Sentado no mourão da
porteira respirava ar puro e o meu corpo recepcionava uma chuva fina, mas
intermitente. O sol timidamente voltava a aquecer as gotículas de orvalho que
dançavam sobre as folhas e pétalas das flores que circundavam o moirão. Apenas
uma lembrança, não, uma sensação percorria minhas entranhas e chegava ao
coração. Talvez algo que não me incomodasse tanto, mas latejava o tempo todo
que não me deixava esquecer aquela bela menina da cidade de Pontal.
Desci do mourão, mas
o que fazer? Mobilizei-me rumo às flores e dirige-me ao campo tentando segurar
a mim mesmo, pois um movimento interno aos poucos foi tomando forma, se
firmando, até explodir como a um pensamento, como a uma verdade subconsciente
impregnada na região recôndita do meu cérebro, interiorizada, que ia brotando
aos poucos. E depois de tantas caminhadas por este mundão de meu Deus, de ver
tantas portas se abrir e fechar, numa delas eu a encontrei, ela estava lá, de
braços abertos como aquela gota de orvalho que tinha se impregnado naquela
folha ao lado do mourão da porteira e que eu tanto apreciava. E, que prazer eu
senti, que delicia ter ouvido sua voz. Fiquei estático como
aquela pequena gota do orvalho junto ao mourão da porteira. As folhas que
caíram com a brisa, tão frias, do primeiro sopro do dia foram levadas pelo
vento. Pensativo e com o pensamento alhures, abri os olhos e os agucei rumo ao
horizonte. O sol ainda não havia nascido, e tão belo era o horizonte
avermelhado e as nuvens, pequenas e esparsas que coloriam a atmosfera com os
primeiros raios de sol. Abri os braços e me perdi na imensidão do céu, senti o
calor do sol tocando minha pele e o regozijo das arvores que dançavam ao sentir
o vento delicado que vinha do sul, derrubando as únicas folhas secas que
pareciam gritar em meu ouvido, “acorde, estamos já num novo dia!”.
Desci do mourão e
adentrei-me ao casarão feito de assoalho de tábuas e paredes de puro adobe. Na
sala me abracei no espelho. Voltei meus olhos rumo à janela e ainda vi sutis
gotas de orvalho escorrer levemente sobre o portal. Fui até o quarto e dormi
profundamente. Horas depois uma translúcida luz que vinha do céu passou pela
vão da janela despertando-me de vez e o amanhecer ao longe surgia. Levantei e
soltei um sorriso repleto de mim mesmo, daqueles autênticos vindos da alma,
depois saí e massageie minha mente. Viajei no mundo da imaginação. Fui à busca
daquilo que sempre sonhei e à busca de mim mesmo. Meus olhos brilhavam, o tempo
passava lentamente, o dia tornou-se gigantesco e a noite sem pressa apareceu
detrás dos montes. Pássaros em final de tarde cantavam sons tão suaves que
tornava aquele rincão mais aprazível, trazendo a brisa mais refrescante e a
noite mais amena. A natureza é assim mesmo, pois quando amamos a vida ela nos
ama de volta, quando a gente faz bem, ela nos traz o bem, quando preenchemos o
vazio, ela afasta a solidão. Por isso, em qualquer lugar que estiver ame-se.
Seja dia frio ou chuvoso, ame-se. Sendo quente ou abafado, ame-se. Pois um dia
de tanto se amar as pessoas também aprenderão a se amar, assim é a vida, viva o
bem, pois como diz o ditado: que mal tem?
Quando se fala em
amor pode passar dias, meses, anos e séculos e sua janela jamais estará vazia
de gotas de orvalho que escorrerão sobre sua madeira e no fim verás um mar
azul; sua mente voará sem asas prevendo o seu futuro e o trará entrelaçado
entre seus dedos. Tudo isso é a sintonia do universo que pairará sobre sua
essência e algo lhe dirá que um raio de sol se abrir timidamente trazendo-lhe
do resplendor azul toda sua vida que talvez nem a viu passar, mas passou, assim
como, todos seus suspiros que se ecoaram pelo universo afora, mas certo de que
ele trará alguma “coisa” em forma de mulher, que timidamente, se aproximará de
seu jeito acanhado, de seus medos e suas dores e aflições que se misturarão com
a sensação tão bem captada pelo coração. Naquele rincão algo me dizia que Nina,
aquela menina-moça passaria o resto dos seus dias comigo, mas não sabia se para
sempre, mas mesmo que ela não esteja presente aqui na terra o meu mantra
continuará viajando sobre constelações sempre a observá-la.
O tempo passou e
pouco vou a aquele moirão da porteira. Hoje sou como aquelas gotas de orvalho
que precisam da leveza do vento, da amena tempestade, da delicadeza do orvalho,
da firmeza do sol, da pureza da chuva, da imensidão do rio, da calmaria humana e
da sensibilidade da lágrima, enfim, sendo eu simples poeta, que dizem imortal,
preciso muitas vezes ter a grandeza de um oceano que é capaz de alcançar
horizontes onde todos produzem substâncias simples, mas potentes o bastante
para transformar e se adequar as situações mais inusitadas.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir"...preciso muitas vezes ter a grandeza de um oceano que é capaz de alcançar horizontes onde todos produzem substâncias simples, mas potentes o bastante para transformar e se adequar as situações mais inusitadas."
ResponderExcluirQuão bom seria podermos chegar a esse nível de amadurecimento mais cedo em nosso viver...