Quando
comecei a escrever este artigo senti-me sem otimismo e não conseguia ver as
coisas do modo que elas são por mais que tentasse. Senti-me cansado demais,
exausto. Cansado de tudo, do mundo real, do palpável, do prático, do
imaginário, do surreal. Cansei da visão fantasiosa sempre contrária ao mundo
real. Cansei de escrever; cansei do trabalho maçante e de tudo aquilo que
estressa; cansei de reclamar do errado e das coisas erradas; cansei daqueles
que fazem denúncias vazias, caluniosas, difamatórias e não enxergam o seu
próprio umbigo. Cansei até do elevador, onde às vezes cruzo com gente
rancorosa, que me olham de soslaio, mas felizmente, a maioria delas é especial.
Cansei de passar pelo mesmo trajeto onde passam os imprudentes, irresponsáveis,
que fazem ziguezague com seus veículos nas ruas e avenidas da cidade. Cansei do
bonito que a natureza mostra, mas sempre é desrespeitada; cansei das
destruições mostradas pela TV; cansei da ilusão de beleza que se vê em cada
rosto. Cansei, cansei mesmo, até de mim! Ah, se cansei! Cansei das notícias
veiculadas repetidamente pelos jornais e televisão; cansei das novelas que
levam exemplos ruins aos lares brasileiros. Cansei da leitura de páginas de
jornal, das vozes de alguns radialistas e apresentadores que judiam de nossa
língua pátria, as quais surfam nas ondas do rádio maltratando nossos ouvidos.
Cansei das desgraças que são repetidas nessas parafernálias eletrônicas, onde
uns copiam cenas de outros, e outros, querendo ser mais engenhosos, encenam o mesmo
ato criminoso usando apenas outras posições, fazendo montagens inversas,
destacando o choro em outros tons e destoa a comoção no verso e anverso de
fitas gravadas. Cansei do julgamento onde se destaca um surpreendente
julgamento que ao final sabe que poderá tornar-se uma pizza, recheada de votos
“pensados”, extraídos do ódio ou inveja contra alguém que se sobressai,
abusando de códigos defasados que são descritos na plácida sentença que se o
povo tiver juízo não aceitará. Cansei da forma em que retratam a comoção de um
povo, do falso novo, do falso velho e principalmente, do anverso dos dois
porque quando colocados inversamente são definidos pelo Aurélio como falsos.
Cansei do que os olhos são capazes de enxergar perto ou à longa distância. De
perto, tenho que usar óculos de grau, e isto me cansa; de longe, enxergo coisas
que não deveria enxergar; coisas que não presta e aí me constranjo, canso.
Dias
atrás após assistir a um julgamento pelo STF, senti que queria algo verdadeiro,
diferente, que vai além daquilo que penso. Quero o poder da premonição, de ver
o futuro, sem desfazer do presente. No teatro da vida quero a inversão de
papéis entre atores e atrizes, sem que haja a inversão de valores e o texto na
tela interpretado não vire realidade e a realidade mostrada, não vire sonhos
amorais ou imorais, e se virarem, que sejam distante de minha realidade.
Entendo que devemos respirar novos ares, ter novos hábitos, ideias, emoções,
desejos, pensamentos, isto é tudo que quero, e se puder, esconder dentro de
mim. Quem sabe se isso vir a acontecer tudo possa ser diferente em relação ao
que tenho hoje, se não puder ter, então serei obrigado a desejar que o hoje
renasça novamente.
Mas,
quão difícil é ser diferente e não cansar de tudo. Quando chego ao meu lar à
primeira coisa que não quero ouvir é o zunido do elevador, o tic-tac do
relógio, a torneira que mesmo fechada, insiste em soltar gotas fazendo barulho
sobre um vasilhame, um som rouco: tum... tum..., nem paro para contabilizar os
ruídos. É justo. Estou cansado. Nunca importei muito com o que acontecia ao meu
redor, mas hoje paro, penso, observo e fico decepcionado com os políticos e a
justiça, não dou atenção aos mínimos detalhes televisivos. É o cansaço. Quando
sento à mesa e sirvo-me com um pouco de café adoçado com algumas gotas
dietéticas e pão francês, então me acalmo. Ainda bem que a gota dietética é
silenciosa. Tomo o café e com um sorriso inacabado ligo a TV. Novamente
aparecem as desgraças de ontem, hoje reprisadas. Mudo de canal e lá vêm outras
notícias e digo: espera ai! Eram as mesmas cenas do outro canal, e então
percebo que a minha mente poderia estar atabalhoada. Aquela reprise não era
real. Desligo a maldita TV. Vou ao quarto e olho no espelho para ver se
continuava apresentável, pois o trabalho desgastou-me. Mirei fundo nos meus
próprios olhos que se arregalavam diante do espelho e me vi vítima da rotina
que eu mesmo criei. Eles também estavam cansados. Tirei a gravata e aquiete-me.
Pode ter sido só mais um dia ou poderá ser o último se eu pudesse prever o meu
futuro, mas o que importa é que eu nada planejei.
Quando
disse no preâmbulo que cansei do imaginário, não posso afirmar isso em relação
aos amigos e amigas, sejam virtuais ou não, pois eles são como os sonhos: estão
com a gente aonde quer que estejamos; aonde a gente quer estar, e ninguém pode
podá-los ou impedi-los de existir, pois só nós o vemos e acreditamos neles. Os
amigos que me acompanham pelas ruas solitárias da vida nunca me deixam no meio
do caminho e me impedem de ficar sozinho, porque somos pessoas que correm atrás
de um propósito, de um desiderato para continuar andando em busca de um caminho
cheio de luz, não só os iluminados pelos raios do sol ou da lua, mas também, em
busca daquela luz que brota dos lindos olhos de alguém que a gente preza muito,
alguém que nos espera diariamente e nunca nos cansará. À bem da verdade,
acreditar no improvável, no impossível e no imaginário sempre foi meu norte. É
bom viver no mundo dos sonhos, mas hoje eu cansei.
Realmente
cansei, até de mim mesmo. Parece que estou com uma grade em meus olhos. Uma
grade embaçada que me impede de enxergar e de ver o óbvio. E assim sou obrigado
a me manter parado, sem dar um passo à frente ou para trás, talvez por medo de
cair num precipício que a própria vida constrói. Essa grade está repleta de
memórias insolúveis, indecifráveis, uma grade que me isola do mundo, que impede
meu coração de bater como antes batia. Tudo isso me fere, me cansa, me isola, e
noto que o meu tanto faz também se cansou daquilo que tanto fiz. E neste lapso
de tempo posso ter conhecido gente que implica por qualquer coisa, hipócritas,
invejosas, sem caráter. Posso ter caminhado por estradas tortas e deitado sobre
relvas sombreadas por galhos secos de árvores milenares, sem esperança de obter
certezas e ouvir melodias tocadas e cantadas por alguém que não existia e que
eu mesmo inventava. E olha que me preocupo com o vozerio de vozes e sons que
vem das ruas, do zunido do elevador, de cada gota que cai da torneira, do
chuveiro, do tic-tac do relógio ou dos noticiários dos jornais, rádios e TV,
mas, tudo isto, não faz de mim um ser insensível, incapaz de enxergar o sorriso
angelical de alguém ou as lágrimas que saem dos olhos da minha amada que dada a
sua firmeza de espírito jamais as deixa cair ao chão. Leitor, não se deixe
sangrar por essas palavras. Não se deixe sangrar mesmo, pois no fim a verdade
sempre aparecerá, e as que tento expressar, pode ser apenas uma situação
momentânea a mim postergada por alguma coisa surreal ou um ente estranho, que
me cansou e fez com que eu criasse situações fantasiosas extraídas de um mundo
que não se sabe se é ou não real.
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