À espera de um novo crepúsculo.

terça-feira, 16 de maio de 2017

Fito com os olhos o mundo que construí durante toda minha existência. Fito, mas às vezes canso quando vejo um amontoado de estrelas e a lua cheia, despretensiosas, cumprirem morosamente suas rotas. Deito-me sobre a relva e olho para o céu e pergunto ao silêncio que me rodeia: Que bom passasse um meteoro e ele desviasse de sua rota e caísse perto de mim? Fiquei ali quieto sem nenhuma luz a importunar-me, apenas recebendo o manto negro da noite, mas não me preocupei, pois, talvez, poderia ser contemplado com um meteorito antes do amanhecer. A relva estava úmida e ele me fez lembrar-se da tarde chuvosa que cobrira o céu escondendo o meu sol naquele lugar aprazível. Mas tudo passa, pois entendia que a leitura que fazia do meu mundo me enriquecia assim como o meu aprendizado sobre o ser humano e das minhas idas e vindas ao mundo da leitura que me tornaram mais experiente. Entendi que, olhando para o mundo que criei que não existe nada mais rico que o ritmo da vida e não importa o lugar em que a gente esteja. O meu momento de fazer diferente é hoje, é agora; portanto, acho que faço ou procuro fazer diferente.

A claridade no céu auxiliado pela lua e estrelas era visível, deslumbrante. Entre a noite e o nascer do sol ou entre seu ocaso e a noite havia certa dispersão da luz solar na atmosfera, mas era compreensível. A claridade que eu amparava com as mãos ofuscava meus olhos, mas de repente, vi uma mulher extremamente bela, quieta, cuja imagem aparecia detrás das folhas das árvores cortadas pela luminosidade lunar, e foi aí me detive, e meio atônito, comecei a examinar seu rosto sempre com atenção e o extremado carinho de quem fixa numa flor. Sobre a haste do colo fino senti-a trêmula, talvez fosse a leve brisa que passava sobre o verdejante serrado; talvez fosse o estremecimento do crepúsculo que estava por vir. Era tão linda que nem ouvia o canto nostálgico do Curiango no alto da serra. Perguntei novamente ao meu silêncio se já estávamos preparados, nós, um homem simples e o seu silêncio, para testemunhar o aparecimento daquela imagem e a nossa fugaz presença sobre a terra. Sabia que eram precisos milênios de luta contra a animalidade, milênios e milênios de sonho para entender esse momento delicado a que me expunha. Não era possível tocar em seu corpo esbelto, mas os meus olhos brilhantes repetiam em outro ritmo a exata melodia encenada pelas minhas mãos.

Contemplei-a... Ela e o manto negro da noite me confundiam, mas, a sua bela silhueta e um leve movimento fez com que meus olhos voltassem a ter o brilho doce da adolescência. A forma que a via sabia que não se repetiria e talvez desaparecesse para sempre no crepúsculo que se aproximava. Fitava-a e sentia seu olhar triste, mas nada podia fazer, era apenas uma miragem. O desejo de tocá-la não se esvaía, mas sabia também que outras imagens apareceriam mesmo sob torvas chamas rubras, e viriam despojadas sem a eterna marcha banal. Deus fez e refez sem cessar e como quis as imagens humanas porque sabia de nossos erros e que a negligência dos homens entorpece. Mas neste momento, sobre a relva, sou menos uma pessoa que um sonho de luminosidade que passa entre as folhagens. Eu e ela, no tornamos apenas uma fantasia de luz entre lua e estrelas, e juntos, ficamos trêmulos, como se nossa existência fosse efêmera, mas que sabíamos que seríamos eternos. Mas o que dizer e porque despetalar palavras tolas que vêm sobre minha cabeça? Na verdade não sei o que dizer apenas aquietar-me sobre a relva, olhar, olhar para o céu, como quem reza, e depois, antes de montar meu cavalo Alazão e partir, restar-me esperar por um novo crepúsculo, mas com a mesma imagem e o brilho do seu olhar.


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