Tem certos
momentos que a gente sequer vê o tempo escorrer entre as mãos e se perder no
esquecimento, longe das fronteiras da vida que divide a nossa vontade de
soletrar, de escrever, de ver o sol, a lua, de como escutar uma voz no deserto
ou levantando um voo imaginário amparado pelo vento cruzando a linha do
horizonte para só depois gravar nas telas do mundo meus riscos e rabiscos tudo
que me vem da alma e da mente. Arrisco fazer alguns rabiscos poéticos, versos
que não ditam regras nem rimas, personalizadas ou não vindas da emoção que
sempre me fez sonhar e fluir minha inspiração. Escrevo pausadamente e nas
entrelinhas do meu silêncio surgem o meu versar, sem censura e sem o devido
controle, chego ao imponderável, e aí, paro penso, reflito, ouço o mundo que
rodeia o meu céu e sem pestanejar bloqueio a razão, abro as comportas da emoção
e deixo falar alto o coração.
Construo tudo em tempo real, seja no agora ou no amanhã, pois tenho que seguir os sinais
que abrem caminhos. E quando estou diante de uma mansa quietude, entre meus
riscos e rabiscos mergulho-me no manto negro de minhas solitárias madrugadas,
sedentas de minha alma e é através desse mergulho surreal que construo,
refaço, desconstruo, renasço, nasço, pois em fazendo assim passo a ter a
certeza que minha existência jamais foi efêmera. Vou rabiscando, apago e
rabisco de novo, escrevendo poesias com nexo e outras sem nexo, mas sempre
inserindo nelas as falas do cotidiano. E assim vou levando a vida, algumas
vezes estilhaçando a memória do tempo, esbarrando nas arestas da vida, entre
sorrisos emudecidos, lágrimas e alegrias, e talvez advindas do meu jeito de poetizar é que surgem tantos e riscos e rabiscos que de alguma forma delineia o
meu destino e o registra numa simples folha de papel.
De certo
modo é controverso falar de gente que quebra as regras, que muda sonhos, que
muda o seu jeito de ser e joga fora rabiscos antigos que fizeram parte de seu
passado. É perigosa essa ação, todavia, eu gosto de gente que não tem medo,
aliás, coragem pra tudo, que arrisca, ultrapassa os limites, corre riscos, que
às vezes os chamamos de "loucos", mas às vezes, não procuramos
entender que eles não encontram tempo pra nada, e a gente deixa de ser mais
flexíveis com essas pessoas. Certo dia ao limpar umas gavetas eu encontrei
textos diversos, folhas com simples riscos indecifráveis e outras com rabiscos
compreensíveis, provas escolares, atividades exercidas, todas esquecidas, e nas
entrelinhas dessas lembranças, percebi quanto tempo se passou e tanta coisa que
já vivi e aprendi. É claro que mudei em alguns aspectos, mas permaneci com a
mesma personalidade, com bastante transparência e gênio forte. Muitas pessoas
já passaram pela minha vida, fui feliz com a maioria delas, mas todas, indistintamente,
me fizeram aprender, crescer, tornar-me forte, vencedor. As que se foram para
outra dimensão deixaram a saudade eterna. Mas com toda convicção posso dizer
que meu hoje é melhor que o meu ontem e continuará sendo bom amanhã, e sempre
com a mesma mente, o mesmo olhar, o mesmo sorriso, a mesma gratidão, a mesma
cabeça pensante.
Pergunto a
mim mesmo: Quantos textos eu escrevi e publiquei? Quantos livros eu escrevi?
Será que era tudo isso que eu sonhava em realizar? Posso dizer que sou
abençoado. O tempo passou rápido demais, mas procurei acompanhá-lo, pois ele
jamais parou e foi deixando para trás deixando cicatrizes e o nosso corpo
carcomido pelas intempéries desse mesmo tempo. O que dizer então? Olhar pra
trás e acreditar que tudo aconteceu se tornou realidade? Sim, dizer sem
entrelinhas simplesmente ou obrigado a todas as pessoas por fazer parte da
minha própria história, mas dando a elas o gosto, o prazer, a reflexão, à
vontade, o ponto e a vírgula de um jeito que só eu autor deste texto posso dar
e receber para continuar a escrever minha história e principalmente depois de
ler e dizer: Valeu a pena ter sonhado, ter chorado, ter caído, ter forças pra
me reerguer. Valeu à pena confiar no meu Pai Celestial, ter a humildade e
vontade de crescer. Valeu à pena escrever, correr riscos, riscar, rabiscar
folhas, criar um blog, compartilhar, curtir e amar. Valeu mesmo!
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