Amigo leitor (a)

Amigo leitor (a). Quando lemos um livro, ou qualquer texto, publicados ou não, que são sinônimos do prazer, por mais simples que forem, sejam reais ou surreais, nos permite exercitar a nossa memória, ampliar nossos conhecimentos e nos faz sentir as mais diversas emoções, por isso, sensibilizado, agradeço a sua visita ao meu Blog, na esperança de que tenha gostado pelos menos de um ou que alguns tenha tocado o seu coração. Noutros, espero que tenha sido um personagem principal e encontrado alguma história que se identificasse com a sua. PARA ABRIR QUALQUER CRÔNICA OU ARTIGO ABAIXO É SÓ CLICAR SOBRE O TÍTULO OU NA PALAVRA "MAIS INFORMAÇÕES. Abraço,Vanderlan

Detrás da sombra de nossos sonhos.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Tempos idos os pais não se preocupavam se o seu filho poderia sair sossegado à noite, assistir filmes e shows musicais; andar sem medo pelas calçadas, pois naquele tempo não existiam pivetes, assaltantes, usuários de drogas e traficantes. Não se importavam com a filha que ia a pé ou de ônibus até a escola ou outro destino qualquer?! Naquele tempo, ao lado de uma agitação que era considerada como normal tudo se passava sem grandes sobressaltos. A televisão que era em preto e branco, não mostrava cenas horripilantes como hoje e são repetidas sem a anuência do telespectador, tudo em nome da mídia. Adultos e adolescentes caminhavam pelas ruas de madrugada, sem medo de serem felizes, cantavam para as estrelas e nem ouviam os roncos de motores, buzinas ou latidos de cães. A cidade era pacata. Hoje tudo é diferente. E para pior, é claro. Podemos enumerar uma série de vantagens, mas na certeza de que o sol hoje não brilhará como antes. As fumaças que saem das queimadas, chaminés, veículos, sobem aos céus e tapam-lhe os seus olhos flamejantes. O céu, que outrora se apresentava estupidamente azul, claro e limpo, hoje se encontra coberto de poeira e gases carbônicos, produzindo o efeito estufa que o deixa ruborizado. As nuvens, nem se fala, quando caem, trazem borrascas inesperadas e incontidas.

Ainda me lembro dos dias em que passeava nos parques, provando deliciosas maçãs do amor, pipocas e o famoso refrigerante Grapette, à sombra das árvores que o tempo permitiu crescerem e hoje, pela insensatez humana, muitas foram derrubadas e em seu lugar, construíram famigerados parques de diversão, prédios e condomínios de luxo. Que bem fazia aquela sombra fresca durante o solstício de verão que parecia querer esconder detrás dela os meus sonhos de menino.

Fora daquele parque dos sonhos vivia o autoritarismo e a ditadura. Talvez fosse verdade e até ocorria poucos casos de homicídios e crimes hediondos, mas já passaram alguns anos e hoje o que mais há são casos desses. Vivemos num país onde o crime acontece todos os dias e em toda a parte. Assaltam-se bancos explodindo caixas eletrônicos, assaltam postos de gasolina, e roubam dos seguranças mal treinados suas armas, estupram crianças e ainda constatamos a existência de rixas entre gangs e de crime organizado; filhos matam pais e vice versa; mulheres são espancadas pelos maridos e pessoas são assassinadas sem pena ou dó e o criminoso, insensível, parece sentir prazer de ouvir o gemido do desafeto; assaltam-se carros de valores e ninguém é culpado de nada. O que se nos dá a conhecer é o outro lado da questão. Empolga-se o caso deste ou aquele criminoso estar doente, ter sido atingido por uma bala ou saber a razão pela qual aconteceu ter-se atingido mortalmente um rapaz que estava associado a um assalto. Só falta começarmos a defender os criminosos e a condenar os que sofrem na pele às arbitrariedades dos assassinos e assaltantes.

Ninguém se sente seguro em lado algum. Já não falo de políticos e afins, pois esses andam sempre com guarda-costas. Tem grana para pagar e o pior, é que sai de nosso bolso. Por outro lado, é justo pararmos no sinaleiro e ter receio de um assalto e ainda dar dinheiro ao elemento para alimentar o seu vício. Temos consciência de que muitos caixas de banco são explodidos no Brasil e com a maior das facilidades. Eles nem se preocupam. O banco está com apólice de seguro e o pior, que quem paga o prejuízo somos nós. Podem notar que tudo o que é mau, acontece ao Brasil, e rapidamente. O pior é que ninguém faz nada. O combate deveria ser eficaz, rápido, duro e desmotivador para quem estivesse a pensar fazer alguma malandragem. A segurança é urgente e necessária. Não podemos andar numa insegurança total pelas ruas das cidades, esperando ser atacado por alguém que sabe nada vai lhe acontecer, mesmo que seja apanhado. Pagam uma mísera fiança e fica solto. A impunidade não pode ser prêmio de criminosos, não importa qual seja o crime.

Afinal onde está a segurança? Que País é este que de um dia para o outro se transformou de tal forma que mais parece uma penitenciária, onde existe um amontoado de gente e tudo acontece. Mata-se, estupra-se, droga-se, ninguém se importa ou interfere. E o Poder Público onde está?  É com muita pena que tenho de admitir que detrás da sombra de nossos sonhos, parece existir um amontoado de sentimentos frustrantes, depressões, desamor, confrontando-se com sentimentos de amor, amizade, paz, todos eles comuns à humanidade como um todo, e o fio êmulo, resistente, que talvez ainda os unam no espaço sem luz ocupado por um corpo opaco, todos deveriam se agarrar e ao serem amparados pelo bastão da benevolência, procurar encenar no palco da vida um novo modelo para sociedade para que ela se torne mais justa, humana e fraterna... Aliás, se isso não acontecer, nem o sol e a lua voltarão a brilhar como antes e as árvores milenares morreriam mesmo com as chuvas de verão.

Até a sombra o abandonou

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Hoje, faz meses que ela o abandonou. Tempos idos quando caminhava juntos ele sentia uma vontade danada de conversar com pessoas que passavam pelas calçadas e ruas da cidade. E a sua sombra era alegre, assim como ele, que se encontrava de bem com a vida. Era filho de gente abastada e fazia da sombra o que bem queria. Brincava com ela usando as mãos, sinalizando gestos grotescos diante de lâmpadas que se refletiam no branco muro da mansão. Aos transeuntes, ele sem ao menos fazer autocrítica, perguntava se estavam entusiasmadas com a vida, às outras, menos afortunadas, indagava se estavam felizes com seu emprego, se viviam bem com a família, com os filhos e se invejavam dos sucessos dos amigos. Mas, brincadeiras à parte, certo dia alguém que se dizia amigo lhe enveredou pelo mundo das drogas e por mera brincadeira, cheirou o maldito pó. Uma brincadeira que lhe custou caro e o tornou viciado, perdeu tudo que tinha, até sua própria sombra. Meses se passaram e não conseguia se livrar da droga indo parar na sarjeta; começou a perambular pelas ruas sem rumo, sem destino certo. Sua mente embaralhava, a cada baforada aumentava as alucinações, enxergava coisas estranhas que jamais imaginara ver. De tanto matutar cansou e sem a sombra, sua única companheira, sentiu-se desnorteado, perdido no mundo do seu próprio ser. Ela que o acompanhou, lhe ajudou a minimizar as alegrias e tristezas e repetia prazerosamente nas suas andanças gestos precisos e imprecisos, agora jaz na escuridão. Ela sabia tudo sobre ele, e em certos momentos, parecia querer lhe alertar sobre o seu modo de vida e o fio de esperança que ainda lhe restava: Deus. E foi nesse fio, mesmo dominado pela droga, que tentou se agarrar para viver seus últimos dias, mas, incrédulo, não conseguiu conversar com ELE. Achava que era tarde demais! Lembrou-se dos tempos idos, do amor de sua mãe, do saudoso pai que lhe deixou como herança o tino para o trabalho; lembrou-se da prosperidade, onde acreditava na sua capacidade de trabalho, de vencer o invencível, de construir o sucesso, de transformar a realidade e viver a bonança. Tempo em que conseguia deixar de lado todo o negativismo, o ceticismo, abandonar a descrença e entusiasmar com tudo que acontecia, mesmo quando não havia luz para refletir a sua rica sombra, e principalmente, entusiasmar com alguém importante que hoje passa pela calçada e vê que não é sombra, é real, mas, certo de que uma o acompanha e se refletirá diante de quaisquer luminosidades, ou em dias de sol ou em noites enluaradas. Mas, para ele era realmente tarde demais. Não tinha religiosidade, não conseguia libertar-se das drogas e os prostíbulos era seu ninho, e aí, começou a viver no mundo profano e se arrastar pelas calçadas como a um lixo humano.

Nos últimos dias, ora sob o sol causticante, ora sob chuva torrencial, algumas pessoas passavam, desdenhavam dele, desviavam o olhar, lhe ignoravam, e outras, nem o viam ou se faziam de cegos; as mais imbecis diziam: "não cheguem perto, pois este homem é usuário de droga e parece que nem sombra tem”. Diante daquelas palavras, olhou para a calçada e confirmou que ela não estava lá. Talvez se envergonhasse dele, pois era uma sombra que acostumara com sua elegância nos tempos de prosperidade. Era imponente e os seus gestos logicamente refletiam a sua soberba, a sua presunção, a sua arrogância e o seu modo metido de ser. 

Deitado debaixo da marquise, quase inconsciente, alguma força estranha ainda o fez arregalar os olhos. A doçura de uma voz de mulher, vestida de avental branco. Começou a tocar-lhe e disse: "Senhor, coma este alimento, você está tão frágil”. “É bom alimentar, pelos menos te ajudará a minimizar as dores”. Nem soube como, mas lágrimas saíram rolando pelo seu rosto, e mesmo quase desfalecido, concordou. Tomou aquela sopa e dada a sua fraqueza, engoliu vagarosamente e nem sentiu a picada da injeção que ela lhe aplicara. Ainda lúcido, foi levado a um albergue e, colocado sobre a cama, ele nem mais se importava se havia sol ou lua para trazer sua sombra de volta e nem pensava em saber o porquê teve que nascer se o mundo não lhe queria... Sabia que não mais veria a sua sombra e que naquele dia fatídico ou no dia seguinte poderia ser o seu fim... (Átila, dois dias depois, deixou este mundo por uso excessivo de cocaína e crack).  Com a própria saúde na UTI, urge à família, à sociedade organizada e ao Poder Público implantar uma política eficaz de atendimento ao dependente químico e apoio aos seus familiares, assim como o combate ao tráfico de drogas e a prevenção ao uso dessas substâncias.

Juarez, o Doutor Caipira e os Foliões de Malhador.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013


A Folia de Reis é uma festa religiosa, Segundo o livro de Mateus (2, 1-12), os magos eram sábios que vieram do Oriente, guiados por uma estrela, para adorar o Deus Menino em Belém. Especula-se que eles não eram reis, cada um com características próprias e também não se sabe o número exato. Existe lenda dentro da própria lenda, coisas entre os três Reis Magos, mas que nunca interessaram aos festeiros. Esta festa se tornou uma grande celebração para a igreja. Em toda Europa, é feriado no Dia de Reis, e em muitos lugares, os presentes são distribuídos apenas no dia 6 de janeiro. 

No ano passado fui convidado para assistir o Encontro da Folia de Reis de Malhador no Condomínio de Chácaras de Alta Vista, Senador Canedo, que acontece no dia 06 de janeiro pelo terceiro ano consecutivo. Por incrível que pareça, confesso, foi à primeira vez que vi de perto aquele belo trabalho de louvação ao Divino Espírito Santo através da cantoria e sons específicos. Uma das características da festa é a diversidade, cada cultura, cada cidade tem costumes e tradições diferentes, de acordo com as peculiaridades da região, e Malhador não é diferente. Em cada rosto via a satisfação e a necessidade de compartilhar a amizade que ali nascia e o desejo de saírem juntos em peregrinação, seguindo a estrela guia criada pela imaginação de cada um até o encontro do Menino Jesus. Logo à frente, um palhaço, cuja função simbolicamente, é proteger o Menino Jesus, e com suas peraltices confundir os soldados de Herodes. Diz à lenda que aos palhaços cabia o papel de pedir aos donos das casas visitadas, os donativos para a festa. O anfitrião pode, em contrapartida, exigir que algum serviço seja feito em troca dos donativos. Todavia, no caso da Folia de Reis de Malhador, pequeno vilarejo perto da cidade turística de Pirenópolis, o anfitrião e responsável pela festa, é o médico ginecologista Juarez Antônio de Souza – o doutor caipira, que assumiu todos os ônus da festa, tanto em razão da herança deixada pelos seus pais José Antônio Sousa e Maria Serafim de Sousa, como pelo seu amor à arte e ao folclore. São companheiros os foliões, os sanfoneiros: Meire Minadaks, Izá e Ediberto; os violeiros Valdivino, José Rafael, Sebastião e Antônio; no pandeiro o Cílio; no cavaquinho, o Orlando; no reco-reco, o Romes; no tambor ou caixa, a Ana Machado; de cujo grupo hoje eu tenho a satisfação de fazer parte, assim como, outros ases da cultura e do folclore de Goiás. Também foram convidados para aquela linda festa a escritora Elizabeth Abreu, o prof. Alvaro Catelan e Sônia Ferreira, os escritores e folcloristas Bariani Hortêncio e Prof. Jadir, e outros importantes membros da cultura, música, arte e folclore de Goiás.

Encantado, vi seguir em forma de procissão pessoas devidamente uniformizadas, à frente, a alferes Tamires, conduzindo a bandeira que representa a autoridade espiritual dos foliões, e estes, pelo que se conhece, não podem ser ultrapassados por ninguém. Atrás, sob a batuta musical do Mestre Juarez, cantando canções compostas pelo próprio grupo, seguiam as pessoas da comunidade e convidados. O candidato a integrar um grupo de Folia de Reis, tem obrigações e deveres que iniciam com a submissão às ordens do Mestre, e alguns grupos chegam a ter um código de ética escrito e aceito pelos membros. 

O percurso é feito sempre iniciando pelo lado direito de tal modo que, de casa em casa a companhia de Santos Reis aproximam-se do local da recepção final, quando o Alferes e equipe despojam-se de seus materiais e os guardam na casa. Quando eles vão embora, se despendem, repetindo os gestos da chegada (Despedida).  Em algum momento da festa, é feita a Passagem da folia para o novo alferes. Foram anfitriões, além do Dr. Juarez e esposa, os casais Beto e Priscila, Alvaro Catelan e Cláudia.

Quando falo da folia iniciar o seu percurso pelo lado direito é uma superstição ligada à festa que vem desde os tempos idos. Antigamente, as pessoas não entendiam a maior parte dos fenômenos naturais, e então, costumavam atribuir suas causas a determinados fatos, e esse costume foi transferido através de gerações sem nenhuma fundamentação científica, e hoje em dia, as pessoas sabem disso, mas por via das dúvidas... As crendices listadas a seguir referem-se à festa dos Santos Reis. Por exemplo: A bandeira não deve fazer um formato de cruz por onde ela já passou: Se isso acontecer, alguém da folia morre. Se for preciso atravessar uma cerca de arame, os instrumentos não devem passar por baixo da cerca, para que não percam o som. No Dia de Reis, algumas famílias costumam escrever o nome dos três reis magos em um pedaço de papel branco e colocá-lo na porta de entrada da casa, para que haja durante todo ano, fartura, saúde e felicidade. Há também uma simpatia, feita com romã, no dia 06 de janeiro em que a família se reúne para rezar um Pai Nosso e uma Ave Maria, depois, cada um pega três caroços de romã, põe na boca para sorver o sumo da fruta, um a um, e depois embrulha em um pedaço de papel para guardar na carteira durante o ano inteiro, para não faltar dinheiro. A cada semente embrulhada deve-se repetir “São Belchior, São Gaspar e São Baltazar. Não deixe o dinheiro faltar”. A cada ano, as sementes antigas devem ser jogadas em água corrente. A folia não pode voltar pelo mesmo lugar de onde veio Os andarilhos não passam por baixo de varal de roupa.

 
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