Comunidade Atos, minha nova familia.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Naquela última quinta-feira do mês, a maioria dos fiéis pressentia, mas ainda existia em cada pessoa, um fio de esperança, uma ínfima luz no fim do túnel. Veio o domingo. A voz forte só ressonou forte no início da celebração, enquanto o vocal entoava engasgado cânticos acompanhados pelos fiéis que faziam movimentos esporádicos com as mãos. Algo parecia estar errado. Alguém ao meu lado perguntou: É o último dia do padre Luiz? Eu disse: parece que sim. Mas logo a dúvida se desfez. Olhos fechados,  preces e  lágrimas já desciam pela sua face. Sua vida foi contada no telão da igreja. Todos se emocionaram e choraram. Era realmente a sua  despedida da Paróquia Sagrada Família depois de muitas lamentações, protestos, abaixo-assinados, pedidos em redes sociais e internet e passeatas, mas, de nada adiantaram.

O mês de maio passou tão veloz quanto ao vento e, sem darmos conta, já estávamos no seu    final. É impressionante a rapidez com que o tempo passa, e a impressão que temos é que se não   apressamos o passo, se não lutarmos juntos, literalmente ficamos para trás e perderemos nossas   esperanças. Estamos, na certeza, em busca de uma verdade, de uma sociedade sem fronteiras, sem hipocrisias e limites, que busca seu tempo e seu espaço, muitas vezes, irremediavelmente, sem volta. Vivemos num novo milênio onde livros e filmes de ficção destacam profecias apocalípticas que não se confirmaram, mas, em razão da destruição do planeta terra estampados diariamente nas       manchetes poderá ocorrer à autodestruição e comprometimento irremediável das futuras gerações.

Dia 24 de maio, às 17 horas, um dia e horas especiais. Percorremos a estrada asfaltada saída  para Goianira, rumo a Comunidade Atos. Uma placa, após a Polícia Rodoviária indicava: Comunidade Atos, Setor Recreio dos Bandeirantes, retorne a 3 km para entrar da estrada de chão. Um caminhão pipa molhava a terra poeirenta. A estrada, cercada de árvores, paisagem bonita e  muito  verde pareciam saudar todos os fiéis que já seguiam enfileirados. Nenhuma poeira levantava. Era mais uma demonstração do zelo do padre Luiz. Era tão grande a quantidade de veículos que tivemos que estacionar na beira da estrada a mais de mil metros da Comunidade Atos, para depois,   seguirmos a pé.  No meio de uma bela paisagem arborizada vislumbramos um galpão e milhares de pessoas que já se aglomeravam nas cadeiras, todas com um sorriso contagiante, enquanto a padre Luiz Augusto recebia todos com abraço de pai, com a mesma firmeza, o olhar carinhoso e raciocínio rápido como sempre.

Com batina branca, sandálias de couro, magreza e calvície naturais, com 51 anos de idade,  comandou a multidão aglomerada naquele galpão por três horas e no fim da celebração parecia ter participado de uma corrida de atletismo. Se ele estava cansado, então disfarçou bem. A sua disposição era contagiante, inclusive, para atender os fiéis que subiam os degraus antes e depois da celebração para cumprimentá-lo e colocar à sua disposição naquela nova Comunidade.

Durante a celebração, desta vez não foi sucinto. Cada frase sua tocou direto no coração de cada pessoa presente. Alegre como nunca, ainda pediu aos fiéis para agradecer a Deus por tê-los colocado naquele local aprazível, abençoado, composto de grandes árvores por onde passavam  porções brilhantes de sol,  fazendo chegar até  nós o cheiro do verde e das flores do campo. No  sermão, ficou claro a opinião forte expressada com naturalidade, talvez, descomunal para muitos. Milhares de pessoas que assistiram a celebração, crianças e adultos, escutaram com atenção sua    fala, enquanto andava pelo corredor central da igreja sempre com o olhar fixo em cada um dos participantes.

Nessa linha de recordações, vem à memória outro momento emotivo. Uma mãe, no encerramento da missa pediu para fazer seu testemunho agradecendo ao Padre Luiz pela cura de seu filho e esposo. Ali estava o amor de uma mãe e sua crença em Deus, pois enquanto percorria os  corredores hospitalares, recebeu dele o cuidado que sequer esperava,  gestos de carinho, oração, amor e depois, a alegria de ter pertencido à Paróquia Sagrada Família e hoje, continuar ajudando-o noutra comunidade.

Compareci na celebração de domingo (29/05), às 10 horas.  Novamente notei a expressão de muita alegria e fé. No final, o padre Luiz disse que o prefeito Paulo Garcia no dia 12 de junho irá, após a celebração, comunicar sobre o asfaltamento da estrada. Muitas palmas e de gritos de euforia de mais de dois mil fiéis que lotavam a Comunidade Atos, que doravante, será minha nova família.

VANDERLAN DOMINGOS DE SOUZA é advogado, escritor, ambientalista. É Presidente da Visão Ambiental e diretor da UBE - União Brasileira dos Escritores. Escreve todas as quartas-feiras. Email: vdelon@hotmail.com e vanderlan.48@gmail.com

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