Às vezes torna-se necessário fazermos escolhas por mais que haja
lamentos. Às vezes devemos nos aquietar e deixar que o nosso coração bata
lerdo. Às vezes devemos aceitar que a nossa imaginação continue pra lá de
maluca, que ela nos leve para além de mais além dos horizontes, onde nossos
olhos dificilmente possam enxergar. Então caro leitor, peço sua licença e se
possível, procure entender o título ou o texto em si, se ele está fora do
contexto, não fornecendo a informação
necessária para que você consiga descodificar a mensagem. Caso descodifique e não vê relação nenhuma peço aqui minhas
desculpas. Mas no que tange a você só te peço uma coisa além do pedido de
desculpas: Pare de culpar a vida e veja até onde vai o teu horizonte. Pare de
ter pena de você. Se aceite como és. Não se culpe. Não se estrepe. Não se mate.
E pelo amor de Deus, olhe no espelho, se perdoe, e se tiver vontade, peça
desculpas e perdoe o seu semelhante. Somos todos culpados, se quisermos. Somos
todos felizes, se deixarem.
Pensando
esquecer-se de muitas escolhas lamentáveis e apropriando de minha imaginação
maluca, certo dia nem entendi o porquê, mas fui tomado por uma sensação
estranha quando descansava à beira de um rio numa região inóspita, como a um
passe de mágica me senti um aventureiro naquelas brenhas selvagens, que embora
perigosas, aconcheguei-me com minha tralha de pesca para escutar o som das
águas do Rio Babilônia e o que tentavam me dizer. Joguei o anzol e voltei os
olhos para a densa mata e nem conseguia discernir quais tipos de pássaros
pousavam e cantavam nos galhos. Só sei que pesquei lambaris naquelas águas
piscosas, e num momento de nostalgia me vi envolvido pela emoção e sem
pestanejar, entreguei-me a um amasso imaginário de uma linda mulher cujas bolhas
de águas que envolviam o seu corpo eram levadas com leveza pelo vento que nem
pedia licença. O belo vulto de mulher iluminado pela luz tênue do sol estava
adornado por folhas secas que caiam sobre o rio. Ela emergia e imergia naquelas
águas profundas, num vai e vem sensual inesquecível. O rio, e eu, já em minha
canoa, assim como o esbelto corpo, parecíamos querer seguir céleres à procura
de um lugar distante, ir para além de mais além, atravessar horizontes, seja
enfrentando leitos com declives e curvas perigosas, seja recepcionando as
brisas vindas de outros rincões, seja sob o gorjear dos livres pássaros, pois
tudo parecia querer mostrar-me que outros aventureiros que por lá passaram
viveram o amor e jamais ouviram falar de violência, poluição ou da existência
da brusquidão do quente asfalto de uma cidade e dos ruídos infernais produzidos
por suas máquinas insones.
O
caudaloso rio seguia sem rumo, onde os olhos jamais poderiam enxergar, onde a
natureza não mostraria sua face, onde não se ouviria suspiros nem gemidos, onde
não se veriam cidades incharem, onde não se respirariam o mesmo ar do ser
humano. O rio tem o seu leito e nele seguirá navegando sobre ele, mesmo que
sinuoso, suscitando sons inebriantes entre levezas ribeirinhas e pequenas
quedas d’água, tudo sob o silêncio sombreado das árvores que debruçam sobre
suas águas límpidas e deleitam em suas rústicas margens. Aquele dia me fez
recordar de coisas obscuras impregnadas em meu cérebro há tempos, e com emoção
à flor da pele, restou-me quedar diante daquele ambiente místico, esquecer-se
dos sustos da cidade, das enfermidades, da violência, da criminalidade e dos
cotejos de morte.
Naquele
recanto aprazível procurava fugir do meu mundo real, encaixotar de vez minhas
ansiedades, aflições e sensações oriundas do mundo profano e de certa forma,
procurar entender a própria existência do homem no universo e acreditar
firmemente na existência de Deus. As atitudes de cada um por mais crentes que
fossem, considero que a demonstração de fé, caso não seja rejuvenescida ante ao
Criador, continuará sendo apenas uma gota de orvalho que não tem mãos para
levantar aos céus e pedir ajuda, pois rapidamente se evaporará sob os raios de
sol. Não importa se vamos mais além daquilo que podemos enxergar, seja para
ouvir ou assistir o nascer de um novo amanhã. Por extrema necessidade há
momentos que temos de fazer uso das asas da imaginação para voar na tentativa
de visualizar nesse amanhã uma vida nova, e possivelmente, numa curva qualquer,
encontrarmos a fé em Cristo que tantos procuramos.
Naquele
dia o sol se pôs no horizonte e por entre as folhagens das árvores ele me
entregou a lua que já nascia soberba detrás da densa mata. Não obstante o palco
mostrado pela natureza se diversificasse a cada momento, o rio seguia seu rumo
em silêncio e eu o acompanhava com olhar complacente de um admirador. Era óbvio
que ele passaria por serrados ingentes, matas e mais além, encontraria
queimadas praticadas pelo próprio homem. Sabia que o fogo atiçado sobre o capim
e galhos secos tornaria suas chamas ardentes, implacáveis, os quais,
silenciosos, quedariam esbatidos sobre a terra que já chorava de dor. Por mais
que procurasse me aquietar naquele final de tarde não conseguia ficar
indiferente e como ambientalista precisava agir não obstante saber que a vida
humana é cheia de contrastes em relação ao ambiente em que vive. A sua ação
devastadora fez-me voltar ao meu mundo real, esquecer aquela imagem surreal,
dos mistérios e mitos contados por moradores ribeirinhos para poder soltar os
pequenos flashes guardados em minha memória, onde se encontra níveis
insuportáveis de violência, de corrupção sem controle, de descrédito absoluto
da classe política, de apagão ético e moral e de toda a sorte de agruras que o
cidadão vem enfrentando, impotente, sem ter a quem recorrer. A sociedade está
órfã e este fato me fez “cair na real” e procurar ir para além de mais além dos
horizontes, talvez inerme, em busca de um mundo desconhecido.
0 comentários:
Postar um comentário