À espera de um novo amanhã.

terça-feira, 14 de abril de 2015


Caminhando o capim seco doía em meus pés descalços, mas a curiosidade de menino era tanta que morria de vontade de ver lá de cima da serra o pôr do sol. A subida ou escalada, era sobre terreno íngreme, cheio galhos secos, pedras pontiagudas, e quando olhava para baixo, dava até arrepios. Hoje percebo que era muito mais além daquilo que enchia meus olhos e a minha curiosidade — a Serra da Urtiga. O sol visto de lá era diferente, ora pintado de amarelo, ora avermelhado que só um final de tarde no sertão tinha e ainda tem tal plenitude de beleza. Olhava deslumbrado, como se estivesse marcando no horizonte a distância de minha saudade que só meus olhos podiam calcular. Queria enxergar além da luminosidade e das tintas vermelhas que se esparramavam no horizonte. Mas eu era apenas um menino sonhador e lá de cima da Serra da Urtiga os meus olhos infantis brilhavam de forma utópica, talvez, esperando por um novo amanhecer. Quando ele chegasse é claro, o receberia de braços abertos, depois fecharia os olhos, trancaria a janela da alma para não ofuscar o sonho colorido que nela entraria e que mais tarde, talvez, como aprendiz de poeta, poderia transcrever tais cenas, certo de que elas ainda estariam impregnadas nas minhas retinas digitais.

Não sei se é defeito, mas tenho uma paixão pela natureza e principalmente, ver o pôr ou nascer do sol ou da lua. A grandeza do universo redimensiona minha pequenez diante da natureza. Lá de cima observava que ela é maior do que eu pensava. Ao mesmo tempo, ante os colossais elementos do universo, seja fitando as estrelas ou olhando para o cosmos, podia sentir a grandeza do mundo que pulsa e que é latente no universo da minha consciência. Somos grãos de areia em relação a ele, como nossas emoções o são, como são todas as características do nosso atual estágio de ser humano. Como a pedra bruta, a natureza em mim, dorme como a um anjo, assim como, a sua beleza estética que aguarda o esmerilhar dos séculos, nascendo do aperfeiçoamento do caráter.  

Lá de cima sentia a brisa ondulada acariciar meu rosto e deixava-me envolver por ela que não me dizia de onde vinha e nem para onde ia, mas isto não importava. Olhava as pradarias, as densas pastagens, o pequeno rio que a circundava, tudo era belo, magnífico! Era como se estivesse remoendo alguma coisa, não distante, com reflexões importantíssimas para a minha tenra idade diante da grande e futura jornada. Sim, o futuro também se imiscuía, fazendo-me sentir fora de uma realidade que já se forjava a partir de todas as experiências por mim vividas. Se fosse o meu olhar e usando a janela de minha alma, jamais conseguiria direcionar corretamente rumo à linha de horizonte, assim como, esta singela crônica não teria sido escrita. Mas foi e a usei como recurso da vida para que o tesouro possa ser extraído de um novo amanhã e seja mais valorizado. Meditar, refletir sempre, é o cinzel que manuseamos, é o fogo que molda o ferro, é a bigorna que bate no aparar das arestas.

Procurando olhar para além de mais além do horizonte, à espera de um novo amanhã, sabia que tudo desse mais além que imaginava era um mistério. Quem somos nós para dizer o contrário! Então, como falar de fim do universo ou do seu infinito, de sua intensidade e de seus segredos... Lá do alto da Serra da Urtiga a olho nu, só podia ver a beleza da natureza envolvida por densas pastagens, matas e terrenos férteis. Passei as mãos no rosto, não era mais imberbe. A vontade de rever aquele pedaço de chão me fez retornar ao topo da serra e sentar na mesma pedra. Tornei-me adulto e muito chão pisei durante minhas andanças longe dali, mas ao retornar a aquele local, voltei a ser criança, eu e o tempo voltamos a curtir daquelas alturas o lindo visual, sem nos preocuparmos se existiam ou não o fim do mundo ou infinito. Com o corpo são e mente sã, com alegria e tristeza disputando espaço em meu coração, com o mal e o bem se digladiando, mas o bem sempre vencendo, eu ali estava para me despedir de vez, com um definitivo adeus, sabendo que a única dor que me doeu mais que dizer adeus foi a de não ter tido a oportunidade naquele local aprazível de alcançar, sem atropelos, o infinito, onde, talvez, poderia me distanciar da terra e alimentar os meus sonhos em outras dimensões ou ir para além de mais além em busca de um novo amanhã. 


3 comentários:

  1. Você usa as mãos como instrumento é claro, porque na verdade escreves com a ALMA... Parabéns!!!

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  2. Você usa as mãos como instrumento é claro, porque na verdade escreves com a ALMA... Parabéns!!!

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