É lamentável o que ocorreu e ainda ocorre em Minas Gerais. Mais lamentável ainda
é aqueles que nascerão e não terão a chance de conhecer Rio Doce em toda sua
beleza, essência e plenitude. Ao vê-lo combalido pela lama, posso dizer que fui
feliz e privilegiado por ter nascido às margens do Rio São Domingos dos Olhos
D’água, que dava nome a fazenda de meu avô. Posso dizer também que nasci em um
berço d’água criado pela mãe natureza, rodeado das mais belas paisagens e
cachoeiras que existiam aos montes, além de ter o privilégio de ficar ouvindo o
canto de espécies diversas de pássaros e o ecoar de alguns animais selvagens
que se ouvia longe. Talvez tenha sido aquele berço que me tornou amante da
natureza e nunca mais me afastar dela. Mas vieram os tempos, foram-se os berços
d’água, secaram os rios, e, sem alternativa, tive que ir afastando de minha
visão a destruição dos mananciais e de tantos outros rios no Brasil. Impotente,
sem poder fazer nada, pois sabia que o meu grito e tão pouco minhas lágrimas, os
traria de volta, e tampouco, todo o esplendor que um dia encantou meus olhos.
Restou-me a lembrança, mas ficou a esperança de que um dia o homem usará sua
bondade, sua sabedoria e sua inteligência a favor daquilo que ainda nos resta.
Um dia talvez, mas não acreditando que seja especificamente amanhã dada a
fragilidade da política pública brasileira.
Em outras
situações, países se unem para levar a paz no mundo, combatendo os terroristas,
aqueles que causam as guerras e destruições entre povos e nações, no entanto,
primeiramente, o homem deveria procurar a sua paz interior, corrigir as suas
próprias distorções sociais. A partir do momento em que a gente se conhece, que
nos encaixemos em alguma coisa e reconhecermos que também erramos, descobrimos
em nosso Interior que não temos a humildade de reconhecer e admitir que todos
venham a errar. Então devemos ver e descobrir o que nos completa, o que nos faz
melhor e feliz, aí, podemos viver em paz, não só com a gente mesmo, mas com os
outros também. Desse modo, podemos olhar com mais carinho e afeto o que Deus
nos deixou de mais precioso e para nossas vidas também. Passando a viver como
se não houvesse amanhã; passando a viver para o bem do próximo; passando a
viver para o amor que é o maior de todos os dons. Assim, temos que agradecer
sempre a Deus pela nossa vida, pelo lugar onde vivemos, pela água e alimento
que temos todos os dias e que nenhum dia nublado possa ofuscar a beleza que
existe em cada olhar.
Foi
chocante pra mim que ver aquelas cenas horripilantes que começou no município
de Mariana, com o rompimento da barragem que causou o maior desastre ambiental
do Brasil. Foi chocante ver a angústia e desespero daquele povo. Olhei fixo
para a TV e perguntei a mim mesmo: O que posso fazer? Como ambientalista que
conselho eu devo dar? Estamos vivendo um momento político frágil, corrompido,
cheio de “mutretas”, de negociatas escusas entre políticos para se manter no
poder e que enojam o País. O que devo dizer? Pois bem. Repriso aqui uma pequena
opinião que publiquei numa coluna de um jornal: “O
ser humano quando derrubar a última árvore, quando matar todos os animais,
quando poluir o último rio, quando dizimar todos os peixes e afogar em sua
própria lama é que perceberá que jamais poderá beber ou comer dinheiro. Isto é
fato. E foi aí que me lembrei novamente de onde nasci e do Rio São Domingos dos
Olhos D’água. Diante da TV, não resistindo a tanto impacto destruidor,
questionei: Onde está rio Doce que ontem em tuas águas todos ribeirinhos
banhavam-se, matavam a sede, pescavam com seus barcos, pois dependiam dele para
sobreviver, alimentar suas famílias? Rio que era a esperança de uma grande
região mineira e dos olhos de quem molhou, mas, hoje, é pura destruição e
desencanto, pois ele dificilmente alimentará seus pescadores e as pessoas que dele
depende, e isto, custará muito caro para Minas e toda Nação brasileira”.
Assistindo
uma reportagem sobre a região do Rio Doce ela me conduziu ao silêncio e me fez
refletir horas e horas, mas nas entrevistas, era fácil observar os maus
administradores se digladiarem diante dos repórteres, medindo seus gestos,
usando de subterfúgios e da hora mais imprópria para esconder seus erros. Até a
Presidente Dilma só visitou o local sete dias depois. Que cruel despreparo! Mas
é fato que se rompeu uma barragem e sobre o rio Doce foi despejado lamas e
detritos contaminadores, daí não se discute, toma-se providências urgentes.
Durante a reportagem aparece um pescador com os olhos lacrimejados, olhando
aquelas cenas estarrecedores como se ele estivesse num cemitério de peixes de
onde exalavam um cheiro fétido, uma poluição que dizimou vários espécimes de
cardumes. O que posso falar de você Rio Doce, rio piscoso que alimentou
gerações? A sua beleza ficará para sempre em nossa memória e a sua história,
vai para mais além do que escrevo, porque sei que não tardará e um dia voltarás
para rasgar as sombras fúnebres que o cercou e lhe sujou de lama a alma, mas
nesta outra fase de sua vida hei de acreditar que virão transbordando do seu
leito muitas esperanças, virão novos cardumes e suas águas adocicadas afagarão o rosto
daqueles que lutaram pela volta de seu reinado.
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