Se eu viajasse amanhã levaria na mala do meu coração a bolinhas de gude azul que numa tacada só, usando o dedão da mão direita, colocava-as uma a uma nas cinco covinhas feitas no chão batido; levaria as fincas pontiagudas que fincavam o chão rente às linhas imaginárias do terreno úmido do quintal; lavaria a minha bola de meia que recheava de palha de arroz; levaria minha tabuinha de pirulitos; levaria comigo a minha caixa engraxar que juntos, fizemos muitos sapatos brilharem; levaria comigo o som da fanfarra, dos trombones, dos toques das cornetas que alegravam os desfiles militares e estudantis ocorridos no Dia da Independência; levaria comigo o som gostoso da velha locomotiva, os sorrisos dos passageiros, os acenos de adeus e o apito sonoro do trem ao fazer a última curva da estrada despedindo-se das pessoas ribeirinhas; lavaria do jardim de minha existência as gotas de orvalho, o néctar das flores, as lindas manhãs primaveris, e longe dos holofotes, dos olhares humanos e burburinhos, levaria o silêncio do monjolo, o cântico dos pássaros, o cocoricó rouco do galo Barnabé anunciado um novo dia e a suavidade da água límpida que descia mansa sobre o rego d’água.
Se eu viajasse amanhã levaria na mala do meu coração o amor, a dedicação e virtuosidade de minha mulher; a disciplina e carinho de minha filha e filhos; a paz e amor de meu genro e noras, a pureza de minhas netas e netos, o sorriso angelical de minha saudosa mãe, o carinho desmedido de meus irmãos, irmãs, primos, primas, sobrinhos, sobrinhas, cunhados, cunhadas, sogro e sogra e as amabilidades dos meus vizinhos, da zeladora e porteiros do edifício onde moro.
Se eu viajasse amanhã levaria de minhas amigas e amigos editores, escritores, romancistas, poetas e articulistas os seus neurônios porque sei que de lá saem seus escritos, prosas e versos, dotados de ritmos e rimas que se extravasam em cada prolongamento das células e as quais me fazem cair em deleite e levam-me ao êxtase mesmo em noites mal dormidas. Levaria comigo a cantoria e o toque de viola do doutor Juarez, dos violeiros, sanfoneiros e percursionistas da Folia de Reis do Malhador. Sei que são muitos os amigos intelectuais e artistas, os quais, não caberiam aqui nesta pequena folha de papel, por isso me abstenho de relacioná-los. Se fosse possível, até rasgaria esta folha, relacionaria os nomes prazerosamente e jogaria o rascunho fora. Viraria a página, e do início ao fim, riscaria, rabiscaria e escreveria tudo novamente porque sei que estaria levando na mala de meu coração, além dos seus escritos, porções e mais porções de histórias inacabadas.
Se eu viajasse amanhã levaria a amizade sincera dos amigos e amigas da Casa Legislativa, do Ministério Público, das lides forenses, do Paço Municipal, das ONGs ambientais e Entidades Culturais, e da SEMARH, cujos colegas de trabalho sofreram comigo; levaria o carinho dos Brenos, do Antônio, da Taís, da Isa, do Jorge, da Giovana, do Joaquim, da Lia, da Alessandra, do Joaci, do Roberto, do Augusto, da Sandra, do Índio e seu arco e flecha imaginário, do Lívio, do Gerson, da Luiza, da Junia, da Marcela, do Chico, do Leonardo, dos Josés, das Tânias, das Jacks e de tantos outros e outras que guardo a sete chaves no solo fértil da minha existência e que se fosse possível relacionar um a um ou uma a uma, não caberia também nesta folha de papel.
Se eu viajasse amanhã levaria o carisma, o amor, a fé e a perseverança do Padre Luiz; levaria dos amigos e amigas dele, o companheirismo, a amizade e a fé inconteste em Deus, de cujo rol eu tenho a alegria e satisfação de fazer parte; levaria as mensagens das amigas e amigos blogueiros e internautas que muitas vezes viajam no mundo da imaginação na tentativa de levar esperanças àqueles que têm dificuldades para subir os degraus da vida; levaria àqueles que trazem no peito o choro sufocado e as injustiças que não conseguiram se safar; levaria, seja qual for o degrau ou estrada da vida a ser percorrida, seja qual a for dor a ser curada, seja enfrentando nebulosas ventanias, chuvas torrenciais, o sol quente queimando o rosto, noites e dias frios, pedras pontiagudas e espinhos, porque a mala do meu coração vai ser entregue numa dimensão onde todos poderão ser felizes e realizar seus sonhos.
Se eu viajasse amanhã levaria na mala de meu coração o intelecto, os dotes de espírito e inteligência do Batista Custódio, a meiguice e simpatia de Meyrithânia Michele, o intemerato e o jeitão revolucionário do Ulisses Aesse, a inteligência e a capacidade de Hélmiton Prateado, a simpatia e educação do Arthur, a competência e educação de Julio Nasser, do Taquinho e de toda equipe do DM, e todas essas benevolências humanas retiraria de minha mala, colocaria numa bandeja de ouro e entregaria ao querido e saudoso Fabio Nasser, não me importando em qual dimensão ele esteja, assim como, nessa mesma bandeja, com todo o meu apreço, juntaria o carinho e a singeleza da amiga Sabrina Richely, ex-integrante do Diário da Manhã.
Se eu viajasse amanhã levaria do Hospital Santa Helena as mãos firmes e abençoadas do Dr. Flávio, a competência e conhecimento medicinal do Dr. José Gilson e toda sua equipe; levaria o carinho e a prestimosa atenção das enfermeiras e auxiliares: Mayara, Nayane, Clarise, Lourdes, Silvânia, Lucely, Walkíria, Elaine, Antônia, Maria José e tantas outras dedicadas atendentes, conhecidas como as meninas de jalecos azuis; levaria tudo de bom que existe neste mundo porque a mala de meu coração é grande, todavia, naquele dia 8 e 9 de agosto de 2012, antes de o sol beijar o vão da janela e a lua se esconder no horizonte, fui surpreendido por uma chuva de preces e orações que inundaram a UTI do hospital e foi aí que entendi que não era minha hora partir. E assim, amigos e amigas, me desculpem por ter guardado esta crônica na mala do meu coração e reprisá-la novamente, para, nesse ínterim, alertá-los de que vocês vão ter que continuar me aturando por mais tempo, porque a minha vida pertence a Deus e depois daquele dia fatídico entendi que só ELE sabe o momento de enviar a “passagem” a cada um de nós.
Belíssima crônica meu amigo.... Simplicidade, Cumplicidade e Solidariedade faz parte dos grandes dons nos quais Deus presenteou você...Parabéns!!!!
ResponderExcluirBom ler sua crônica justo agora em que espero na sala de pronto-socorro do HCOR, pela operação de minha mulher, Helenir Queiroz. Obrigado pelas orações e pela crônica que nos anima a esperar por bons resultados e um coração novinho em folha, batendo certo com o marca-passo. Obrigado, Vanderlan.
ResponderExcluirAbraços.
Beto e Helenir Queiroz.
Bom ler sua crônica justo agora em que espero na sala de pronto-socorro do HCOR, pela operação de minha mulher, Helenir Queiroz. Obrigado pelas orações e pela crônica que nos anima a esperar por bons resultados e um coração novinho em folha, batendo certo com o marca-passo. Obrigado, Vanderlan.
ResponderExcluirAbraços.
Beto e Helenir Queiroz.
Muito bom querido Vanderlan quero uma mala como a sua, que caiba todos os meus amores. .Como os seus!!!
ResponderExcluirMuito bom querido Vanderlan quero uma mala como a sua, que caiba todos os meus amores. .Como os seus!!!
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