O literato e as pedras no caminho.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

É difícil o fazer literário. Mais difícil ainda é depois de delineado o tempo, saber conduzir a palavra pelos meandros do texto e o jogo que se deve ter para viajar no contexto, para que um artigo ou crônica não sejam apenas mais um ou uma entre tantos ou tantas que se publicam diariamente em revistas e jornais. Escrever é como andar sobre pedras pontiagudas esquecidas em terrenos íngremes sem senti-las. Hão de se convir que existam pedras que dificultam e impedem a nossa passagem de um estágio a outro e não importa o momento. Vencendo-as, no entanto, e ultrapassando-as, deslocando-as do caminho, haverá inevitavelmente a descoberta da realidade da vida, por mais cruel que seja.

Geralmente quando começamos a escrever procuramos em primeiro plano concentrar, procuramos pensar em tema e o escolhemos, e mesmo sendo uma história comum, real ou surreal, criamos alternativas, inventamos modos, peripécias, ouvimos o canto dos pássaros e quando olhamos o horizonte, vemos o sol se por e a lua assumir o seu lugar. De certo modo, até sentimos as dores que nos mesmos criamos para os nossos personagens. Tudo ao seu tempo ajuda e se inebria em cada frase, fazendo surgir diversos personagens. Indiscutivelmente bastam poucas palavras e a mente generosa que tem o literato, nada lhe prende em sua cabeça pensante. À vezes, pode descuidar-se, mas na ânsia de escrever o óbvio, pesquisa, lê tudo sobre o tema a que se propõe e prossegui, levando a palavra a todos aqueles que estão, talvez, na mesma situação do próprio literato, afinal, pedras podem, de repente, ser pisadas em qualquer lugar ou cair sobre todos. Pesquisar e trazer informações precisas sobre qualquer estigma que assola a humanidade nos dias de hoje, nada mais é que uma obrigação de quem escreve, pois em qualquer parte do universo pode uma pessoa incauta, despreparada, estar lendo o texto e aí as informações servirá como um alerta não só para ela, mas também para todos nós.

Certo dia ao ler uma carta esta me reportou a outra que tinha quase com o mesmo sentido, uma carta de despedida, de uma amiga extraordinária, limpa, sincera, honesta, que enfrentou uma doença terrível, incurável, por sinal, a mesma situação da outra amiga, e ela, sobre pedras, também pisou... A carta dizia assim: “Vá me perdoando pela aspereza do trato, porque me irrito fácil com você. Tu és uma pessoa boa e excelente amiga que tenho acompanhado há anos. Como eu, você não quis “aparecer” publicando livros fracos como eu fiz. Só estou com essa irritação por que algum “vírus” maligno fez isso comigo. Perdoa-me! Para que fiquemos bem, é melhor a gente se evitar, de oferecer nossos préstimos. Sei que posso contar com todos e principalmente com você nos momentos difíceis. Então, deixo-lhe como lembrança, o poema que fiz e sei que você gostou”. Poucos dias depois ela partiu para sempre.

Atabalhoado, pela tamanha coincidência, confrontei as cartas e esta outra dizia: “Amiga, hoje com o corpo quase desfalecido, fui para a cama. Para variar não conseguia dormir e ainda, de madrugada, caiu uma tempestade como nunca vista. Ao fechar a janela que estava semi-aberta, ouvi um trovão ensurdecedor que rasgava o céu. Lembranças vieram à minha mente mostrando vívidos detalhes de uma vida mal vivida e de projetos não realizados. No meu quarto, paira um cheiro mofo, fétido. Minhas mãos estão geladas, o corpo suando e mal consigo respirar. Se você amiga me perguntar quantas lágrimas desceram pela minha face, não sei! Só sei que me encontro resignada e estes últimos momentos de minha vida quero que me perdoe se algumas vezes lhe tratei de forma áspera. Você nunca escreveu livros fracos e para mim és best seller. Sabe que um dia  rezei e pedi ao nosso Pai Celestial para amenizar a minha dor. Pedi tanto que momentos depois me senti aliviada. A dor desapareceu, não sei explicar, mas desapareceu...”

Verdadeiramente, pelo que elas realizaram somente podemos entender que vieram ao mundo para dar-nos exemplos de honradez, amizade, dignidade, pois enquanto viveram, mesmo depois da doença de que foram acometidas, elas continuaram amigas e leais. Esta pequena crônica pode ser uma lição de vida. Vida em todos os sentidos. E por mais simples que seja este texto ele nos repassa respeito à amizade, o amor, amor à natureza, e principalmente, amor à vida. Todos os literatos, mesmo caminhando sobre pedras, procuram de alguma forma explicar, seja no meio ou no final de cada texto, o significado do que é Ser neste mundo de Deus.

0 comentários:

Postar um comentário

 
Vanderlan Domingos © 2012 | Designed by Bubble Shooter, in collaboration with Reseller Hosting , Forum Jual Beli and Business Solutions