Acordei.
Dei uma espreguiçada para colocar os músculos no lugar e depois levantei
devagarzinho. Era uma daquelas segundas-feiras bruta, mas para mim, um dia como
tantos outros, onde a gente costuma achar que a vida simplesmente seguirá sem
nenhum esforço. E também como de costume, tomei o gole de água e depois uma
chuveirada. Escutei um assovio vindo da cozinha. Era um sinal que recebia todos
os dias me alertando que o café da manhã estava pronto. Tomei o meu café com
leite acompanhado de pão francês e saboroso pão de queijo. Calcei meu tênis,
coloquei agasalhos apropriados e saí para dar minha caminhada diária no Bosque
Vaca Brava,
Naquele
dia o céu estava nublado, mas tudo me parecia no seu devido lugar e, como de
rotina, desejava que meu dia tivesse mais de vinte e quatro horas. E é assim,
estamos sempre querendo que o tempo se adéque ao nosso tempo, ao nosso modo de
viver, no fundo mesmo, sempre pedindo que fosse possível realizar o que
traçamos para aquele dia, livres e desembaraçados de qualquer culpa.
Meu
Deus! Quanta prepotência! Não somos senhores do tempo,
aliás, somos incapazes de prever o que irá nos acontecer no dia seguinte. A
vida tem seu próprio modus operandi, ela
não estica as horas, apenas passa depressa, e nós, humanos, insistimos fingir
não saber disso. Não sei se era pressentimento, mas naquele dia, a cada passo,
o meu coração batia descompassado no peito, e, de repente, ao passar por uma
banca de revistas um silêncio literalmente mortal me deixou de sobressalto. Na
Capa de um jornal estampava em letras garrafais a notícia sobre a morte do meu
querido amigo João Batista da Costa Meireles, o cantor sertanejo, mais
conhecido como Jataí, de 54 anos, que fazia dupla com seu irmão Avaré. Fiquei
atônito, mas naquele instante entendi que a morte não pede licença, ela
chega, atravessa o nosso caminho e nos impede de seguir em frente, todavia, por
instantes, o meu pensamento também ficara interrompido, e com o corpo
paralisado, engoli seco e senti alguma coisa ficar entalada na minha garganta,
que me sufocava e parecia sentir que tudo mudara de lugar.
Quando
sentimos esse silêncio fúnebre somos obrigados a aceitar que não temos o poder
de controlar nada e que, por isso mesmo, podemos e devemos nos permitir seguir
outros rumos, nos doar por inteiro e não pela metade, declarar nossa amizade
várias vezes até que não sejamos mais capazes de cantar, tocar, sorrir com a
alma, não adiar as coisas, pensar antes de agir ou falar para não magoar,
libertamos dos extremos e valorizarmos o que é importante, mas sempre com a
consciência tranquila de que tudo aquilo que nos importa de verdade é possível
de aceitar, de se medir, de se usar...
Cotidianamente
a vida nos impõe suas próprias regras e nos coloca à prova. Surgem novas
perguntas e somos obrigados a formular novas respostas. E ali, diante de um
amigo que se foi para outra dimensão, querendo ou não, teremos que entender os
desígnios de Deus e aprender a lidar com essa ida repentina, aceitar que a
vida, e se não nos tornarmos responsáveis, passaremos por um fio muito tênue e
que o amanhã pode nunca chegar.
Muitas
homenagens póstumas foram feitas, mas eu quero deixar registrado aqui meus
sinceros agradecimentos ao Jataí e ao seu irmão Avaré por terem participado de
alguns eventos meus, inclusive de um Encontro de Família, onde abrilhantaram
com suas presenças cantando afinadamente e tocando magistralmente suas violas.
Desde o princípio, durante e até no fim, a diferença estava na sua fé e na
intimidade que tinha com Deus e porque cria nesse Deus de misericórdia, de amor
e paz, e independentemente das circunstâncias, as trevas jamais serão capazes
de sobrepujar a luz que iluminará o caminho de Jataí rumo aos céus, e a vida,
na verdade, não chegará ao fim quando esse fio se partir, apenas se
transformará para ganhar a eternidade.
Meus sentimentos
ResponderExcluirBela homenagem
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