O desejo de qualquer pessoa quando participa de uma carreata política é chegar ao um bom repouso à noite. Mas, as mulheres-meninas do buggy amarelo Cecília Mello, Flávia Cruvinel, Patrícia Alves e Gilza Moreno não estavam nem aí, e quem o dirigia estava autorizada a permanecer na frente da comitiva mesmo cultivando uma baixa velocidade sobre um asfalto de mais de quarenta graus. Alegres, divertidas e vibrantes, sem dúvida alguma, mesmo antes de colocaram os pés de volta à terra firme, tinham a sensação e a absoluta certeza de que o pequeno buggy, capitaneado por Cecília Mello, a poeta, sempre conseguiria vencer incólume as imensas subidas e frear suave nas descidas mesmo nas curvas sinuosas e invertidas. Mas, não foi tanta certeza assim em certos momentos. Mais parecendo um besouro magricela sem asas o buggy ia ao encontro das poças de águas da chuva, jogando-as sobre as calçadas, contrastando com a paisagem deslumbrante, feita por uma mescla de árvores e coqueirais que se esparramavam pela avenida, a lá atrás se ouvia a voz do locutor oficial que controlava todo o trajeto, sob sons de buzinas e vozes de milhares de pessoas que cantavam euforicamente a música “O Marconi vai voltar, vai voltar...! que embalava as carreatas entusiasticamente aplaudidas pelos moradores que se esparramavam pelas calçadas e por tantos outros que se aglomeravam nas portas e janelas.
As mulheres-meninas do buggy amarelo com o adesivo 45, molhadas de suor imposto pelo sol escaldante, ou pelas chuvas insistentes, eram fotografadas com suas bandeiras e bandeirolas, seguindo céleres, muitas vezes, com lágrimas nos olhos, mas capazes de fazê-los secar no final de cada esquina, ou se conseguissem tocar no azul celeste, talvez o Criador achasse que era o momento delas pararem, mas, voluntariosas, continuavam na luta desenfreada em prol de um novo tempo ou de manter o destemido “Tempo Novo”. E nenhuma vez a nuvem triste do desânimo pairou sobre as mulheres do buggy, que cansado não se negava ao trabalho, coitado, não suportaria o mau trato de uma tampa do radiador mal fechada, ou dos bailados carnavalescos daquelas intrépidas criaturas que pulavam dentro dele.
Ao vê-las eufóricas e alegres, durante as carreatas do candidato Marconi Perillo tive a noção exata de quão importantes eram para aquela eleição, onde ninguém sabia conjugar o verbo desistir. As lágrimas delas poderiam até secar, mas nunca a ansiedade fruto à espera de uma vitória.
VANDERLAN DOMINGOS DE SOUZA. É advogado e escritor – Membro da União Brasileira dos Escritores. E-mail: vdelon@hotmail.com Autor dos Livros: Uma Pedra no Caminho; O Mistério do Morro do Além; e Espelho das Águas.
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