Sem
forças, sentei à beira do fogão à lenha e calei-me. Apaguei as luzes, desliguei
sons. Silêncio total. Guardei tudo por fora para dar voz ao que estava dentro.
Eram sentimentos desencontrados que batiam desordenadamente as portas do
coração. A lenha queimava, soltava faíscas e o feijão quase esturricava, mas
não queria dar nenhum passo e nem usar instrumento ou compasso. Pensei em
organizar os sentimentos em uma fila, mas eram tantos que tive que fazer um de
cada vez. Às vezes é preciso bagunçar o nosso ser para encontrarmos o lugar das
coisas e foi o que fiz. Aprendi que nada é tão grande como a gente pensa ou vê.
Ainda bem! E foi assim que decidi descomplicar o simples, simplificar os dias e
as noites. Planejei o que tinha delineado, fiz planilhas, roteiros,
itinerários, mas aí veio o inesperado: os sentimentos desencontrados fizeram
festa, usaram instrumentos de dois braços unidos por uma charneira na parte
superior, mediu-se em compasso. Riram de meus projetos megalomaníacos, tentaram
me ensinar que muita coisa depende da gente mesmo, mas que a vida é muito mais
que uma voz, mais que um passo, mais que um bloco de notas e não precisa de
compasso. A cada passo, sem descompasso, mostraram-me o inverso, que não existe
receita pronta, palavra certa, escolhas erradas, pois a vida se apresenta
diariamente diante de nós com uma nova roupa e cabe-nos tirá-la para festejar
alguma coisa ou continuarmos sentados esperando a coragem chegar.
Durante
minha existência reaprendi a construir caminhos sem me preocupar com a chegada,
apenas usando cada passo da caminhada. Ora, sabia que sempre haveria a chance
de me arriscar e de me superar, mesmo diante da possibilidade de fracasso. Para
realizar essa caminhada sempre pensei que existia uma corda que me prendia em
lugar. Essa corda é a perseverança de que eu nunca deveria desistir, e a
determinação que me fazia continuar. Quedas poderiam até acontecer, mas jamais
poria fim a minha aventura. Afinal, eu estou apenas no meio de um ensaio da
vida, contradizendo o ditado popular que diz: estou na idade que já contornou o
“cabo da boa esperança”. Mas, para mim, considero apenas treinos para a
entrada, de vez, no mundo da concorrência.
A
travessia começa quando a gente decide subir a lugares altos, sair da
comodidade e se lançar em desafios que serão decisivos para a nossa carreira.
Entrar em uma Universidade, por exemplo, é o começo da escalada que requer
aperfeiçoamento constante. Mas depois de pegar o bastão, não será uma nova
travessia? Uma nova labuta em nossa vida? Nessa caminhada pós-formutura virão
muitas quedas, mas são elas que nos farão superar os medos e vencer os gigantes
internos que insistem em nos paralisar com as incertezas durante esse outro
trajeto. Esses pequenos ensaios são como roteiros para quem decide equilibrar
sobre uma fita sem tirar os olhos do foco: viver os melhores anos da vida se
arriscando.
Muitos
formandos não conseguem, apesar de todo o esforço empreendido, passar num
concurso público ou galgar um status melhor na sociedade, alguns têm
dificuldades até de escrever uma simples correspondência, mas depois com
algumas oficinas literárias, especialização, pós-graduação e mestrado
já expõem melhor suas ideias, principalmente no tocante a arte de
escrever. Alguns até conseguem escrever belos textos tornando-se verdadeiros
cronistas, como eu, daqueles que anda à toa, à procura de um mote para escrever
suas crônicas, com olhos atentos passeando pela cidade para captar cenas do
cotidiano: é o simples transformado em iluminação poética.
Há relato
que falar do lugar em que vivemos desencadeia nesses jovens o compromisso
com a própria cidade, alguns denunciando problemas, outros anunciando
esperanças quanto ao futuro. Participar de uma olimpíada literária, de um
congresso, por exemplo, significa muito mais do que competir com outros. Esse
ato competitivo é muito mais do que partilhar as informações que tiveram antes,
a partilha de valores, a flutuação por meio da leitura, e, vale dizer, o
surgimento de novos escritores. Além disso, essas trilhas apontadas
pelas olimpíadas, congressos, oficinas ou debates literários, enriquecem
nossos textos, artigos e crônicas, como, também, ajudam na articulação de novas
atividades de leitura e de produção escrita, e aí sim, passamos a ter voz,
passos articulados, ora melodiosamente, ora no compasso
A sua cronica mostra que a educação no Brasil ,não qualifica de fato ,a prova disso que mesmo pessoas com curso superior,,muitas delas não estão qualificadas,
ResponderExcluirPura verdade. Sou advogado e conheço muitos que tem dificuldade de elaborar uma petição ao Juiz
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