A noite
encurtou o caminho e uma tristeza infinda tomou conta de mim vorazmente. O
calor não me deixava dormir, continuava inerte diante das marcas passadas.
Transpirava e em todo o meu corpo desciam gotas de suor. Lembranças vinham aos
montões, mas não eram apenas lembranças, eram também dores doídas que
avassalavam meu peito em um crime lento, de uma forma torturante. Logo,
apalpei-me a mim mesmo e indaguei: Porque tanto suor? Sem resposta de como
responder ao caro leitor, quero que preste bastante atenção: A vida não se
define em um “mar de rosas”, e muitas pessoas querem ou precisam vencer na
raça, entre gotas de suor, mesmo que o vencer signifique que elas tenham que
conseguir apenas um mísero pedaço de pão.
Muitas já
visitaram cidades neste e em outros estados, conheceram pessoas, gente de trato
diferente. Sei que não foi nada fácil pra ninguém, mas sei que quando tiveram a
primeira queda Deus veio e estendeu-lhes sua mão… E para ser sensato, acredito
que não passaram nem perto de serem pessoas comuns como fui ou ainda sou. Nunca
conseguirão o que planejavam, ou conseguirão? Já moraram de favor? Se for
afirmativo então lhes garanto que uma mudança é incontestável, e aceitá-la, da
forma que veio ou ainda virá, é imprescindível. Desde menino aprendi o que
significa mágoa. Sentia quando os meninos mais abastados riam da minha casa
construída de adobe, talvez nem soubessem que eu estava lá por falta de
condições financeiras e minha mãe sequer tinha condições de pagar aluguel de
uma casa melhor. Riam das minhas calças curtas, mesmo sem saberem que eu as
tinha porque alguém de bom coração havia doado. Riam do meu chinelo que não
encaixava bem no pé, mas não sabia o quanto me doía por não ter condições
financeiras para comprar um novo e ou mesmo possuir um sapato condizente. Eles
riam do meu cabelo, o qual, eu lavava com sabão caseiro em bola, feito em
tachos, e era fato que também não tinha condições de comprar um xampu. E foi
assim eles construíram um império de gozações…
O tempo
foi passando e a cada dia fui vencendo. Com muito custo, suor e intermináveis
dias de trabalho e eu já possuía uma moradia mais digna. Senti uma necessidade
imensa de ser feliz, mas confesso meu caro leitor, sem saber o que significava
felicidade. Só sei que lutei e muito, trabalhei dias e dias incansavelmente,
conquistando um pouquinho de dinheiro, mas não para viver em um mundo de
aparências, porque diante do mundo a minha alma gritava por algo concreto, algo
que vinha de dentro do peito, de um lugar emocionalmente profundo: o coração.
Noite
silenciosa e gotas de suor não paravam como não paravam de vir os pensamentos
rumorosos que apossavam de minha mente. Nem odeio esses momentos em que
relembro toda a minha história, porque ela foi escrita com tintas rubras de um
coração ferido pelo tempo. Hoje me sinto feliz e orgulhoso por ser quem
realmente sou, pois o passado passou de boa e me tornou uma pessoa mais sábia.
Nunca entenderei aqueles bichos-homens donos daqueles impérios de gozações
impróprias e nem do homem que continua sedento por dinheiro e se corrompe facilmente.
Noite à
dentro, peguei uma toalha estirada sobre a cabeceira da cama, enxuguei o rosto
para não mais ficar entre as gotas de suor e nem mais me lembrar de tempos
idos. E assim, olhando pra um ponto qualquer de meu quarto encerrei minha
sessão de tortura, para tentar dormir e torcer para que o sono curasse meus
olhos irritados e o suor secasse de vez. Mas antes de encerrar esta crônica,
fiz uma prece para todos que agora passaram ou passam pela mesma situação que
eu passei, e ao final, desejei que todos superassem com garra, vigor e jamais
se atormentassem por estar apenas entre gotas de suor.
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