Diz o
Aurélio: “Um ato imoral nem sempre é um ato ilegal. Por exemplo, extorquir
dinheiro de uma pessoa idosa através de um esquema fraudulento é um ato imoral
e ilegal” Uma pessoa que trai outra comete um ato imoral, mas não é ilegal.
Impedimento nos termos da Constituição é um ato legal, legítimo, mas em se
tratando de gol, é ilegal, é nulo. “No entanto, é importante referir que apesar
de existir na sociedade uma noção de moral e imoral que é aceita pela maioria,
várias pessoas criam o seu próprio conceito de moral ou imoral. Isto significa
que o que é imoral para uma pessoa, pode não ser imoral para outra”.
Certo dia,
num quarto frio de um casebre construído de puro adobe, com janelas e portas
presas com simples tramelas, eu encontrei crianças desnutridas e amontoadas em
pequenos colchões, iluminado apenas por um pequeno abajur, vi debruçado sobre o
vão da janela o pai Ernesto Quintais, homem trabalhador, que naquele instante
estava com o olhar voltado para a imensidão do inverso esmiuçando certezas e
incertezas no afã alcançar dias melhores, visualizar pelo menos uma pequena luz
no fim do túnel e quiçá, realizar o seu sonho maior: uma casa própria. Mas
anestesiado pela dor que punia as paredes estomacais pela falta ingestão
de alimentos, aquele trabalhador e seus filhos possuídos por uma
impropriedade mundana corroída pelas intempéries do tempo, ainda
conseguiam assistir e ouvir da pequena TV em preto em branco, os
sussurros, maledicências e descrições metafóricas das sandices
políticas. Sem entender e ao mesmo tempo estupefato, via a Presidente
deixar o Palácio cercada por seguranças, que nem mais era dela, mesmo assim,
recebia a proteção do Estado que ela deixara em penúria, endividado e
corrompido. Para o Sr. Ernesto mais parecia uma cena de filme de ficção,
e em tom conspiratório e da não aceitação de um impeachment, abandonava o
palácio pelas portas da frente, mas dizendo-se sair nos braços do povo, no
entanto, não passava de quinhentas pessoas, catalogados entre comissionados,
deputados, senadores correligionários e os tais seguidores – chamados de pão
com mortadelas, apoiadores de seu malfadado governo, cujo semblante como ao de
seu voraz chefão petista – o Lula, mostravam uma desfaçatez absurda e curiosa
que não se limitavam a própria esfera de seus infortúnios políticos.
Ernesto,
não mais suportando as decepções que a vida lhe pregou, acariciava os filhos
famintos, sem nada a oferecer, mas ao ver aquelas figuras patéticas, de alguma
forma tentava corroborar a tentativa fajuta de escape de sua circunstância
natural refutada pela aversão ontológica daqueles que escarnecem de todos, dos
que os elegeram, do trabalhador, do honrado, do honesto; daqueles que se
esbravejam diante das minúcias apregoadas; daqueles inescrupulosos
desguarnecidos em seu próprio habitat, que fugidamente retroagem aos gêneses
dos ritmos das marchas fúnebres. Diante daquela imagem de uma ex-presidente,
tudo parecia pousar na personagem maculada dos observadores mais atentos, a
figura de um rosto-mentira, de corpo que fora acomodado em poltronas de
anos de maledicências, mostrando uma silhueta disposta ao ridículo. Naquele
rosto desguarnecido de qualquer compostura e respeito ao povo brasileiro
estampado nas primeiras páginas de jornal ou esmiuçado pela TV, se
vislumbrava uma profunda abstração em forma de pintura de escárnio, tal como
aquela dor que sobe por nosso estômago e que muitas vezes nos levam ao vômito.
Ainda bem
que a teimosa deixou a hostes palacianas. Hoje, o mestre de obras Ernesto
Quintais, assim como tantos outros brasileiros independentemente de quem se
encontram no poder, respira melhor a dor sofrida e contraem seus músculos de
moralidade e respeito à coisa pública. E esmiuçando a imoralidade e pregando a
mantença da ordem jurídica, publica e social, é bem provável que retornemos a
um novo tempo, tempo do trabalho, da recuperação das finanças, do crédito
perdido, do pagamento em dia e na certeza de a maioria do povo
brasileiro, os verdadeiros patriotas, aqueles que se vestiram de verde-amarelo
e que foram às ruas, já se sentem mais felizes e capazes de visualizar retalhos
de luz no fim do túnel antes mesmo que estas linhas sejam denotadas de
melancolia e decepção.
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