Dias atrás
um amigo missionário me pediu que elaborasse um texto sobre o que eu achava do
carnaval. Olhei fixo nos olhos dele e pela sua fisionomia logo observei que o
danado não gostava desse tipo de festa. Ele a acha profana, que transgride
regras e não está de acordo com os preceitos religiosos. Na realidade, ele tem
certa razão considerando algumas definições oriundas desde a antiguidade. O
Carnaval é uma festa marcada pelo "adeus à
carne" e que a partir dela se fazia um grande período de
abstinência e jejum, como o seu
próprio nome em latim "carnis levale"
explicita. Desde aqueles tempos para a sua preparação havia uma grande
concentração de festejos populares. Cada lugar e região brincavam a seu modo,
geralmente de uma forma propositadamente extravagante, de acordo com seus
costumes. Se formos analisar o carnaval praticado hoje, nada mudou, até certo
ponto piorou, basta ver as alegorias que extrapolam limites da tolerância e a
nudez que se escancara nos clubes e avenidas da cidade.
Pois bem.
Respondendo ao amigo disse: Vi na TV, mas fingi ver. O carnaval que assisti no
meu AP trazia nada mais que um momento de alegria, mas me contentava, ou
simplesmente, nem esquentava a “moringa” de ver apenas na TV o povo dançando,
ou pulando, sei lá, de forma desengonçado, fora do ritmo, frenéticos. Meus
olhos se fixavam na multidão, meus ouvidos ouviam sons que não se
combinavam e vozes que estavam fora de ritmo ou tom, os quais tentavam mostrar
encaixes musicais perfeitos entre os batuques, mas para aquele povo pouco
importava, pois na emoção, sequer notavam pessoas desconhecidas beijando entre
si, outras drogas, bebuns carregando latas de cerveja nas mãos e outras
esparramadas pelo chão, mas havia outras cenas, impróprias, obscenas, que me
deixava horrorizado; nas calçadas lixos aos montões, e ainda, o descompasso
musical, a pronúncia errônea das letras e a falta de entonação.
O que faz
um cara como eu notar tudo isso e ainda enxergar no meio da multidão uma garota
serelepe com roupa de anjo dançando abraçada com um cara fantasiado de capeta?
Será que existem explicações para esse tipo de comportamento e qual o meu
interesse em observar a menina fantasiada de anjo, pulando feita doida com o
“capeta”, cantando sabe-se lá o que, ao lado do trio elétrico? Mas era tanta
beleza que fiquei pasmo diante da TV. Fiquei reparando, talvez ela nem se
preocupasse com a sua estética, apenas eu. Quanto a ela eu também fingia que
não a via, todavia, bem que tentei, mas ela requebrava demais, era tanto molejo
que me esqueci em certos momentos de fingir e ainda era possível escutar sua
voz que ecoava no meio da multidão, no entanto só não entendia o que ela
cantava e nem a letra, qual música ou canção, mas nem me importava com aquilo
ou fingia que me importava. O tom de voz do seu amigo, o capeta, esse sim, nem
se fala, parecia coisa vinda de outro planeta ou do além. Quem assistiu aquela
cena pela TV não venha dizer que não viu, sentiu ou fingiu não ter visto. Ora,
um homem do sertão como eu que gosta de um som de viola, de ouvir uma música
romântica, de bolero, e até de um forró bem tocado, jamais iria querer ouvir
axé, arrocha ou outras batucadas amalucadas de carnaval, que na verdade, há
muito vem detonando o verdadeiro samba canção. No entanto, quero que os foliões
me desculpem pela minha franqueza, pela falta de apreço que tenho por essa
festa popular e da minha frieza por não saber me apegar a esse tipo de dança,
pois é verdade que, ao final da festa, sobrarão apenas camisinhas, adereços,
serpentinas e máscaras no chão.
Na
quarta-feira de Cinzas quer queira ou não termina o Carnaval, mas para a
maioria dos amantes dessa festa, é nela que o ano começa o ano oficialmente.
Para outros como eu e você que temos opiniões contrárias, já estamos vivendo o
novo ano desde 1.º de janeiro. Entre os dias 25 a 28 de fevereiro os
carnavalescos já começam a viver com intensidade o carnaval. Então insisto com
minha opinião: Quem festejará o carnaval com verdadeira alegria neste momento
difícil em que passa o Brasil? Quem manterá a alegria, o bom humor e a
irreverência pós-carnaval? Queiram ou não, o folião passará por emoções
perigosas, por arrastões, por momentos que talvez nem esperem, como por
exemplo: assaltos, balas perdidas. Ademais, com o carnaval virão desilusões,
incertezas e até mortes poderão ocorrer se não se cuidarem. Pois bem. O
Carnaval se aproxima e para quem ainda pensa que o ano ainda não começou e quer
repensar, dar uma reviravolta em sua vida, comece agora e tente recuperar o
lapso de tempo que perdeu e poderá perder pós-carnaval. O Brasil precisa de
você lúcido, sem máscaras! Chegou à hora de muitos tirarem suas máscaras, é
hora de usarmos a nossa própria fantasia – a real, e não a fantasia que outra
pessoa usa – a surreal. Quanto ao que pretendo fazer neste feriadão, o meu
desejo é conhecer o VALE DO ÉDEN do meu amigo Edgar Barbosa e como fantasias a
de sempre: calça jeans, camisa xadrez, chapéu de palha, botina, violão, um
radinho de pilha, tralha de pesca, repelente, iscas e anzol, portanto, desta
vez, também não irei, não vou assistir TV e nem fingir que assisti.
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