Nuvens negras pairavam ameaçadoras. As aves recolhiam-se aos seus aposentos no topo das árvores. Trovões ensurdecedores abalavam o horizonte atordoando os pássaros e todos os seres viventes, O meu prédio estremeceu mesmo construído sobre alicerces rígidos. Choveu sobre toda a nossa cidade. Uma chuva densa e instantânea que pegou todos de surpresa. Uma chuva corriqueira, passageira, mas, tão forte, que levou os entulhos das calçadas e entupiu bueiros. Apenas uma chuva que veio para inundar caminhos, encharcar corpos e levar na enxurrada o humo da terra. Foi tanta água a cair que a ambulância mal conseguiu mostrar seu pisca-pisca vermelho detrás da cortina de chuva. A minha respiração junto à janela embaçou o vidro, enquanto gotículas de chuva, destemidas, se debateram ruidosamente sobre ele, emitindo um ruído aquático como que querendo delimitar as distâncias insondáveis, enquanto no fundo da sala a televisão mostrava cenas horripilantes das catástrofes ocorridas na Indonésia, Chile e Japão.
Cada gota que se espatifava no vidro da janela parecia querer nos mostrar que éramos apenas inquilinos, forasteiros, estrangeiros em nosso próprio planeta. A cada som era como se estivéssemos cultuando as tradições que não são nossas, as origens que são dos outros e nos deixam envergonhados dos crimes contra a mãe natureza. Mortificamo-nos eternamente pela exterminação diária da fauna e flora, pela desertificação de áreas, pela crescente e desordenada urbanização e diminuição de áreas naturais por desmatamento, degradação e assoreamento das cabeceiras, queimadas e poluição por resíduos de toda natureza que são algumas das ameaças para o nosso planeta. Somos invasores das florestas, cerrados, rios e depredadores de nossa própria moradia: o planeta Terra.
Fiz questão de relembrar desses momentos com enfoque de estimular a preservação, o desenvolvimento sustentado, a integração do meio ambiente, dos recursos naturais, dos recursos hídricos e do turismo, defesa e recuperação ambiental do Estado de Goiás, e naturalmente, a defesa do Rio Araguaia, onde com autorizo do IBAMA, pretendem construir uma usina hidrelétrica que causará um impacto ambiental de imensas proporções, pois, além do desaparecimento de mais de 20 cachoeiras, o ciclo reprodutivo da fauna e da flora sofrerá alterações e diante deste fato, a nós ambientalistas, não nos restaram outra alternativa senão em propor a criação de uma ONG para intensificar a luta contra esses desmandos contra a natureza. E esta ação conjunta ocorreu no dia 25 de abril de 2011, findo, no Auditório Costa Lima, na Assembléia Legislativa do Estado de Goiás, com a presença de abnegados ambientalistas, representantes de várias entidades que lutam pela preservação do meio ambiente e líderes comunitários da grande Goiânia. Ela recebeu a denominação de Associação de Agentes Ambientalistas em Prol da Preservação e Defesa do Meio Ambiente no Estado de Goiás, o nome de fantasia VISÃO AMBIENTAL e slogan: DE OLHO NO DEPREDADOR.
Para finalizar, já que viagens retrospectivas relativas ao meio ambiente intacto, preservado e salutar à nossa sobrevivência há décadas só acontecem em nossa imaginação, nos álbuns de velhas fotografias e cartões-postais amarelados pelo tempo, achei por bem, ao encerrar esta crônica, citar os versos de Casemiro de Abreu: ”Oh que saudades que eu tenho/da aurora de minha vida/da minha infância querida/ que os anos não trazem mais” com o fito de homenagear os saudosistas de plantão, ambientalistas e todas as pessoas que, indistintamente, lutam pela preservação da natureza e que certamente procurarão fazer parte desta ONG, para juntos, ficarmos de olho nos depredadores.
VANDERLAN DOMINGOS DE SOUZA é Advogado, ambientalista, escritor, Presidente da Visão Ambiental e Diretor da UBE – União Brasileira de Escritores. Emails: vdelon@hotmail.com e Vaderlan.48@gmail.com
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