Lixos Humanos.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Raimundo Nonato vivia com sua família num casebre iluminado apenas por uma pequena lâmpada. Um amontoado de fios atravessava o teto coberto por restos de telhas alumínio que conseguira junto à construção civil. As paredes eram de puro adobe e a única porta possuía uma pequena tramela. Quando se adentrava ao pequeno barracão logo se deparava com um fogão à lenha soltando labaredas que se misturavam com o vapor que saía de duas panelas de ferro e dentro delas, minguados arroz e caldo de feijão. O calor era insuportável. No quarto, crianças desnutridas se amontoavam em pequenos colchões e silenciosas, ficavam olhando a figura angustiada do pai que debruçado no vão da janela olhava o nascer do sol, parecendo esperar por dias melhores e ver realizado o seu sonho maior possuir casa própria.

Anestesiados pela dor que pune as paredes estomacais pela falta ingestão de alimentos, aquele trabalhador e seus três filhos, desnutridos, peles corroídas  pelas intempéries do tempo, mesmo sentindo o mau cheiro que vinha do esgoto que corria a céu aberto, ainda conseguiam ouvir no pequeno radinho de pilha, os  sussurros, maledicências e descrições  metafóricas das sandices humanas. Ouviam estupefatos, comentaristas falando das ações de governadores e prefeitos que deixam o Estado e Município em penúria, que para eles, mais  pareciam cenas de filmes de ficção, e em tom conspiratório, eles abandonam os mais incautos, transforma-os em lixos humanos e nem dão a mínima para aqueles que os elegeram, mostrando uma desfaçatez absurda e curiosa que não se limitam a própria esfera de seus infortúnios políticos.

Não mais suportando estas decepções que a vida prega em todos nós pessoas de bem, tento corroborar na tentativa fajuta de escape de minha circunstância natural refutada pela aversão ontológica daqueles que mentem descaradamente para assumir e se perpetuar no poder, escarnecem-se do eleitor, do humilde trabalhador, do professor, do honrado, do honesto, de tudo... Falo daqueles que se esbravejam diante das minhas minúcias; falo daqueles inescrupulosos desguarnecidos em seu próprio habitat, que fugidamente retroagem aos gêneses dos ritmos das marchas fúnebres. Falo desses “seres” políticos que parecem posar na personagem maculada dos observadores mais atento que vêem neles figuras de  rostos-preguiças sentados em poltronas de anos de maledicências, apresentando silhuetas caricatas dispostas ao ridículo.

Os rostos desguarnecidos de qualquer compostura, demonstrando falta de zelo e respeito com a coisa pública, prática do exercício da improbidade administrativa, falta de consideração com o povo e aos órgãos públicos ou entidades que administram essas figuras políticas nefastas, felizmente, não chegavam aos olhos do Raimundo e seus filhos porque eles não tinham TV. Somente através dos comentaristas podiam absorver de cada palavra a profunda decepção em forma de pintura de escárnio, tal como aquela dor que sobe por nosso estômago e que muitas vezes nos levam ao vômito.

Ainda bem que o povo acordou. Ainda bem que começaram a respirar liberdade e extrair a dor que contraíram seus músculos de moralidade. Ainda bem que estamos começando a recuperar o tempo perdido. Ainda bem que voltamos a acreditar em dias melhores, na volta da ética e da moralidade pública, na felicidade do povo brasileiro, assim como, certos estão de que um dia não mais voltaremos a visualizar lixos humanos, como se eles, amontoados em seus casebres, fizessem parte de um teatro de horror, cujos personagens parecem ter saído de filmes que protagonizam cenas inenarráveis que estão lotando de infelizes os palcos da vida urbana. Se os olhos desses políticos por mais embaçados, marejados e míopes não verem; se os ouvidos deles não escutarem o clamor que vem das ruas; se todos os responsáveis continuarem empurrando com a barriga pode ter a certeza que a pobreza tende a aumentar e vai ocorrer uma revolta geral e em razão disso, o aumento da criminalidade como já vem acontecendo em todo País e também vai proliferar de uma maneira assustadora, incontrolável e destruir vidas, famílias e como conseqüência, aumentar os lixos humanos, todavia, espero que essa revolução social que todos almejam com a derrocada dos políticos lesa-pátria, dos corruptos, dos que subjugam e enganam o povo, dos que compram, dos que escravizam, do que fraudam eleições para permanecer no Poder aconteçam antes que estas linhas sejam denotadas de melancolia e decepção.




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