O poeta que contou um causo de um caso ocorrido por acaso durante um ocaso.

sábado, 16 de janeiro de 2016

Escutar de tudo na vida a gente já escutou e ainda continuamos escutando. Pessoas usam os meios de comunicação para dizer meias "verdades" ou inteiras mentiras com a mesma desenvoltura. Por mais que prestemos atenção na fala ou textos escritos geralmente não sabemos quem é que está falando sério. Neste mundo real as verdades são pedras preciosas entre nós, então, temos que observar o semblante do falante, aguçar o ouvido, prestar bastante atenção e tentar discernir o porquê e aonde o autor do texto quer chegar. Certo dia um poeta amigo me contou uma história que me deixou boquiaberto, e quanto a esse causo contado por ele quero cada um que tire as suas próprias conclusões... Como comprei um detector de mentiras no Paraguai acabei me tornando um caçador, por isso, particularmente, acho que o causo contado por ele é interessante, bem rimado, poético, mas pode ser uma grande mentira, no entanto, vamos ao ocorrido.

Certo dia, como de costume estava sempre no mesmo lugar e desta vez era mais um causo que ele contava de um caso ocorrido por acaso num final de tarde, quando ocorreu um belo ocaso no Vale dos Ipês. Disse ele que estava deitado numa rede manuseando seu laptop e de vez em quando voltava seus os olhos para o ocaso. Conversa vai, conversa vem, num repente, ouviu alguém que estava numa rede ao lado, contar um causo de uma mulher que teve um caso amoroso com um viajante que passou por aquela região por acaso. O caso podia ter acontecido com ou sem o ocaso, como também, com qualquer pessoa, mesmo considerando a impossibilidade do sol se pôr no horizonte, de circunstâncias que não precedesse à noite poente ou apenas uma aventura amorosa, desconcertante, indecente. Por acaso, disse-lhe que a mulher veio da região fria do ártico e o jovem viajante do quente oriente. Quando contava o causo parecia estar esperando o aparecimento de um crepúsculo como aquele que outrora tinha apreciado no Antártico e de outros causos amorosos pensados por ele premeditadamente.

Eu, um simples cronista, nunca tinha ouvido em falar do caso, mas, com um sorriso sarcástico aceitei ele continuar contando: Caro amigo seja como eu, minta, e se puder invente. Inclua qualquer fato no seu causo e não será mero acidente, mesmo se não conseguir ver o sol se pôr no oriente, ou o nascer da lua, no mesmo instante, no ocidente, mesmo assim, minta, invente. O causo do caso que eu ouvi foi por acaso e aconteceu diante de um lindo ocaso. Pode ser que a história não seja verdade e ser apenas uma estória. O causo sempre precede à noite e aí menos mal porque da minha rede podia enxergar o ponto cardeal. Você sabe dependendo do que a natureza nos oferece o ocaso pode ocorrer tanto no ocidente, no oeste, leste ou no poente, e se no seu inverso não existir pontos cardeais, invente. O contrário do ocaso é a linda alvorada, e ela nos traz a manhã, linda e incandescente, e com ela vai a nossa majestosa madrugada. O causo acontecido durante o ocaso pode significar decadência, fim ou um período que antecede esse fim, ou fim de um romance, ocorrido em Berlin ou na pequena Bom Jardim. O conto ou queda de algo importante é para nós, a indicação de um norte, além de nos mostrar que ele é sinônimo de ruína ou falta de sorte. Mas, antes que ele finalizasse o causo, recolhi minha rede e desviei minha visão do ocaso e procurei esquecer aquele caso. Deixei de ouvir outros causos contados por aquele poeta que falava de lindas mulheres e do viajante vendedor de vasos, e nada mais é do que causos de casos amorosos ocorridos lá por acaso.

Outro causo segundo assistiu o poeta, antes do ocaso, ele e seu tio montavam barraca à beira do lago em ponto estratégico no Vale dos Ipês, pois de lá costumavam ver cenas amorosas, anotavam tudo e prontas para se tornaram mais um causo. E não era por acaso que anotava em seu laptop as cenas inusitadas e o encanto que circundava aquele pedaço de chão. O local não podia ser vulnerável, pois era perigoso e poderiam ter surpresas desagradáveis, principalmente caso errassem na estratégia de bisbilhotar cenas alheias. Como ele e o tio eram caçadores de primeira viagem, por acaso nada lhe foram informados e nenhuma tática foi adotada antes do ocaso, deixando por conta do tio, o mais experiente, a incumbência da escolha do local mais apropriado para descrever as cenas que iria fazer parte de mais um romance ou apenas mais um causo a ser contado. E não era por acaso que o tio tinha a mania de inventar coisas, contar causos e lorotas, pois sabia que essa era a única maneira de informar ao poeta sobre as cenas que via à beira do lago. E também não foi por acaso que escolheu do outro lado uma árvore bem alta, cheia de galhos e teoricamente segura para ser o olheiro do poeta. E foi assim que, para contar mais um causo de amor, armaram o acampamento entre as forquilhas de uma torta e frondosa árvore milenar. O ocaso veio e a noite correu lenta, vez por outra o vento assobiava assustador, as folhas das árvores balançavam soltando sons estranhos e caiam sobre o capim seco que circundava o lago. O silêncio entre os dois era total, não se ouviu qualquer palavra; a respiração, antes ofegante, passou a quase nula, tal a preocupação em não fazerem barulho para não assustar o casal de namorados que se silenciaram dentro de uma pequena barraca iluminada apenas por um fraco lampião a gás.

Passou-se o ocaso e meu amigo poeta, caçador de primeiríssima viagem, ao ver gestos de um vai vem erótico que se refletia de dentro da barraca, estabanado que era, pulou da árvore, pegou um caderninho, sua máquina fotográfica e saiu correndo feito maluco em direção a ela, atravessando o lago num nado sem sincronismo e sem olhar para trás. A ansiedade era tanta que quando chegou perto da barraca, vendo que estava molhado e trêmulo, pisou em galhos secos e repentinamente parou. O casal, ao ouvir o barulho, olhou por uma pequena brecha na lona e perguntou: Que você quer cara? Ele, na maior cara-de-pau disse que estava correndo de uma onça, e como não a acertou, pulou da árvore e saiu correndo atrás dela até pular no lago.

É história de poeta ou de um poeta caçador de história. Ainda bem que não sou caçador de onças, apenas de mentiras e aquele causo, como os outros, foi demais!... Esse negócio de mentira não é comigo, mesmo sabendo que ao poeta ou romancista tudo pode. Agora, sou eu que vou contar um pequeno causo: Certa vez fui pescar e o motor do barco caiu lá no meio rio. Procurei incansavelmente, horas e horas até aparecer o ocaso... Não sei se foi sorte ou por um acaso, três dias depois o encontrei e minha maior surpresa foi verificar que o motor ainda estava funcionando! É verdade Té! Esses e outros causos são apenas histórias de caçador, às vezes medroso, às vezes valente, às vezes verdadeiro, às vezes mentiroso, no entanto, mais uma vez, ficou provado que mentira tem pernas curtas e, se não fosse o lago esse meu amigo poeta ainda estaria correndo ou sido devorado pela onça e eu, me vangloriando da potência do motor de meu barco.


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