Naquele quarto frio, iluminado por uma pequena lamparina, parede
construída de puro adobe, porta com tramelas, crianças desnutridas, amontoadas
em pequenos colchões, vislumbra-se a figura angustiada de um homem trabalhador
a espera de dias melhores e da realização de seu maior sonho: ter sua casa
própria.
Anestesiado pela dor que pune as paredes estomacais pela falta
ingestão de alimentos, aquele trabalhador possuído por uma impropriedade
mundana corroída pelas intempéries do tempo, ainda consegue assistir na
sua pequena TV em preto em branco, além de sussurros, maledicências,
também as descrições metafóricas das sandices de locutores esportivos
criticando os jogadores brasileiros. Ele assistia estupefato ao jogo ruim
e à desclassificação da seleção brasileira e outros comentários sobre atos de
corrupção na CBF e ou mesmo do presidente da república que nem tava aí pra
seleção e se o Brasil se encontrava em estado de penúria, eram comentários que
mais parecia uma cena de filme de ficção, mostrando uma desfaçatez
absurda e curiosa que não se limitam a própria esfera de seu infortúnio
político.
Não mais suportando estas decepções que a vida nos prega, tento
corroborar a tentativa fajuta de escape de minha circunstância natural refutada
pela aversão ontológica daqueles que escarnecem do eleitor, do trabalhador, do
honrado, do honesto, do... Aqueles que se esbravejam diante das minhas
minúcias; aqueles inescrupulosos desguarnecidos em seu próprio habitat, que
fugidamente retroagem aos gêneses dos ritmos das marchas fúnebres. Tudo parece
pousar na personagem maculada dos observadores mais atentos, a figura de
um corrupto, de um rosto-preguiça pálido sentado em poltronas de anos de
maledicências, mostrando uma silhueta disposta ao ridículo.
Naquele rosto desguarnecido de qualquer compostura e respeito ao
povo brasileiro e diante de uma seleção desclassificada, estampado
na primeira página de um jornal, se vislumbrava uma profunda abstração em
forma de pintura de escárnio, tal como aquela dor que sobe por nosso estômago e
que muitas vezes nos levam ao vômito.
O Brasil está fora das finais da Copa do Mundo, mas esquecem que
isto fortaleceu patriotismo, rejuvenescerá e se estenderá até outubro, quando o
povo escalará um time que, mais do que levantar uma taça, poderá erguer o País
e dizimar de vez essa corja corrupta que vem saqueando os cofres públicos. Hoje
até podemos não estar respirando melhor a nossa dor. Hoje até podemos não
contrair nossos músculos de moralidade, mas de uma coisa tenho certeza, pois em
outubro usaremos nossa arma, o voto para eliminar de vez os políticos que não
respeitam a coisa pública. Depois de outubro retornamos a um novo tempo, tempo
do trabalho, da recuperação do crédito e do trabalho honesto, tempo de podermos
pagar em dia as nossas dívidas e na certeza de que, as lágrimas
derramadas com a derrota da seleção brasileira significarão e muito, pois delas
surgirão sorrisos e vitórias e todos se sentirão felizes e capazes de verificar
que ainda existe luz no fim do túnel antes mesmo que estas linhas sejam
denotadas de melancolia, dor e decepção.
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