Amigo leitor (a)

Amigo leitor (a). Quando lemos um livro, ou qualquer texto, publicados ou não, que são sinônimos do prazer, por mais simples que forem, sejam reais ou surreais, nos permite exercitar a nossa memória, ampliar nossos conhecimentos e nos faz sentir as mais diversas emoções, por isso, sensibilizado, agradeço a sua visita ao meu Blog, na esperança de que tenha gostado pelos menos de um ou que alguns tenha tocado o seu coração. Noutros, espero que tenha sido um personagem principal e encontrado alguma história que se identificasse com a sua. PARA ABRIR QUALQUER CRÔNICA OU ARTIGO ABAIXO É SÓ CLICAR SOBRE O TÍTULO OU NA PALAVRA "MAIS INFORMAÇÕES. Abraço,Vanderlan

Um homem chamado Indio.

sábado, 3 de setembro de 2011

Na selva de pedra, pessoas e veículos se misturam nas ruas e quando elas     voltam os olhos para os lados, não vê nenhum sinal de pássaros, frutos silvestres e árvores para amenizar do calor emitido pelos raios solares que caem sobre o rosto já carcomido pelas intempéries do tempo. Só muros e gradis. Mas naquele galpão, diante de um amontoado de pessoas carentes que esperavam receber o ticket de leite, o jovem Nilson Candido Teixeira imaginava ter às mãos um tacape, um arco preso às costas e nele flechas pontiagudas para intimidar uma a uma, mas, para sua surpresa, no meio delas, apareceu uma bela cara pálida que o deixou extasiado. O coração abrandou-se e ficou feliz por aquele momento, pois viu abreviado um desejo que só Deus saberia qual o fim. Estupefato diante de tanta beleza, Nilson baixou seu arco imaginário, prosternou-se naquele salão e sentiu o coração disparar e ser perfurado pela flecha do destino que passou tão veloz quanto o vento, para no final, ainda meio atônito, ser amparado pelos braços ternos de Lucrécia.
Este jovem humilde, líder comunitário, ambientalista por natureza, porque em suas veias corre sangue indígena; brasileiro que tem fé no amanhã, que acredita nas pessoas e que, muitas vezes, no afã de protegê-las, é obrigado a agarrar-se num cipó imaginário, sem arco e flecha, voar com o auxílio do vento e célere, passar rente à selva de pedra que o rodeia e mais adiante, descer sereno sobre casas humildes de periferia com o desiderato de levar esperanças àquele povo sofrido. Momentos como este não se repetem facilmente nesta paisagem urbana bucólica e só mesmo usando o mundo da imaginação para conseguir o seu intento. Mas, ele, um destemido preservador da natureza, mesmo de cabelos grisalhos, ainda consegue mostrar ao homem branco o quão é importante zelar pelo planeta terra. Hoje, sem pés descalços, ainda sobe em árvores e colhe seus frutos ou simplesmente brinca com um pequeno mico num bosque qualquer da cidade.  Nos longínquos rincões, toma banho em cachoeira e explora trilhas desconhecidas e que só ele grande guerreiro consegue enxergar. Ao ver tudo que o ele realiza, às vezes, penso que a selva de pedra engoliu o que nós tínhamos de melhor: a nossa essência.

O que me apraz a escrever sobre ele é que já vivenciei e vivencio uma experiência como defensor da  natureza: Nela nunca me sinto só, mas numa cidade sinto-me como estivesse no deserto. Porque é assim que eu sinto a diferença entre o viver numa cidade ou embrenhado na natureza e o que assistimos numa cidade, é a intoxicação social e a perda de valores humanos. O que adianta viver rodeado de pessoas, se elas não utilizam a comunicação, para simplesmente dizer bom dia, boa tarde e boa noite. Hoje a nossa vivência é “robótica”. Fora da selva de Pedra percebemos uma magia de sons, cores, que provoca a quem  assiste, uma mística de pureza misturada com alegria e felicidade. Para aqueles que nunca tiveram como experiência esta “gratuita emoção”, certamente não irão saber distinguir o sentido da vida com a sua   própria realidade. Quando vislumbramos a natureza no topo de uma montanha, respiramos ar puro, ficamos maravilhados com a deslumbrante vista, os caudalosos rios, vales, planície, florestas e um enorme conjunto de tipos variados de árvores e plantas que se esparramam pelo cerrado.
A medalha de honra ao mérito é o reconhecimento a uma luta incessante, a uma tenacidade, a um trabalho desenvolvido em prol da comunidade carente, ou para alguém que luta contra os desmandos e a insensatez humana em destruir a natureza. Mas, Nilson Candido Teixeira teve seu dia especial. Vestindo a caráter como exige o figurino de solenidade, pegou novamente o seu cipó imaginário, voou e desceu na cidade de Goiás para receber a Medalha de Mérito Anhanguera pelos relevantes serviços prestados ao Governo de Goiás. Esta pessoa agraciada e merecedora todos chamam de Índio.
            
VANDERLAN DOMINGOS DE SOUZA é advogado, escritor, ambientalista. Presidente da ONG Visão Ambiental e diretor da UBE - União Brasileira dos Escritores. Escreve as quartas-feiras. Email: vdelon@hotmail.com e vanderlan.48@gmail.com.             

Torquato e a Pinguela

Torquato era um pequeno agricultor solteirão. Depois de meditar muito sobre a melhor maneira de atravessar o rio, já que a única ponte de madeira ficava a cinco quilômetros de sua casa, resolveu construir uma pinguela sobre ele.  Do lado de lá, de vez em quando, ele via passar uma linda mulher, corpo esbelto, pernas torneadas e cabelos castanhos caídos sobre os ombros. Um colírio para os seus olhos. Aqueles momentos mais pareciam um sonho e a construção da pinguela talvez o acordasse para a vida e o ensinasse a viver dias melhores.

Sabendo que a travessia era insegura e a sensação de não conseguir alcançar a outra margem poderia ser sentida a cada passo, mesmo assim não titubeou, cortou uma enorme árvore que ficava às margens do rio e a ponta cheia de galhos caiu do outro lado. Aparou os galhos e tirou as lascas como se fosse um escultor. Pronto! Estava construída a formosa pinguela. Ficou observando-a, chegou bem perto do barranco, olhou para baixo e sentiu-se como se estivesse num prédio de quatro andares e depois, lembrou-se que além do medo de altura sofria de labirintite. Entretanto, para quem sentia medo e não tendo alternativa, se viu obrigado a enfrentar a sensação da travessia, até porque precisava  encontrar aquela mulher.
Passados alguns anos visitei o Torquato e numa tarde quente de verão, enquanto o sol se escondia no horizonte, fiquei observando atentamente aquela pinguela e aí me veio à mente que a nossa vida está repleta de momentos semelhantes. Muitas vezes somos forçados a atravessar situações difíceis, sem  nenhuma    segurança e equilíbrio. Muitas vezes pensamos até em retroceder ou sentar a margem daquilo que achamos impossível construir. O impossível no mundo de hoje é sobreviver ou viver em linha reta, avançar e superar obstáculos. A menos que a opção seja por não amadurecer e não crescer, mas sabendo que ultrapassar obstáculos faz parte do itinerário de qualquer ser humano. Chegará o dia em que será necessário que levantemos nossos próprios voos e experimentemos novos ares, pois somente conseguem sucesso quem  avança, independentemente da situação em que se encontram como foi o caso de Torquato que enfrentou o seu medo e pode alcançar na outra margem o seu grande amor.
Vivemos num mundo de altos e baixos, mesmo para aqueles que se dizem seguros quando chegam ao ponto final.  Na estrada da vida muitas vezes somos quase que obrigados a passar por algumas “pinguelas” que balançam nossa estrutura interior. Damos alguns passos, chegamos a vacilar e muitas vezes nem damos    conta de que não há consistência quanto à direção a ser seguida, não obstante sabermos da necessidade de ir adiante mesmo não tendo toda a certeza e segurança necessárias para alcançar o que almejamos. Quando conseguimos passar pela pinguela da vida e pisar em solo firme é sinal que vencemos os obstáculos, superamos nossas limitações e sentimos mais leves e fortalecidos. A nossa vida é cheia de “pinguelas” e não adianta a gente querer se desviar delas, pois elas surgirão ao seu tempo e quando surgirem, nada de receio e ansiedade, pois, depois do esforço empreendido, vem a alegria de ter alcançado o lado de lá, como aconteceu com Torquato.

VANDERLAN DOMINGOS DE SOUZA Advogado, escritor e Diretor da UBE – União Brasileira de Escritores e articulista do Diário da Manhã. E-mail: vdelon@hotmail.com

Retalhos de luz no fim do tunel.

Naquele quarto frio, iluminado por uma pequena lamparina, parede construída de puro adobe, porta com tramelas, crianças desnutridas, amontoadas em pequenos colchões, vislumbra-se a figura angustiada de um homem trabalhador a espera de dias melhores e da realização de seu maior sonho: ter sua casa própria.

Anestesiado pela dor que pune as paredes estomacais pela falta ingestão de alimentos, aquele trabalhador possuído por uma impropriedade mundana corroída  pelas intempéries do tempo, ainda consegue assistir na sua pequena TV em preto em branco, os  sussurros, maledicências e descrições  metafóricas das sandices.  Assiste estupefato o ato onde um governador deixa o seu Estado em penúria, que mais    parece uma cena de filme de ficção, e em tom conspiratório, abandona o palácio pelas portas do fundo, mostrando uma desfaçatez absurda e curiosa que não se limitam a própria esfera de seu infortúnio político.
Não mais suportando estas decepções que a vida nos prega, tento corroborar a tentativa fajuta de escape de minha circunstância natural refutada pela aversão ontológica daqueles que escarnecem do eleitor, do trabalhador, do honrado, do honesto, do... Aqueles que se esbravejam diante das minhas minúcias; aqueles inescrupulosos desguarnecidos em seu próprio habitat, que fugidamente retroagem aos gêneses dos ritmos das marchas fúnebres. Tudo parece posar na personagem maculada dos observadores mais atentos, a figura de  um rosto-preguiça  sentado em poltronas de anos de maledicências, mostrando uma silhueta disposta ao ridículo.
Naquele rosto desguarnecido de qualquer compostura e respeito ao funcionário público estampado na primeira página do jornal, se vislumbra uma profunda abstração em forma de pintura de escárnio, tal como aquela dor que sobe por nosso estômago e que muitas vezes nos levam ao vômito.
Ainda bem que ele se foi. Hoje respiramos melhor a nossa dor e contraímos nossos músculos de moralidade e respeito à coisa pública. Retornamos a um novo tempo, tempo do trabalho, da recuperação do crédito    perdido, do pagamento em dia e  na certeza de que todos já se sentem felizes e capazes de visualizar retalhos de luz no fim do túnel antes mesmo que estas linhas sejam denotadas de melancolia e decepção.
 
VANDERLAN DOMINGOS DE SOUZA
Advogado, escritor e Diretor da UBE – União Brasileira de Escritores.
E-mail: vdelon@hotmail.com

Prevaleceu a justiça, caiu a mordaça e a censura imposta no Diário da Manhã

A mordaça é um objeto que se tapa a boca de alguém para que não fale e não grite enquanto que a censura é formada por uma corporação incumbida do exame de   obras submetidas à censura, e sinteticamente, podemos dizer que é uma repreensão. Pois bem, na edição do dia 11 de agosto findo, fiquei estupefato com o título estampada na capa: LIMINAR TENTA IMPOR CENSURA AO DM. O pedido de liminar feito pelo Partido Comunista Brasileiro, que considerei estapafúrdio, ineficaz e sem consistência jurídica se esbarrou no  princípio constitucional do direito onde se deve reinar a democracia e a liberdade de expressão, liberdade essa há muito tempo implantada no Diário da anhã, o qual , jamais deixou de  publicar matérias ou dar  tratamento igualitário a candidatos ou partidos políticos, tendo inclusive aberto espaço para a população se manifestar através do quadro “Opiniões”, cujos textos são publicados na íntegra.

A infeliz iniciativa desse Partido político não ia prosperar senão vejamos: para o jornal publicar atéria da candidata era necessário que ela fizesse chegar à redação do Diário da Manhã a sua agenda ou quaisquer notícias sobre o seu trabalho de campanha na Capital ou interior. O jornal, por se tratar de uma empresa formadora de opinião pública não podia e não pode fabricar notícias só para agradar a candidata do PCB, Marta Jane, que por sinal, só sai na mídia quando os jornais publicam pesquisas eleitorais. A falta de divulgação alegada pela candidata apenas caracterizou falta de agendamento de visitas nos bairros da Capital e cidades do  interior, e data vênia, como advogado, escritor e líder comunitário não vejo nenhuma propaganda eleitoral dessa candidata nas ruas de Goiânia, e por sinal, só vim conhecê-la e saber de sua    candidatura a Governadora quando li alguns dias atrás, notícias sobre sua pessoa no próprio Diário da Manhã.  Por outro lado, não se podia alegar que o DM estava divulgando de forma escancarada os outros candidatos, uma vez que o volume de notícias se equivale ao próprio trabalho desenvolvido pelos candidatos, situação ao que parece não ser o caso da candidata Marta Jane, cujo questionamento nos fez entender que a sua candidatura era apenas para forçar a divulgação do seu nome na mídia, para se tornar conhecida e nas próximas eleições municipais sair candidata a vereadora. Isto é comum nos partidos nanicos.

A mordaça ou a censura podem atacar diretamente a essência da democracia e revesti-la da forma do vale tudo, em molde de ralho constante, não fundamentado, intrusivo, maledicente e por vezes constrange-dor. É essa forma de censura que alguns apelidam de liberdade de expressão que queriam  impor ao Diário da Manhã. Defendendo o meu direito à indignação em relação ao pedido feito pelo PCB, que tanto questionou sobre censura no Brasil, finalizo dizendo que ela e a mordaça, quando praticada pelo denunciante somente no  sentido de  “aparecer” perante a opinião publica, pode este ato impensado virar contra aos que se dizem  prejudicados, ou simplesmente, o feitiço virar contra o feiticeiro, e foi o que realmente aconteceu, pois prevaleceu a justiça com a derrubada da liminar e a mordaça imposta ao Diário da Manhã agora jaz  inócua e definitivamente arquivada no sistema virtual da justiça.

VANDERLAN DOMINGOS DE SOUZA. Advogado, escritor e Diretor do Dpto. Jurídico da UBE – União Brasileira de Escritores. E-mail: vdelon@hotmail.com

Poetas em cárcere de privado.

Semana passada, fui surpreendido pelo internauta Ivo Soares, poeta, morador há vários anos no Complexo do Alemão no Rio de Janeiro, mais conhecido como Goiano, que me enviou um Email dizendo ter lido alguns artigos meus publicados no jornal Diário da Manhã e no blog vanderlandomi gos.blogspot.com  Disse também que passa a maior parte do tempo bisbilhotando a internet,  principalmente quando se trata de crônicas, romances e poesias goianas. Encabulado, não me restou alternativa senão em homenageá-lo, mesmo me considerando um aprendiz de poeta. Lembrei-me de fatos pitorescos ocorridos naquele morro quando da invasão de policiais militares e aí fiz esta simples poesia, que intitulei “Poetas em Cárcere Privado”:

Na janela do lado de lá, tem um poeta
De lá ele vê a lua se esconder no horizonte.
Tem um poeta na janela do lado de cá.
Dali ele vê o sol nascer detrás dos montes.
Do lado de lá vê somente a penumbra da noite, silêncio fúnebre e estrelas cadentes.
Contrastando com a luminosidade do lado de cá imposta pelo sol bastante quente.
Do lado de cá ele não se vê o breu da noite, a lua, estrelas e constelações.
Do lado de lá,  somente a luminosidade lunar, criminalidades, desejos e emoções.
Do lado de cá o poeta vê barricadas, policiais protegidos por coletes e carros blindados
Do lado de lá o outro vê traficantes sobre as lajes com armas às mãos e descamisados
Do lado de lá atiram contra os policiais para intimidar
Do lado de cá vê a milícia subir o morro e o povo comemorar
Do lado de cá o poeta ainda pode ver a sua musa de sagitário.
Do lado de lá o outro também vê sua musa de aquário.
O poeta do lado de lá, em cárcere privado, pede para passar para a janela do lado de cá
Da janela de cá o poeta aceita, mas sai pesaroso para o cárcere do lado de lá
O poeta do lado de cá, assustado, vê pela janela, tiros se ecoarem e a lua se esconder no horizonte.
O poeta do lado de lá, agora vê a milícia subir o morro, gritos, e o sol nascer detrás dos montes.
Os raios solares queimam o rosto do poeta que era do lado de lá.
A penumbra e o silêncio da noite assustam o poeta que era do lado de cá.
O poeta que era do lado de cá sente saudade de sua musa de sagitário.
O poeta que era do lado de lá também sente saudade de sua musa de aquário.
O poeta antes de retornar para o lado de cá vê soldados pendurar a bandeira no pico do morro.
O poeta que era do lado de lá, deixa o cárcere e juntos, assistem feliz a comemoração do povo.

VANDERLAN DOMINGOS DE SOUZA é advogado, escritor, ambientalista. Presidente da ONG Visão Ambiental (www.ongvisaoambiental.org.br ). É diretor da UBE - União Brasileira dos Escritores.Escreve às quartas. Email: vdelon@hotmail.com BLOG: vanderlandomingos.blogspot.com.

O triste fim de Ítalo Pezão.

Olhei rumo à janela e vi penetrar por entre o vão resquícios de luz do sol que    penetravam  entre  as frestas das cortinas  despedindo-se do quarto frio. Algo   inesperado aconteceu e deixou-me estupefato. Uma coisa surreal. Foi como se eu estivesse vivenciando o aparecimento de uma força invisível, talvez almas penadas vindas de outra dimensão, incompreensíveis à sensibilidade humana, que se aproximaram como que querendo demarcar num espaço mórbido de um beco uma peça teatral, onde entre utópicos e poesias cheias de falta de amor alguém  tentava encenar naquele palco imundo  o  seu último ato e o jovem Ítalo, um menino de rua que todos chamavam de Pezão,  era o personagem principal.

Olho fixo, semblante preocupado comecei a analisar a situações que ele deve ter passado durante os seus minguados anos de vida, dos maus tratos recebidos durante sua existência e pelas implacáveis intempéries do tempo que lhe deixou marcas profundas no rosto. Jovem, inteligente, que em razão de decepções amorosas sofridas deixou a Universidade e se enveredou pelo mundo profano.  Tornou-se dependente químico e andava pelas ruas, maltrapilho, calça caída sobre a bunda. Corpo franzino corroído pelo uso de drogas e da cola que cheirava para enganar a fome e que, em certos momentos, na falta dela, alimentava-se apenas da ilusão dos desejos mal contidos, que lhe trazia a dor e decepções sofridas no dia-a-dia. Os conselhos e esforços empreendidos pelos familiares e amigos não o sensibilizava mais. As drogas e as más companhias eram mais fortes e o fazia seguir o caminho do mal. O seu semblante, quando recebia migalhas de pão e pequenos afagos de transeuntes tornava-se angelical e até abria o seu coração para falar dos pequenos sonhos e daquilo que almejava conquistar, mas a droga sempre o tirava do caminho da retidão e o desviava para um caminho sem volta.

Quantas ruas e becos ele percorreu para se saciar-se da cocaína e do crack.  Saber que pessoas não paravam para escutar  os seus apelos e que, levadas pelos ventos da insolência sequer se solidarizavam, e outras, viravam as costas e sequer lhe estendiam as mãos.  Mesmo assim, dotado de uma força incomum e equilíbrio no trato com as pessoas não esmorecia, e deitado debaixo das marquises, tentava, ante ao seu infortúnio, procurar entender o porquê quando as pessoas passavam pela calçada parecerem perdidas, e ao querer se aproximar dele, ficavam sempre com medo de encará-lo. Se aproximasse e ouvissem saberiam o que ele fazia para sobreviver às noites sombrias e à solidão. Com o pensamento absorto e olhos tristes voltados para um ponto qualquer do quarto, lembrei-me do último suspiro do jovem Pezão, como era chamado pelos outros meninos de rua. De repente uma espécie de gelo revirou o meu ser e os meus pensamentos tentaram se aflorar na região recôndita de meu cérebro no afã de me tornar um testemunho do amor que ele, antes de se drogar, dedicou à família, e por outro lado, tentar entender o motivo de sua peregrinação pelo mundo das drogas, pois possuía boas condições financeiras e tinha um mundo brilhante à sua volta. Hoje, ao dedilhar o teclado do computador e embasado numa análise fria constatei que enquanto alguns meninos enrijeceram a musculatura do coração com o temor travado de emoções impacientes, outros, como o Ítalo, sequer aceitaram enxergar a nobreza dos laços verdadeiros que jamais iria desfazer-se diante dele que, antes de se drogar, procurou  caminhar com dignidade pela estrada da vida e que de modo algum merecia estar ali,  inerte, abandonado pela família e pela sociedade. Naquele beco poeirento e frio, com o corpo estirado sobre o chão, talvez com o pensamento voltado para sua amada Natália, emitiu o último suspiro e expirou.

VANDERLAN DOMINGOS DE SOUZA é advogado, escritor, ambientalista.   Presidente da ONG Visão Ambiental e diretor da UBE - União Brasileira dos Escritores. Escreve todas as quartas-feiras. Email: vdelon@hotmail.com e vanderlan.48@gmail.com

O oportunista

Tinha um sujeito na pacata cidade de Cabribó que se acomodava a quaisquer circunstâncias para se chegar mais facilmente a um resultado que lhe favorecesse. Sentado num  pequeno banco de madeira ao lado da Câmara de Vereadores, usando gravata sobre a camisa social  branca  e calças  jeans desbotada,  assistia a tudo,  sempre atento a pequenos detalhes. Ouvia todos os dias a gritaria dentro da Câmara, pois naquela semana estavam discutindo sobre impedimento do Prefeito em face de  irregularidades praticadas na Prefeitura, ainda assim, ele ficava ali impassível. Algumas pessoas que passavam pareciam lhe nutrir uma justificável raiva e a outras ele despertava certa simpatia desinteressada, entretanto, continuava ali, como quem não queria nada, geralmente disfarçado de executivo. Escutava o debate, anotava alguma coisa e levava para o Prefeito que em contrapartida lhe oferecia algumas “benesses”.

Quando jogava futebol no campo de terra da fazenda Bambuzal se achava um atacante nato e a palavra oportunista era para ele o maior elogio. Só o atacante podia ser oportunista e esse mérito ninguém lhe tirava. Tinha tanta certeza que nem corria, ficava o tempo todo parado na área até que uma bola o procurasse, com um lançamento em profundidade feito por um meia-esquerda ou cruzamento perfeito de um ponta-direita. Fazia alguns gols para que o resto time não viesse a odiá-lo. Um dia resolveu se candidatar a vereador por pelo seu Partido que era adversário do outro candidato a Prefeito, o qual, antes mesmo de iniciar a disputa, começou a liderar as pesquisas eleitorais e aí Carlão não titubeou, passou a apoiar o candidato adversário no afã de conseguir mais tarde, caso não fosse eleito, um cargo melhor ou ser mantido no atual.  Na realidade aquele oportunista não se importava com os mexericos que corriam de boca a boca e nem para as notícias divulgadas incansavelmente pelo pequeno jornal da cidade. Ele simplesmente esperava a oportunidade lhe procurar, como a bola o procurava naquele campo de terreno batido.
Moral da história: A nossa política atual está parecida com aquela do sujeito oportunista, pois pessoas que antes eram adversárias, hoje ao verem o candidato vitorioso, descem do muro, procuram os jornais para  manifestar apoio e até falam mal de seus companheiros de Partido para sustentar sua tese de apoio; outras saltam de seus pára-quedas e descem sobre a arena palaciana como se fossem anjos. Como instrumento de defesa, entendo que o candidato eleito deve pegar uma peneira recheada de razão e balançá-la rumo ao vento da verdade para que possam cair sobre a terra somente aqueles que abraçaram a campanha desde o início, sem medo, podendo-se, claro, incluir aqueles líderes competentes que, sem mechas de traidores, sem práticas de politicagem e de forma desinteressada, tiverem condições de colaborar de modo efetivo, eficaz e zelosamente com o novo Governo, principalmente quando este assume um dívida  astronômica deixado de forma irresponsável pelo governo anterior. É hora de todos se unirem.

VANDERLAN DOMINGOS DE SOUZA. Advogado, escritor e diretor jurídico da UBE – União Brasileira de Escritores. E-mail: vdelon@hotmail.com

O mosquito terrorista pegou dengue.

Terminada a crônica intitulada “ESTRELAS QUE NÃO SE APAGAM” que seria enviada ao Diário da Manhã, fui surpreendido por um curto circuito no CPU seguido por um cheiro de borracha queimada e depois, um apagão completo no monitor. Chamei um    técnico em computação e qual foi minha surpresa: a placa HD fora totalmente destruída, perdi todos os programas e trabalhos criados há anos no Microsoft Word que foram “foi para o espaço”.  Instalada outra fonte, colocado outro HD e reinstalado os programas, perguntei ao técnico sobre a causa e ele disse que a culpa pode ter sido de um mosquito magricela que adentrou no CPU, provocando um curto na fonte, o qual causou estragos irreparáveis no HD, fato que me impediu de enviar a citada crônica. Pensando na aflição daquele mosquito que penetrara num ambiente vazio demais, que sequer fazia parte de seu front de guerra, lembrei-me de algumas fofocas ouvidas nos pontos de ônibus, onde usuários do transporte coletivo comentavam que as empresas desviam linhas de alguns bairros sob a alegação da existência de focos de dengue, cuja situação está deixando os motoristas estressados, receosos de serem picados pelo mosquito terrorista. Parece que os proprietários das empresas de transportes ao desviar a atenção dos usuários, descobriram uma fórmula perfeita e até certo ponto inteligente, mas, que pode levar qualquer alma ao cúmulo do ridículo. No mundo da fantasia ou ficção tudo é possível, mas, se é verdade ou não, achei por bem ouvir a outra parte: os mosquitos.

Em seu palácio construído dentro de um pneu de trator de esteira, doente, acometido de dengue, o mosquitoterrorista Osama Aedes Aegypt Bin Laden, contrariado com as fofocas, se reuniu com os mosquitos e disse-lhes:

- Companheiros estão dizendo por aí que somos responsáveis pelo péssimo transporte coletivo, pelo desvio e retirada de linhas de ônibus de alguns bairros, pela fraude na licitação das linhas que até “beneficiou” um “figurão” em um milhão de reais sem contar outras mazelas. Alegam os responsáveis pelo transporte coletivo que os motoristas se sentem ameaçados por nós, alguns alegam que estão ficam febris mesmo sem serem picados. Basta uma picadinha, uma manchinha na pele, uma dor de cabeça, uma indisposição... O medo humano parece algo estranho e chegamos a pensar que as coisas estão realmente acontecendo.
- Pai, eu não acredito nessas fofocas, pois, as nossas fêmeas só picam os moradores porcalhões – Disse Osaminha Junior.

- É verdade! Ademais em razão da nossa ação (picada) todo o mundo nesta cidade começou a trabalhar e o governo criou até uma campanha de combate contra nós. E por falar nisso, doravante temos que tomar mais cuidado, pois, o tal de Geraldo da Vigilância Sanitária e seus comparsas vão passar por aqui com o carro “fumacê“ aquele que solta uma fumaça fedida, com cheiro de gambá. – Completou Osama
- Aquele cheiro pode nos viciar, fortalecendo-nos ou fazendo com que percamos a força de nossa picada. Temos que proteger melhor os nossos criadouros – Disse a chefe Dina Russefe.
- Pai, você está meio abatido por causa da doença, porque não se interna no Hospital Geral de Aparecida. Lá você pode dar uma bebidinha de soro e picadinha nos pacientes.
- Você ficou maluco filho! Posso pegar infecção hospitalar.
A reunião foi bastante proveitosa e no finalzinho da tarde caiu uma chuva fina que foi enchendo outros pneus, copos, latas e outros materiais descartáveis esparramados no quintal do velho Chico Sujismundo. Osama Aedes, com um sorriso sarcástico, finalizando, disse-lhes:
- Pessoal, enquanto o governo não criar um projeto de prevenção para eliminar os nossos criadouros; enquanto o morador não colaborar com a limpeza dos vasos, pneus, garrafas, copos, calhas, caixas de água, de nada valerá o trabalho do Geraldo, pois, todos sabem que nós alojamos e procriamos até em tampinhas. Por fim, é bom informar a todos porque peguei dengue: briguei com a fêmea do falecido mosquito Bicudo. Ela me picou.   
VANDERLAN DOMINGOS DE SOUZA Advogado e escritor. É membro da UBE – União Brasileira de Escritores. E-mail: vdelon@hotmail.com

O mosquito no banco dos réus.

Em seu palácio construído dentro de um enorme pneu de trator de esteira, encoberto por um imenso matagal, o mosquito terrorista Osama Aedes Aegypt Bin Laden, contrariado em razão do seu julgamento pelas facções terroristas Al-Qaeda, Al-Fatah, Brigadas Vermelhas, ETA e IRA, se reuniu com os mosquitos-líderes de todo o Estado de Goiás e disse-lhes:

- Um jornaleco está anunciando que membros de facções de várias partes do Brasil estão chegando a Goiás com o objetivo julgar a nossa comunidade e colocar-me no banco dos réus, sob a alegação de que não instalamos criadouros suficientes e não estamos produzimos vírus  capazes de contaminar e exterminar de vez a pessoa humana. Diz o jornal “Diário do Bicudo:” “Os mosquitos terroristas internacionais alegam que os mosquitos goianos estão perdendo terreno para a vigilância sanitária e que as picadas de nossas fêmeas estão ficando cada vez mais inofensivas. O vírus injetado no corpo humano não está mais se incubando a contento e alguns deles sequer ficam febris, com dor de cabeça, indisposição... O medo humano parece estar desaparecendo e chegaram a pensar que coisas estranhas estão realmente acontecendo em Goiás. Temos que levar novos  métodos de contaminação criados pelos mosquitos-cientistas nordestinos ligados a AL-Qaeda”

- Pai, eu não acredito nessas falácias – Disse Osaminha Junior.
- É verdade!  Por outro lado, temos estatísticas que comprovam a contaminação de uma boa parte da população. Será a minha tese de defesa quando elas chegarem a Goiás. Ademais em razão da nossa ação (picada) todo o mundo nesta cidade começou a trabalhar e o governo criou até uma campanha de combate contra nós.  Colocaram  na TV  um  mosquito dançando e raivosamente furando um pandeiro. Aquilo foi ruim para nossa imagem!

O julgamento contou com as presenças dos representantes de todas essas facções terroristas capitaneadas por Yasser Aedes  Aegypt Arafat e Khalil  Aedes Al-Wazir . O advogado de defesa de Osama Aedes Bin Laden foi o mosquito terrorista Bico Doce que logo foi mostrando aos líderes presentes, através da telinha do    monitor instalado no pneu, os grandes criadouros de larvas que se  esparramavam pela Grande Goiânia e por várias cidades do Estado de Goiás. Com uma explanação perfeita e convincente mostrou que estavam       vencendo a luta contra o Governo, pois ele não conseguiu criar um projeto de prevenção para eliminar todos os criadouros. Destarte, continuou dizendo Bico Doce: Ele não consegue sequer orientar os moradores com relação à limpeza dos vasos, pneus, garrafas, copos, calhas, caixas de água, e doravante, se não conseguirem essa façanha, de nada valerá o trabalho da Vigilância Sanitária, pois todos sabem que os mosquitos se alojam e procriam até em tampinhas. 
Convencidos, os terroristas que tem o principal objetivo assustar, contaminar e matar , tiveram que dar mão a palmatória, pois sentiram que não poderiam sobreviver só da ameaça de transmissão da dengue, necessitava dar basta à divulgação que a mídia dá em favor do Governo, notícias que orientam e o faz aumentar o  combate a dengue.  Ao final, satisfeitos, absolveram Osama Aedes Aegypt Bin Laden e decidiram selecionar doze fêmeas poderosas para picar os agentes e sanitaristas mais afoitos. Bem longe dali terminava a reunião da tropa de elite Vigilância Sanitária que condenaram Osama à morte. A guerra estava declarada e ele era o alvo principal.

VANDERLAN DOMINGOS DE SOUZA Advogado, escritor e Diretor da UBE – União Brasileira de Escritores E-mail: vdelon@hotmail.com

Lixos do lixo

A chuva caía torrencialmente. A água alagava ruas, avenidas e subia assustadoramente levando consigo tudo que encontrava pela frente.  A TV mostrava, boiando sobre as águas, entulhos, sacos de lixo, latas, garrafas, tocos de cigarro, coco, plásticos e papéis que protagonizavam cenas grotescas de  descasos da população e do serviço público. Outras cenas, mais horripilantes, o lixo misturado com lama deslizava dos morros em face da chuva intermitente, ia soterrando e matando gente indefesa; destruindo morros, barracos, ruas, avenidas, praças e carros sem piedade ou dó. O lixão amontoado nos morros e os lixos do lixo deixados nas ruas e calçadas pelo homem  partiam sobre as águas sem deixar rastros entupindo as bocas de lobo. 

Hoje, passado o período chuvoso o governo que foi negligente contabiliza os mortos retirados dos labirintos enlameados, insistindo em dizer que a culpa foi do temporal e que tudo não passou de um  devaneio, de um  momento de fragilidade, cujas ações e gestos o administrador público foi surpreendido pelo seu próprio umbigo quando lá apareceu para assistir in loco o sofrimento de um pai que tentava salvar o seu filho que se encontrava encoberto por um lamaçal e pedia socorro, mas, tudo fora em vão, pois, em segundos,  novo deslizamento de terra veio abaixo  cobrindo de vez aquele corpo juvenil. A poucos metros  dali  um outdoor dava destaque a uma publicidade colossal do governo falando de urbanização, moradia e melhoria do sistema de escoamento de águas pluviais e esgotos.

Naquele dia fatídico antes de escurecer vi a lua se despontar no horizonte e clarear o breu que tomava conta do Morro do Bumba e aí, abriu-se novamente as cortinas do espetáculo. A TV continuava noticiando e mostrando os horrores de uma catástrofe já esperada por muitos especialistas e que emocionou uma nação inteira. Enfrentando as adversidades do tempo pessoas que perderam seus barracos e entes queridos, mas ainda cheias de esperança, hoje procuram como reconstruir suas vidas    partindo de fragmentos toscos, mas, rígido e sublimado de um mosaico multicolor. Usando de frases incompletas, intenções escondidas, cuja sorte é jogada aos astros distraídos que se evaporam e tentam fazer acreditar que tudo não passou de um sonho, de um delírio, de um momento de loucura incompreensível, cujas lágrimas  também  eram  levadas pelos ventos e despejadas como lixos nas bocas de lobo da vida.
                                                                         
Sentado diante da televisão pensei e repensei sobre inúmeras fórmulas de esquecer tudo o que tinha visto naquele dia, mas, preso nas armadilhas do tempo e nos percalços da vida, nunca imaginava que depois das catástrofes ocorridas no Haiti e Chile, iria ver a repetição daquelas cenas. Mas, infelizmente, continuou chovendo torrencialmente durante vários dias e os barracos localizados nos Morros do Bumba e Prazeres construídos sobre um lixão, sem flores no seu trajeto, de um entardecer melancólico, cercado de cores escuras, fantasmas e ruínas não resistiram e despencaram morro abaixo.

Hoje, sem moradia, sem documentos, conta em banco ou carta de alforria, partem agora rumo a um mundo incógnito em busca de sobrevivência e esperançosos de que se o dia seguinte não fosse nascer, ou se não existisse nada para acreditar,  ainda assim, têm a certeza de que continuarão levando em seus pensamentos as rajadas de vida, como fazem as bocas de lobo para sobreviver aos lixos do lixo ou o como vento faz para beijar a noite escura esperando um novo amanhecer.

VANDERLAN DOMINGOS DE SOUZA. Advogado e Escritor. É membro da UBE- União Brasileira de Escritores. E-mail: vdelon@hotmail.com

Jabulani e o drible da vaca

O sol penetrava por entre as folhagens dos pés de manga, abacateiros e bambuzais que circundavam aquele campinho de futebol. Os meninos dos bairros vizinhos iam chegando e se acomodavam como podiam esperando com entusiasmo o início do jogo que, de certa forma, já se espalhara por toda a cidade. Afinal, uma rádio da Capital vinha anunciando diariamente sobre a importante partida futebolística entre as equipes Oeste F.C e Ferroviário, cuja final seria decidida no campinho poeirento daquele bairro. O povo foi-se aglomerando debaixo das sombras daquelas árvores frutíferas, a maioria, para ver os seus filhos se deslancharem com a bola nos pés e desenharem seus sonhos naquele terreno batido, onde, dificilmente, a bola rolava sem trepidar, e quiçá    alguns daqueles jovens, num futuro próximo, serem convidados para treinar numa equipe de renome nacional, afinal, naquele dia tinha até “olheiros” de alguns clubes da Capital

Abriram-se as cortinas do espetáculo e o juiz vestido de calção preto e uma camisa surrada pelo tempo, sem grife, deu  inicio à partida. O centroavante Tição, do Oeste Futebol Clube de calção listrado e camisa azul celeste, chuteira velha rasgada na ponta mostrando o dedão, recebe a bola já decomposta pelo tempo e sem  perder a gravidade, rebate-a com o pé, com certa maestria, para mostrar aos companheiros o bom toque de bola, os dribles elástico e o da vaca que costumava dar durante os jogos, para, no final de  cada lance, mostrar aos   praticantes de futebol a arte de jogar e o impulsivo prazer de dar um chute certeiro rumo ao gol e vibrar ao ver a redondinha estufar a rede adversária.

A pequena ilustração elaborada acima reforça a afirmação que vemos hoje um futebol sofrível nos   gramados da África do Sul, onde lá chamam a redondinha de Jabulani. A partir do texto imaginem também cenas que todos têm presenciado naqueles magníficos campos de futebol: chutões por cima da meta e outros sem a menor direção; tropeções na bola; passes mal feitos e parece não ter intimidades com ela; violência desenfreada de muitos jogadores “pernas de pau”; cotoveladas propositais; lançamentos e toques de bola    imperfeitos para no final do espetáculo, todos culparem a bela Jabulani de suas ruindades dizendo que ela é uma bruxa e veio com defeito de fábrica trazendo no seu interior uma maldição fantasmagórica para azucrinar a vida dos  jogadores. O Brasil está fora da Copa, não é culpa da bola é ruindade mesmo!

A Jubilani é uma bola evoluída, de couro, com ar dentro, apenas sem gomos, mas, redondinha como as outras. Apenas parece ser mais patricinha, entretanto, se bem trabalhada como fazem os verdadeiros craques de bola, obedecerá e ajudará nas firulas dentro de campo. Quando é maltratada ela também dá suas fintas e os dribles da vaca (aquela jogada que faz menção de ir para um lado e sai para outro). Coitado dos goleiros!  A copa do mundo parece não estar com essa bola toda ou até perdido o rebolado. O rebolado, por exemplo, que é coisa mundial, não teria esse nome se não fosse a bola. Seria estranho ver uma mulata brasileira ou africana passar rebolando e alguém dizer: olha só que enquadramento, que piramidal, que paralelas, que  perfeição... Pois é, com rebolado ou sem rebolado a Jabulani está tão maluca e judiando tanto dos goleiros nos gramados africanos que pode virar frango.  Hoje, quando vemos a bola rolar, não importa se é sobre chão batido ou gramado, a verdade integral é ela. O futebol é paixão. Esse amor obstinado que me faz     sofrear o sono da fadiga para rememorar em câmara lenta um gol de letra (de calcanhar) que fiz a muitos anos naquele campinho poento.

VANDERLAN DOMINGOS DE SOUZA Advogado, escritor e Diretor do Dpto. Jurídico da UBE – União Brasileira de Escritores. E-mail: vdelon@hotmail.com

Infeliz ano novo ás mordaças, censuras e preguiças.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A mordaça é um objeto que se tapa a boca de alguém para que não fale e não grite enquanto que a censura é formada por uma corporação incumbida do exame de   obras submetidas à censura, e sinteticamente, podemos dizer que é uma repreensão. Pois bem, no ano de 2010, a população ficou estupefata com a censura imposta pelo PCB ao Diário da Manhã, que considerei estapafúrdia, ineficaz e sem consistência jurídica, uma vez que aquele pedido de liminar se esbarrava no princípio constitucional do direito onde se deve reinar a democracia e a liberdade de expressão,     liberdade que há muito tempo vem sendo implantada por este jornal, que jamais deixou de  publicar matérias ou de dar  tratamento  igualitário a candidatos, partidos políticos ou pessoas comuns da sociedade através do quadro “OPINIÃO”, que deu tanto certo que o mesmo foi ampliado para “OPINIÃO PÚBLICA”, cujos textos são publicados na íntegra.

A mordaça ou a censura podem atacar diretamente a essência da democracia e revesti-la da forma do vale tudo, em molde de ralho constante, não fundamentado, intrusivo, maledicente e por vezes constrangedor.  A esse tipo de censura e mordaça que alguns apelidam de liberdade de expressão, que queriam o PCB impor ao Diário da Manhã e o Governo do Estado de Goiás ao grande Jornalista Paulo Berings não iam realmente prosperar. Defendendo o meu direito à indignação em relação ao pedido feito pelo PCB, que tanto  questionou sobre a censura no Brasil e o Governo de Goiás em proibir o ilustre jornalista de entrevistar o candidato Marconi Perilo, amordaçando-o, mas, este demonstrando ter caráter  e coragem, se expôs diante das Câmaras de televisão à fúria destruidora de um governo antidemocrático pedindo demissão “ao vivo”.

Por fim, finalizo dizendo que elas, quando praticadas pelos denunciantes somente no sentido de “aparecerem” perante a opinião publica, pode este ato impensado virar contra aos que se dizem prejudicados, ou simplesmente, o feitiço virar contra o feiticeiro, e foi o que realmente aconteceu, pois prevaleceu à justiça com a derrubada daquela liminar e agora ela jaz inócua e definitivamente arquivada no sistema virtual do Colendo Tribunal, e quanto ao ato Governador, taxado de traíra e preguiçoso, este recebeu como troco a  fragorosa de derrota no dia 31 de outubro, então,  para que tudo isso não volte mais a acontecer, é bom que a gente antecipe desejando um  infeliz ano novo às  mordaças, censuras e preguiças
 
VANDERLAN DOMINGOS DE SOUZA Advogado, escritor e Diretor da UBE – União Brasileira de Escritores. E-mail: vdelon@hotmail.com

Força Livre: A voz do movimento comunitário

O valor de um povo está nas causas que abraçam, nos projetos que constroem em prol de sua comunidade e nas histórias de sua luta insana, onde carrega o suor, as lágrimas e as alegrias que lhe proporciona quando seus líderes conseguem alcançar os objetivos e benefícios pleiteados em prol de seus bairros junto ao Poder Público. 

Na edição do dia 13 de fevereiro o jornal Diário da Manhã estampou uma foto gigantesca com vários líderes comunitários, e no meio dela, se destacava o grande jornalista Batista Custódio que apresentava o projeto Força Livre que tem o    objetivo de abrir novo horizonte de liberdade de imprensa, e como ele próprio    afirmou: “Os bairros devem ser tratados como cidades e a lideranças serão a redação do jornal”. Passando para as páginas seguintes fiquei mais surpreso ainda quando vi estampadas várias fotos de lideranças comunitárias, muitas delas já com os rostos carcomidos pelas intempéries do tempo e cabeças tomadas pela calvície. É o passar  dos anos que os tornaram assim, mas, o importante é que eles continuam enfrentando  as adversidades e as intempéries do  tempo em busca de benefícios para os seus bairros.

Conheço a maioria, pois fiz e faço parte deste glorioso movimento desde o tempo do saudoso governador Henrique Santillo onde todos eram  prestigiados de uma forma contagiante.Tenho por  todos uma profunda admiração, porque durante este lapso de tempo os vi carregando debaixo do braço pastas elásticas surradas cheias de requerimentos  dirigidos aos Órgãos Públicos pleiteando benefícios para suas regiões. Não quero destacar os nomes daqueles cujas fotos foram estampadas no jornal, apenas citar alguns que se foram para outra dimensão e deixaram saudades: O Baianinho do Areão; Antônio Elias, João Dias, Manoel Guarda, e Cícero do Setor Pedro Ludovico; o Daniel Ângelo da Vila Boa; Joaquim do Parque Santa Cruz; Francisco Pedroso, Sebastião Porfírio,  soldado Neres e tantos outros que deixo de citar por falha de memória.

Hoje, a corrida deles não é contra o tempo. É com o tempo. Sabem que o futuro é agora, o presente já é quase ontem e o passado é a história construída por cada uma deles. O jornal abriu espaço para o movimento comunitário com título “Força Livre”, então, é o momento de todos usarem de sua sabedoria, pois quando se lutam com sabedoria, tem sempre o tempo a favor. Mesmo nas horas mais difíceis, em momentos de turbulências e vendavais, diante das mais terríveis tormentas e tiranias sociais, e agindo com coerência,   respeito mútuo e sensatez, todos sairão fortalecidos, porque o saber está para o ser humano como está para o vinho. E que as suas lutas, seus ideais e projetos de vida sejam vitoriosos, rumo a um tempo de união e paz que hoje de frutifica e que cada semente possa fortalecê-los, e sem picuinhas, venham fazer parte de uma       sociedade mais cooperativa e solidária, como se vislumbra na proposta do jornal Diário da Manhã.

O projeto Força Livre vem para inovar a dar voz àqueles que constroem a cidade e aí quem sabe, não esteja iminente e inevitável, o momento do reencontro do passado, presente e futuro com uma história mais humana e solidária, onde a gente seja povo e não massa de manobra a rastejar como cobra impedidos de usar  o saber e acoplá-lo nas asas da imaginação.

VANDERLAN DOMINGOS DE SOUZA Advogado, escritor e Diretor da UBE – União Brasileira de Escritores. E-mail: vdelon@hotmail.com

Entre a cruz, a espada e a caneta II

Na página “Política & Justiça” do Diário da Manhã, edição do dia 22 de outubro, vi um fardo de notícias e comentários sobre a mordaça imposta pelo governo de Goiás ao ilustre jornalista Paulo  Beringhs. O fato teve repercussão nacional e vários sites, portais de    notícias, twitters e blogs trouxeram comentários sobre a censura imposta na TV pública de Goiás. Um escândalo!  Os jornalistas, comentaristas e apresentadores da TV Brasil Central que tinham certa preferência pelo candidato Marconi Perillo estavam sendo tratados como  “estranhos no ninho” e já se sentiam constrangidos e incomodados com a situação política atual. Observa-se nas entrelinhas que o palco para retirar de circulação esses renomados apresentadores  já estava sendo armado pelo Jorcelino Braga, o primeiro ministro do governo Alcides e pelos catataus que circulam pelos   corredores palacianos, os quais, com suas chalaças e momices, continuam alimentando a discórdia e a desagregação partidária. Contrariado, fui até a gaveta da escrivaninha e encontrei amareladas pelo  tempo e carcomidas por traças e pontas de papel destroçadas por insetos  grande volumes de documentos, cartilhas eleitorais e diversas defesas e ações que impetrei a favor da Coligação PSDB/PP;  peças elaboradas por mim, inclusive, uma defendendo o próprio PP, cujo instrumento de Procuração me foi outorgado  à época por Sérgio Lucas, Secretário Geral do PP. Todos esses documentos arquivados ordenadamente na gaveta e esquecidos pelo tempo, alguns deles  escandidos em pequenos pedaços de papel, mas, todos escritos em cor rubra de um coração ferido pela dor e decepção, mas com a certeza, que jamais serão esquecidos e outros perpetuadas para o deleite de meus filhos e netos
A vida parece às vezes não se adequar aos moldes e fórmulas estipuladas pelo sistema político e a sociedade vive em confronto de definições. Há guerras de posições, disputa de poder, por títulos e destruição de amizades. Em meio a essa realidade o ser humano se torna um animal irracional, mercadejando sentimentos e ferindo pessoas. Parece que os valores estão invertidos. Para conformar isso basta ver a arrogância do discurso de Lula, Dilma, Iris e Alcides. Eles parecem ter perdido a compostura, principalmente eles que eram entre si, inimigos mortais.
Enquanto manuseava aqueles calhamaços de papel, uma sinfonia de pássaros embalava os meus pensamentos e lá fora, uma suave brisa balançava os galhos das árvores, num bailado harmonioso que só a natureza é capaz de     proporcionar e nos fazer pensar sobre o retrato da política atual e que a pior frustração e decepção nossa é saber que aqueles que empunharam com garra a bandeira de uma coligação partidária vitoriosa hoje estão sendo repudiados como se fossem entes nocivos, como o caso de Paulo Beringhs, Túlio Isac e tantos outros companheiros valorosos, que ficaram entre a cruz, a espada e à mercê de uma caneta, e esta, infelizmente, usada pelo próprio punho de   Alcides Rodrigues , deixou também para mim e tantos outros  servidores, no final do ano passado, um presente de Natal: a exoneração. Contudo, em meio a tanta falsidade, hipocrisias e perseguições, ainda assim, se vislumbra nas hostes palacianas alguns amigos que carregam em silêncio, sem poder se manifestar, o n,º 45,  pois acreditam na vitória de Marconi Perillo e sabem que ele é o melhor para Goiás e  para os servidores públicos.

VANDERLAN DOMINGOS DE SOUZA Advogado e Escritor. É membro da União Brasileira de Escritores. E-mail: vdelon@hotmail.com

Dr. Joaquim um lider que vem do Mato Grosso Goiano.

Nos últimos doze anos a região denominada de mato grosso goiano esteve literalmente abandonada pelo poder público estadual. Isto só acontecia porque ela   nunca teve um verdadeiro representante da Assembléia Legislativa. Candidatos de outras regiões passavam de quatro em quatro anos nos municípios  na busca  de  votos, prometendo lutar pela região na conquista de benefícios junto ao governo estadual, entretanto, depois de eleitos desapareciam,  deixando de lado a população que ajudou a elegê-los.
Dia 1.º de agosto de 2010 recebi convite do Dr. JOAQUIM para ajudá-lo naqueles embates eleitorais. Sensibilizado por acreditar em minha pessoa e como cabo eleitoral voluntário passei a conhecê-lo melhor. O seu currículo político era invejável.  Mesmo nascido em Fazenda Nova, fiquei sabendo que fora eleito prefeito da cidade de Jussara por dois mandatos, além de uma atuação primorosa como Presidente da AGM- Associação Goiana dos Municípios, onde conseguiu resgatar os compromissos assumidos junto ao seu e outros municípios, portanto, para mim não foi difícil apoiá-lo, pois vi que se tratava de um político que possuía conduta ilibada e competência comprovada.
Quando a justiça eleitoral em propaganda televisiva solicitava aos eleitores votarem candidatos fichas limpas aí é que fiquei mais tranqüilo em apresentá-lo à população de Goiânia e a outros amigos esparramados pelo Estado de Goiás, enviando-lhes correspondência, pois além de uma pessoa extremamente ligada à família e a doutrina cristã, a mim sempre transpareceu ser uma pessoa humilde, honrada, de boa índole e portador de um currículo de causar inveja a qualquer pessoa. Por outro lado, fiquei mais confiante ainda quando percebi durante a campanha que era deveras incentivado por familiares, amigos, tanto da Capital como do interior, e ainda recebia irrestrito apoio do ex-Senador e hoje governador Marconi Perillo.
Com base em tudo isso é que me senti na obrigação de fazer uso deste artigo e humildemente, tentar publicá-lo, no intuito de conclamar a população da região do mato grosso goiano e de outras regiões circunvizinhas para continuar dando apoio e votos de confiança ao Dr. Joaquim de Castro eleito deputado      estadual com boa votação, pois tenho a absoluta certeza que ele não irá decepcionar ninguém. Ao elegê-lo junto com Marconi Perillo, acredito que todos os municípios que a compõe serão lembrados de uma forma respeitosa e voltarão a ser reconhecidos por todos uma vez que estão colocando na Assembléia Legislativa do Estado de Goiás um lídimo representante, uma pessoa da região e se ele e o Marconi forem bons  para o Estado de Goiás, logicamente o mato grosso goiano será bastante beneficiado.

VANDERLAN DOMINGOS DE SOUZA. Advogado, escritor, membro da UBE e articulista do Diário da Manhã. E-mail: vdelon@hotmail.com

A natureza do homem, a droga das dragas, e o mau cheiro.

Desde os tempos idos o homem sempre se apoiou na natureza para obter recursos e desenvolver-se. Extraia todo tipo de suprimentos e até matérias primas para construir instrumentos que vinha à sua mente. Tudo a sua volta foi e é criado à base uso de recursos naturais. Qualquer apetrecho usado era e é extraído da natureza, como o ferro, plástico, madeira, vidro, cimento e infinitos elementos da terra que servem o ser humano capacitando suas criações. O homem e a natureza são como reflexos no espelho: tornam-se um só. Destruindo-a, chegamos 

A gente vê queimadas e desmatamentos diariamente nas telas de TV e notícias de jornais. Há de se questionar cada atitude do homem, até mesma a nossa diante de tal acontecimento. O que fazemos pelo meio ambiente? Como buscamos preservá-lo? Será que estamos também contribuindo para sua destruição, afinal estamos diante da TV, inerte sobre um macio sofá e sequer percebemos que é mais fácil criticar do que preservar o meio ambiente. Pensamos que só as queimadas e o corte desordenado de árvores destroem a natureza, pensamos que só as dragas que extraem minérios, os lixos e efluentes líquidos de fábricas jogados nos rios poluem. Não, é importante que a preservação comece por onde estamos porque somos um todo e não parte isolada. Criticamos o governo, mas realizamos pouco em prol do meio ambiente. De qualquer forma vale à pena, pois tenho a certeza de que meus artigos em defesa da vida um dia produzirão frutos, como produziu e vem produzindo as ações de abnegados ambientalistas filiados às ONGs espalhados por todo Estado de Goiás.

As dragas produzem impactos ambientais muitas vezes indecifráveis. A areia é um bem natural de importância indiscutível, utilizada como matéria prima na construção civil e secundariamente em moldes de fundição, fonte sílica, indústria de vidros, dentre outros setores industriais, mas, ainda a aquelas que sugam os leitos dos rios para extrair outros minérios, como o ouro. A exploração sem o manejo adequado provoca uma devastação em cujas áreas superficiais são desmatadas com remoção e consideráveis perdas de solos ribeirinhos que sustentam a vegetação, provocando, após o esgotamento da jazida a instabilidade de áreas adjacentes, ocasionando alteração da drenagem natural com o assoreamento do rio e desvios dos cursos d`água, como vêm acontecendo com o Rio Araguaia e tantos outros, muitas vezes ainda não localizadas pela fiscalização ambiental.

E as indústrias altamente poluidoras que jogam produtos químicos e detritos nos leitos dos rios que provocam um mau cheiro insuportável, como vem acontecendo com o Rio Meia Ponte. Será que isso faz parte da natureza humana? Respondo: faz sim. E quanto àqueles que administram grandes indústrias podermos dizer que eles manobram sempre em busca do poder econômico. Não tem relação como o seu próprio EU e este EU não tem causa... a não ser a deles: o dinheiro. Crescer cada vez mais é o lema e o enriquecimento não importa de que forma virá. A natureza ao temido “aquecimento    global” que mostra ao homem que há uma reação para toda ação praticada por ele sobre a terra. O troco que recebemos em face dessa insensatez são as variações de clima, os terremotos, os tsunamis e até o derretimento das geleiras que são apenas pequenas amostras daquilo que estamos destruindo.
ao seu redor que se vire! Essa natureza    humana entrelaça o animal que se autodenomina “homem” de forma solidária através da luta – guerra e paz – em busca do prazer otimizado, mas sem freio e do desprazer minimizado, deixando bem claro, que só uma ação enérgica do Poder Público, através de uma interdição, poderá colocá-lo nos eixos.

VANDERLAN DOMINGOS DE SOUZA é advogado, escritor, ambientalista. Presidente da ONG Visão Ambiental e diretor da UBE - União Brasileira dos Escritores. Escreve todas as quartas-feiras.    Email:  vdelon@hotmail.com e vanderlan.48@gmail.com.

A dimensão de um pai.

Quando falamos em dimensão podemos afirmar que existem dois sentidos, um é o que se mede a extensão para avaliá-la, ou pode ser o tamanho de um trabalho  desenvolvido durante toda uma existência ou um volume  de uma coisa qualquer. No sentido espiritual é a passagem de um plano inferior a um plano mais sublime, mais elevado. Desde os primórdios da criação, o homem deseja desvendar estes mistérios, o seu futuro e para essa consecução vem se valendo de alguns conhecimentos que se perderam com as antigas civilizações e muitas vezes, vasculha calhamaços de papéis corroídos pelas traças e amarelados pelo tempo, escritos hieróglifos ou outras coisas que lhe pareça útil para conseguir saber os acontecimentos futuros. Nada em nosso mundo é imutável, nada é fixo, parado, nem no futuro.   Acreditando nas pessoas e tendo fé podemos alterar muitas coisas, que seriam bem diferentes se não agíssemos dentro de alguma conduta doutrinária, com amor, tolerância e humildade.  Pedras e espinhos, sempre haverá em nosso caminho que, por insensatez e desobediência, muitas vezes nos mesmos as  colocamos.

Ao escrever este preâmbulo lembrei-me de meu pai que já deixou este planeta há quase sessenta anos, por sinal, nem me lembro de sua fisionomia. Tinha apenas cinco anos de idade. Então, neste domingo, em que se comemora “Dia dos Pais”, resolvi escrever estas singelas linhas tiradas de pequenas lembranças que ainda vagam pela região recôndita de meu cérebro. Lembro-me dele como pequeno produtor rural que trabalhava a terra para tirar dele o pão de cada dia com dignidade e garanti-lo na mesa composta de mãe e nove filhos. Como me fazia bem vê-lo trabalhando a terra, as plantações verdes e um clima favorável prometendo boas colheitas. Como me fazia bem ver o dourado dos milharais que na época da colheita traziam bons resultados na abundância das sementes. Como me fazia bem ver aqueles biscoitos assando no forno de barro pela minha mãe. Ah!... Como me fazia bem!...  Neste ambiente nasci e ele fez de mim um menino sonhador, mas, infelizmente, com apenas cinco anos de idade, com a morte de meu pai tive, juntamente com meus irmãos, deixar Morrinhos e mudar para Goiânia.

E foi numa noite chuvosa que tudo aconteceu. Um raio corta o céu escuro e cai sobre a fiação elétrica  de alta-tensão. O fio cai sobre a cerca e o fogo se esparrama e queima tudo o que via pela frente. Os  matos  verdes e capins não resistiam e quedavam-se diante das labaredas elétricas. Era hora de levantar. Meu pai e os irmãos mais velhos, nem tomaram o café matinal, ritual sagrado de todas as manhãs e se dirigiram ao local. Imbuído da ingenuidade de caboclo que lhe era peculiar deu apenas um passo a mais rumo à cerca de arame. Foi um golpe só. A força da eletricidade puxou-lhe e ele voou inocente rumo à morte. Foram horas de desespero até que o gerador instalado a quilômetros dali fosse desligado, mas, era tarde demais. O corpo de João Vieira de Souza jazia diminuto sobre o chão quente e coberto de   cinzas.

Ao recordar daquele dia, que não sai da região recôndita de meu cérebro, procuro dimensionar o que ele fez com muita dignidade e trabalho e hoje dedicar-lhe as raízes firmes que me fizeram ser o que sou e que ainda hoje me ajudaram a cativar o que devo ser, e entender, que ele está em outra dimensão com o mesmo jeitão caboclo, venturoso e feliz em ver que deixou nesta terra filhos que ele sente orgulho e os protege de lá. Ele e nosso Pai Celestial tudo sabe e tudo vê. Hoje vivemos de ações transcendentais, de ações que cometemos no passado, buscando corrigi-las. E é hoje que estamos construindo o nosso    amanha, pois se nosso futuro fosse imutável, então teríamos total despreocupação com nossas ações no presente, já que não teríamos como agir em benefício de modificações que não poderiam acontecer. Pai, obrigado pelo legado de amor, honradez, trabalho e honestidade que você deixou!

VANDERLAN  DOMINGOS DE SOUZA é advogado, escritor, ambientalista. Presidente da ONG Visão Ambiental e diretor da UBE - União Brasileira dos Escritores. Escreve todas as quartas-feiras. Email: vdelon@hotmail.com e vanderlan.48@gmail.com

 
Vanderlan Domingos © 2012 | Designed by Bubble Shooter, in collaboration with Reseller Hosting , Forum Jual Beli and Business Solutions