Sentado à
beira do Rio Claro agucei meus olhos rumo ao horizonte no afã de enxergar algo
que fosse imprevisível. Por entre as folhagens das árvores ainda conseguia
observar os últimos resquícios do pôr do sol que, vagarosamente, ia sendo
absorvido pela escuridão, e o céu, não querendo estragar aqueles momentos de
prazer ofereceu-me a lua, que soberba, já aparecia detrás da densa mata que
circundava o rio. Abri a janela de minha alma e rocei com meus pensamentos as
pétalas de rosas de uma finda primavera sem precisar me privar daqueles regozijo produzidos por aquela bela tarde de outono. A beleza da natureza era
um bálsamo para o meu espírito inquieto, mas transparente como a uma bolha de
sabão, que muitas vezes me levava a sonhos certos e incertos, imagináveis e
inimagináveis, como se eu estivesse numa grande nave espacial desgovernada, sem
piloto ou plano de voo. Mas tudo é possível quando se trata de outono, uma
estação que inspira beleza, emoções, devaneios, melancolia e a transição entre
um acontecimento e outro, considerado por muitos como um tempo de mudança. Essa
viaje surreal me possibilitou ver imagens inusitadas, quedas flores, folhas e
de árvores “nuas”, as quais se postam artisticamente entre a verdejante mata,
embora esse tipo de paisagem não se manifeste exatamente dessa forma em todos
os lugares.
Quantas
lembranças iam e voltavam na velocidade da luz. Naquela ribanceira, vendo o rio
seguir seu rumo, eu aprendi vislumbrar o bonito que a natureza oferece. Quanto
a noite, esta parecia ter medo da própria escuridão, então, enchia o céu de
estrelas reluzentes, enquanto o dia fazia o seu papel aparecendo tudo azul
carregado de nuvens brancas feitas flocos de lã, parecendo carneirinhos, e
quando se tornavam escuras prestes a desabarem em temporais, nem me importava,
pois aprendi com a natureza que a beleza existe em qualquer desses céus. Às
vezes o tempo passa veloz que a gente nem percebe, mas, Deus percebe e está
presente em todos os nossos momentos de dificuldades, fraquezas, sucesso e
insucesso. É Ele que faz o sol brilhar, que faz a noite cobrir de estrelas o
céu que naquele final de tarde voltei a admirar, estupefato fiquei. É Deus quem
dá o frio do inverno, as chuvas e o calor estressante do verão; faz as folhas
secas de outono cair, e a fascinante primavera encher-se de flores e
despedirem-se deixando saudades nos primeiros solstícios de verão.
Então,
naquele local aprazível, resolvi parar, pensar, refletir sobre mim mesmo. Usei
a força da poesia porque sei que tem algo em mim que a produz fácil. Mas sei
também que tem um poeta dentro de cada um de nós, bastam querer. Os poetas têm
alguma coisa em comum: têm os pés na terra, mas seu olhar, seu coração, seu
pensamento estão cravados no céu, e assim, não pense duas vezes, crave o seu e
mire o azul do céu, ouça os cânticos dos pássaros, aprecie a lua e todo o seu
esplendor e aí escreva o que sentiu. Escreva o que fluiu de seu pensamento e
terás a certeza de que sua alma renascerá e começará a viver o bonito, o prazer
que vem das palavras e todos te entenderão. Não tenha preguiça física ou
mental. Fale coisas que possamos entender, sejam reais ou imaginárias. Quando
ler meus escritos, mesmo sendo de tempos idos, com as páginas amareladas pelo
tempo, podem até parecer que foram escritos dias atrás, mas não foram, porque
aquilo que imaginamos será atualizado pelo próprio tempo e os manterão vivos e
reais.
Se sempre
ler e escrever suas fontes de inspiração nunca se dissipará. Ao devorar livros,
engula-os saboreando toda a escrita que sua mente percebeu que possa vitaminar
o seu saber. Aos poucos, sua ânsia por coisas novas crescerá a ponto de todos
os livros te encantarem, despertarem em você aqueles olhos que outrora não
varavam sequer dez páginas, enquanto outras pessoas devoravam várias. Ao ler,
faça compassadamente. Seu pensamento voará às alturas e absorverá o néctar da
sapiência e aí, tudo se tornará mais fácil e a inspiração poética fluirá
naturalmente. Quando você começar uma frase mesmo sem nexo, pode ter a
certeza que ao final, revisando cada palavra, você finalizará com sucesso o seu
texto, portanto, não se aquiete, pegue uma folha de papel ou sente-se à frente
do seu computador, use o teclado e digite. Pense no mundo que o rodeia, pense
naquela beleza inspiradora que a gente destacou no preâmbulo, e fazendo isso,
notará que seus dedos correrão a uma velocidade incrível e martelarão as teclas
com desenvoltura e no monitor, aparecerá automaticamente um amontoado de
palavras e nelas, brotarão sentimentos que só um poeta é capaz de sentir e ter
a inspiração necessária que certamente, jorrará aos borbotões e que serão
gravadas em sua memória para sempre.
Ao
escrever este amontoado de letras, o achei meio efêmero. Então, resolvi usar as
asas de minha imaginação e voar, voar sem rumo, sem destino certo. Achei ser
necessário usá-las porque elas sempre me levaram ao improvável. Também porque
voando, posso passar por mundos que jamais imagino encontrar e neles, captar
palavras certas para incutir no meu saber. Sei que até para se entrar numa
Universidade um dos pontos prioritários é saber escrever, é interpretar textos.
Então porque não exercitar a memória e saber que tudo está sobre o nosso
alcance e vontade de aprender. Existem as realidades e mistérios decorrentes de
cada coisa escrita, por um mínimo que seja e não importa o autor, sempre
existirão. Realidades e mistérios dos quais agora também você fará parte se
começar a escrever. É claro que vamos entender quando escrever o seu primeiro
texto, romance, contos, crônicas ou poesias; entender de que não existirão
neles como realidade, o palpável, mas sabendo que existirá a importância do
começo, a complexidade do meio e a perfeição de um final, para, a partir daí,
viver a dimensão do seu próprio saber sem precisar de asas para voar.
Quase-Xará, sua excelente crônica confirma que, "As palavras, onipresentes no espaço, são as essências das formas que cegos enxergam, mudos falam, surdos escutam... Onipresentes no tempo, são verdades antigas, lentas, eternas, penetrando as blindagens egoístas modernas..."
ResponderExcluirQuase-xará, obrigado. Suas palavras são um incentivo para mim.
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