Há
bastante tampo assisti a um filme brasileiro intitulado “A hora e a vez de
Augusto Matraga” aí resolvi intitular esta crônica com um nome parecido, só que
o personagem sou eu, este humilde escriba. Do meu pequeno escritório, no 13.º
andar, pode-se ver o pôr do sol e o nascer da lua mesmo com as persianas
semi-serradas. Na parede, à esquerda, diplomas de várias entidades culturais e
Academias de Letras se destacam e eles são um incentivo para que eu possa
continuar escrevendo. Nesta manhã de tempo nublado, sem esboçar qualquer
reação, fui à sacada, debrucei sobre ela livrei-me dos pensamentos ineptos e a
uso como um mirante para visualizar as ruas, prédios e o longínquo horizonte.
Encho os olhos de paisagens e na retina, impregno os meus sonhos.
Do alto,
vejo um cachorrinho preso a uma fina corda que, inocentemente, deposita os seus
restos de lixo na calçada e uma senhora, que deve ser “mãezinha” dele, nem
liga, pois a calçada não é a dela e nem mora perto. Eu tive que rir, ri muito
daquela situação vexatória e do rosto ruborizado da mulher quando o danado do
cãozinho defecou bem mole sobre a calçada. Como ela iria colocar no saquinho de
plástico? Senti-me culpado, pois devia ter entrelaçado os dedos para prender o
cocô no orifício do bichinho. Ao ver aquela cena meus pensamentos que estavam
reclusos foram e voltaram na velocidade da luz trazendo o meu tempo de
criancice. No que tange a aquele cachorrinho é claro que veio à minha mente
cenas do passado: cachorros fazendo suas necessidades, e a gente,
inocentemente, sem maldade, entrelaçavam os dedos indicadores e num repente, os
excrementos do animal não fluíam mais, ficavam como que congelados entre o
orifício e o espaço. Quanto à lembrança que tive de certo cachorrinho,
infelizmente, não tive tempo de entrelaçar os dedos. Sorte dele, mas não da
dona. Mas naquele tempo situação como esta aconteceu com uma senhora educada,
de fino trato, que apenas ficou observando sorrateiramente o meu ato e nem se
importou quando descruzei os dedos e juntos escutamos o gemido do canino e sair
do orifício um excremento e “plaft”: o sólido foi atraído pela gravidade e se
espatifou no chão.
Do alto,
o sol veraneado de uma manhã desta segunda-feira me animava a tirar os óculos
de grau para captar de modo natural, sem anteparos, o mundo que me rodeava.
Esparsas nuvens se misturavam com raios de sol e um bando de pássaros brincavam
de esconde-esconde entre as árvores em voos rasantes. Retornei ao meu recanto e
para não esquentar a “moringa”, fui até a uma pia e joguei um pouco de água no
meu couro cabeludo, depois liguei o ventilador, respirei fundo e disse: Ainda
bem que não estava na calçada e não pisei em nenhum excremento de animal. No
meu ambiente cercado por uma estante cheia de livros é que componho as minhas
escrituras, converso com as pessoas amigas através da internet e escrevo minhas
malfadadas crônicas. Sentado diante do computador massageando o teclado até
formar um emaranhado de letras, às vezes recolho de meu pensamento que está bem
distante algumas frases há tempo impregnadas em meu subconsciente, que me
embaralham, mas teimoso, escrevo.
O espaço que me reserva o jornal Diário da Manhã é pequeno, mas à vezes, até abuso, como já fiz em
outros textos. Então, o jeito é parar de escrever porque não gosto muito de
lamúrias e nem vivo ancorado no passado, assim como, não me apoquento e
nem me deixo ancorar nos fundos rochosos ou arenosos de minha massa
cefálica, caso algum artigo ou crônicas minhas não sejam publicados. Amo
escrever e às vezes pergunto a mim mesmo: Onde estão os amigos confrades,
acadêmicos que quase não se comunicam entre si? Eu estou aqui dialogando com o
mundo, um simples escriba ou aprendiz de poeta, nascido no interior de Goiás e
crescido na periferia da Capital, que andou de pés descalços, camisa surrada,
calças curtas, mas, hoje, dotado de uma curiosidade enorme, cheio de esperança
e que continuo buscando sonhos ilimitados. Posso dizer que me tornei um homem
moderno, ajustado, tolerante, sem preconceitos, todavia, diante da parafernália
eletrônica, seja em tempo frio ou quente, este acadêmico ou confrade que ora
escreve é, como dizem os argutos: sumidouro de memórias, ah, isso realmente
sou... Então, caros amigos e amigas agora é hora e a vez deste escriba,
cuidem-se!
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