Sentado, a beira da estrada da vida!

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Adolescente, saía equilibrando sobre os trilhos da estrada de ferro, e algumas vezes, colocava o ouvido sobre eles na esperança de escutar os passos daquela linda menina que morava a poucos quilômetros dali, outras vezes, escutava o barulho do trem e o meu coração acelerava esperançoso de vê-la descer na estação. Num vagão abandonado desenhei um coração e dentro dele escrevi nossos nomes usando cores rubras que com o passar dos anos não resistiram às intempéries do tempo e se esvaíram como se esvaiu a dor e saudade de sua eterna ausência. Nunca mais a vi.  Eu era um adolescente que enxergava o amor nas mínimas coisas e anotava tudo no caderno repleto de frases poéticas, próprias de um sonhador.  À medida que ia andando sobre os trilhos,  abria o peito para receber o vento que me enchia os pulmões de perfumes vindos das matas e das flores que se esparramavam pela estrada afora. 

Observava o movimento dos pássaros, sentia o sol queimar o rosto e o meu peito nu, e ao entardecer, me deliciava quando o via o sol descer soberbo no horizonte emitindo raios alaranjados. Sentia uma sensação inigualável, inexplicável e algumas vezes, via o rosto angelical daquela menina-moça se refletir por entre as folhagens das árvores floridas retalhadas pelos raios solares naquelas encantadoras tardes de primavera. O seu sorriso era parte integrante do cenário, que de tão perfeito, parecia onírico. Mas, naquele tempo, ao caminhar pela “estrada da vida”, não soube escolher o caminho certo.Talvez, enxergava certas coisas de uma forma, não como hoje, que calejado em face da labuta cotidiana, passei a ver de outra, não porque tudo tenha mudado, mas sim porque a minha forma de interpretá-la mudou. 
A “estrada da vida” se esticou assim como o tempo que passou sobre os nossos rostos deixando-os  carcomidos.  A estrada que percorremos fez-nos deixar para trás muito choro sufocado e muita injustiça para ser vencida. Mas, seja qual for à estrada, se de chão ou de ferro, nem sabemos em que parte dela a dor deve ser curada, sabemos que ela nos conduzirá ao mesmo lugar e trafegar ou equilibrar sobre ela é o que se  questiona. Podemos até passar rapidamente ou devagar sobre ela, não importando a velocidade que imprimimos. Podemos causar impactos, sentimentos vários nas pessoas ou em nós mesmos. Podemosn encontrar durante nossa caminhada dias nebulosos, ventanias, sol extremamente quente, noites e dias frios, pedras, espinhos e até pessoas que passam por esta mesma estrada, umas com semblantes rancorosos, outras distraídas, venenosas, falsas, egoístas e outras cheias de amor, mas, todas sabendo, que no final da “estrada” todos terão o mesmo destino: rostos carcomidos pelas intempéries do tempo, para não dizer que chegaram à velhice e como final, a morte, para uns, o descanso eterno, para outros, é vida nova no paraíso, mas, para mim, é somente a certeza de ter conseguido chegar ao fim da estrada ileso e pagando menos pedágios.
Tem dia que sentamos na beira da estrada e sentimos o vento levar nossos pensamentos sem pedir licença. Tem dia que pegamos pétalas de rosas à sua beira e elas nada exalam. Tem dia que vemos passar por ela marés de incertezas e não reagimos. Tem dia que tentamos encontrar outra estrada e sonhar um sonho que almejamos sonhar, mas não conseguimos. Tem dia na estrada que a noite é pesada demais mesmo sem    termos pesadelos. Tem dia que nos lembramos do passado sem assombros, mas, tem dia que a vemos cheios de escombros. Tem dia que perdemos alguém na “estrada” que muitas vezes não dávamos o devido o valor. Tem dia... ah, se tem!

Sentado à beira e com o pensamento absorto, percebi que o nosso passado é a estrada que percorremos durante toda a nossa existência e este aspecto não devemos esquecer. Foi através desta caminhada longa, entre erros e acertos, com realização profissional ou não, que chegamos onde estamos ou encontramos a  felicidade de haver encontrado ao longo dessa “estrada da vida” o amor e realizar alguns sonhos, muitas  vezes com pesados pedágios, tributo que a vida nos impõe e nos dificulta  alcançar outros sonhos e objetivos antes de cheguemos ao seu final

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