Amigo leitor (a)

Amigo leitor (a). Quando lemos um livro, ou qualquer texto, publicados ou não, que são sinônimos do prazer, por mais simples que forem, sejam reais ou surreais, nos permite exercitar a nossa memória, ampliar nossos conhecimentos e nos faz sentir as mais diversas emoções, por isso, sensibilizado, agradeço a sua visita ao meu Blog, na esperança de que tenha gostado pelos menos de um ou que alguns tenha tocado o seu coração. Noutros, espero que tenha sido um personagem principal e encontrado alguma história que se identificasse com a sua. PARA ABRIR QUALQUER CRÔNICA OU ARTIGO ABAIXO É SÓ CLICAR SOBRE O TÍTULO OU NA PALAVRA "MAIS INFORMAÇÕES. Abraço,Vanderlan

Sentado, a beira da estrada da vida!

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Adolescente, saía equilibrando sobre os trilhos da estrada de ferro, e algumas vezes, colocava o ouvido sobre eles na esperança de escutar os passos daquela linda menina que morava a poucos quilômetros dali, outras vezes, escutava o barulho do trem e o meu coração acelerava esperançoso de vê-la descer na estação. Num vagão abandonado desenhei um coração e dentro dele escrevi nossos nomes usando cores rubras que com o passar dos anos não resistiram às intempéries do tempo e se esvaíram como se esvaiu a dor e saudade de sua eterna ausência. Nunca mais a vi.  Eu era um adolescente que enxergava o amor nas mínimas coisas e anotava tudo no caderno repleto de frases poéticas, próprias de um sonhador.  À medida que ia andando sobre os trilhos,  abria o peito para receber o vento que me enchia os pulmões de perfumes vindos das matas e das flores que se esparramavam pela estrada afora. 

Observava o movimento dos pássaros, sentia o sol queimar o rosto e o meu peito nu, e ao entardecer, me deliciava quando o via o sol descer soberbo no horizonte emitindo raios alaranjados. Sentia uma sensação inigualável, inexplicável e algumas vezes, via o rosto angelical daquela menina-moça se refletir por entre as folhagens das árvores floridas retalhadas pelos raios solares naquelas encantadoras tardes de primavera. O seu sorriso era parte integrante do cenário, que de tão perfeito, parecia onírico. Mas, naquele tempo, ao caminhar pela “estrada da vida”, não soube escolher o caminho certo.Talvez, enxergava certas coisas de uma forma, não como hoje, que calejado em face da labuta cotidiana, passei a ver de outra, não porque tudo tenha mudado, mas sim porque a minha forma de interpretá-la mudou. 
A “estrada da vida” se esticou assim como o tempo que passou sobre os nossos rostos deixando-os  carcomidos.  A estrada que percorremos fez-nos deixar para trás muito choro sufocado e muita injustiça para ser vencida. Mas, seja qual for à estrada, se de chão ou de ferro, nem sabemos em que parte dela a dor deve ser curada, sabemos que ela nos conduzirá ao mesmo lugar e trafegar ou equilibrar sobre ela é o que se  questiona. Podemos até passar rapidamente ou devagar sobre ela, não importando a velocidade que imprimimos. Podemos causar impactos, sentimentos vários nas pessoas ou em nós mesmos. Podemosn encontrar durante nossa caminhada dias nebulosos, ventanias, sol extremamente quente, noites e dias frios, pedras, espinhos e até pessoas que passam por esta mesma estrada, umas com semblantes rancorosos, outras distraídas, venenosas, falsas, egoístas e outras cheias de amor, mas, todas sabendo, que no final da “estrada” todos terão o mesmo destino: rostos carcomidos pelas intempéries do tempo, para não dizer que chegaram à velhice e como final, a morte, para uns, o descanso eterno, para outros, é vida nova no paraíso, mas, para mim, é somente a certeza de ter conseguido chegar ao fim da estrada ileso e pagando menos pedágios.
Tem dia que sentamos na beira da estrada e sentimos o vento levar nossos pensamentos sem pedir licença. Tem dia que pegamos pétalas de rosas à sua beira e elas nada exalam. Tem dia que vemos passar por ela marés de incertezas e não reagimos. Tem dia que tentamos encontrar outra estrada e sonhar um sonho que almejamos sonhar, mas não conseguimos. Tem dia na estrada que a noite é pesada demais mesmo sem    termos pesadelos. Tem dia que nos lembramos do passado sem assombros, mas, tem dia que a vemos cheios de escombros. Tem dia que perdemos alguém na “estrada” que muitas vezes não dávamos o devido o valor. Tem dia... ah, se tem!

Sentado à beira e com o pensamento absorto, percebi que o nosso passado é a estrada que percorremos durante toda a nossa existência e este aspecto não devemos esquecer. Foi através desta caminhada longa, entre erros e acertos, com realização profissional ou não, que chegamos onde estamos ou encontramos a  felicidade de haver encontrado ao longo dessa “estrada da vida” o amor e realizar alguns sonhos, muitas  vezes com pesados pedágios, tributo que a vida nos impõe e nos dificulta  alcançar outros sonhos e objetivos antes de cheguemos ao seu final

Simplesmente Carolina

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Foram dias difíceis naquele hospital. Mas a vida é assim. Tem situações que parecem complicadas e custamos a entender. Pode ser incompreensível para muitos em se tratando de morte, não obstante sabermos que um dia ela virá com todo o seu mistério que jamais será desvendado porque só Deus sabe o momento de subirmos ou descer os degraus da vida, para no final, ELE abrir a porta e nos mostrar o caminho da luz. Cercada de virtuosidades mãe Carolina deixou esta terra depois de tanta luta pela sobrevivência e hoje, quando se completa sete dias de seu falecimento, senti-me tocado pela dor e saudade restando-me a  reflexão e lembrar do seu passado de muita luta e sabedoria.

Ainda menino, amparado pelos seus braços fortes, lembrei-me daquele pequeno ônibus onde a senhora, juntamente com meus oito irmãos, deixou a pequena cidade de Morrinhos, em busca de um novo lar, de uma vida melhor na Capital. Pela estrada de chão, esburacada, o ônibus seguia célere deixando para trás uma poeira fina que se esparramava com o auxílio do vento, apagando imagens de um passado como se nela tivesse impregnada a borracha do tempo e, lá dentro, sacudidos pela trepidação, outros passageiros também sonhavam com um mundo melhor, mas, receosos de não conseguirem alcançar o seu intento seguiam silenciosos. Pela fresta da janela passava o vento e em seu colo sentia a sua pureza de mãe, enquanto sua mente contabilizava os quilômetros emplacados estrada afora, e de forma sutil, seus olhos ainda tinham a sensibilidade de contemplar a natureza, cujos vales, serras e montes iam passando velozmente à medida que o veículo seguia rumo ao seu destino. O seu semblante jovem transpirava dor e saudade de nosso pai, ainda jovem, morto de forma trágica, no entanto, mesmo assim, soube manusear as rédeas do destino, frear e puxar  o cabresto que construiu usando cordas de ternura que acostava aos filhos, para, no momento certo, poder puxar, exigir ou se recusar, até de forma obstinada, qualquer coisa que lhe contrariasse ou entristecia seu coração.

Naquele ônibus, antes de afundar no seu mar de sonhos sabia que mais adiante, mesmo sem teto, não poderia se curvar diante das adversidades que surgiriam, pois teria que sustentar e agasalhar nove filhos,   talvez, fazendo faxinas em residências ou usando os carrinhos da vida para buscar peças de roupas em bairros distantes, lavá-las no tanque da integridade e pendurá-las no varal da vida sob um sol escaldante. Tempo em que talvez não tenha contabilizado; tempo que lhe consumiu o corpo e fez aparecer os     primeiros cabelos brancos protagonizados por este mesmo tempo.


Mãe, você viu os seus filhos crescerem imbuídos de responsabilidade, honestidade, dignidade e respeito ao ser humano. Mesmo doente se preocupava com tudo, cuidava de todos com esmero e carinho, servindo-se de modelo para seus filhos, netos, bisnetos e tataranetos, fazendo-os entender que o amor faz gerar sorrisos e que amar significa querer mais e mais de uma pessoa. A senhora foi assim: sempre procurou ensinar corretamente, de forma que todos pudessem compreender os seus próprios sentimentos, quando na verdade, poucos compreendiam e, muitas vezes, lhe pedia aquilo que não podia dar.

Hoje, com quase noventa e dois anos de vida você nos deixou e partiu para outra dimensão, deixando para nós, pulverizados, muitos exemplos de amor e virtudes; foi com a senhora o seu sorriso angelical, o seu jeito simples de fazer crochê e tapetes montados com retalhos de tecidos multicoloridos; foi com a senhora a vontade férrea de viver; foi com a senhora a batuta que regeu, como um maestro, a vida de cada um de seus filhos, tudo embalado pela sinfonia de sua própria vida. Mãe, todos nós reconhecemos que você deixou um legado de carinho, amor ao próximo e virtuosidade, por isso é que todos a chamam simplesmente Carolina.  Mãe, você fez de mim um homem justo e me ensinou a defender os injustiçados. E como o Padre Luiz  disse num calendário: “Há muita dor que precisa ser curada, há muito choro   sufocado, há muita injustiça para ser vencida. Em tudo isso, a certeza de que só Deus é a resposta. Deus não explica a dor, mas, na cruz, ressuscita a esperança e o amor”

Padre Luíz, mais uma vez entre o amor, a inveja e a caneta

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

No último domingo ao passar pelo portão de entrada da Comunidade Atos deparei com uma jovem chorando. Achei meio estranho e segui rumo ao galpão preocupado e com o pensamento absorto. Logo mais à frente  percebi outras pessoas com lágrimas nos olhos e continuei sem entender o que estava acontecendo. Meus pensamentos iam voltavam ao passado como se fosse uma avalanche esmagando de minha memória cada momento de angustia vivido em face da perseguição promovida contra o Padre Luiz na Igreja Sagrada Família.

Ao adentrar no salão já sentindo o meu corpo    dormente em razão  de noites mal dormidas, pois minha mãe encontra-se internada na UTI onde o padre  Luiz esteve e com suas orações acalentou sua dor, inquietei-me. Inspirado no evangelho de São Marcos, capítulo 9, versículo 42, olhei para as cadeiras e observei que todos choravam e ai não resisti e perguntei a um membro da comunidade que disse; “O padre Luiz foi proibido mais uma vez de celebrar missa e o Arcebispo disse que ele vai ter que se reciclar” Reciclar? Como reciclar se ele é um verdadeiro evangelizador!

 Os outros padres é que tem que aprender a celebrar e a evangelizar como ele faz. Revoltado de vê-lo mais uma vez tolhido de forma tão injusta de exercer seu Ministério, o tempo naquele domingo ensolarado passou tão lento quanto a um trem que se   engasga em seus próprios trilhos enferrujados e que muitas vezes se rompem sem deixar vestígios, mas quanto a mim, embalado pelo descontentamento  de ver mais uma vez o Padre Luiz  ser proibido de fazer celebração, também quedei-me junto aos outros extremamente emocionado.                                                                                                                            

Vi os olhos de meus filhos e de minhas noras marejarem de lágrimas e se revoltarem. Meus   olhos cujas lágrimas já derramadas em face da doença incurável de minha mãe, ainda se direciona-ram ao altar com um novo celebrante já postado e lá fora, o sol encoberto por pequenas nuvens esparsas ainda conseguia enviar à terra pequenos retalhos de luz. De repente meus pensamentos  flutuaram na região recôndita de meu cérebro tentando me convencer da imposição da Arquidioce-se, mas, tenaz quanto a aquelas centenas de crianças que esperavam o teatrinho não acontecido e depois o pãozinho de Cristo não oferecido, tive vontade de voar e ouvir lá em cima fragmentos de relatos esquecidos pelo tempo onde se pode ouvir tudo e até vozes solitárias expondo a decepção de toda a comunidade em face da perseguição mais uma vez sofrida pelo Padre Luiz Augusto.

Breve como a um pássaro que foge de seu ninho em busca uma nova morada do outro lado do rio, restava-me olhar as belezas daquelas matas e com a idéia fixa de não admitir a idéia de recuar um passo face à hipocrisia reinante ante tantos esforços empreendidos por um sacerdote de valor e de seu sacrifício para manusear o sal que temperou o pão de cada dia e lhe conservou a têmpora de genuíno missionário, de um benfeitor espiritual, dedicado, sério, amoroso e que sempre teve como alicerce a vocação de bem servir os mais carentes com o lema: “EU VIM PARA SERVIR E NÃO PARA SER SERVIDO”              

Incrédulo mais uma vez diante de tanta insensatez, em certos momentos, mesmo sabendo que invejosos são muitos, naquele momento nem acreditei, mas mesmo assim me senti perdido detrás da sombra que cobria a região recôndita de meu cérebro.  Assisti à missa, pasmo, mas ansioso para   externar minha insatisfação. Mal conseguia orar. Como amar uma igreja que impede um padre de celebrar missa. Como amar uma igreja que não enxerga suas crianças, seus jovens, adultos e idosos que saem de longínquas regiões da Grande Goiânia para assistir aquela sagrada celebração e ao chegarem, derramaram-se em prantos: “Meus Deus que aconteceu, e agora?” Como estaria Jesus pensando ao ver aquela multidão chorando, pedindo simplesmente o direito de ter o seu pastor celebrando as missas? Como ficaria Jesus ao ver aquelas crianças chorarem e serem tolhidas do prazer de serem pequenas cristãs. Como!... Com o pensamento alhures, só me restaria acreditar na justiça Divina.

A acreditar que o Arcebispo pode continuar usando sua poderosa caneta, mas a  comunidade continuará navegando em águas mansas no afã de remontar o que os invejosos, falsos amigos e pessoas retrógadas tentam desfazer. O Arcebispo nunca procurou ouvir e nem se preocupa em saber o que é melhor para a comunidade católica. Nós servos da Comunidade Atos, não servimos para nada, somos tratados como entes nocivos pela Arquidiocese de Goiânia. A igreja católica não se modernizou, não vem acompanhando a evolução dos tempos e em razão disso está se esfacelando a cada dia. A caneta pode mudar tudo num simples papel digitado quando não se  ouve a outra parte ou se não tem amor no coração, mas os olhos espertos da comunidade Atos que são milhares, com papel ou sem papel, com voz branda ou rouca, com som ou sem som, teimarão em mostrar às  autoridades arquidiocesanas as cenas de tristeza ante as dificuldades encontradas ao  longo dos anos e as alegrias com as vitórias alcançadas por todos nós e por este jovem  honrado e abnegado sacerdote

O ultimo Pôr do Sol.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Tem dia que vivo mais no mundo imaginário que no real. A minha mente atribulada arquiva sonhos perdidos e os prendem na região recôndita do cérebro impregnado de dor e saudade. Passo as manhãs primaveris pensando em coisas inimagináveis e a   mente é sacudida pelo tempo que jamais voltará, assim como as feridas que muitas vezes não  cicatrizam. Tempos idos chorava por amor, pensando que aquele seria meu último pôr do sol. Era uma dor intensa para um jovem simples e sonhador. O sol, sem importar com as minhas lamentações nascia soberbo no horizonte e o dia recomeçava e, sem perceber, a ferida que imaginava existir, cicatrizava. E naquela manhã de primavera o que era imensurável ficava pequeno e, depois de um tempo até virava motivo de reflexão.

Colocar a culpa em alguém de ter roubado os meus sonhos ou de tê-los acobertados detrás de sua sombra a esperança, não diminuirá as lágrimas desse alguém, como não diminuirão as minhas se eu estivesse no lugar dela, mas, lembrar das situações que já vivenciamos nos dá forças, porque sabemos que após o crepúsculo há a alvorada e com o nascer do sol, a esperança, que é concebida a aqueles que têm Deus no coração. Nada é   permanente neste mundo e isso é que torna emocionante a nossa vida na terra.

Um relacionamento entre casal seja qual for não é fácil. Todos têm um passado, e seja ele qual for, é  inevitável que ele venha junto. Tem gente que traz um final de casamento trágico, mal resolvido. Tem gente que ao casar já traz consigo uma tropa de filhos. Tem gente que tem uma ex-namorada ou ex-mulher que não saem da cola. Tem gente que tem filho que nem sabia de sua existência e poucos anos depois aparece. Tem gente que traz traumas de relacionamentos antigos. Tem gente que traz medos. Decepções.  Mágoas. Tem gente que acumula tudo isso para depois se internar numa clínica de tratamento psiquiátrico ou indo para o hospício.

O passado de cada uma deveria servir como aprendizado. Experiências positivas. Esperança. O passado não deveria ser uma roupa de marca que você coloca no cabide do guarda-roupa a vida inteira. Tudo que se vive é válido. Algumas vezes é lindo demais. Mas é passado. Serviu como experiência, mas passou. É passado e não devemos olhar para trás.  E seria muito bom que todos interagissem com alguém como se nenhuma das partes tivesse vivido experiências boas ou ruins. Como se fossem uma página virada. Infelizmente, não é assim que funciona. Todo mundo tem um monitor que são os olhos.

Todo mundo tem uma memória interna. Um HD onde são salvas as sabedorias, crendices, idiotices e muitas vezes, sem pestanejar, apagamos umas e outras por    descuido – ou por querer – para caber mais coisas novas em nossa cachola. É nessa grande massa cefálica, HD humano, que a gente guarda tudo, desde o nascimento. Para isso serve essa memória interna. Porque é lá onde as coisas que passaram devem permanecer. As lembranças e tudo mais. Quando o passado começa a brigar com o presente, quando não vemos os últimos resquícios do pôr do sol ou mesmo do amanhecer, é porque alguma coisa está errada. 

Algo estranho pode estar acontecendo. Um enfermo isolado numa UTI, outros que podem ter deixado este mundo e partido para outra dimensão; outras, menos incautas, podem estar invadindo o espaço de alguém sem compartilhar o seu próprio mundo. Elas pensam que o passado serão só delas e que o passado do outro é só do outro e nem se importam se ainda existem resquícios de luz sol ou da lua a serem consumidos detrás dos montes ou nas profundezas das águas oceânicas quando ensaiam suas subidas ou descidas triunfais. Não entendem que o sol é salutar à nossa sobrevivência e a lua é o refúgio de poetas e sonhadores. Observar estes últimos resquícios de luz, entre o céu azul e a mãe natureza, mesmo com rota alterada, sempre nos trarão recordações, sempre nos motivarão viver o presente e sonhar com um futuro melhor e mais humano.

Halo Solar, um sinal Apocalíptico.

Há pessoas quando acordam para ir ao trabalho precisam de tempo para recuperar o prazer de se sentirem vivas. Antes de levantar espreguiçam-se na cama estalando os ossos impregnados na carne e em nervos adormecidos, deixando ao relógio a tarefa de eliminar os resíduos de mau humor ocorridos no dia anterior. Todo o corpo está em dissonância, até a respiração fica ofegante, precisando resgatar mentalmente alguma situação agradável para que o ato de levantar não se transforme numa tortura. Algumas vezes sinto isso, principalmente quando nos sentimos massacrados pela volúpia trazida pelo tempo quente e seco. Nestes primeiros dias de primavera, ao abrir a janela e olhar o céu azul, não se consegue receber lufada de perfume antes trazido pelo vento, e ao aspirá-lo sentimos cheiro de fumaça oriundas dos veículos, chaminés e capim queimado, que dificultam transformar o meu humor azedo num sorriso, deixando-me em desconforto e sem vontade de experimentar o gosto de mais uma manhã de primavera.
 
Mas, naquele dia com disposição para acolher o melhor, treinei meus olhos para as delicadezas que o mundo nos oferece. Olhei no espelho e fiz um exame diário de meu semblante, na tentativa de encontrar cicatrizes, pés de galinhas e olheiras que muitas vezes nos impede de ficar bem com a gente mesmo em determinados momentos. De um constante observar-se, exercício que resulta na descoberta de falhas de comportamento que podem ser evitadas, procurava sempre reagir com lucidez. Essa reação diária de lucidez é fruto das meditações que faço na tentativa de não reagir à violência com violência, seja ela de ordem física ou psíquica. Sinto-me mal toda vez que entro em conflito com alguém. Tenho horror a qualquer embate onde a agressividade seja a nota que conduz a discussão.
 
Ninguém está imune à inveja, mas não jogo cartas com ela. Não me interessa desafiá-la. Apenas a encaro de frente, como um inimigo mais fraco do que eu. Já vi pessoas próximas sucumbirem, mesmo sendo ricas interiormente, porque acreditavam que outros não mereciam o que tinham. Ficavam paralisadas diante de um falso fulgor alheio. Não percebiam que estavam sentadas sobre uma mina de ouro. Invejar é uma maneira de vestir a vaidade de modéstia.  Por isso, acordar nesta primavera e sentir o gosto das manhãs sempre foi para mim salutar; saborear o mamão, beber leite com café e mastigar um amanteigado pãozinho francês com gergelim; saber olhar o mundo com humildade e reverenciá-lo; entender que um dia a mais é um dia a menos na contagem de tempo de nossa existência é essencial; entender que devemos aproveitar cada minuto como uma criança que se delicia com uma  balinha de hortelã em sua boca sem se importar com o passar do tempo. Precisamos voltar a ser essa criança, nascendo quantas vezes for preciso e espreguiçar entre os lençóis embebidos por carinhos de mãe mulher.

Aquele dia parecia que seria diferente. Quando sai do elevador e pus os pés sobre a calçada senti um bafejo quente próprio de um planeta ameaçado. Nas calçadas pessoas estranhas cheias de dogmas se cruzavam, outras, paralisadas, como se fossem espectros humanos, estavam com os olhos voltados rumo ao céu. Com o pensamento alhures tinha que continuar, seguir o meu trajeto, com expectativas, é claro, de encontrar um mundo melhor e mais humano no dia seguinte ou, ser surpreendido por alguma coisa real ou surreal, um fenômeno qualquer, talvez vindo de outra dimensão ou do infinito universo de forma que pudesse servir de alerta aos seres humanos.

De soslaio, em pleno meio dia, também olhei para o céu coberto de nuvens enfumaçadas e foi difícil entender o segredo do universo. O sol, importunado com a refração de sua luminosidade em razão dos cristais de gelo em suspensão na atmosfera, tinha ao seu redor uma auréola colorida coberta por uma camada e ele parecia dizer: estou de olho nessa terra de desmandos! No dia seguinte pesquisei sobre o fenômeno. Constatei que há centenas de anos dizem tratar-se de um halo solar, cientificamente conside-rado como uma passagem do inverno para a primavera ocasionando por uma frente fria que atinge  grandes níveis, um fenômeno raro que deixou o povo boquiaberto, assustado e crente de que em face da poluição generalizada, tratava-se de mais um sinal apocalíptico.

O Araguaia parecia sorrir!

Passando sobre terrenos cheios de curvas o Rio Araguaia bocejava e parecia sorrir. Lânguido, recebia a luz do sol que esplendorosa formava sobre as águas cintilantes   reflexos estelares que recepcionavam as pétalas de flores e folhas secas que se desprendiam dos galhos ribeirinhos, para mais adiante cair em cachoeira. Ele seguia manso sobre o leito adornado por belas matas e praias. Olhava para o céu azul completamente embevecido e cheio daquela densa alegria a envolver-lhe os filamentos aquáticos nervosos e curvilíneos. Seguia célere por toda a extensão sem medo de ser feliz, para atingir generosamente suas ainda tenras margens e raízes que se deliciavam de suas águas. Em cada curva ou reta, deslizava sobre o leito no afã de mostrar aquela sensação gostosa de vida em explosão e o paulatino oxigênio jorrado ao ar tão necessário e salutar a vida humana.

Embora insensível e pesada, a mão do homem, com suas perversas armações contra a natureza, de sugar de seu leito areias e minérios, não logrou impedi-lo de tornar-se um ser majestoso. O pulsar da existência, garboso, invencível, que explode em intensidade, em querer ser apenas um rio. Conquanto um ser frágil ante a insensibilidade humana, o Rio Araguaia já nasceu ansioso para ver a luz e navegar por uma imensidão de terras furando o quase inexpugnável bloqueio arbóreo e margens arenosas - só Deus sabe como – mas ele continuava destemido em meio às asperezas e degradações ambientais.

Tudo certamente o que ele fez, faz e ouve se dá à surdina, ali no silêncio dos dias e das noites, calmamente, longe dos holofotes e olhares humanos, mas, certo dia, ficou sabendo de um projeto que estava sendo  preparado pelas autoridades públicas – a construção de uma usina hidrelétrica, não sendo necessário dar-lhe a conhecer os detalhes ou as minúcias do espetáculo que chamam de desenvolvimento regional. A diferença é que o inusitado projeto deixou sua marca e chamou a atenção de ambientalistas, do Governo de Goiás e da Ministra do Meio Ambiente, cujo rio e as belezas naturais que o rodeavam, foram bastante decantadas através da música, de trechos escritos por poetas e romancistas e até divulgado diariamente por uma novela global.
 
Semelhante a um estranho no ninho, tal qual o patinho feio, alguém, hoje exonerado, tinha autorizado a construção de uma usina que logicamente iria destruir o verde ostensivo das matas que o realça, a fauna e flora e tudo visto lá de cima, se degradado, mostraria um quadro bucólico, surreal, mas eis que, surpreendentemente, apareceu e exibiu seu belo charme em plena selva exalando gás carbônico aos helicópteros que passavam tresloucados, secundados por outros, menos desavisados, que pareciam se espantar e talvez, ainda não acreditava na salvação daquele rio. Indiferente às intempéries do tempo e dos ruídos dos motores e esbanjando aquele aspecto saudável de quem sobrepujou as dificuldades com impetuosidade, naquele de domingo ele se sentiu vitorioso.

Extasiados diante de tanta beleza, aquelas autoridade públicas no vai-e-vem dos helicópteros, olhavam para baixo, meio abobalhados, alguns sorrindo e outros, cabisbaixos, certamente não tinham sido atingidos pelo cerne da sensibilidade dos enternecidos, que entre os solavancos da bela máquina voadora, sequer se lembravam dos burburinhos e poluição da cidade grande. A imagem bucólica do Rio Araguaia surgia com toda a força sem interferência de ninguém, e nem poderia, evidente, mesmo que quisessem. Pois foi personagem de muitas lutas e agora vencedor ficará mais distante do alcance da ação humana e da degradação ambiental que doravante farão parte do silêncio cúmplice dos dias e das noites que se amoldaram nessa complexidade maravilhosa chamada vida, equilibrada, perfeita, cheia de vivacidade e harmonia.

Naquele domingo, mesmo desconfiado com tanta pompa, mas ciente de que quem o sobrevoava naquela maquina voadora era a Ministra do Meio Ambiente, pessoa sensível e inteligente, aquietou em seu leito e parecia sorrir, pois sentiu que Ministra ao vê-lo lá de cima,  as matas ciliares, os perfis da vegetação, as erosões em sua nascente, perto do Parque Nacional das Emas, deve ter entendido que o Rio Araguaia precisava ser   preservado, pois além de exuberante e belo, gera riqueza, alimentação e é de vital importância ao meio ambiente.

O Araguaia voltou a sorrir!

Livre do burburinho de uma suposta usina, dos ruídos das dragas, o rio, boquiaberto, balançava em seu dorso as folhas secas que se soltavam dos galhos ribeirinhos seguindo firme sua rota muitas vezes curvilínea, mesmo assim, ainda caia nas eivas profundas impregnadas em suas margens. O rio sob ameaça humana ainda tinha a difícil missão de cruzar a barreira da solidão imposta pelo ambiente selvagem e muitas vezes inóspito. Ao vê-lo lá fotografado via satélite, fotos estampadas no jornal, em alguns pontos, o rio parecia morto e em outros, naufragava em seu próprio leito. Isto poderia até ser obra da minha imaginação fértil, mas não é.

Hipérbole de sua própria nuança, depredado se  tornaria no futuro apenas a tumba sórdida dos esquecidos. Mas, se majestoso, certamente continuará servindo de palco, onde encenará, sem coadjuvantes, alguns atos adornados de areias brancas apinhadas de gente. Um rio magnífico que possui em suas águas grande quantidade e diversificados cardumes de peixes que saciam a fome da população ribeirinha. Rio que não chora mais, pois as lágrimas ressequidas foram levadas pelas pequeninas ondas que jazem sobre barrancos enraizados. Ele já não sente mais   pesadelos e nem a aflição do último veio que se esgotava no curso do seu próprio silêncio quando se encontrava à espera da construção de uma Usina Hidrelétrica, que se construída, lhe restaria para servir,  numa taça quase vazia a cicuta de quem aí irá beber na sequidão do vale, até a hora do cortejo fúnebre dos depredadores que hoje sentimos o prazer de vê-los derrotados por um simples veto do IBAMA.

A última tentativa de destruí-lo já se foi. E eu espero que sim, não obstante saber que ainda existem os homens “lodos”, sugadores de leitos para extração de areias, destruindo as margens ribeirinhas dando um fim as águas límpidas e ao homem o gosto salobro de uma tarde devorada pela mediocridade. Célere e constante o rio segue manso sobre o leito abraçando suas próprias asas caudalosas como um pássaro, que perdido na imensidão celeste, não sabe como se esconder na última curva sustentada por alabastros e ou raízes de árvores milenares. Parece um pêndulo esférico à procura de um abrigo, ou uma tora solta uma vez que ele não conseguirá manter-se indeciso entre continuar ali pairado, ou flanando alto até cair em cachoeira. 

Flutuando sobre o leito, sepulcro das águas paralíticas, tudo que lá jaz, parece se acomodar tão lentamente, quanto às palavras impuras contidas na muda história de uma gente ribeirinha. Mesmo que se bastem, as imagens vistas do alto precisam ser tocadas pelos nossos sentidos como aconteceu com a Ministra do Meio Ambiente. Mas o tempo foi passando e as águas também, protelando uma decisão ministerial que na última hora, mediante bom senso, decidiu-se definitivamente que no Rio Araguaia não se construirá Usina Hidrelétrica. Felizes com a decisão restarão aos amantes da natureza palavras poéticas cheias de perturbadoras imagens, tanto e quanto o sonho dele de se ver salvo pelo  homem que se materializou devagar, devagar, até que fosse hasteada a bandeira de sua vitória.

Semana passada, dia 21 de outubro, no jornal Diário da Manhã, juntamente com outros abnegados ambientalistas, fiquei feliz com o título “Vitória do Araguaia”, estampado na capa com letras garrafais, e com a maior serenidade possível, cheguei à conclusão de que o caminho em defesa desse rio não tem atalhos, e a metáfora do sonho pode ser a foz ou o abismo. Pelo abismo passarão só as imagens de entes nocivos e depredadores, sem palavras, mudos e as novas águas nem perceberão eles fazerem a travessia. Para quem das águas retira o sustento, os leitos sadios serão os caminhos naturais; para quem lá navegam sobre canoas verão que são os leitos que potencializam as riquezas nacionais. Mas, para que tanta pressa, se ninguém nos espera em lugar algum! 

Até as toras milenares se não forem cuidadas pelo homem também apodrecerão nas próximas correntezas. Mas como poderemos ser coerentes se ao mesmo tempo somos algozes e vítimas da natureza, usuário das benesses do tempo e impávidos como o sol primaveril que despenca sobre nossas cabeças queimando nossa massa cefálica, ou os sensíveis   cavaleiros ambientalistas que iniciaram suas longas cavalgadas partindo da nascente, repetindo as   mesmas curvas e trajetos no afã de  proteger suas margens e fazê-lo voltar a sorrir com as boas novas. Mas, repito, para que tanta pressa se agora está livre e sabemos que ninguém o espera em lugar algum a não ser receber outras águas

As peripécias de João Capoeira

Aquele dia prenunciava uma noite quente de primavera. O sol descia rumo ao horizonte enquanto os pássaros circundavam os prédios fazendo as últimas curvas para descansarem naquele final de tarde. No topo das árvores deleitavam sobre os ninhos construídos de pequenos ramos e folhas secas, enquanto as flores de um ipê desabrochavam anunciando uma nova estação. Naquele dia, perto dali, um jovem que deveria ter mais ou menos 20 anos, cabelos compridos, estilo Roberto Carlos, nariz volumoso, olhos castanhos, preocupado com os arrombamentos constantes, acomodou-se na sua banca de revistas, rodeado de mariposas que eram atraídas pelas lâmpadas fluorescentes.

As abelhas bicavam as flores colhendo o néctar para a fabricação do mel, e volta e meia, passavam rente a  cabeça do jovem, que as espantavam usando uma revista pornô. Prestava atenção naquelas criaturas de ferrão fino e sorria das travessuras delas e das suas, quando ainda criança, e ao mesmo tempo zombava de seu irmão Luiz Mauro, que certo dia, ao dormir na banca, acordou assustado com um barulho e deu um tiro na lataria  acertando do lado de fora a bunda de um jovem que praticava ato libidinoso e carícias audazes com sua namorada. Que vexame! O irmão ao abrir a porta de aço sentiu-se como se fosse um palhaço de um circo   mambembe. O jovem do lado de fora, de tão assustado, broxou e fez xixi nas calças. Parecia mais um mico de circo vestido de fralda e com cara de bobo. A manceba, uma morena de olhos verdes, vestia roupa justa e espalhafatosa mostrando as coxas e pernas torneadas.  Os sapatos verdes, bico azulado, os cabelos cacheados tipo africano, camisa vermelha desbotada com os seios à mostra, mais parecia uma garota de programa.

O jovem com o rosto esmaecido continuou por algum momento de cabeça baixa, mas de repente, suspendeu a vista e perguntou: O que aconteceu?  Com o revólver ainda soltando fumaça pelo cano esfregou a mão nos  olhos cheios de remela, mirou bem o infeliz e disse: Cara! Esta banca de revista já foi arrombada várias vezes neste ano e você teve o azar de vir fazer sacanagem com sua namorada justamente aqui. Aí você viu no que deu, hein cara!  O barulho das bolinagens me assustou e por isso dei o tiro. Pensei que era num ladrão! E olhe cara! Já são mais de três horas da madrugada e aqui não é lugar para transar. João Capoeira ao ouvir a história no dia seguinte sentiu-se livre daquele vexame, pois dias antes dormira na banca. Ele, antes de cuidar da banca adquirida por seu pai viajava por várias cidades e passava por trilhas, ruas e entrava nas casas de pessoas desconhecidas montando armários de aço e madeira.

De tão azarado, chegou a ficar trancado dentro da loja em que trabalhava em BH. Não era medroso como o irmão. E é verdade, pois todos os aventureiros como ele desenraizam seus medos enfrentando o próprio medo, mas, certo dia, na pequenina cidade de Matozinhos, em Minas Gerais, não conseguiu impor seu jeito de play boy rude, pois ao cruzar com uma jovem de cabelos longos sentiu o coração disparar, respirou ofegante para depois quedar-se diante da beleza rústica e cativante de Elza. Teve vontade de conhecer Nadir, a cunhada, mas desistiu. Casou-se com Elza esquecendo-se de Rosa uma namoradinha do Setor Pedro Ludovico. Joãozinho como é chamado pelos mais íntimos, traz no seu sangue a “capoeira” coisas herdadas da labuta de seu avô paterno, o Antonio Capoeira, um exímio roçador de mato,  experiente na lida com plantio e que andava em sua carroça com rédeas soltas, tocando sanfona com as pernas soltas ao ar. Essa destreza de caráter herdado o fez tornar insuperável, às vezes bárbaro, às vezes meigo, às vezes caridoso, às vezes de dotado de um amor fraternal.

A verdade é que neste texto, por ser pequeno meu espaço, tento mostrar de forma resumida as proezas de alguém no exercício de comércio de revistas, de sua luta insana contra a fiscalização e muitas vezes contra os próprios lojistas; mostrar a sua ira quando viu sua banca ser abalroada por um veículo desgovernado, dirigido por uma motorista embriagada; mostrar sua destreza em enfrentar assaltantes em sua fazenda, que armados de facões, feriram-lhe o corpo e para não morrer, escondeu-se no banheiro ameaçando-os com uma velha carabina; falar também da  tentativa de assalto que sofrera no Setor Pedro Ludovico, onde os ladrões apenas conseguiram acertar alguns tiros no seu Fusca ainda é pouco.
Os contratempos e adversidades o fez crescer e hoje enxerga o mundo de outra maneira; acalenta-se das desventuras sofridas com o sabor da vitória, mas  sempre mantendo o zelo profissional. Considerado bom filho tornou-se bom pai e logicamente, um vencedor e pôde ajudar sua família. João Batista da Silva, “o capoeira”, pode se orgulhar, pois sacudiu a poeira e deu a volta por cima, então, torna-se desnecessário a este escriba elaborar mais tópicos engraçados ou pitorescos sobre sua vida no afã de fazê-los perder horas rindo dos "malabarismos" que fez para sobreviver, até porque hoje vive sossegado em sua Fazenda Capoeiras, no município de Hidrolândia, respirando o ar puro das matas e ouvindo o inebriante canto dos pássaros.

 
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