Há dias vinha
sonhando com caminhos estranhos, incertos, estradas e trieiros cheios de
poeiras e pedras pontiagudas que feriam meus pés descalços. Sempre quando
acordava ficava preocupado com essa repetição de sonhos: apareciam os mesmos
caminhos e eu andando á pé meio perdido e com certo cansaço. Numa manhã ao
levantar fiquei pensativo por instantes e depois questionei ao meu próprio
sonho porque não me deixava sonhar pelos menos pedalando uma bicicleta. Este
questionamento eu fiz por vários dias, mas numa certa noite, como por encanto,
quando me aproximava da primeira estrada de chão deparei-me com uma bicicleta
que estava encostada no tronco de uma árvore. Parecia que o sonho estava de
brincadeira comigo, mas mesmo assim agradeci. Peguei a bicicleta e comecei a
pedalar. Não posso dizer a marca dela porque senão a indústria teria que me
pagar pela divulgação, mas era novinha em folha. Pensei comigo mesmo: Como a
gente pode sonhar dentro do próprio sonho e ainda tudo possa parecer
impossível. A gente deve lutar ainda que o inimigo seja invencível nas estradas
poentas. A gente deve andar ou pedalar por onde o corajoso não ousa ir. A gente
a cada passo ou quilômetro percorrido deve transformar o mal em bem, ainda que
seja necessário caminhar mil milhas por estradas incertas e sinuosas. A gente
deve amar o puro e o inocente que encontramos pela frente, ainda que seja
inexistente. A gente deve resistir aos obstáculos encontrados, ainda que o
corpo pareça não resistir mais.
Ao final da
caminhada possamos alcançar outras estradas não sinuosas, ainda que pareçam
inalcançáveis. E a vivência de tudo isso é como andar de bicicleta, mesmo que
no sonho a gente almeje ter uma moto ou um possante. Viver nada mais é do que
aquele desejo de mudar o mundo ao seu gosto, e aquele sonho real que eu tive
que parecia impossível e hoje não cabe na minha realidade, pois passo por
aquelas estradas na minha camioneta, mas jamais deixei de agradecer ao meu
sonho por ter me oferecido uma bicicleta.
Ao recordar daquele
sonho procurei em minha mente manobrar com maestria aquela bicicleta, pedalar
bem, equilibrar, não parar para não cair. E durante o silêncio que pairou
naquele sonho, assim como nos sonhos que se seguiram, procurei ficar acordado
durante enquanto sonhava se é que é possível isso. Pedalava ligeiro, cortava
estradas e trilhas em regiões inóspitas, sem qualquer moradia para que eu
pudesse acenar e mostrar prá eles minha alegria. Respirava poeira, escutava
sons emitidos pelo vento, procurava esconder do escaldante sol, me esquivava
dos barrancos e das travessias impetuosas que nem contabilizava, pedalava,
freava quando me sentia diante de um precipício, de um ocaso, mas sempre em
busca de novos ares. Quantas vezes eu andei e pedalei em silêncio, como a um
morto, mas era mais vivo que os demais, pois entendi que não há sonho
impossível para quem nunca desiste e acredita que intransponível é um lugar que
não existe.
Eu tenho sonhos,
tenho arrependimentos. Penso coisas impossíveis e não suporto quando alguém diz
que estou errado, pois sempre trilhei no rumo certo. Sempre tive vontade de
crescer, mas ao mesmo tempo, não deixar de ser criança. Sempre tive plena
convicção de que as pessoas que falam dos outros pra mim, vão falar de mim para
os outros. Acredito que o mundo pode mudar se todos fizerem a sua parte e
quando escrevo às vezes me perco nos meus pensamentos e acabo contando meus
segredos que são levados pelo vento, mas felizmente, ninguém o vê passar. Sou
viciado em textos e legendas poéticas extraídas de coisas do cotidiano que
podem estar acontecendo comigo.
Eu sou imprevisível.
Tenho o péssimo hábito de olhar para as coisas com certa desconfiança. Tenho
mania de escrever e quando estou escrevendo é para dizer o que penso, mas não
obrigo ninguém a escutar. A pessoa lê se tiver vontade, pois a gente não escreve
para agradar todo mundo. Eu não escrevo para agradar ninguém, é sério o que
falo, mas é serio também que muitas pessoas gostam e elogiam o meu trabalho e a
forma com que escrevo. Eu sigo o meu coração não importa para onde ele vá.
Cultivo os amigos e não as mágoas. E tento ser uma boa pessoa. Para os outros e
para mim. E quem nunca sofreu, chorou e achou que o mundo ia desabar não se deu
conta que algumas dores só cicatrizam quando outras aparecem, principalmente
quando a gente se transforma num Condor: Uma dor aqui, outra ali, outra lá,
outra acolá. Por essas outras razões é que procurei decifrar meus sonhos e
entender o porquê ele me deu uma bicicleta, ao invés de uma moto ou carro.
Acredito que não foi por bondade e nem em razão de meus feridos pés, mas para
me dizer que sonhar não é pecado e ele jamais respinga coisas surreais.
Respinga segurança, intensidade, perfeição para que tenhamos modos perfeitos
para agir. Para alguns eu sou mais uma pessoa querendo ser diferente, para
outros eu sou a própria diferença.
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