Raimundo
Nonato vivia com sua família num casebre iluminado apenas por uma pequena
lâmpada. Um amontoado de fios atravessava o teto coberto por restos de telhas
alumínio que conseguira junto à construção civil. As paredes eram de puro adobe
e a única porta possuía uma pequena tramela. Quando se adentrava ao pequeno
barracão logo se deparava com um fogão à lenha soltando labaredas que se
misturavam com o vapor que saía de duas panelas de ferro e dentro delas,
minguados arroz e caldo de feijão. O calor era insuportável. No quarto,
crianças desnutridas se amontoavam em pequenos colchões e silenciosas, ficavam
olhando a figura angustiada do pai que debruçado no vão da janela olhava o
nascer do sol, parecendo esperar por dias melhores e ver realizado o seu sonho
maior possuir casa própria.
Anestesiados
pela dor que pune as paredes estomacais pela falta ingestão de alimentos,
aquele trabalhador e seus três filhos, desnutridos, peles corroídas pelas
intempéries do tempo, mesmo sentindo o mau cheiro que vinha do esgoto que
corria a céu aberto, ainda conseguiam ouvir no pequeno radinho de pilha,
os sussurros, maledicências e descrições metafóricas das sandices
humanas. Ouviam estupefatos, comentaristas falando das ações de
governadores e prefeitos que deixam o Estado e Município em penúria, que para
eles, mais pareciam cenas de filmes de ficção, e em tom
conspiratório, eles abandonam os mais incautos, transforma-os em lixos humanos
e nem dão a mínima para aqueles que os elegeram, mostrando uma desfaçatez
absurda e curiosa que não se limitam a própria esfera de seus infortúnios
políticos.
Não mais
suportando estas decepções que a vida prega em todos nós pessoas de bem, tento
corroborar na tentativa fajuta de escape de minha circunstância natural
refutada pela aversão ontológica daqueles que mentem descaradamente para
assumir e se perpetuar no poder, escarnecem-se do eleitor, do humilde
trabalhador, do professor, do honrado, do honesto, de tudo... Falo daqueles que
se esbravejam diante das minhas minúcias; falo daqueles inescrupulosos
desguarnecidos em seu próprio habitat, que fugidamente retroagem aos gêneses
dos ritmos das marchas fúnebres. Falo desses “seres” políticos que parecem
posar na personagem maculada dos observadores mais atento que vêem neles
figuras de rostos-preguiças sentados em poltronas de anos de
maledicências, apresentando silhuetas caricatas dispostas ao ridículo.
Os rostos
desguarnecidos de qualquer compostura, demonstrando falta de zelo e respeito
com a coisa pública, prática do exercício da improbidade administrativa, falta
de consideração com o povo e aos órgãos públicos ou entidades que administram
essas figuras políticas nefastas, felizmente, não chegavam aos olhos do
Raimundo e seus filhos porque eles não tinham TV. Somente através dos
comentaristas podiam absorver de cada palavra a profunda decepção em forma de
pintura de escárnio, tal como aquela dor que sobe por nosso estômago e que
muitas vezes nos levam ao vômito.
Ainda bem
que o povo acordou. Ainda bem que começaram a respirar liberdade e extrair a
dor que contraíram seus músculos de moralidade. Ainda bem que estamos começando
a recuperar o tempo perdido. Ainda bem que voltamos a acreditar em dias
melhores, na volta da ética e da moralidade pública, na felicidade do povo
brasileiro, assim como, certos estão de que um dia não mais voltaremos a
visualizar lixos humanos, como se eles, amontoados em seus casebres, fizessem
parte de um teatro de horror, cujos personagens parecem ter saído de filmes que
protagonizam cenas inenarráveis que estão lotando de infelizes os palcos da
vida urbana. Se os olhos desses políticos por mais embaçados, marejados e
míopes não verem; se os ouvidos deles não escutarem o clamor que vem das ruas;
se todos os responsáveis continuarem empurrando com a barriga pode ter a
certeza que a pobreza tende a aumentar e vai ocorrer uma revolta geral e em
razão disso, o aumento da criminalidade como já vem acontecendo em todo País e
também vai proliferar de uma maneira assustadora, incontrolável e destruir
vidas, famílias e como conseqüência, aumentar os lixos humanos, todavia, espero
que essa revolução social que todos almejam com a derrocada dos políticos
lesa-pátria, dos corruptos, dos que subjugam e enganam o povo, dos que compram,
dos que escravizam, do que fraudam eleições para permanecer no Poder aconteçam
antes que estas linhas sejam denotadas de melancolia e decepção.
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