Amigo leitor (a)

Amigo leitor (a). Quando lemos um livro, ou qualquer texto, publicados ou não, que são sinônimos do prazer, por mais simples que forem, sejam reais ou surreais, nos permite exercitar a nossa memória, ampliar nossos conhecimentos e nos faz sentir as mais diversas emoções, por isso, sensibilizado, agradeço a sua visita ao meu Blog, na esperança de que tenha gostado pelos menos de um ou que alguns tenha tocado o seu coração. Noutros, espero que tenha sido um personagem principal e encontrado alguma história que se identificasse com a sua. PARA ABRIR QUALQUER CRÔNICA OU ARTIGO ABAIXO É SÓ CLICAR SOBRE O TÍTULO OU NA PALAVRA "MAIS INFORMAÇÕES. Abraço,Vanderlan

Se eu viajasse amanhã.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Se eu viajasse amanhã levaria na mala do meu coração a bolinhas de gude azul que numa tacada só, usando o dedão da mão direita, colocava-as uma a uma nas cinco covinhas feitas no chão batido; levaria as fincas pontiagudas que fincavam o chão rente às linhas imaginárias do terreno úmido do quintal; lavaria a minha bola de meia que recheava de palha de arroz; levaria minha tabuinha de pirulitos; levaria comigo a minha caixa engraxar que juntos, fizemos muitos sapatos brilharem; levaria comigo o som da fanfarra, dos trombones, dos toques das cornetas que alegravam os desfiles militares e estudantis ocorridos no Dia da Independência; levaria comigo o som gostoso da velha locomotiva, os sorrisos dos passageiros, os acenos de adeus e o apito sonoro do trem ao fazer a última curva da estrada despedindo-se das pessoas ribeirinhas; lavaria do jardim de minha existência as gotas de orvalho, o néctar das flores, as lindas manhãs primaveris, e longe dos holofotes, dos olhares humanos e burburinhos, levaria o silêncio do monjolo, o cântico dos pássaros, o cocoricó rouco do galo Barnabé anunciado um novo dia e a suavidade da água límpida que descia mansa sobre o rego d’água.

Se eu viajasse amanhã levaria na mala do meu coração o amor, a dedicação e virtuosidade de minha mulher; a disciplina e carinho de minha filha e filhos; a paz e amor de meu genro e noras, a pureza de minhas netas e netos, o sorriso angelical de minha saudosa mãe, o carinho desmedido de meus irmãos, irmãs, primos, primas, sobrinhos, sobrinhas, cunhados, cunhadas, sogro e sogra e as amabilidades dos meus vizinhos, da zeladora e porteiros do edifício onde moro.

Se eu viajasse amanhã levaria de minhas amigas e amigos editores, escritores, romancistas, poetas e articulistas os seus neurônios porque sei que de lá saem seus escritos, prosas e versos, dotados de ritmos e rimas que se extravasam em cada prolongamento das células e as quais me fazem cair em deleite e levam-me ao êxtase mesmo em noites mal dormidas. Levaria comigo a cantoria e o toque de viola do doutor Juarez, dos violeiros, sanfoneiros e percursionistas da Folia de Reis do Malhador. Sei que são muitos os amigos intelectuais e artistas, os quais, não caberiam aqui nesta pequena folha de papel, por isso me abstenho de relacioná-los. Se fosse possível, até rasgaria esta folha, relacionaria os nomes prazerosamente e jogaria o rascunho fora. Viraria a página, e do início ao fim, riscaria, rabiscaria e escreveria tudo novamente porque sei que estaria levando na mala de meu coração, além dos seus escritos, porções e mais porções de histórias inacabadas.

Se eu viajasse amanhã levaria a amizade sincera dos amigos e amigas da Casa Legislativa, do Ministério Público, das lides forenses, do Paço Municipal, das ONGs ambientais e Entidades Culturais, e da SEMARH, cujos colegas de trabalho sofreram comigo; levaria o carinho dos Brenos, do Antônio, da Taís, da Isa, do Jorge, da Giovana, do Joaquim, da Lia, da Alessandra, do Joaci, do Roberto, do Augusto, da Sandra, do Índio e seu arco e flecha imaginário, do Lívio, do Gerson, da Luiza, da Junia, da Marcela, do Chico, do Leonardo, dos Josés, das Tânias, das Jacks e de tantos outros e outras que guardo a sete chaves no solo fértil da minha existência e que se fosse possível relacionar um a um ou uma a uma, não caberia também nesta folha de papel.

Se eu viajasse amanhã levaria o carisma, o amor, a fé e a perseverança do Padre Luiz; levaria dos amigos e amigas dele, o companheirismo, a amizade e a fé inconteste em Deus, de cujo rol eu tenho a alegria e satisfação de fazer parte; levaria as mensagens das amigas e amigos blogueiros e internautas que muitas vezes viajam no mundo da imaginação na tentativa de levar esperanças àqueles que têm dificuldades para subir os degraus da vida; levaria àqueles que trazem no peito o choro sufocado e as injustiças que não conseguiram se safar; levaria, seja qual for o degrau ou estrada da vida a ser percorrida, seja qual a for dor a ser curada, seja enfrentando nebulosas ventanias, chuvas torrenciais, o sol quente queimando o rosto, noites e dias frios, pedras pontiagudas e espinhos, porque a mala do meu coração vai ser entregue numa dimensão onde todos poderão ser felizes e realizar seus sonhos.

Se eu viajasse amanhã levaria na mala de meu coração o intelecto, os dotes de espírito e inteligência do Batista Custódio, a meiguice e simpatia de Meyrithânia Michele, o intemerato e o jeitão revolucionário do Ulisses Aesse, a inteligência e a capacidade de Hélmiton Prateado, a simpatia e educação do Arthur, a competência e educação de Julio Nasser, do Taquinho e de toda equipe do DM, e todas essas benevolências humanas retiraria de minha mala, colocaria numa bandeja de ouro e entregaria ao querido e saudoso Fabio Nasser, não me importando em qual dimensão ele esteja, assim como, nessa mesma bandeja, com todo o meu apreço, juntaria o carinho e a singeleza da amiga Sabrina Richely, ex-integrante do Diário da Manhã.

Se eu viajasse amanhã levaria do Hospital Santa Helena as mãos firmes e abençoadas do Dr. Flávio, a competência e conhecimento medicinal do Dr. José Gilson e toda sua equipe; levaria o carinho e a prestimosa atenção das enfermeiras e auxiliares: Mayara, Nayane, Clarise, Lourdes, Silvânia, Lucely, Walkíria, Elaine, Antônia, Maria José e tantas outras dedicadas atendentes, conhecidas como as meninas de jalecos azuis; levaria tudo de bom que existe neste mundo porque a mala de meu coração é grande, todavia, naquele dia 8 e 9 de agosto de 2012, antes de o sol beijar o vão da janela e a lua se esconder no horizonte, fui surpreendido por uma chuva de preces e orações que inundaram a UTI do hospital e foi aí que entendi que não era minha hora partir. E assim, amigos e amigas, me desculpem por ter guardado esta crônica na mala do meu coração e reprisá-la novamente, para, nesse ínterim, alertá-los de que vocês vão ter que continuar me aturando por mais tempo, porque a minha vida pertence a Deus e depois daquele dia fatídico entendi que só ELE sabe o momento de enviar a “passagem” a cada um de nós. 



Fortunato e a pinguela.

terça-feira, 19 de maio de 2015


Fortunato era um pequeno agricultor, filho único, solteirão, trabalhador incansável, de boa estatura, olhos azuis, cabelos castanhos emaranhados até os ombros e morava com os pais à beira do Rio Corrente num longínquo rincão do mato grosso goiano. Certo dia, cansado das desventuras, começou meditar sobre como atravessar o rio, já que a única ponte de madeira ficava a cinco quilômetros de sua casa, então, sentou-se à beira de um barranco e começou a pensar... A solução era construir uma pinguela para encurtar o caminho. Do lado de lá, depois de atravessar a densa mata, chegaria mais rápido a igrejinha que em razão da distância participava pouco, e a construção dessa travessia era a solução, pois sabia que encontraria lá a linda jovem, professora, que faziam seus olhos brilharem e o coração bater mais forte. Ela possuía uma silhueta muito elegante, pernas torneadas, cabelos loiros, compridos, e quando a via andar pela estrada de chão sacudindo os cabelos ao vento, esta cena o deixava encantado. E não era miragem. Avexado, nem se atrevia a acenar com as mãos quando deixava a igrejinha, ou mesmo quando passava perto da escola onde ela ministrava aula às crianças do pequeno povoado. Aqueles momentos inusitados mais pareciam um sonho e a construção da pinguela era a única forma de se aproximar mais amiúde dela, de alcançar um sonho, ou talvez, acordar para a vida.

Sabendo que a travessia era insegura e a sensação de não conseguir alcançar a outra margem poderia ser sentida a cada passo, mesmo assim não titubeou, cortou uma enorme árvore que ficava às margens do rio e a ponta cheia de galhos caiu do outro lado. Foi até lá, equilibrando-se no tronco tal qual a um macaco, conseguiu aparar os galhos, tirar as lascas como faz um escultor e ainda amarrar nela umas varas de bambu para ajudar no equilíbrio. Pronto! Estava construída a formosa pinguela. Ficou observando a sua arte, chegou bem perto do barranco, olhou para baixo e sentiu-se como se estivesse num prédio de dois andares e depois, lembrou-se que além do medo de altura sofria de labirintite e ao podar os galhos sentiu isso. Entretanto, para quem sentia medo e não tendo alternativa, se viu obrigado a enfrentar a sensação da travessia, até porque precisava se encontrar com aquela mulher.

Passados alguns anos visitei Fortunato e numa tarde quente de verão, enquanto o sol se escondia no horizonte, fiquei observando atentamente aquela pinguela e aí me veio à mente que a nossa vida está repleta de momentos semelhantes. Muitas vezes somos forçados a atravessar situações difíceis, sem  nenhuma    segurança e equilíbrio. Muitas vezes pensamos até em retroceder ou sentar a margem daquilo que achamos impossível construir. O impossível no mundo de hoje é sobreviver ou viver em linha reta, avançar e superar obstáculos. A menos que a opção seja por não amadurecer e não crescer, mas sabendo que ultrapassar obstáculos faz parte do itinerário de qualquer ser humano. Chegará o dia em que será necessário que levantemos nossos próprios voos e experimentemos novos ares, pois somente consegue sucesso quem  avança independentemente da situação em que se encontram como foi o caso de Fortunato Simão Filho que enfrentou o seu medo e pode alcançar na outra margem o seu grande amor.

Vivemos num mundo de altos e baixos, mesmo para aqueles que se dizem seguros quando chegam ao ponto final.  Na estrada da vida muitas vezes somos quase que obrigados a passar por algumas “pinguelas” que balançam nossa estrutura interior. Damos alguns passos, chegamos a vacilar e muitas vezes nem damos  conta de que não há consistência quanto à direção a ser seguida, não obstante sabermos da necessidade de ir adiante mesmo não tendo toda a certeza e segurança necessárias para alcançar o que almejamos. Quando conseguimos passar pela pinguela da vida e pisar em solo firme é sinal que vencemos os obstáculos, superamos nossas limitações e sentimos mais leves e fortalecidos. A nossa vida é cheia de “pinguelas” e não adianta a gente querer se desviar delas, pois elas surgirão ao seu tempo e quando surgirem, nada de receio e ansiedade, pois, depois do esforço empreendido, vem à alegria de termos conseguido alcançar do lado de lá pessoas que ansiávamos encontrar e hoje a felicidade de tê-las com a gente do lado de cá, como aconteceu com Fortunato.


III ECHTEC: Um encontro de intelectuais em Goiânia para integração da América Latina e Caribe.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Ainda bem que fiz parte do grupo de curadores do III ECHTEC realizado no CRECI. Ainda bem, porque tive a oportunidade de conhecer pessoas importantes, artistas e escritores renomados e intelectuais que vieram de várias partes do Brasil e da América Latina. Ainda bem... Eu estava com um artigo já engatilhado para ser enviado ao Diário da Manhã, cujo conteúdo era falar da política atual, mas resolvi guardá-lo para a próxima edição, deixar de lado a imundice da corrupção, que, infelizmente, é a tônica das conversas em nosso país, e voltar para algo mais importante e construtivo para Goiás: escrever sobre o Encontro de Ciências Humanas e Tecnológicas para a Integração da América Latina, trazido para Goiânia com muito esforço pelo professor Jean Jardim, idealizador, cujo evento foi realizado no aconchegante auditório e hall do Conselho Regional de Corretores de imóveis – CRECI.

Esse encontro teve o objetivo de colocar Goiânia e o Estado de Goiás no cenário dos grandes pensadores, assim como, incentivarem os participantes a atravessar fronteiras e divulgar cultura local em outros rincões brasileiros e quiçá, em todo mundo, para, num futuro próximo, como primeiro passo, gerar uma eficaz e profícua integração intelectual latino-americana. O trabalho apresentado pelos expositores presentes ao Encontro, como o conceituado prof. Levy Emanuel Magno, promotor de justiça de São Paulo; professora Dra. Mercedes Alejandrina Alarcon, da Universidade Cesar Vallejo – Chiclayo, Peru; que tiveram como tema principal falar sobre: Redes Acadêmicas Latino-Americanas – Pontos de Interação, e as pessoas que participaram, seja através de palestras ou simpósios realizados na Faculdade Padrão, onde estiveram renomados debatedores como os professores Carlos Túlio da Silva Medeiros; Eduardo Devés do Chile; Dr. Carlos Roberto da Silveira, da Faculdade Católica de Porto Alegre; Francisco Giraldo, da Colômbia e tantos outros, que, de alguma forma, tornaram-se agentes construtores no processo de integração entre o conhecimento e a sociedade de um modo geral. Um dito muito comum dá conta que o brasileiro não gosta de ler. Tenho cá minhas dúvidas a respeito da veracidade de tal informação. Afinal, generalizar é algo perigoso e prefiro crer que o preço dos livros algumas vezes extrapola os limites financeiros do leitor e a forma de sua divulgação também ainda é precária e ineficaz. Mas o que dizer do escrever? Uma rápida passagem por instituições de nível superior basta para verificarmos que são muitos os alunos (mesmo daqueles cursos nos quais a boa redação é essencial) que deixam clara sua incapacidade para colocar no papel cinco linhas com coerência e correção, não é verdade?

É evidente que existe um abismo temporal que pode estar se refletindo na interpretação de cada um deles. Será que é a falta de leitura ou preguiça mesmo? De outra parte, a incapacidade de colocar no papel um texto bem escrito pode momentaneamente estar retratando o inconformismo desses alunos frente ao mundo caótico e sem perspectiva em que vivemos. Às vezes, ao ler uma pequena mensagem de alguém na internet observo que nem sempre são metricamente perfeitas, mas que trazem a marca de alguém que já encara o mundo com olhos de quem viveu o bastante para poder criticar, com certo humor e fina ironia, os tempos e os costumes, as voltas e reviravoltas que a vida dá, e isso é bom.

Eu sei que, pelo menos neste momento, é fundamental que todo meio acadêmico, de cultura e conhecimentos participe de todos esses Encontros, pois quem os traz para Goiás vêm com a tentativa de deixar Goiás com referência em pensar a América Latina e Caribe, assim como desejar o melhor desempenho da área de artes plásticas, da escultura, tecnológica, educacional e literária. Destarte, a sociedade da qual fazem partes esses intelectuais necessita de um evento como o que foi realizado nos dia 7, 8 e 9 de maio findo que os permitiram dialogar em todas as áreas do conhecimento, mormente com o tema que foi apresentado com muito sucesso pela conferencista cubana prof. Dra. Maria Tereza Ferrer Madrazo, bastante elogiada pelo público presente, assim como, os trabalhos expostos pelos artistas plásticos e pela Intellectus – através da Feira do Livro.

Muitos escritores goianos deixaram de participar, mas o importante é que os que compareceram se sentiram beneficiados com tantas informações trazidas por intelectuais de outros países, seja mostrando uma nova face da cultura em geral, da escrita que, por vezes, parecia quase incomum. E, permitam-me a aparente falta de modéstia, posso falar de cátedra. Há muito tempo dedico-me não apenas ao escrever, mas também, a despertar, nos meus leitores, a consciência da importância e da necessidade ter além do gosto pela leitura, redigir bem. E não tem sido uma tarefa fácil. Os exemplos são muitos e o espaço que uso é pequeno para o que eu gostaria de escrever. E não me interessam as opiniões dos críticos que podem apontar, do alto de seu conhecimento baseado nas técnicas e métricas do texto poético, as eventuais falhas nos meus artigos ou crônicas. Interessa-me saber que ainda há aqueles que, independentemente da idade, ainda se dedicam à difícil arte de transformar sentimentos em palavras e registrá-los no papel como procuro fazer, e no III Encontro, vi muitos intelectuais fazerem. Valor ou resultado não se sabe ainda. O tempo dirá, e se nada disser, não faz mal. Quem participou do evento fez sua parte, mérito, pois, para ele.



Bate papo com um mosquito.

terça-feira, 5 de maio de 2015


No mundo da imaginação ou do universo fantástico das fábulas todo absurdo é possível e permitido. O homem desfigura-se para compor o enredo, onde o bicho é coadjuvante. Homens se transformam em bichos, bichos se transformam em pessoas humanas, peixes voam, pássaros nadam, cachorro relincha, cavalo faz cocoricó, o pintinho pinta, pedras falam, bichos e homens conversam... E através da imaginação, podemos ir além dos nossos limites no tempo e no espaço, conhecendo assim um mundo inacreditavelmente real.

Através da sensibilidade da escrita, o escritor tem acesso à linguagem primordial, não somente do homem, mas também dos animais e das árvores. Quando homem solta os pensamentos eles voam sem rumo, carregando uma imaginação surreal, às vezes distorcida, talvez por pertencer a uma sociedade hipócrita, e já não se sabe, onde e quando termina ou começa a vida real, se é que existe. Distorcida ou não, a arte literária é uma manifestação de criatividade, de sensibilidade, de discernimento, de solidariedade, de simplicidade, mas não é, de maneira alguma, manifestação de conhecimento e nisso eu acredito e passo a régua.

Se colocarmos em discussão cientificamente a situação em comento, podemos afirmar que a pedra não é um ser vivo e pronto! A água desliza sobre o leito, mas não é um ser vivo e ponto final! O cachorro é um animal irracional, ponto e sem mais delongas. O homem é um animal racional e ponto final! Mas a questão é que estamos falando do mundo imaginário, surreal. Veja o título desta crônica: “Bate papo com um mosquito” E não é um mosquito qualquer. É com o chefe mor dos mosquitos, o Osama Aedes Aegypti Bin Laden e mostrar que podemos conversar com eles, com os insetos, com as plantas, com as pedras, com as águas, com os ventos... Então pergunto: Por que tantas pessoas se afastam da natureza? Por tantos tentam destruí-la para poder dominá-la? Não somos seres da natureza tanto quanto uma palmeira onde cantam canários e sabiás? Por que o povo não se une nos bairros para combater esse mosquito transmissor da dengue? Somos ou não somos maiores pelo fato de sermos seres que pensam.

Talvez, se não fosse à pergunta feita por aquele menino pobre estirado sobre um banco à entrada de um CAIS, bastante febril e com suspeita de dengue, eu nunca teria pensado em conversar com aquele famoso mosquito, acomodado há bastante tempo num pneu de trator, bem folgado, logo ali, num lote baldio. Mas o fato é que, de alguma maneira, esse famigerado inseto de pernas longas e magras já pensava em dialogar comigo. Eu ou qualquer pessoa jamais podíamos imaginar que ele estava ali junto com suas amadas se reproduzindo dentro daquele pneu.

Pois bem, todos sabem que o macho não transmite a famigerada dengue, mas dá suas picadinhas, respira como qualquer animal; ele morre e nasce e é um vivo ser que voa com o vento e brinca de esconde-esconde tendo ou não sol, tendo ou não chuva; reproduz em proporções gigantescas, ou seja, é um inseto de amor eterno, terno até demais com as fêmeas. Estas sim precisam de nosso sangue e transmitem a doença. Mas quem vai falar isso não sou eu, é o próprio Aedes. Eu sou apenas um homem que se preocupou com a situação daquele menino, que olhou e pensou, mas o que pensou o mosquito enquanto eu pensava sobre ele? O que estaria pensando enquanto eu descansava à sombra de uma árvore logo ao lado daquele lote baldio? O que estaria dizendo enquanto eu descrevia sobre sua magreza e impotência de transmissor? Por que deixa para a fêmea o trabalho de picar as pessoas que, infelizmente, não se preocupam em se desfazer do lixo que acumula no lote ao lado ou dentro de seu próprio habitat.

Estava observando demais a vida pregressa dele e quase me esqueci do bate-papo. Aproximei-me devagarzinho, e olho no olho, fiz a primeira pergunta:

- Há quanto tempo reside neste pneu?
- Tem vários anos, nunca fomos perturbados por qualquer ser humano. De vez em quando passa um carro soltando uma “fumacinha” fedida, mas de tão fraca não alcança nosso habitat.
- Por que o governo não consegue exterminá-los?
- Acho que ele não tem um projeto preventivo para eliminar os criadouros e combater nossas fêmeas transmissoras. A saúde pública brasileira está um caos e o povo não colaboram com a limpeza dos lotes baldios, dos vasos, pneus, garrafas, copos, tampinhas de garrafas, calhas, caixas d’água, piscinas, então, de nada valerá o trabalho da vigilância sanitária. Procriamos até em tampinhas e todos sabem disso! A incompetência do governo e a falta de colaboração do povo, jamais vão conseguir quebrar o ciclo de vidas dos mosquitos e eliminar ovos e larvas. O governo está até criando em laboratório mosquitos geneticamente modificado, mas tudo é forma de abrir canal para mais corrupção no Brasil. Finalizou dando um sorriso sarcástico bicudo.
- Quem é aquela fêmea toda desengonçada sobrevoando perto daqueles meninos? - Perguntei-lhe.
- É a Dina Russefe. Ela ruim e mente demais! É uma verdadeira sanguessuga. No criadouro dela têm os mosquitos Zenoinos de Castro, “os três em um” e o controlador, apelidado de Vaccari que tentou “picar” alguém importante e se deu mal. Dizem por aí que ele “meteu a mão” na rica mosquitinha Pietrabras, muita querida e respeitada por todos e se enrascou de vez, ficando sem o pré-sal que “salgava” as mãos do pessoal daquele criadouro, que, por sinal, é cheio de melecas e larvas... Aedes deu mais um sorriso, agora cheio de deboche, e antes de concluir, me perguntou: - Você realmente acha que está conversando comigo, um simples mosquito?

A pergunta me deixou encabulado, mas logo pensei: se sou escritor e viajo no mundo imaginação, então pode tudo. Como subterfúgio para que ele não mandasse sua amada se aproximar de mim com aqueles ferrões, respondi-lhe que sim e que podia ficar tranquilo que não ia denunciá-lo para as autoridades sanitárias e nem indicar o local de seu criadouro. Deixei o local pensativo e o fato acontecido, para os leigos, creio que só restarão descobrirem nesta crônica onde estão as metáforas, mas para mim, a imaginação de minha conversa com o mosquito era uma coisa real que ia além da imaginação. Tropos para uma fábula ou um acalanto, desses que invento para orientar, levar minhas congratulações e elogios a todos àqueles que se cuidam, fazem a sua parte no combate a dengue, cuidando de seu lote, de sua saúde e de seus vizinhos.
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