Vida e Morte andam lado a lado.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Já lidei várias vezes e bem de perto com a morte. Todo o dia relembro-me dos momentos fatídicos, seja do primeiro acidente que sofri junto com outros amigos quando o veículo em que viajávamos capotou; seja durante as várias cirurgias que fiz com grau de risco muito grande, cujos desfechos provam que lidei de perto com ela, ou expressando melhor, ela é que esteve muito perto de mim... Sei que ela existe e isso ninguém pode negar e que, inevitavelmente, apesar de ser a maior inimiga da nossa existência, vida e morte andam lado a lado e o jeito é não vacilar, respeitando a Vida e encarando a Morte com naturalidade, mas sem subestimá-la e desrespeitá-la. A nossa vida pertence a Deus e só ELE pode tirá-la de nós e qual o momento de nos enviar a “passagem”. 

Já lidei de perto com a morte desde criança. Quantos entes queridos e amigos que se foram para outra dimensão, como a minha mãe, por exemplo, que deixou para os filhos e netos o legado de mulher guerreira e que fora levada pelo tempo, sem motivo, como se ela fosse uma simples folha seca... Era uma mulher sem realeza, que à noite, assim como nós, mesmo com os olhos embaçados, também debruçava na janela, sem nada a reclamar, sem expressar sorrisos, ou sem sentir-se dominada por um exército de gente que não procurou entender e nem saber que ela também sonhava. Quanto ao meu pai que faleceu ainda jovem e eu só tinha apenas cinco anos, então, nesse caso, não posso dizer que não cheguei a lidar com a morte. Lidei sim! Tenho uma vaga lembrança dele, inclusive, do dia em que o vi pela ultima vez com o corpo estirado no chão sendo queimado por fios elétricos de alta tensão. É vago, mas minha mente ainda relembra os  matos  verdes e capins que não resistiam e quedavam-se diante das labaredas elétricas. Devo confessar que nem chorei, porque os caríssimos leitores hão de compreender que era apenas uma criança e para mim aquilo era surreal, incompreensível. Parecia um filme de terror que a mim devia ser proibido. Diria até que o que senti era apenas uma forma heurística, uma verdade que não aceitava e que podia me inculcar ou quedar-me diante de um exercício de alquimia, mas era pequeno demais para entender aquilo, sobre o que é ser morte ou sobre a existência ou não de coisas filosofais. Era pequeno demais para entender aquela cena e compreensível os fantasmas não me perseguirem e não quererem me adotar. Achei esquisito como a morte se apresentou para mim pela primeira vez, daquele modo, ainda criança, de forma tão violenta e cruel. Eu era apenas um menino a ser lapidado que necessitava primeiro ser carbono, ter a temperatura elevada para me tornar valioso, pois a ausência nem sempre evolui para a saudade, mas em relação ao meu pai, as duas evoluíam sim. Foi uma experiência pela qual passei, mas que de uma forma mesmo vaga relembro, abraçando com minha irmã caçula como se tivesse acontecido à outro ser vivente e não em relação a mim.

É correto e entendível dizer que quando uma pessoa morre o mundo não morre com ele. A vida continua, é como se nada tivesse acontecido, é como se a Terra contabilizasse menos um ser vivo a habitá-la. Quando uma pessoa morre se de forma violenta, ou calmamente, na UTI de um hospital, em casa rodeada pelos seus familiares ou num beco frio e escuro, acredito que não seja difícil pra ela. Morreu e pronto! Mas existem pessoas que antecipam sua morte, quer por depressão, motivo vil, transtornos mentais ou psíquicos, suicida-se. Morte natural, acidental ou suicídio todos param de pensar, de respirar, de falar, de sentir... A morte não é difícil para os partem para outra dimensão, mas para os ficam sim. Para nós viventes o mundo não pára. O mundo não pára assim como a Terra também não, mas toda a vida dos que permanecem e assistem à partida de um dos seus entes queridos, pára, mas é compreensível. Para eles a vida pode parar, mas teimoso que sou e de ter vivenciado tantas mortes e sobrevivido a tantas em relação ao que passei, descobri através da escrita a fórmula mágica de entender tudo isso e de alguma forma levar mensagens de fé, otimismo, esperança e dias melhores às mais longínquas regiões do mundo. È importante salientar que enquanto milhões de seres vivos na terra deixam de respirar, outros milhões ou quiçá, bilhões nascem. Mas no meio desses milhões quando alguém próximo de nós morre tudo é diferente... Sentimos a dor da morte desse alguém que amamos é pesaroso, o coração dói e lágrimas saem. Por momentos, desejamos poder partir também ou imploramos para aquele que partiu para outra dimensão, volte.

Com o seu passamento derramamos lágrimas de pesar, mesmo que essa forma de expressão nos pareça pouca para tanta dor e sofrimento que sentimos. Vêm notícias que nos pegam de surpresa: a perda de entes queridos, mais uma pessoa amada, mais uma alma que se vai. Ouço pessoas amigas dizerem que perdeu uma avó, pais perderam mães, filhos em acidentes e vice versa. A TV ou em jornais noticiam que o mundo perdeu uma pessoa extraordinária, uma celebridade, no entanto, a vida continua. É horrível dizer isso, é doloroso, mas não temos alternativa para expressar palavras mais acalentadoras. É horrível sim perder alguém que foi tão especial para nós. É horrível não saber o que fazer para consolar a pessoa amiga que acabou de perder parte de si.

Mas acredito que todos nós temos uma alma. E que a morte não é o fim. Não verdadeiramente. Devemos acreditar que a alma dos avôs, dos pais e dos filhos que se foram está neste momento no Paraíso, felizes, talvez como nunca estiverem antes. Suas vidas foram desatadas e chegaram ao fim, mas todos irão continuar a viver no coração de cada um de nós. Não se vive para sempre, mas deve-se viver no coração das pessoas que os amavam. Uma pessoa nunca morre realmente se a mantermos viva em nossa mente e coração.



2 comentários:

  1. Muito bom!Acredito que a morte do corpo, é o início para um novo trabalho. Acredito também que ninguém é esquecido,mas nem sempre é lembrado com amor.

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  2. Muito bom!Acredito que a morte do corpo, é o início para um novo trabalho. Acredito também que ninguém é esquecido,mas nem sempre é lembrado com amor.

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