
Nunca tinha ido àquele rio. A sua
fama atravessava fronteiras e isso me deixava ansioso para conhecê-lo. À
esquerda da cabana via-se uma esplendorosa mata e ao longo da praia, uma
imensidão de barracas fincadas na areia e à direita, um emaranhado de galhos que
avançava vertiginosamente para dentro do rio. Era tudo efeito da seca que já
castigava a região. Naquele momento nostálgico o sol da manhã já invadia aquele
rincão, iluminando o rio e a praia, enquanto crianças, jovens e adultos saíam das
barracas respirando um ar puro e recebiam a brisa aromática que vinha das matas
que circundavam aquela região.
Foi um final de semana
inesquecível, principalmente porque estava junto de Camila. Durante o dia
banhávamos e algumas vezes pegávamos a canoa para tentar pescar. Iscas,
enviamos muitas aos peixes, mas nada. O anzol sempre voltava vazio e nenhum
peixinho sequer. Talvez os barulhos das lanchas e Jet Esks os espantavam. Desistimos.
O rio naquele dia parecia não estar para peixe. À noite, ouvíamos músicas, ora
dançávamos sobre a areia, sob a luz do luar; ora olhávamos o céu azul e
displicentemente contávamos as estrelas, e só parávamos quando a lua era
perturbada por nuvens negras que sombreava o local, fazendo-nos perder o
controle e de certo modo, nos escondia durante aqueles momentos de prazer.
Dias depois, voltamos ao outro
lado do rio. Despedimo-nos. Cada um seguiu o seu caminho.
Retornei à Capital. Revoltado em
face de minha timidez, por não ter convencido Camila a me acompanhar, restou-me
vê-la desaparecer no final da rua, e meneando as mãos, comecei fazer a contagem
regressiva dos dias. A ansiedade de reencontrá-la naquele lugar aprazível deixava-me
desconcertado, parecia que o meu coração ia estourar de emoção e saudade. Eu
ainda era apenas um adolescente e nunca tinha sentido isso. Parecia um colegial
ao rever os colegas no reinício das aulas.
Meses se passaram. Findo
novamente o período chuvoso voltei ao Rio Araguaia. A lua clareava a areia. Um
som vindo de uma barraca trazia mensagens de amor, enquanto meus pensamentos
iam a voltavam na velocidade do vento e se deleitavam sobre a praia, onde a
encontrei pela primeira vez e trocamos juras de amor eterno. O tempo passou e
nada. O céu escureceu. Caíram pingos de chuva inesperados para aquele período e
eles se esvaíram sobre a areia ainda quente. Um alerta. Era hora de retornar à
minha barraca. Como aqueles parcos pingos de chuva os meus pensamentos também
se esvaíram de minha mente e decidido, resolvi despachá-los no barco da saudade
com o fito de manter visível sua imagem e quiçá, poder revê-la novamente naquele
rio, mas, doravante, sem timidez, e tendo a certeza de que nesse dia o rio estará
para peixe.
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