O Rio Araguaia que em alguns lugares chega a ter 2.500 metros de largura e recebe na sua trajetória mais de 12 afluentes, tem suas nascentes na Serra dos Caiapós, na divisa de Goiás com o Estado de Mato Grosso, percorre 720 km, dividindo-se em dois braços, envolvendo a Ilha do Bananal, numa extensão de 375 km, e desemboca na margem esquerda do Rio Tocantins, na divisa dos Estados do Tocantins, Pará e Maranhão. Situado em região de transição de dois grandes biomas brasileiros, o Cerrado e a Floresta Amazônica, o Rio Araguaia caracteriza-se por elevada diversidade de habitats e, por conseguinte, por uma imensa vegetação e interessante fauna também altamente diversificada. Sua vegetação compõe-se de vastíssimos campos, cerrados, várzeas ou campinas e alguns capões de matas e buritizais. Algumas áreas em especial, como a Ilha do Bananal e suas imediações, possuem uma exuberante fauna, com a presença de espécies praticamente extintas em outras regiões brasileiras. Essas áreas, ao que tudo indica, representam a principal zona produtiva e berçário de variadas espécies de fauna do cerrado, além de um banco genético de inestimável valor, sem falar, é claro, dos grandes depósitos de areia que aparecem durante a grande estiagem, onde os níveis das águas baixam drasticamente formando lindas praias muito procuradas por turistas.
Para quem conhece o rio, ele é realmente lindo, todavia, ultimamente, notamos que ele está naufragando, perdendo sua própria vida, afundando em seu próprio leito, indo a pique dada as más condições do terreno que o cerca, alguns já cheio de erosões que deixam sequelas irreparáveis, todas provocadas pela ação do homem em face do desmatamento ao longo de suas margens, acrescentando-se a isso, foram vistos em anos anteriores em seu leito, imensas de dragas que foram instaladas em áreas de preservação ambiental e hoje, por surpresa nossa, encontra-se em andamento um projeto para construção de uma usina hidrelétrica que formará uma barragem de 918 km de extensão que dista cerca de 90 km de sua nascente, formando um lago sobre um terreno de 9,11km ou 911 hectares de terras, na região onde se localiza a Cachoeira Couto Magalhães, cuja obra, com certeza, engolirão além desta, outras pequenas cachoeiras e trará transtornos irreparáveis ao meio ambiente, bem como à fauna e flora.
Quando sobrevoei aquela região tive a oportunidade de assistir lá de cima um espetáculo sem igual. O palco mostrado pela natureza que se diversificava a cada momento penetrava em meus olhos como se eu estivesse assistindo a uma peça teatral cujos personagens eram formados por montanhas, serras, planícies, milhares de meandros, savanas, lagos e dezenas de rios a desaguarem no Araguaia; um serrado ingente circundado por densas matas e, depois, em várias localidades, imensas queimadas que, levadas pelo vento, se alastravam soltando aspirais de fumaça que lá de cima mais pereciam nuvens, e foi neste instante que compreendi porque tinha que fazer parte daquele grupo de ambientalistas e defendê-lo. Rio que inspirou e vêm inspirando muitos cantores, romancistas, poetas e até autores de novela, então, só me resta finalizar dizendo: Vai amigo, saúda os ribeirinhos, beije as margens raizadas, leve em seu leito sua história, as folhas secas que se desprendem dos galhos e caem sobre ti assim como a estiagem de verão que deixam nas margens lindas praias. Vá amigo, segue sob o sol escaldante ou o frio da madrugada, leve o cheiro inebriante da flora e matas, não se intimide, caia em cachoeira quantas vezes quiser e segue sem medo... Ouça a voz doce de Maria Eugênia e vá amigo, não há perigo que lhe possa assustar. Vá amigo...
VANDERLAN DOMINGOS DE SOUZA é Advogado com especialização em direito civil, ambiental, agrário, eleitoral e tributário; atualizou e lançou o Código Tributário do Município de Goiânia. É escritor com vários livros publicados e Diretor da UBE – União Brasileira de Escritores. E-mail: vdelon@hotmail.com
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