A morte não vem a galope

quarta-feira, 13 de setembro de 2017


Certo dia um homem montado em sua égua Pestana passava por uma estrada deserta clareada apenas pela luminosidade da lua minguante que mais parecia um pedaço de queijo. Ao redor dela, estrelas que se perdiam de vista... A estrada era de chão batido, mas mesmo assim seguia apreensivo porque naquela região corriam boatos, não raros, de assaltos e crimes... Com o ouvido aguçado logo ouviu a poucos metros atrás o trotão de outro animal. Sentia que alguém o seguia. Olhou para trás e viu um vulto. Apressou-se, no que foi imitado pelo perseguidor. Chicoteou a égua e saiu a galope. Correu... Enveredou-se por outro caminho. O vulto, também.

Apavorado e em desabalado galope enveredou-se por um caminho estreito. Sequer pensava olhar para trás e nem sentia os galhos de árvores ferirem o seu corpo, o coração disparar, a respiração ficar ofegante, mas logo se viu diante de um casebre pouco iluminado num local ermo daquele longínquo rincão goiano. Pensou em gritar, pedir ajuda, mas, antes, olhou mais uma vez para trás e a claridade do descampado lhe trouxe uma surpresa: O perseguidor era apenas um cavalo baio e a égua, na qual montava, estava no cio e devia estar exalando alguma substância que atraía ao acasalamento. Deu uma risada e mais calmo, desabafou: Meu Deus! O que o medo faz com a gente!

A história deste cavaleiro quer queira ou não, assemelha-se ao que ocorre em relação ao medo que a pessoa humana tem da morte.

A imortalidade é algo intuitivo na criatura humana. No entanto, muitos têm medo, porque desconhecem inteiramente o processo e o que nos espera no mundo espiritual. O casebre à beira da estrada, iluminado por lamparinas, que fiz questão de citar nesta crônica foi apenas para afugentar os temores sem fundamentos e inibir os constrangimentos que nos perturbam dia a dia. De forma racional e sem querer interferir na sensibilidade de cada um, quis, com aquelas aparições, esclarecer acerca da sobrevivência da alma e a forma do descerramento da cortina que separa os dois mundos: vida e morte

Entendo ser extremamente importante, fundamental mesmo que percebam isso, já que tratamos de certezas e incertezas, colocando como parâmetro a existência humana num casebre iluminado que poderá ser a nossa salvação, e quiçá, a nossa luz. A estrada que procuramos seguir é e será uma oficina de trabalho para que desenvolvessem atividades edificantes e é através dela que buscamos a renovação espiritual que pretendemos aplicar em nossa existência. Nesse caminho poderá existir até uma prisão, ocorrer uma expiação dolorosa para os que resgatam débitos relacionados com crimes cometidos em existências anteriores. Esse caminho é uma escola para aqueles já compreendem que a vida não é simples um acidente biológico e nem a existência humana para uma simples jornada recreativa. E de certo modo não é o nosso lar. Este está no plano espiritual, onde poderemos viver em plenitude, sem limitações impostas pelo corpo carnal. E de fato é compreensível, pois, que nos preparemos, superando temores e dúvidas, inquietações e enganos, a fim de que, quando chegar a nossa hora, estejamos habilitados a um retorno equilibrado e feliz.

Então, não se apoquente monte no seu cavalo espiritual, não importa o trotão e qual cor dele, apenas siga em paz, sem medo de ser feliz, deixando sempre à frente o nosso Pai Celestial, pois ELE é que mostrará a estrada segura. O primeiro passo é o de tirar da morte o aspecto fúnebre, mórbido, temível, sobrenatural que nela possa existir... Existem pessoas que simplesmente se recusam a conceber o falecimento de uma pessoa da família ou o seu próprio. Têm receio de discutir e transfere o assunto para o futuro incerto. Por isso se desajustam quando chega o tempo da separação morte nada mais é do que o passaporte para a verdadeira vida eterna.

Caro leitor, é importante que reflitamos sobre tudo isso, não nos deixando dominar pelos bens aqui na terra dos quais somos apenas usufrutuários. Um dos motivos de sofrimento dos que ficam, é o fato de não terem se dedicado o quanto deviam àqueles dos quais se despediram. Por isso, convém que, enquanto estamos a caminho, façamos de modo cadenciado como aquela égua, o melhor que possamos em prol de nossos entes queridos, para que o remorso depois não dilacere a nossa alma.


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