Ah, como gostaria de
ser uma borboleta e ter a coragem de enfrentar a metamorfose da vida, ser
livre, voar e ir à procura de um mundo real, verdadeiro.
Certo
dia, quando caminhava num horto florestal, eu vi um casulo na casca de uma árvore, no
momento em que a borboleta rompia o invólucro e se preparava para sair. Dei uma
pausa na minha caminhada e esperei algum tempo. Estava demorando muito o
rompimento, as horas corriam e eu estava com pressa. Havia no céu prenúncio de chuvas
abundantes. Levantei minhas mãos, embrulhei o casulo com um lenço para
esquentá-lo. Impaciente, mas senti que o milagre começava a acontecer diante de
mim, a um ritmo mais rápido que o natural. O invólucro se abriu, a borboleta
saiu se arrastando porque suas asas ainda não estavam abertas e todo o seu
corpinho tremia. Amparei-a em minhas mãos e notava o seu esforço desdobrá-las e
sair voando. Era necessária uma paciente maturação, o desenrolar das asas devia
ser feito lentamente ao sol e sabia que a demora seria tarde demais. Ela se
agitou desesperada e em alguns segundos depois, morreu na palma da minha mão.
Aquela pequena borboleta era, acho o peso maior que carrego na consciência,
pois, hoje, passei na entender bem isto: Não é salutar e correto forçar certas
situações, alterar a lei da natureza. Apressei-me, voltei para casa e deixei de
lado a impaciência, abri o meu álbum de fotos e procurei aceitar a metamorfose
que vem me transformando durante décadas, talvez desde o casulo materno.
Bem,
ao terminar este texto, talvez de forma ridícula, brega, restou-me fazer uma
pergunta a mim mesmo e responder de forma fantástica porque acho que elas se
encaixam perfeitamente no meu caso. Quem sou eu? Respondo: Talvez uma
metamorfose ambulante que está sempre à procura de algo, pois durante toda a
minha vida, com opinião formada ou não, acho que passei e continuo passando por
mudanças radicais, rápidas, intensas, sejam ou não através de silenciosas
metamorfoses.