezes, nas madrugadas silenciosas, o canto de um Curiango, não tão longínquo que era logo respondido por outro. Ora, o outro, então, era um galo que cantava e a quem logo respondia, como num eco, um cocoricó distante, esganiçado e simpático de um galinho novato e aprendiz, que eu chamava de Barnabé. E de novo o silêncio caía sobre a gente como um cobertor macio, o cocoricó..., se esticando, se esticando, perdendo-se num adormecer suave e brumoso em que se misturavam a realidade e o sonho.

Hoje já não há mais galos, nem o barulho do monjolo, nem bramidos de bois ou latidos de cachorros distantes. O vaqueiro e o agregado não deixam. Nem há mais quintais e nos campos não nascem flores. O arado, a sujeira e a praga tomaram conta de tudo. Não se pode mais criar galinhas livres se existir galpões de perus. É proibido e dizem que contaminam. É a liberdade de um galpão e o extermínio de galos e galinhas. O cocoricó também é proibido. Que silêncio! Perdemos a alegria harmoniosa do canto nostálgico de Barnabé! E que suavidade e doçura a sua voz nos acalentava ao amanhecer. Que despertar festivo e triunfante ele nos dava, principalmente naquelas manhãs primaveris.

Como era belo o seu canto rouco que transcendiam o imaginário. Parecia saber colocar cada nota e sabiamente relacionada com outras que repetia com maestria e eco de sua voz cortava o espaço daquele rincão levando saudades e nostalgia a outros recantos. Notas musicais, uma diferente da outra, tudo em ordem, sem cacofonia, sem igualdade.  E por falar em igualdade, também, conclui-se que os homens são assim. É a desigualdade que permite ordená-los e harmonizá-los. Cada pessoa é como uma pequena nota no concerto da humanidade. Cada nota é necessária e tem uma beleza particular. Por menor que ela seja, por menos que ela dure, coopera para a beleza do concerto. Cada homem, por menor que seja, tem uma beleza própria que lhe advém de ser o que ele é, um reflexo, uma imagem de Deus, diferente dos outros.


Esta é a beleza e este valor pessoal que constituem a personalidade e que dão dignidade a cada um. Cada homem é único e tem em sua alma uma beleza própria. E é com essa beleza pessoal e única que cada um contribui para a beleza maior do conjunto, para o grande concerto da humanidade, que Deus compôs com sábia ordenação, com sapiencial desigualdade. Meu Deus! Tenho que deixar esta estrada que não me leva a nada e recordar deste concerto que me traz saudade, do galo Barnabé e da harmonia do seu canto! E que saudades dos ipês multicoloridos, das flores que ornamentavam os quintais, das ribanceiras e dos campos cuidados zelosamente pelos nossos ancestrais. Quando voltarão a cantar os galos, os bem-te-vis, os sabiás..., e ao anoitecer, o curiango, naquele cerrado íngreme? Quando voltará a verdadeira primavera? Quando voltará a se ouvir na terra o concerto da humanidade?

Crônica enviado ao Diário da Manhã para publicação no dia 16 de outubro de 2013.

O menino que queria ser imortal

sábado, 5 de outubro de 2013



Era um menino pobre de periferia que queria ser imortal como o super-homem. Via filmes, lia gibis, ficava deveras deslumbrado com aquele homem voando na velocidade da luz, vestido de um uniforme vermelho com uma insigne no peito e uma imensa capa a salvar o povo americano, só que o dos Estados Unidos. Mas, ele, naquele pequeno rincão queria ser imortal como aquele personagem americano, mas, dada a sua situação financeira não conseguiria aquela roupa e acreditava que sem ela não poderia voar. Pensava. Mas, sonhava em voar e alto, mesmo sendo um sonho impossível. E voou. Só que no mundo imaginário, mas voou e foi longe até o infinito, mesmo sabendo que ele não tinha fim. A escrita o fez voar e criar seus próprios personagens, alguns, imortais igual ao super-homem. Usando as asas da imaginação como forma de alertar o leitor percorreu também o céu de sua vida e durante o voo pode vislumbrar momentos de desespero em face dos desastres naturais provocados na terra pelo homem. E foi  através dessa viajem  imaginária, observando os erros e acertos em várias partes do mundo, não chegou a nenhuma conclusão satisfatória em relação ao ser humano, mas, imbuído do desiderato de bem informar aos seus leitores e de haver encontrado ao longo dessa “viajem” o amor e verem realizados alguns sonhos, às vezes com pesados  pedágios, e que, mesmo se usasse as asas da imaginação, sabia que iam dificultar ao homem alcançar outros sonhos e objetivos antes de chegar ao final da viajem.

 O corpo daquele menino tornou-se uma imensa livraria e seu cérebro um verdadeiro dicionário que foi colocado em estantes suntuosas formando junto com o tempo, um universo cheio do saber e aqueles que gostam de ler hoje fazem uso delas e às vezes, acreditam serem imortais como ele e fazer parte de sua história, mesmo sabendo ser surreal.

É comum vermos nas livrarias algumas pessoas para satisfazer seu ego comprarem livros apenas pela beleza da capa, sem pesquisarem o índice e conteúdo dos mesmos; muitas pessoas avaliam os outros pela aparência externa, pela capa física, sem considerarem a parte interna. Outras procuram livros com títulos bombásticos, sensacionalistas, histórias de terror ou romances profundos por mera indicação lobista. São assim as pessoas: existem aquelas que buscam sensacionalismos baratos, dramas alheios ou apenas um romance profundo ou rasteiro. Em síntese, posso dizer: Somos homens livros lendo uns aos outros. Podemos ficar só na beleza da capa ou aprofundarmos nossa leitura até as páginas vivas do coração. A capa pode ser interessante, mas é no conteúdo que brilha a essência do texto. O corpo pode ter uma bela plástica, mas é o espírito que dá brilho aos olhos. Também podemos ler nas páginas experientes da vida muitos textos de sabedoria. Depende do que estamos buscando na estante. Podemos ver em cada homem livro um texto espírito impresso nas linhas do corpo. Deus colocou sua assinatura divina ali, nas páginas do coração, mas só quem lê e entende o interior descobre isso. Só quem vence a ilusão da capa e mergulha nas páginas da vida íntima de alguém, descobre seu real valor, humano e espiritual e daí, todos nós possamos ser bons leitores e conscientes de estarmos lendo uma bela obra. É bom que nas páginas de nossos corações, possamos ler uma história de amor profundo; é salutar que em nossos espíritos possamos ler uma história imortal e que, ao abrir o livro e manusear as páginas possamos ler nas entrelinhas visualizadas no brilho dos olhos e na luz de um sorriso a graça da vida em todas as suas dimensões. E que, sendo bons leitores, possamos nos tornar imortais, possamos ser leitura interessante e criativa nas várias estantes da livraria de nossas vidas, pois somos homens livros que algumas vezes escondemos na região recôndita de nosso cérebro muitas sabedorias que não gostaríamos de serem expostas ou lidas. A capa amassa e as folhas podem rasgar, mas, ninguém amassa ou rasga as ideias e sentimentos de uma consciência imortal. O que não foi bem escrito em uma vida poderá ser bem escrito mais a frente, em uma próxima existência ou mais além... Mas, com toda certeza, a sua história ou daquele menino escritor que se tornou famoso e que foi para outra dimensão, cujas obras, de tão grandiosas, vivem após a sua morte, e claro, o tornou imortal, as quais foram publicadas pela editora da vida e colocadas na estante terrestre ou em qualquer outra estante que porventura existir.

Artigo enviado ao Diário da Manhã, para publicação no dia 09 de outubro.

 
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