Não sei se esta é a
opinião de todos os poetas, mas entendo que poesia é uma arma poderosa que o
poeta tem nas mãos para conscientização, moralização, união e libertação. Ela
ultrapassa fronteiras, vence obstáculos e discriminações. Como a uma semente ela
é capaz de brotar no coração, chegar às mãos dos poetas para se explodirem em
versos.
Não é à toa que
cheguei até aqui. Há tempos venho batalhando para sair do meu casulo poético
para vencer os obstáculos que possivelmente eu poderia encontrar no meu
caminho. Como mero aprendiz de poeta eu pude contracenar com o real e o
surreal, fiz peraltices nos tablados da vida, como quem não queria nada, mas
sempre escancarando um sorriso singular no rosto. Certo dia, diante do espelho,
olhava a minha silhueta, e de repente apareceram o meu rosto imberbe, e nele,
meus olhos pareciam perturbados, admitindo uma vontade férrea de enxergar o
óbvio com o auxilio das retinas. Velhas malícias por mim conhecidas iam
surgindo como quem está fascinado com uma obra de arte. O espelho ao
refletir-me, por si só, já era o caos, e eu ri. Ri de mim, esnobei a minha
silhueta e fui à luta. Venci meus medos e em razão disso, eu fui vencedor de
mim.
Não quero usar do
plural porque neste texto estou falando somente de mim. Não quero falar nada de
coisas que já fiz noutros dias, pois elas não valeram à pena. Nem quando
escrevi pela primeira um livro de romance e diante de textos poéticos sem nexo,
inacabados. Pena de mim e nem vergonha eu não tive, pois era o meu primeiro
livro. Pena eu não tive e não tenho, pois não sou egocêntrico e nem metido a
sabichão, pois aqueles que me conhece sabem disso. Exigente eu sou e até
demais, chegando a me reconhecer como a um ser irracional, todavia, hão de
entender que isso é apenas uma parte de mim.
Saibam, porém, que
não tenho desenhado em minha mente as ilusões. Mas constantemente transformo a
carga pesada em duas situações para serem mais fáceis de carregar. A primeira,
o amor, é garra e gana por lutar para deixar de ser um simples escriba. A segunda
é saber reconhecer todas as belezas que existem fora do meu casulo e dos sons
que são propagados pelo mundo.
Aqui, escancarado no
meu recanto sonhador, entre paredes acinzentadas, eu me escasso de perguntas e
respostas. Estou farto de muitas coisas que vem acontecendo com o nosso País,
sem poder fazer nada ou dar respostas convincentes a alguém. Estou procurando
vencer a mim primeiro para depois poder questionar a existência de outros
obstáculos que me cerca. Neste momento estou com os meus pensamentos
embriagados, a boca seca e a respiração ofegante, pareço estar trazendo as
sujeiras das ruas, os resquícios de tempestades e de temporais que procuro
exterminar no meu recanto quando estou escrevendo algo. São momentos que a
minha bela loucura vem à tona, pois aparecem fantasmas, fragmentos do passado
que mais parecem tralhas obsoletas que tentam enfeitar o meu cotidiano, que
talvez possa até trazer a admirável e eterna companheira: a paz. Admito que
esses fragmentos possam até perturbar a organização do meu ambiente que é mais
uma de minhas manias, manias porque não suporto meus livros guardados de forma
incorreta, sem ordem ou amontoados numa estante qualquer.
Fecho a porta do meu
casulo, deixo a chuva se estilhaçar na vidraça da janela e o vento que penetra
por ela levar tudo aquilo que não me serve mais. Dentro do casulo há amor e sei
que ele é capaz de vencer o mal, de enfrentar obstáculos e ultrapassar todos os
limites, barreiras e adversidades. Esse amor que carrego comigo já venceu o
medo, eliminou dúvidas, ódios, lágrimas, saudade, e enfim, eu o levo comigo
porque não só venceu como vencerá tudo e me ajudará a tornar vencedor de mim.
Junto com esse amor vem à fé que me fortalece a transpor qualquer obstáculo que
possa aparecer durante a minha caminhada e me ajudará a escalar qualquer
montanha e a superar qualquer problema que surgir.
Achando-me vencedor,
certo dia, o caminhar por uma estrada deserta eu vi uma imagem me chamou
bastante à atenção. Flores nasciam em terreno infértil, num lugar deserto onde
só havia pedras e, aparentemente, onde não poderia haver nenhum tipo de beleza,
crescia uma florzinha. Pasmo, perguntei a mim mesmo que poder existia dentro
daquela semente ali plantada ou deixada cair por alguém. Assim somos nós. Assim
é o ciclo da vida. Pode haver espinhos, dificuldades, doenças, perdas, e por
fim, pode haver inúmeros motivos para ficarmos parados, desanimados, mas dentro
da gente está a vida e Deus nos capacita nos encoraja e nos conforta para que
possamos vencer até a nós mesmos. Os obstáculos que encontramos pela frente têm
duas funções em nossa vida: Parar-nos, ou fazer-nos seguir para ultrapassá-los.
Nenhum obstáculo será tão grande se a nossa vontade de vencer for maior, e
junto com ela a atitude, o otimismo, a perseverança e a fé.
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