Novamente o tiro saiu pela culatra.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Semana passada sai novamente com os amigos para caçar capivaras. Armado com uma espingarda cano longo, presente doado pelo meu pai, seguimos rumo ao local de costume. Andamos alguns quilômetros até chegarmos a uma ribanceira perto do Rio Seco, onde elas costumavam parar e saciar a sede. O sol já se escondia no horizonte  trazendo para aquele pedaço de chão prenúncio de uma noite fria.  Quieto e amparado nos galhos de uma árvore milenar o velho amigo Torquato armou a espingarda ficou à espreita. Desta vez não quiseram que eu manuseasse a arma. Era quase noite e o silêncio foi cortado por um intenso barulho no meio das folhagens e na beira do rio, vimos à manada de capivaras. Torquato mirou por entre as folhagens e atirou. Foi um estrondo ensurdecedor e suas mãos calejadas e rosto imberbe ficou todo chamuscado de pólvora e quase perdeu o dedo indicador. O fundo do cano (culatra) da espingarda explodiu novamente a bicharada saiu em disparada mata à dentro. Contrariado, desceu do galho dizendo que eu não tinha limpado a arma ou jogado praga. Contive o sorriso, mas, me senti vingado. Voltamos para a fazenda sob as chacotas dos amigos. Colocamos fogo num feixe de lenha para amenizar o frio e todos sorridentes e dando gargalhadas, desistiram de caçar e para matar a fome, Carlos enfiou no espeto um franguinho que já tinha sido depenado por sua mãe Filomena.

Dias se passaram e até hoje nunca entendi o porquê daquele tiro ter saído novamente pela culatra, mas, fiquei perfeitamente convencido que muitas coisas na vida se não forem bem cuidadas, corrigidas, bem    analisadas podem levar as pessoas cometerem asneiras principalmente quando, no afã de destruir alguém, fazem  denúncias  descabidas e produzem documentos apócrifos; pronunciam palavras prolixas e chavões que a maioria das vezes  também “saem pela culatra” e  o veneno é ingerido pelo próprio agressor.  Naquele dia, ao ler o jornal Diário da Manhã me deparei com o seguinte título: “CPI DO ROMBO” que investiga o  fechamento das contas do Governo Alcides. No texto, o jornalista comentava sobre o silêncio e contradições de seus ex-secretários.  Comparando com a mancada que dei ao manusear aquela arma fiquei perfeitamente convencido de que a minha história em relação a esse déficit existiu apenas num aspecto, ou seja, não tive o cuidado novamente de limpar a velha arma.

No caso do endividamento foram vários os aspectos e não há espaço aqui para numerá-los. Entretanto, em síntese, é público e notório que as afirmações do ex-secretários da Fazenda Jorcelino Braga e Célio Campos, Sinomil e do próprio Governador Alcides Rodrigues foram feitas com o objetivo de desestabilizar a candidatura de Marconi Perillo, e é fácil o discernimento, pois, ao ler a matéria pude constatar que a CPI do Endividamento à época, realizou um  trabalho sério e o mesmo foi   corroborado por informações fornecidas pelo Tribunal de Contas do Estado de Goiás que agora reprova as contas apresentadas pelo ex-governador.

Contrariado em ver os desmandos desses nefastos homens públicos, olhei pela fresta da janela e vi pousar no fundo do quintal, na ponta de um galho seco, um pássaro esquisito. Ele cantou e seu assobio era triste e assombroso. Sob a luz fosca encoberta pela neblina, não deu para ver muita coisa. Mas, ele, sem se importar com a minha bisbilhotice, continuou cantando noutro galho, e quando o sol se esquentou, a neblina desapareceu e aí eu pude notar que era um urutau, escuro com uma mancha branca na asa. Ele perdeu aquele galho seco de formato palaciano, motivo de seu canto melancólico. Perguntei as mim mesmo: o que simbolizava aquele urutau sentado na ponta daquele galho seco, com o bico voltado para cima, de forma camuflada, que mais parecia ser a extensão daquele galho.

Tinha jeito de mandatário maior, mas pela sua fisionomia, mais parecia um ser abandonado pelos “amigos da onça”. Talvez nada me surpreendesse se aquele pássaro estivesse ali representando a figura de um ex-governador que alardeava ter deixado um equilíbrio financeiro para o seu sucessor e hoje vimos que tudo não passou de uma balela. Apenas inventaram uma “fórmula” evasiva para confundir a opinião pública.

Ao ler a matéria fiquei mais contente e não me senti mais constrangido em relação à situação vexatória deixada pela minha espingarda, haja vista que a farsa montada pelo governo estadual e seus asseclas também saiu mais uma vez pela culatra.           
VANDERLAN DOMINGOS DE SOUZA é advogado, escritor, ambientalista. Presidente da Visão Ambiental e diretor da UBE - União Brasileira dos Escritores. Escreve todas as quartas-feiras.  Email: vdelon@hotmail.com e vanderlan.48@gmail.com

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