Amigo leitor (a)

Amigo leitor (a). Quando lemos um livro, ou qualquer texto, publicados ou não, que são sinônimos do prazer, por mais simples que forem, sejam reais ou surreais, nos permite exercitar a nossa memória, ampliar nossos conhecimentos e nos faz sentir as mais diversas emoções, por isso, sensibilizado, agradeço a sua visita ao meu Blog, na esperança de que tenha gostado pelos menos de um ou que alguns tenha tocado o seu coração. Noutros, espero que tenha sido um personagem principal e encontrado alguma história que se identificasse com a sua. PARA ABRIR QUALQUER CRÔNICA OU ARTIGO ABAIXO É SÓ CLICAR SOBRE O TÍTULO OU NA PALAVRA "MAIS INFORMAÇÕES. Abraço,Vanderlan

A dor, o sonho e o repentista

terça-feira, 28 de abril de 2015


Em certos momentos não é fácil constatar se a dor é apenas de um fato fisiológico ou oriundo de nossa própria existência. No caso em tela, falo de pessoas que pensam, falam e sentem. Optei por falar do corpo humano, pois ele sofre quando se vê diante da dor que não pode ser considerada apenas a medida de uma lesão (infarto) ou de uma afecção (angina), mas o encontro íntimo entre uma situação potencialmente penosa, e uma pessoa humana imersa com sua própria situação dolorosa. Com efeito, inserimos na dor, crônica ou não, toda a nossa personalidade, todo o nosso sentimento e junto com ela, um antídoto que nos dá força e vontade de viver. A dor crônica é uma experiência aflitiva, intensa, persistente, invade nosso corpo sem pedir licença e se aninha nos órgãos vitais, nos ossos, nos músculos, tonando-os dolorosos e o medo da dor ampliam os efeitos colaterais como: fraqueza, imobilidade de articular e encurtamento de músculos e tendões. E como dói a danada da gota! Esse conjunto de dificuldades afeta a estabilidade emocional dos indivíduos, interfere em sua vida familiar e social e compromete suas atividades profissionais. Entre as crônicas existe a dor do parto onde um ser ou seres inocentes se despedem do útero que o protegia para receber o sopro da vida, mas também, existem as prazerosas como: a dor da saudade, do amor, do carinho.... Entretanto, não importa em que parte do corpo incomoda e permanece, tornando-se um mistério, se ela, prazerosa ou não, nos despedaça e abala todas as nossas referências afetivas, não obstante tentarmos viver em paz, em harmonia e fugir dos estresses e depressões diárias, para, no momento certo, sabermos de onde ela vem, se ela é verdadeira, psíquica, espiritual, que muitas vezes nos leva a perda de nossa auto-estima, da autocrítica e nos traz a tristeza, a melancolia, distúrbio do sono e a sensação de que a vida perdeu a graça.
  
Mas hoje eu e você vamos esquecer-nos da dor seja ela qual for e falar de sonhos, porque sem eles não somos nada, nunca seremos nada. Só posso dizer, quanto a mim, que tenho todos os sonhos do mundo. Pois bem. Numa certa manhã, durante um tour que fiz pelo nordeste, parei numa barraca montada à beira de uma linda praia, e descalço, sai caminhando a esmo deixando rastros indecisos sobre ela. O vento, sem pedir licença, trazido pelo mar revolto, serpenteava meu rosto sem pedir licença, alvoroçava meus cabelos, talvez, no intuito de querer fazer-me lembrar de coisas guardadas na região recôndita de meu cérebro e quiçá, também, das dores lá impregnadas. As ondas que vinham do oceano se esparramavam sobre a areia branca despoluída e não mais retornavam ao seu habitat e quando algumas insistiam, outras as empurravam de volta, num vai e vem de confrontos de forças que só a natureza é capaz de decifrar. Meus sonhos iam e voltavam com as ondas, mas alguns se esvaiam ao colidir com meu corpo já carcomido pelas intempéries do tempo, mas imunizado por uma força Divina sei seguiam outros rumos, certo de que, num dia qualquer retornaria a mim, talvez, com a com intenção de proteger-me do mundo profano.

Encarei várias ondas no afã de restabelecer os sonhos que se perdiam na areia ou eram levados pelo vento, e no calor de cada desabafo, restou-me retornar à barraca para continuar ouvindo vozes, o som  melancólico do mar e ainda, pouco depois, a voz rouca de um repentista.

A manhã quente avançava sobre os coqueiros que circundavam a barraca enquanto a viola do cantador soava desafios improvisados. Voltei os meus olhos para o lado cujos caminhos estavam embaçados pelo mormaço embevecido com a destreza daquele repentista que, na ligeireza de seus dedos calejados,  articulava rimas e construía cadências, enquanto outros visitantes ouviam forró vindo de uma caixa de som. Era uma disputa infernal, mas o poeta de cordel, mais conhecido como Carlito Alagoano, precisava ganhar o seu quinhão. Ao ver a sua insistência, lembrei-me de minha adolescência e das modas de viola e da grande admiração pela espontânea inteligência dos cantores sertanejos que montados em cavalos baios ou viajando em velhos ônibus, percorriam cidades do interior de Goiás para fazer suas apresentações, promovendo nos palcos da vida uma verdadeira batalha pela sobrevivência e, dessa forma, receberem como retorno, a fama e tornar-se e um lídimo representante da música sertaneja de sua região. O toque da viola do repentista e a lembrança de minhas raízes me fizeram voltar ao passado.

Quanto a aquele repentista procurei distinguir se naquele no momento não era um problema, pois, sem mais delongas, ponteava a viola e ia soltando versos no afã de persuadir-me, assim como aos burocratas freqüentadores daquelas barracas, todavia, sabíamos qual era a sua intenção. No final e muitas vezes no meio da entoação recitava versos rimando com o pedido: colabore com este cantador com R$ 20. Caí como a um bobo da corte naquele rincão nordestino. Esqueci de levantar o dedo indicativo e em riste balançá-lo negativamente. Perguntei a mim mesmo: Como não cair numa armadilha quando se recebe uma cantoria que está sendo destinada ao coração da gente? Ele queria ver a nossa reação, e olho no olho, colocar-nos diante de um espelho imaginário para mostrar o radiar de uma felicidade duradoura. Esta tática que o cantador repentista usou para receber um sorriso nosso, a compreensão e paciência, era, para, no final, me pedir para contribuir com uma “grana” a qual, para evitar alguma dúvida, já antecipava no teor de seus versos.  Meus dedos não sinalizaram o “não” para negar o início daquela apresentação e olha que o repentista rimou elogiando a minha postura, o meu peito peludo, os meus olhos castanhos, o meu jeito galã, comparando-me até com o ator global Antônio Fagundes. Abestalhado e não querendo ser grosseiro com aquele repentista que entoava versos espontâneos, acabei por desembolsar R$20. Recebeu a grana com um largo sorriso, foi embora caminhando lentamente entre as barracas à procura de outros incautos. Num repente ou piscar de olhos, não mais o vi, nem sua voz ou som de sua viola ecoar naquele recanto nostálgico. 

Por fim, a tarde caiu, ela veio sem nenhum aviso e estava tão bom que nem a vimos chegar, tal como o sol que já descia soberbo no horizonte beijando com seus raios multicoloridos as águas oceânicas. Foi um pôr de sol inesquecível! Extasiados, deixamos a praia ainda apinhada de gente e de pequenos pássaros que bicavam minúsculos alimentos trazidos pelas ondas, todavia, a emoção ao ver minha filha e genro felizes pela concretização de um sonho me bastava, me fazia esquecer tudo, dos momentos difíceis que passei e por fim, poder reviver somente sentimentos positivos que alimentam a vida e motivam sensações prazerosas.

À espera de um novo amanhã.

terça-feira, 14 de abril de 2015


Caminhando o capim seco doía em meus pés descalços, mas a curiosidade de menino era tanta que morria de vontade de ver lá de cima da serra o pôr do sol. A subida ou escalada, era sobre terreno íngreme, cheio galhos secos, pedras pontiagudas, e quando olhava para baixo, dava até arrepios. Hoje percebo que era muito mais além daquilo que enchia meus olhos e a minha curiosidade — a Serra da Urtiga. O sol visto de lá era diferente, ora pintado de amarelo, ora avermelhado que só um final de tarde no sertão tinha e ainda tem tal plenitude de beleza. Olhava deslumbrado, como se estivesse marcando no horizonte a distância de minha saudade que só meus olhos podiam calcular. Queria enxergar além da luminosidade e das tintas vermelhas que se esparramavam no horizonte. Mas eu era apenas um menino sonhador e lá de cima da Serra da Urtiga os meus olhos infantis brilhavam de forma utópica, talvez, esperando por um novo amanhecer. Quando ele chegasse é claro, o receberia de braços abertos, depois fecharia os olhos, trancaria a janela da alma para não ofuscar o sonho colorido que nela entraria e que mais tarde, talvez, como aprendiz de poeta, poderia transcrever tais cenas, certo de que elas ainda estariam impregnadas nas minhas retinas digitais.

Não sei se é defeito, mas tenho uma paixão pela natureza e principalmente, ver o pôr ou nascer do sol ou da lua. A grandeza do universo redimensiona minha pequenez diante da natureza. Lá de cima observava que ela é maior do que eu pensava. Ao mesmo tempo, ante os colossais elementos do universo, seja fitando as estrelas ou olhando para o cosmos, podia sentir a grandeza do mundo que pulsa e que é latente no universo da minha consciência. Somos grãos de areia em relação a ele, como nossas emoções o são, como são todas as características do nosso atual estágio de ser humano. Como a pedra bruta, a natureza em mim, dorme como a um anjo, assim como, a sua beleza estética que aguarda o esmerilhar dos séculos, nascendo do aperfeiçoamento do caráter.  

Lá de cima sentia a brisa ondulada acariciar meu rosto e deixava-me envolver por ela que não me dizia de onde vinha e nem para onde ia, mas isto não importava. Olhava as pradarias, as densas pastagens, o pequeno rio que a circundava, tudo era belo, magnífico! Era como se estivesse remoendo alguma coisa, não distante, com reflexões importantíssimas para a minha tenra idade diante da grande e futura jornada. Sim, o futuro também se imiscuía, fazendo-me sentir fora de uma realidade que já se forjava a partir de todas as experiências por mim vividas. Se fosse o meu olhar e usando a janela de minha alma, jamais conseguiria direcionar corretamente rumo à linha de horizonte, assim como, esta singela crônica não teria sido escrita. Mas foi e a usei como recurso da vida para que o tesouro possa ser extraído de um novo amanhã e seja mais valorizado. Meditar, refletir sempre, é o cinzel que manuseamos, é o fogo que molda o ferro, é a bigorna que bate no aparar das arestas.

Procurando olhar para além de mais além do horizonte, à espera de um novo amanhã, sabia que tudo desse mais além que imaginava era um mistério. Quem somos nós para dizer o contrário! Então, como falar de fim do universo ou do seu infinito, de sua intensidade e de seus segredos... Lá do alto da Serra da Urtiga a olho nu, só podia ver a beleza da natureza envolvida por densas pastagens, matas e terrenos férteis. Passei as mãos no rosto, não era mais imberbe. A vontade de rever aquele pedaço de chão me fez retornar ao topo da serra e sentar na mesma pedra. Tornei-me adulto e muito chão pisei durante minhas andanças longe dali, mas ao retornar a aquele local, voltei a ser criança, eu e o tempo voltamos a curtir daquelas alturas o lindo visual, sem nos preocuparmos se existiam ou não o fim do mundo ou infinito. Com o corpo são e mente sã, com alegria e tristeza disputando espaço em meu coração, com o mal e o bem se digladiando, mas o bem sempre vencendo, eu ali estava para me despedir de vez, com um definitivo adeus, sabendo que a única dor que me doeu mais que dizer adeus foi a de não ter tido a oportunidade naquele local aprazível de alcançar, sem atropelos, o infinito, onde, talvez, poderia me distanciar da terra e alimentar os meus sonhos em outras dimensões ou ir para além de mais além em busca de um novo amanhã. 


Em busca de sonhos perdidos...

domingo, 5 de abril de 2015


Luto tanto em busca de um ideal, de um direito de viver, de um direito de pensar, de um direito de falar, e quando tiver vontade, até de um direito de sorrir, então por que não me alimentar do direito de sonhar e buscar os sonhos que perdi?... Afinal, sonhar sonhos que me acalentavam vai muito além do meu viver, do meu pensar, do meu falar, do meu sorrir e não há lei que mensurem esses sonhos, ou sonhos meus. Tem gente que diz que não sonha – dormindo. O meu sonho, que é sonho real, me mantém acordado, deixa-me desperto à vida que passa por mim. Pelo menos sonho muito mais acordado que dormindo, assim penso eu.

Não vou apelar aos livros de autoajuda e nem de postagens que procuram definir sobre sonhos, por que acho que não preciso deles e nem neles terão definição, mesmo os que se foram ou se esconderam na região recôndita de meu cérebro. Quem procura livros que tentam definir sonhos é por que, ao que parece, não entende a mensagem subliminar deles que é o ápice de sinceridade ou da tentativa do autor querer defini-los, mas os meus não estão lá paginados. Eles são somente meus. Acho que para compreender o conteúdo de um sonho é preciso, antes de qualquer coisa, perceber o esforço de quem elabora uma autoajuda para pessoas que nem sonham, e quando acham as que sonham, não elencam os pormenores e nem catalogam de forma decifráveis os sonhos delas. Se o leitor aprender isso, entendo que é o básico, pode conseguir, talvez uma graninha, faturando com o lançamento de um livrinho da mesma espécie – aí, sim, a autoajuda ao leitor pode ser concretizada. Não acredito em outra forma, pois ninguém sonha igual.

Também penso que não preciso de permissão para sonhar meus sonhos, sejam sonhos reais ou imaginários, seja dormindo, ou acordado. Nasci com o direito de sonhar e pronto. A escolha é minha. Claro que, às vezes, não consigo controlar meus sonhos sonhados, enquanto durmo. Por isso tenho pesadelos, talvez sejam os mesmos que tiram o sono de tanta gente por aí, por aqui, em todo ou qualquer lugar. Mas, acordado, tenho o direito de sonhar todos os sonhos que almejo alcançar e recuperar os que já se perderam durante minha existência. O direito de reprisar sonhos é porque tenho a certeza que eles sempre estarão no mesmo lugar, fato que me dá direito de sonhá-los e reprisar aqueles que me fizeram bem.

Penso mais. Penso que sonhar é exercitar o máximo a minha liberdade. Ninguém tem nada a ver com isso, direta ou diretamente, para querer me “guiar”, ou proibir-me. Sonho o que bem entendo e o que almejo sim. Fim de papo. Há quem busque concretizar os sonhos sonhados. Isso já resulta em trabalho, obviamente, mas não é impossível, seja que sonho for. Outros preferem continuar refugiando-se nos sonhos sonhados, como se houvesse jeito de mantê-los distanciados da realidade vivida. Estão apenas fugindo do real.

Se o brilho do olhar denuncia os sonhadores e não há como esconder este fato e de exercer o direito de sonhar, então os meus olhos brilham. Quem sonha, sonha adiante do que vive e quando o sonho é bom, reprisa ou tenta reprisar. Isso é realidade. Certo dia, isto há bastante tempo, estava eu diante de alguém que verbalizava uma lista infindável do que me era proibido. Escutei tudo, em silêncio, enquanto eu pensava: Você pode me proibir de tudo ou quase tudo, mas eu vou continuar sonhando os meus sonhos, dormindo ou acordado. Sonhar para mim passou a ser vital. Mas o pior é que tem gente que não se acha no direito de sonhar e isto é lamentável. Já ouvi muita gente, envergonhada, contar que teve um sonho lindo com alguém, até meio íntimo, num lugar aprazível. Que bobagem se era apenas um sonho! Os sonhos, em geral, são uma experiência individual, abrindo um caminho para o interior de cada um. Quando você tem alguma pendência que precisa ser solucionada ele se repete, não importa qual noite, mas repete. O sonho se repetirá sempre que o problema estiver em evidência na sua vida. É um mecanismo da própria mente, que processa e assimila experiências da própria vida e cada um tem a sua, por isso os sonhos não são iguais.

Mas é claro que cada pessoa sonha de um modo diferente, próprio. Não existe um modo "normal" de sonhar. Tem gente que sonha um sonho bom com pessoas que sequer conheceu. Eu mesmo tenho sonhos repetidos, ora alçando um voo, ora passando por um mesmo caminho, ora subindo um muro, parede ou montanha cheia de obstáculos que não consigo vencê-los, mas quando realizo aqueles sonhos na vida real, eles não mais se repetem. É incrível isso! Às vezes sonho um sonho tão gostoso que não gostaria de acordar, mas se acordado, jamais desistiria de concretizar esse sonho. Há os sonhos reais, com pessoas reais..., mas acho que o sonho dormido ainda é pouco para alimentar a vida acordada. Vou mais longe. Se há interpretações quanto a sonhos, às vezes até inimagináveis, enquanto dormimos somente nós mesmos sabemos, “na íntegra”, o significado deles e da forma que os escolhemos sonhar. Nem sonhando, outras pessoas conseguem imaginar o que sonhamos. Isto é salutar, pois tudo isso é vida, mas é importante frisar que a vida também se acaba, assim como o sonho não alimentado ou vivido. Os sonhos que não forem buscados, assim como, se seus sonhadores ficarem ineptos pode envelhecer, principalmente, quando os abandonarem. Bons sonhos a todos, mas, por favor, não interfiram porque estou em busca dos meus!


 
Vanderlan Domingos © 2012 | Designed by Bubble Shooter, in collaboration with Reseller Hosting , Forum Jual Beli and Business Solutions