Caminhando
o capim seco doía em meus pés descalços, mas a curiosidade de menino era tanta
que morria de vontade de ver lá de cima da serra o pôr do sol. A subida ou
escalada, era sobre terreno íngreme, cheio galhos secos, pedras pontiagudas, e
quando olhava para baixo, dava até arrepios. Hoje percebo que era muito mais
além daquilo que enchia meus olhos e a minha curiosidade — a Serra da Urtiga. O
sol visto de lá era diferente, ora pintado de amarelo, ora avermelhado que só
um final de tarde no sertão tinha e ainda tem tal plenitude de beleza. Olhava
deslumbrado, como se estivesse marcando no horizonte a distância de minha
saudade que só meus olhos podiam calcular. Queria enxergar além da luminosidade
e das tintas vermelhas que se esparramavam no horizonte. Mas eu era apenas um
menino sonhador e lá de cima da Serra da Urtiga os meus olhos infantis
brilhavam de forma utópica, talvez, esperando por um novo amanhecer. Quando ele
chegasse é claro, o receberia de braços abertos, depois fecharia os olhos, trancaria
a janela da alma para não ofuscar o sonho colorido que nela entraria e que mais
tarde, talvez, como aprendiz de poeta, poderia transcrever tais cenas, certo de
que elas ainda estariam impregnadas nas minhas retinas digitais.
Não
sei se é defeito, mas tenho uma paixão pela natureza e principalmente, ver o
pôr ou nascer do sol ou da lua. A grandeza do universo redimensiona minha
pequenez diante da natureza. Lá de cima observava que ela é maior do que eu
pensava. Ao mesmo tempo, ante os colossais elementos do universo, seja fitando
as estrelas ou olhando para o cosmos, podia sentir a grandeza do mundo que
pulsa e que é latente no universo da minha consciência. Somos grãos de areia em
relação a ele, como nossas emoções o são, como são todas as características do
nosso atual estágio de ser humano. Como a pedra bruta, a natureza em mim, dorme
como a um anjo, assim como, a sua beleza estética que aguarda o esmerilhar dos
séculos, nascendo do aperfeiçoamento do caráter.
Lá
de cima sentia a brisa ondulada acariciar meu rosto e deixava-me envolver por
ela que não me dizia de onde vinha e nem para onde ia, mas isto não importava.
Olhava as pradarias, as densas pastagens, o pequeno rio que a circundava, tudo
era belo, magnífico! Era como se estivesse remoendo alguma coisa, não distante,
com reflexões importantíssimas para a minha tenra idade diante da grande e
futura jornada. Sim, o futuro também se imiscuía, fazendo-me sentir fora de uma
realidade que já se forjava a partir de todas as experiências por mim vividas.
Se fosse o meu olhar e usando a janela de minha alma, jamais conseguiria
direcionar corretamente rumo à linha de horizonte, assim como, esta singela
crônica não teria sido escrita. Mas foi e a usei como recurso da vida para que
o tesouro possa ser extraído de um novo amanhã e seja mais valorizado. Meditar,
refletir sempre, é o cinzel que manuseamos, é o fogo que molda o ferro, é a
bigorna que bate no aparar das arestas.
Procurando olhar para além de mais além do
horizonte, à espera de um novo amanhã, sabia que tudo desse mais além que
imaginava era um mistério. Quem somos nós para dizer o contrário! Então, como
falar de fim do universo ou do seu infinito, de sua intensidade e de seus
segredos... Lá do alto da Serra da Urtiga a olho nu, só podia ver a beleza da
natureza envolvida por densas pastagens, matas e terrenos férteis. Passei as
mãos no rosto, não era mais imberbe. A vontade de rever aquele pedaço de chão
me fez retornar ao topo da serra e sentar na mesma pedra. Tornei-me adulto e
muito chão pisei durante minhas andanças longe dali, mas ao retornar a aquele
local, voltei a ser criança, eu e o tempo voltamos a curtir daquelas alturas o lindo
visual, sem nos preocuparmos se
existiam ou não o fim do mundo ou infinito. Com o corpo são e mente sã, com
alegria e tristeza disputando espaço em meu coração, com o mal e o bem se
digladiando, mas o bem sempre vencendo, eu ali estava para me despedir de vez, com
um definitivo adeus, sabendo que a única dor que me doeu mais que dizer adeus foi a de não ter tido a oportunidade naquele local
aprazível de alcançar, sem atropelos, o
infinito, onde, talvez, poderia me distanciar da terra e alimentar os meus sonhos
em outras dimensões ou ir para além de mais além em busca de um novo amanhã.
Romântico e lindo...
ResponderExcluirParabéns!
Você usa as mãos como instrumento é claro, porque na verdade escreves com a ALMA... Parabéns!!!
ResponderExcluirVocê usa as mãos como instrumento é claro, porque na verdade escreves com a ALMA... Parabéns!!!
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