Uma viaje para além dos horizontes...

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Às vezes torna-se necessário fazermos escolhas por mais que haja lamentos. Às vezes devemos nos aquietar e deixar que o nosso coração bata lerdo. Às vezes devemos aceitar que a nossa imaginação continue pra lá de maluca, que ela nos leve para além de mais além dos horizontes, onde nossos olhos dificilmente possam enxergar. Então caro leitor, peço sua licença e se possível, procure entender o título ou o texto em si, se ele está fora do contexto, não fornecendo a informação necessária para que você consiga descodificar a mensagem. Caso descodifique e não vê relação nenhuma peço aqui minhas desculpas. Mas no que tange a você só te peço uma coisa além do pedido de desculpas: Pare de culpar a vida e veja até onde vai o teu horizonte. Pare de ter pena de você. Se aceite como és. Não se culpe. Não se estrepe. Não se mate. E pelo amor de Deus, olhe no espelho, se perdoe, e se tiver vontade, peça desculpas e perdoe o seu semelhante. Somos todos culpados, se quisermos. Somos todos felizes, se deixarem.

Pensando esquecer-se de muitas escolhas lamentáveis e apropriando de minha imaginação maluca, certo dia nem entendi o porquê, mas fui tomado por uma sensação estranha quando descansava à beira de um rio numa região inóspita, como a um passe de mágica me senti um aventureiro naquelas brenhas selvagens, que embora perigosas, aconcheguei-me com minha tralha de pesca para escutar o som das águas do Rio Babilônia e o que tentavam me dizer. Joguei o anzol e voltei os olhos para a densa mata e nem conseguia discernir quais tipos de pássaros pousavam e cantavam nos galhos. Só sei que pesquei lambaris naquelas águas piscosas, e num momento de nostalgia me vi envolvido pela emoção e sem pestanejar, entreguei-me a um amasso imaginário de uma linda mulher cujas bolhas de águas que envolviam o seu corpo eram levadas com leveza pelo vento que nem pedia licença. O belo vulto de mulher iluminado pela luz tênue do sol estava adornado por folhas secas que caiam sobre o rio. Ela emergia e imergia naquelas águas profundas, num vai e vem sensual inesquecível. O rio, e eu, já em minha canoa, assim como o esbelto corpo, parecíamos querer seguir céleres à procura de um lugar distante, ir para além de mais além, atravessar horizontes, seja enfrentando leitos com declives e curvas perigosas, seja recepcionando as brisas vindas de outros rincões, seja sob o gorjear dos livres pássaros, pois tudo parecia querer mostrar-me que outros aventureiros que por lá passaram viveram o amor e jamais ouviram falar de violência, poluição ou da existência da brusquidão do quente asfalto de uma cidade e dos ruídos infernais produzidos por suas máquinas insones.

O caudaloso rio seguia sem rumo, onde os olhos jamais poderiam enxergar, onde a natureza não mostraria sua face, onde não se ouviria suspiros nem gemidos, onde não se veriam cidades incharem, onde não se respirariam o mesmo ar do ser humano. O rio tem o seu leito e nele seguirá navegando sobre ele, mesmo que sinuoso, suscitando sons inebriantes entre levezas ribeirinhas e pequenas quedas d’água, tudo sob o silêncio sombreado das árvores que debruçam sobre suas águas límpidas e deleitam em suas rústicas margens. Aquele dia me fez recordar de coisas obscuras impregnadas em meu cérebro há tempos, e com emoção à flor da pele, restou-me quedar diante daquele ambiente místico, esquecer-se dos sustos da cidade, das enfermidades, da violência, da criminalidade e dos cotejos de morte.

Naquele recanto aprazível procurava fugir do meu mundo real, encaixotar de vez minhas ansiedades, aflições e sensações oriundas do mundo profano e de certa forma, procurar entender a própria existência do homem no universo e acreditar firmemente na existência de Deus. As atitudes de cada um por mais crentes que fossem, considero que a demonstração de fé, caso não seja rejuvenescida ante ao Criador, continuará sendo apenas uma gota de orvalho que não tem mãos para levantar aos céus e pedir ajuda, pois rapidamente se evaporará sob os raios de sol. Não importa se vamos mais além daquilo que podemos enxergar, seja para ouvir ou assistir o nascer de um novo amanhã. Por extrema necessidade há momentos que temos de fazer uso das asas da imaginação para voar na tentativa de visualizar nesse amanhã uma vida nova, e possivelmente, numa curva qualquer, encontrarmos a fé em Cristo que tantos procuramos.

Naquele dia o sol se pôs no horizonte e por entre as folhagens das árvores ele me entregou a lua que já nascia soberba detrás da densa mata. Não obstante o palco mostrado pela natureza se diversificasse a cada momento, o rio seguia seu rumo em silêncio e eu o acompanhava com olhar complacente de um admirador. Era óbvio que ele passaria por serrados ingentes, matas e mais além, encontraria queimadas praticadas pelo próprio homem. Sabia que o fogo atiçado sobre o capim e galhos secos tornaria suas chamas ardentes, implacáveis, os quais, silenciosos, quedariam esbatidos sobre a terra que já chorava de dor. Por mais que procurasse me aquietar naquele final de tarde não conseguia ficar indiferente e como ambientalista precisava agir não obstante saber que a vida humana é cheia de contrastes em relação ao ambiente em que vive. A sua ação devastadora fez-me voltar ao meu mundo real, esquecer aquela imagem surreal, dos mistérios e mitos contados por moradores ribeirinhos para poder soltar os pequenos flashes guardados em minha memória, onde se encontra níveis insuportáveis de violência, de corrupção sem controle, de descrédito absoluto da classe política, de apagão ético e moral e de toda a sorte de agruras que o cidadão vem enfrentando, impotente, sem ter a quem recorrer. A sociedade está órfã e este fato me fez “cair na real” e procurar ir para além de mais além dos horizontes, talvez inerme, em busca de um mundo desconhecido.




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