Carnaval, eu não fui, nem vi, e na TV, fingi que vi.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Dias atrás um amigo missionário me pediu que elaborasse um texto sobre o que eu achava do carnaval. Olhei fixo nos olhos dele e pela sua fisionomia logo observei que o danado não gostava desse tipo de festa. Ele a acha profana, que transgride regras e não está de acordo com os preceitos religiosos. Na realidade, ele tem certa razão considerando algumas definições oriundas desde a antiguidade. O Carnaval é uma festa marcada pelo "adeus à carne" e que a partir dela se fazia um grande período de abstinência e jejum, como o seu próprio nome em latim "carnis levale" explicita. Desde aqueles tempos para a sua preparação havia uma grande concentração de festejos populares. Cada lugar e região brincavam a seu modo, geralmente de uma forma propositadamente extravagante, de acordo com seus costumes. Se formos analisar o carnaval praticado hoje, nada mudou, até certo ponto piorou, basta ver as alegorias que extrapolam limites da tolerância e a nudez que se escancara nos clubes e avenidas da cidade.

Pois bem. Respondendo ao amigo disse: Vi na TV, mas fingi ver. O carnaval que assisti no meu AP trazia nada mais que um momento de alegria, mas me contentava, ou simplesmente, nem esquentava a “moringa” de ver apenas na TV o povo dançando, ou pulando, sei lá, de forma desengonçado, fora do ritmo, frenéticos. Meus olhos se fixavam na multidão, meus ouvidos ouviam sons que não se combinavam e vozes que estavam fora de ritmo ou tom, os quais tentavam mostrar encaixes musicais perfeitos entre os batuques, mas para aquele povo pouco importava, pois na emoção, sequer notavam pessoas desconhecidas beijando entre si, outras drogas, bebuns carregando latas de cerveja nas mãos e outras esparramadas pelo chão, mas havia outras cenas, impróprias, obscenas, que me deixava horrorizado; nas calçadas lixos aos montões, e ainda, o descompasso musical, a pronúncia errônea das letras e a falta de entonação.


O que faz um cara como eu notar tudo isso e ainda enxergar no meio da multidão uma garota serelepe com roupa de anjo dançando abraçada com um cara fantasiado de capeta? Será que existem explicações para esse tipo de comportamento e qual o meu interesse em observar a menina fantasiada de anjo, pulando feita doida com o “capeta”, cantando sabe-se lá o que, ao lado do trio elétrico? Mas era tanta beleza que fiquei pasmo diante da TV. Fiquei reparando, talvez ela nem se preocupasse com a sua estética, apenas eu. Quanto a ela eu também fingia que não a via, todavia, bem que tentei, mas ela requebrava demais, era tanto molejo que me esqueci em certos momentos de fingir e ainda era possível escutar sua voz que ecoava no meio da multidão, no entanto só não entendia o que ela cantava e nem a letra, qual música ou canção, mas nem me importava com aquilo ou fingia que me importava. O tom de voz do seu amigo, o capeta, esse sim, nem se fala, parecia coisa vinda de outro planeta ou do além. Quem assistiu aquela cena pela TV não venha dizer que não viu, sentiu ou fingiu não ter visto. Ora, um homem do sertão como eu que gosta de um som de viola, de ouvir uma música romântica, de bolero, e até de um forró bem tocado, jamais iria querer ouvir axé, arrocha ou outras batucadas amalucadas de carnaval, que na verdade, há muito vem detonando o verdadeiro samba canção. No entanto, quero que os foliões me desculpem pela minha franqueza, pela falta de apreço que tenho por essa festa popular e da minha frieza por não saber me apegar a esse tipo de dança, pois é verdade que, ao final da festa, sobrarão apenas camisinhas, adereços, serpentinas e máscaras no chão.


Na quarta-feira de Cinzas quer queira ou não termina o Carnaval, mas para a maioria dos amantes dessa festa, é nela que o ano começa o ano oficialmente. Para outros como eu e você que temos opiniões contrárias, já estamos vivendo o novo ano desde 1.º de janeiro. Entre os dias 25 a 28 de fevereiro os carnavalescos já começam a viver com intensidade o carnaval. Então insisto com minha opinião: Quem festejará o carnaval com verdadeira alegria neste momento difícil em que passa o Brasil? Quem manterá a alegria, o bom humor e a irreverência pós-carnaval? Queiram ou não, o folião passará por emoções perigosas, por arrastões, por momentos que talvez nem esperem, como por exemplo: assaltos, balas perdidas. Ademais, com o carnaval virão desilusões, incertezas e até mortes poderão ocorrer se não se cuidarem. Pois bem. O Carnaval se aproxima e para quem ainda pensa que o ano ainda não começou e quer repensar, dar uma reviravolta em sua vida, comece agora e tente recuperar o lapso de tempo que perdeu e poderá perder pós-carnaval. O Brasil precisa de você lúcido, sem máscaras! Chegou à hora de muitos tirarem suas máscaras, é hora de usarmos a nossa própria fantasia – a real, e não a fantasia que outra pessoa usa – a surreal. Quanto ao que pretendo fazer neste feriadão, o meu desejo é conhecer o VALE DO ÉDEN do meu amigo Edgar Barbosa e como fantasias a de sempre: calça jeans, camisa xadrez, chapéu de palha, botina, violão, um radinho de pilha, tralha de pesca, repelente, iscas e anzol, portanto, desta vez, também não irei, não vou assistir TV e nem fingir que assisti.


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