Para
escrever esta crônica tive que fazer uso de dois personagens: O cego e o
vagalume. De fato, ninguém melhor que um cego que sabe como fluir bem e usar
movimentos coordenados, sensitivos, pontear sua bengala de alumínio sobre o
chão, tudo com um propósito de achar o equilíbrio entre a luz e a escuridão. De
outro lado, também, ninguém melhor que o vagalume para entender o quão
importante é pra ele a noite e que todo seu ciclo começa justamente com a
escuridão, assim como, a noite é o começo do dia e dá lugar à sua luz, o outro
ciclo que vale somente para despertar o mundo ao amanhecer. Aqueles que
enxergam e até pressentem um perigo, mas se mantém escuridão de seu próprio
ser, não estão cônscios de onde estão, ou que existe uma presença de luz com que
eles podem se conectar, mas, insensíveis, não conectam. É como se estivessem
com os olhos vendados sem o real desejo e a coragem de tentar retirar a venda.
O cego, diferentemente do vagalume, vive a escuridão e está cônscio do lugar em
que se encontra, não importando o lugar, seja dia ou noite; ele tateia paredes,
ouve sons e vozes e sabe onde está; sobe escadas e ainda tem a sensibilidade de
enxergar aquilo que a gente não vê. Como diz o ditado popular: “O pior cego é
aquele que não quer ver”, porque ver o que é o óbvio todo mundo consegue, e
assim podemos afirmar que vivemos num mundo onde a aparência, fama ou status
social contam muito. Mas é pura ilusão! Uma satisfação temporária. Muitos não
vêem que os sentimentos são coisas mais preciosas e duradouras do que o egoísmo
e a mesquinharia que estão embutidos na ambição de se dar bem a qualquer custo,
mas que, como num flash sabem que podem desaparecer num piscar de olhos.
O vagalume desfaz toda essa teoria de cegueira humana, pois quer
enxergar, não obstante tenha apenas a noite para testemunhar a sua
luminosidade. A luz que sai do seu corpo na verdade, são “lanternas” que usa
para iluminar o habitat onde circula. A luz que emite é contínua e com cores
que se variam pelo corpo. Então sob este prisma, a experiência vivida pelo cego
e o vaga lume precisa ser concluída com eficácia antes que possa haver um
ensaio de luz e enseje uma progressão gradual da escuridão para que ela
aconteça dentro de cada um de nós, de acordo com o nosso desejo e do nosso
poder-viver na escuridão. Existem
pessoas que vêem a vida com os olhos da natureza humana, vivem desorientadas e
até culpam Deus pelo que acontecem com seus entes queridos, principalmente aos
que se vão para outra dimensão ainda jovem, acreditam em tudo que os outros
falam, se aborrecem com qualquer coisa, têm medo de tudo, não sabe como
resolver os problemas que aparecem, é enganada com facilidade pelo inimigo e
vive estressada, pois não acredita que existe um Deus que nos deu o livre
arbítrio, mas não nos esquece diante das dificuldades que sofremos diariamente.
Só ELE pode nos mostrar a verdade e o caminho que devemos seguir.
Certa
noite, ao descer do ônibus, o cego perdeu o seu trajeto costumeiro e andou a
esmo. Passou pelo mesmo caminho várias vezes. O vagalume observava aquele
transeunte que manuseava uma vara com uma ponta de alumínio para se locomover e
condoeu-se. Convocou outros vagalumes formando um verdadeiro exército e
centenas de lanterninhas iluminaram a estrada. Sensitivo, que é peculiar aos
cegos, contornou a estrada, voltou ao seu trajeto normal e em poucos minutos já
estava abrindo um pequeno portão. Foi uma demonstração clara de que não queria
ser “o pior cego” tão decantado pelos preconceituosos, que muitas vezes
cegam-se diante do seu próprio mundo, tornam incapacitados, limitados ao ponto
de não conseguirem repensar suas vidas ou falar sobre si mesmos. A ação dos
vaga-lumes e o cego mostram quão poderosos podem ser a escuridão, uns temem a
luz porque acreditam que se trocarem a escuridão pela luz, precisam também
trocar o poder pela fraqueza. Outros nunca fazem essa escolha não obstante
saber que esse é o seu papel na Terra, porque há os que precisam manter a
escuridão, visto ser uma escolha que cada um pode fazer, e a escuridão precisa
estar presente para equilibrar a luz. Cada um tem o seu contrato firmado com o
destino e o compromisso para o bem servir e isto são pura verdade.
Há pessoas
que só escolhem a luz porque temem a escuridão. Há pessoas que adotam a paz e a
quietude da luz, mas ignoram o seu poder, porque acreditam que o poder faz
parte da escuridão. Entretanto, ambas as energias têm poder, mas, ditam normas
e modos diferentes. O poder da escuridão é controlador e maléfico ao ser
humano; o da luz é solidário e bondoso. A escuridão governa por meio do medo,
endivida-nos com o mal e nos leva ao divã; a luz reina através da natureza
divina que não exige dispêndio. Então, pode-se afirmar que, se a pessoa humana
souber receber a verdadeira luz, se tornará poderosa e lhe permitirá brilhar
como o vaga-lume faz no seu habitat.
Sabemos
que a escuridão cumpre a sua finalidade, como o de fazer brilhar os vagalumes,
as estrelas, a lua, as lâmpadas, os faróis e cada coisa no Universo. O seu
propósito é alinhá-los internamente com o seu ego e assim a luz se expande para
o seu espírito. A escuridão faz com que se lembrem das limitações e controle
pessoal como aconteceu com aquele cego; a luz é ilimitada e os convida a
render-se. Eu já me rendi. Então pergunto: Qual é a sua escolha mais poderosa?
É essa que é a realização de cura e do desejo de totalidade da sua alma a cada
momento, que pode ser escuro ou claro, ou ambos? Não julguem as suas escolhas e
não seja como aquele que mesmo sabendo existir alguma coisa não quer ver ou
finge, ou então, tente pelos menos permanecer com a consciência naquilo que
deseja criar e deixe que as energias fluam, luz e escuridão, à medida de sua
própria realidade, do jeito que sempre sonhou em viver na Terra, mas sabendo
que o nosso Pai Celestial deixou ao livre arbítrio que você acolhesse essa luz
em toda sua plenitude.
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