Costumeiramente, vou à sacada para olhar o vazio da rua. Certo
dia, de repente, eu me senti extasiado diante da grandeza do universo e dos
enormes prédios que circundava o meu. Olhei
para o infinito e observei milimetricamente cada detalhe que o compõe e notei
que todos fazem parte da teia que rege o universo, cada um com seu destino e
importância. Era tanta beleza que um sorriso
brotou em meu rosto, meus olhos brilharam diante do ambiente místico e um
charme especial foi trazido pelo vento que adentrou e se misturou como se ele
fizesse parte de uma orquestra cheia de mistérios. E, toda vez que estou na
sacada eu me mostro ao mundo da forma que sou e o mundo me mostra a forma que
ele é, e aí me extasio diante do brilho do sol que também penetra trazendo sua
quentura, mas o céu queria encantar-me mostrando todo o seu esplendor, o vento
que fazia parte desse universo soprava suave trazendo fragmentos de amor que
saiam das teias do destino em direção ao meu peito e tudo se transformava em
sorrisos, entre eu e ele. O ambiente místico parecia desabar, mas boquiaberto e
olhando para a teia do destino, declarava que amava tudo ao meu redor
Em certo momento vi a saudade chegar, sentar junto comigo
numa pequena mesa exposta na sacada. Olho com certa tristeza para o infinito e
emudeço, esperando, que ninguém chegasse a ouvir de meus lábios um grito de
saudade mesmo que tivesse sobre a mesa uma bebida impregnada de sabor. Não
tinha nada e nem bebia qualquer coisa continha álcool, pois traria mais
saudade. Peguei uma folha de papel, uma caneta, comecei a rabiscar e notei que
ninguém estava lá para me azucrinar. Dei uma pausa e naquele mesa pensei na tal
saudade, depois, de cabeça baixa eu comecei a juntar os escritos, ou rabiscos,
sei lá. Foram horas e horas para que eu pudesse definir sobre o porquê daquela
saudade e porque ela estava ali diante de mim. Perguntei a mim mesmo: Será que
é mania de poeta criar coisas assim para ter a satisfação de decifrar o que
sente, pois à saudade vinha em forma de poesia. Era um final de tarde,
nem fria ou chuvosa, mas deixava o meu coração triste e solitário. Submergido
numa teia de pensamentos e reflexões, mas imbuído de ir à busca do impensável,
de compreender e aceitar a realidade que me circundava quedei-me diante do meu
desabafo interior na tentativa de afugentar tudo aquilo que vinha da teia
universal que de certo modo controlava o meu destino e trazia muitas
incertezas.
Com a
caneta na mão e a poesia no coração, constatei que nem tudo era só saudade que
se impregnava em mim, mas também a alegria. As magoas corroboravam na
formatação de rimas que se espalhavam no quadriculado papel, versos sobre amor
que já não valiam mais, mas sempre deixava algo para me machucar. Rabiscos e
mais rabiscos enchiam a esbranquiçada folha, se misturavam, se convergiam,
nascia mais um poema, mas o poeta e sua caneta, nem sabia se a dor era à toa,
ou se era de verdade, se era poesia ou poema, se alguns versos podiam magoar
alguém, Então a saudade e poeta juntos naquela sacada se tornaram partes de uma
moeda de pouco valor comercial, a tinta incrustada na caneta pouco valia,
somente o papel rabiscado e cheio de poemas tinha o seu valor. Valor que o
poeta não contabiliza e nem soma a eles sua dor, pois faz parte do seu jeito de
pensar e escrever.
Sempre
existirá um mundo repleto de inocência quando se tratar do olhar infinito de
uma criança, por isso, acredita-se que existe algo diferenciado quando se vê
coisas originárias da teia do destino, ocorrendo um contraste de revelações
pelo que podemos continuar sendo. É fato que o amor é inevitável quando
tudo é frágil, mas, todavia, admiramos a fortaleza dos sentimentos que guiam os
bons. Quando se trata de envelhecimento a juventude demonstra certo
desequilíbrio, porque estão cercados de escolhas, pelas quais o mundo é confuso
na sua lógica. Ensiná-los cedo a distinguir o caminho e que o futuro é
uma sombra de fatos, continuamente o que se faz a cada dia e, não importa se
for no amanhecer, na noite, nas horas que mudamos o senso da virtude, tudo
estará no lugar de espera.
Olhando
para a teia que cobre o infinito ou coordena o destino de cada um, esse limite
do olhar ultrapassa o improvável e sempre rouba o nosso tempo e o pensar
empobrece a certeza. Essa teia esconde nossas dores e os segredos vagam
por um mundo sem respostas, culpando o passado, como abrir um álbum de fotos
repletos de rostos, talvez com semblantes de saudade e remorso, que nos intriga
e instiga à realidade e a comparação da felicidade. O olhar fora do
alcance, seja no espaço das ilusões, seja numa fila interminável, sem saber
quem é o primeiro ou o último; uns e outros indo para lugares certos
expressando sorrisos, imbuídos de esperança, e tudo aquilo que jamais traria o
desassossego ou brincar com o que não se tem.
Olhando pela sacada rumo ao universo infinito como eu sempre faço,
sem os insultos do silêncio de ontem, sei que diminuo o meu sofrer, todavia, a
fragilidade de existir entre o que é eterno e mortal, às vezes posso ter
trazido desde a infância até ao envelhecer. Sentir na pele as mudanças, sentir
na mente os pensamentos as lembranças, sentir na atitude de escrever alguns
arrependimentos; porque destes, somos de uma complexidade de corpo inspirado
pela alma. Então, devemos remanejar a teia que controla nosso destino, deixá-la
livre, assim como a nossa vida e as expressões que se tornaram ociosas.
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