Semana
passada o Brasil sofreu mais uma reviravolta moral e ética. Torquato Neto
detrás de um balcão cortava com maestria parte de um filé para atender um
cliente, mas foi surpreendido quando ele lhe perguntou se a carne estava em
boas condições para consumo. Sem entender a pergunta olhou de soslaio para o
doutor e continuou cortando a carne fresca, tão fresquinha que sangrava. Eu
disse carne fresca e não carne fraca. O doutor era cliente antigo do seu
açougue e jamais reclamara. Todavia tal pergunta o preocupou, mas de repente,
ouviu no seu radinho que ficava ao lado do caixa uma notícia constrangedora que
falava da prisão de várias pessoas que estavam recebendo propinas para liberar
carnes estragadas de grandes frigoríficos. Torquato então deu um sorriso largo
e tranquilizou-se. Disse ao seu cliente que a carne que vendia nada tinha a ver
com aqueles produtos citados pela Polícia Federal. O cliente conferiu a
mercadoria e saiu satisfeito. Torquato ainda preocupado, pois a notícia poderia
lhe trazer prejuízos financeiros, pensou e muito. Como se tratava de um ser
político, sonhador, honesto, trabalhador e entendedor do processo de manuseio
da carne ficou pensando e seu pensamento ia e voltava na velocidade da luz. E
foi nesses segundos ao usar em demasia a força de seu pensamento que se viu
vagando pelo espaço sideral e num vôo alado, esquisito, alcançou lugares
distantes e inimagináveis para uma mente humana. Sustentado pela força da
gravidade fotografou tudo que vira pela frente, e lá de cima, pode vislumbrar a
amplitude do universo que nem sabia se tinha fim. Voava alto, bem alto e dava
para ver que as nuvens nem mais se assustavam com sua presença e com aqueles
pares de asas brancas encorpadas em seu corpo, todavia, entendeu que cada uma
levava consigo uma mistura de fé, esperança, ilusão, desilusão, mágoa,
ansiedade e, sobretudo, medo.
No
seu vou imaginário Torquato sentiu que era difícil entender o que se passava
nas mentes silenciosas de políticos corruptos e corruptores que perderam o
prestígio e estão à beira da derrota. Será apenas medo de encará-la novamente
ou de não poder revelar e não mais ser atendido nos acordos ou propinas
palacianas? Tudo deve estar “grampeado” pela Polícia Federal e deve
continuar... À noite após assistir noticiário televisivo, de ouvir falácias e
mais falácias através de jornais e ler algumas más notícias para poder escrever
este artigo foi tantas denúncias e controvérsias que eu não cheguei a nenhuma
conclusão fática. Fiquei desnorteado, indignado igual ao Torquato e de imediato
desliguei a TV. Passados alguns segundos me postei novamente diante do computador
para descrever as cenas fragmentadas de reportagens sobre a ação da Polícia
Federal denominada “operação Carne Fraca”, que se repetiram à exaustão,
mostrando mais uma vez a PF prendendo gente graúda, que sem nenhum respeito ao
povo brasileiro autorizavam mediante propina desembargos de produtos e a venda
de carne estragada.
“É comum usarmos a frase “a carne é fraca” para justificar
nossas “quedas” sociais, justificativas ou se desculpar por um erro cometido. Mas no caso em tela não há
desculpa, pois se trata de uma operação da Polícia Federal denominada de “carne
fraca”, não aquela fraqueza acima mencionada, mas da fraqueza de caráter de
alguns proprietários de frigoríficos de renome nacional ao autorizar a venda de
produtos estragados com a aplicação neles de alguns ingredientes para tapear a
população brasileira, tudo isso com a “complacência” da fiscalização do
Ministério da Agricultura. Usaram até atores globais para divulgar o produto,
então faço três perguntas: Se uma pessoa não fuma, pode fazer propaganda de
cigarro? Se uma pessoa que não bebe pode fazer propaganda de pinga ou cerveja.
Se uma pessoa é vegetariana pode fazer propaganda de carne? Tudo propaganda
enganosa e enganaram mesmo, vendendo produtos de má qualidade e esses atores
hoje é que estão “pagando o pato”. Meu Deus! Pensei: Para onde está indo o
nosso País? Abri a telinha do computador e mais indignado fiquei quando
apareceu uma lista (fotos) de pessoas que receberam propinas e de políticos que
usufruíram delas para se reelegerem. Não suportando tanta safadagem voltei para
o meu recanto sonhador e escrevi nas paredes do mundo, com letras garrafais, os
motivos da minha decepção e revolta em relação à política brasileira e à
corrupção que se alastra por todos os cantos. O País está à beira do colapso
total e o dinheiro continua saindo pelos ralos. Abri o jornal que estava sobre
a escrivaninha e fiquei observando os semblantes de alguns políticos que se
beneficiaram dessa carne que nada mais é que “carnificina”, uma rota homicídios
em larga escala onde as vítimas são os próprios consumidores. Aqueles que foram
listados pela Odebrecht, Operação Lava-Jato, também são responsáveis, pois as
propinas recebidas por eles também deixaram o Brasil num caos, cujos valores
salvariam muita gente que estão morrendo em filas de hospitais, dinheiro que
daria para alimentar e construir moradias para muitas pessoas famintas e
desabrigadas; dinheiro que não deixaria a educação como está, esfacelada; dinheiro
que evitaria o fechamento de lojas e fábricas; dinheiro que evitaria o
desemprego de mais de 12 milhões de pessoas.
Quando
vi a fotos e nomes senti-me ainda mais constrangido e decepcionado quando numa
delas visualizei a de uma pessoa que conhecia e que achava ser de boa índole.
Se a carne é fraca, analisando o termo bíblico de forma inversa, devemos
entender assim: Esses corruptos deviam fortalecer com o bem seus espíritos,
imbuírem-se de caráter e reconhecerem que seus atos maléficos trazem riscos à
saúde da população, não só do Brasil como em todo o mundo.
Torquato,
um açougueiro, nascido no sertão, teve que usar as asas de sua imaginação como
forma de entender o que passava com a humanidade, pois percorreu também a
estrada da vida e durante o voo pode vislumbrar momentos de desespero em face
dos desastres naturais provocados pelo próprio homem. Através dessa viajem
imaginária, observou os erros e acertos em várias partes do mundo, mas,
realmente, não chegou a nenhuma conclusão fática em relação à natureza do
homem, todavia, imbuído do desiderato de bem informar aos seus clientes e de
haver encontrado ao longo dessa “viajem” o respeito ao ser humano e visualizado
alguns sonhos, preocupou-se é claro com a situação que ora passa o Brasil, pois
tal assombro dificulta ao homem alcançar a sobreviver com dignidade, de almejar
outros sonhos e objetivos antes de chegar à reta final mesmo se usar apenas as
asas de sua imaginação.
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