Vivendo num mundo surreal, enigmático e ambíguo.

segunda-feira, 21 de março de 2016

Tem dia que tudo acontece de forma inesperada. A gente vai até a janela e o céu parece menos azul, o sol teima em queimar o rosto das pessoas, enquanto os pássaros passam emudecidos, alçam vôos rasantes e desaparecem no meio da mata. O vento passa efêmero sem trazer nenhum cheiro de lá. Deixo a janela e ligo o computador. Como num passe de mágica aparecem na telinha do monitor lindas imagens acompanhadas de várias mensagens acalentadoras: montanhas, lagos, rios, cachoeiras, castelos medievais construídos no topo das colinas, adornados de pedras preciosas; depois, fotos pitorescas de várias partes do mundo que mais pareciam obra de arte. Em algumas imagens, sem clareza, pareciam ter mais de um sentido, pessoas sentadas num banco, ao lado de um banco, enquanto outras passeavam alegres, com olhares enigmáticos, cheias de dúvidas e passos imprecisos. Casais a poucos metros dali, de forma estranha, trocavam beijos à beira do lago, enquanto os canoeiros nem se importavam com os “trejeitos” deles e continuavam remando, apreciando o pôr do sol. Pássaros, aos montões, continuavam passando rasantes, numa cantoria sintonizada, como se estivesse sob a batuta do maestro Frederick Chopin.

Fecham-se aquelas cenas, clico noutro link e outras se abrem. Imagens começaram a aparecer novamente, mas, desta vez, contrastando com as anteriores, então percebi que nelas existiam outros protagonistas, um pouco sem clareza, encenando num outro palco da vida. Pessoas estiradas nas calçadas, crianças esqueléticas, desnutridas, sujas, maltrapilhas, bêbados, viciados em drogas, jovens se agredindo, disputando um cachimbo recheado de crack. Imagens de meninos e meninas de rua peregrinando, sem rumo, pés descalços, em busca de um lugar melhor na sociedade. Crianças e adolescentes em casas abandonadas, em terrenos baldios, debaixo de pontes onde fazem delas suas moradias ou para se protegerem do sol escaldante e do frio da noite, enquanto outras se deparam com a violência das ruas e muitas vezes quedam-se diante dos olhares sisudos da lei e são presas, maltratadas e ao serem julgadas pela justiça dos homens não têm ninguém que possa defendê-las, compreendê-las e ampará-las de verdade.

Elas ou eles são como todos nós somos apenas passageiros de um trem qualquer, que segue num comboio cheio de vaidades, enquanto nosso subconsciente vai traçando uma visão idílica de um mundo que muitas vezes é cheio de desventura. Ao ver essas pessoas amontoadas nas calçadas, debaixo das marquises, cobertas apenas pelo manto negro da noite, cheirando cola para enganar a fome, sem perspectivas de vida, me fazem pensar como passageiro desse trem da agonia, qual será o destino de cada um, então, só me resta aguardar a próxima estação e imaginar, se ao desembarcar, haverá recepção com bandas marciais, bandeiras a acenar e também se, na última estação, todos os sonhos deles e nossos irão se concretizar, ou talvez, possamos perceber que não haverá estação como também não haverá lugar a chegar.

Precisamos repensar e refletir sobre tudo o que vem acontecendo com o nosso País, com pessoa humana e parar de contar os quilômetros percorridos de uma estação a outra e apreciar a viagem que muitas vezes fantasiamos em nosso subconsciente e não conseguimos enxergar que as coisas da vida são simples, cheia de essência e o detalhe é não perdê-la, para depois, termos a certeza que a última estação chegará, trazendo as responsabilidades em relação ao futuro e os pesos que a vida pode trazer. E quando forem abertas novamente as cortinas do tempo possamos constatar que estamos assistindo, diariamente, cenas de belezas de um lado, horripilantes de outro, ora sem clareza, ora duvidosas, ora com mais de um sentido, que nada mais é do que cenas extraídas de um mundo surreal, enigmático e às vezes, ambíguo.



0 comentários:

Postar um comentário

 
Vanderlan Domingos © 2012 | Designed by Bubble Shooter, in collaboration with Reseller Hosting , Forum Jual Beli and Business Solutions