Andava
devagar, não tinha pressa e nem onde pretendia chegar. À minha frente uma luz
brilhava intensamente e como por encanto, se aproximou de mim numa velocidade
incrível e nem dei conta de contabilizar quantos segundos, apenas a vi se
chocar contra o vento, que mesmo frio, me fazia gostar de viver caminhando sem
rumo naquela estrada que delineei, mapeei e nem me importei de colocar nela um
final. O vento frio passava e acariciava o meu rosto, abri os braços e senti-me
flutuar, mesmo sem o auxilio do vento.
A cada
passo meu coração batia descompassado, e á medida que a luz se aproximava tudo
se alegrava ao meu redor, e o clarão serviu para me alertar que tinha pedras
pontiagudas no chão. A estrada, de tão fria e úmida parecia realmente não ter
fim. Uma estrada de terra de chão batido, ladeada de imensos arvoredos, capins,
e entre eles se viam pequeninas flores brotarem. De longe tinha a certeza de
que o caminho que seguia talvez não fosse tão importante assim, pois o destino
pertence a Deus - porém o mais importante era a viagem despretensiosa que
fazia. Ah Sim! Não há prazer maior de que estar sempre de malas prontas, mas
naquela caminhada estava sem elas, levava apenas uma mochila nas costas, como a
um andarilho que põe o pé na estrada e se deixa levar por ela, seja retilínea,
seja curva, seja longa, mas seguia para o seu bel prazer, sem se importar se
ela tinha ou não um final.
Os meus
olhos brilhavam ao ver os primeiros raios de sol iluminar a terra e a lua
desaparecer soberba no horizonte poente levando a noite consigo. Eu estava
tranquilo, sereno. O sol extremamente quente fazia desaparecer a névoa fria e
úmida à minha frente e ainda levava o brilho cintilante como estivesse transpassando um tênue véu branco, e mais do que o suficiente para amenizar o
frio que me abraçou durante a noite. Mas uma vez sentia o vento passar veloz e
assobiar em meus ouvidos e emaranhar os meus cabelos como se tudo ao meu redor
já fizesse parte da sofreguidão de um andarilho. Seguia sem rumo certo, cruzava
com outros andarilhos, ora em estradas de chão, ora asfaltada, e sem pestanejar
acenava pra eles e prosseguia, mas sempre com o olhar atento naquela estrada
sem fim.
Têm
momentos que alguns caminhos não nos levam a lugar nenhum; têm momentos durante
a caminhada que não devemos esperar nada no seu final, mas não devemos parar de
seguir e nem deixar de lutar. Levantar quantas vezes puder mesmo se o caminho
estiver cheio de pedras e espinhos. Pesadelos têm e podem trazer medos que
assombram a nossa vida, nosso caminho, mas desistir jamais. Estar escrevendo
neste momento me fez lembrar a palavra apatia, então, o jeito foi parar e
pensar se estava apático mesmo. Daí pairou um silêncio no meu olhar que me fez
desinteressar em procurar o rumo que devia seguir. Entendi, porém, que não
podia mais parar principalmente naquele instante quando eu me encontrei ou
encontrei a mim mesmo. O impossível numa estrada deserta de encontrar alguma
coisa que alimente nossa mente, alma e espírito é só uma questão de tempo, mas
quanto a mim, foi importante relembrar dos momentos que andei, às vezes com pés
descalços, assim como, dos locais e situações em que me encontrava e me
obrigavam a parar. Chão batido e poeirento, asfalto quente, terrenos férteis e
inférteis, ilusões, enganos e desenganos, viajem solitária sem se sentir na
solidão, era a sina de um andarilho principiante. Cair e levantar durante a
caminhada entre pedras pontiagudas e trilhas estreitas cheias de espinhos
trazia medos que sempre assombravam, podia ser difícil, mas não tão impossível,
pois ao caminhar por quaisquer estradas somos desafiados a vencer obstáculos e
superar todos os tipos de atropelos que a vida nos impõe dia a dia. Mas para
sermos vencedores, temos que ser otimistas e coragem suficiente para transpor
obstáculos que encontremos pela frente para, ao final, transformar nossos
sonhos em realidade.
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