Amigo leitor (a)

Amigo leitor (a). Quando lemos um livro, ou qualquer texto, publicados ou não, que são sinônimos do prazer, por mais simples que forem, sejam reais ou surreais, nos permite exercitar a nossa memória, ampliar nossos conhecimentos e nos faz sentir as mais diversas emoções, por isso, sensibilizado, agradeço a sua visita ao meu Blog, na esperança de que tenha gostado pelos menos de um ou que alguns tenha tocado o seu coração. Noutros, espero que tenha sido um personagem principal e encontrado alguma história que se identificasse com a sua. PARA ABRIR QUALQUER CRÔNICA OU ARTIGO ABAIXO É SÓ CLICAR SOBRE O TÍTULO OU NA PALAVRA "MAIS INFORMAÇÕES. Abraço,Vanderlan

Razão. emoção e o livre arbítrio.

sábado, 24 de junho de 2017


Nunca gostei de matemática, e por gostar de história, literatura e português, eu me formei em direito. Desde os tempos idos sempre gostei de frases de efeito, pois quando as usava levava ao leitor meus diminutos pensamentos e de alguma forma acabei me torno um formador de opinião. Pequenas frases que se bem interpretadas podem nos indicar quais caminhos a seguir. Talvez seja uma forma da gente administrar o improvável e tentar almejar o quase impossível. Meu espírito sempre foi livre e mesmo ele se tratando de uma coisa imaterial sei que abraçava e controlava junto comigo minhas razões e emoções, mesmo sabendo que tínhamos e ainda temos o livre arbítrio para decidir entre o certo e o errado. Hoje, ao formar minha opinião sobre alguma coisa ou notícias veiculadas na imprensa escrita e falada às vezes algumas opiniões podem parecer distorcidas da realidade, mas me conformo porque procuro escrever com clareza e sei que as palavras jamais adormecem em berços esplêndidos. Não é fácil dar opinião ou se manifestar sobre outra contrária a nossa, por isso pesquiso sobre o assunto e pesquisando sei que estou evitando magoar pessoas ou deixá-las descontentes. Quando escrevo sobre assuntos políticos mudo de humor facilmente. Irrito-me fácil quando leio algum texto contrário ao que penso ou em que a maioria da população pensa, e principalmente, sendo ele prejudicial ao nosso País, ou quando escuto mentiras deslavadas de corruptos e corruptores. Às vezes, diante do monitor, paro, reflito, elaboro algumas frases de efeito como resposta e as legendo, e, sem querer, brotam respostas que jamais encontraria se não tivesse a junção entre a razão e a emoção, consequentemente, o livre arbítrio. Hoje, ao escrever este texto acho que o extraí de um sonho que perdi, onde se digladiavam a razão e a emoção. Naquele sonho me vi chorando, logo eu que adoro sorrir e gosto de pessoas que sorriem. Mas tem nada não, pois bonito mesmo é essa parte imaterial da vida que chamamos de espírito, e, quando a gente menos se espera, a gente se supera. De posse do livre arbítrio e monitorado pela emoção e a razão, entendi que é a maneira mais sensata de se chegar mais perto de ser quem a gente é, mas a bem da verdade, a gente já é.

Ademais, ninguém melhor do que a gente pra saber o que é bom para a nossa vida. Ninguém, ninguém mesmo! Mesmo por mais experientes, por mais vencedores que são, poderão ditar o que eu e você devemos ou não fazer. Quando estiver diante de uma escolha difícil, o coração disser uma coisa e a razão outra você tem a seu favor o livre arbítrio para decidir, mas se resolver se calar, não dizer nada, deve ter pensado bem. O importante é não se deixar levar por uma coisa, nem outra. Se usar o incorrigível coração é bom saber que ele é levado pela emoção e tem tendência a fazer com que percamos um pouco a nossa razão, ou a capacidade de um raciocínio coerente. Todavia, a razão sozinha não poderá ditar normas e as regras da sua vida, nem tampouco os que convivem com você. E quando se fala em laço de convivência é muito importante não magoar e nem decepcionar ninguém, mas isso não deve ser à custa do sacrifício da própria vontade e necessidade de ser feliz. Ninguém, por mais próximo que seja, poderá decidir de que forma você deve viver. A vida é sua e você não tem duas ou mais vidas, só uma.

É muito fácil dizer às pessoas o que devem ou não fazer. Não é por que se está do outro lado da tela que se vê melhor. A verdade é que decidindo por nós elas se tornam responsáveis pelas nossas escolhas. Mas, no tocante a essa frase, seja de efeito ou não, pode ter certeza, não passa pela cabeça de ninguém. Sendo responsáveis e sofrendo nossas dores pode até fazer com que doa menos em nós, mas não podemos exigir e nem corroborar com isso. Ademais é digno e honesto de nossa parte cumprir promessas e desonesto não cumpri-las alegando somente que foi feito por dever, sem que haja um real sentimento movendo essa decisão. Ser honesto com os outros é muito bom. Mas, antes, é fundamental ser honesto com a gente mesmo.

Por mais doloroso que seja, por mais difícil que possa parecer, é necessário que libertemos do que pensam e dizem os outros. Pergunte si mesmo: o que eu quero para minha vida? Talvez nem saibamos exatamente o que queremos, mas sabemos muito bem o que não queremos. Quando nossa emoção (coração) estiver brigando com a razão (raciocínio), tentemos pensar no que vai nos fazer feliz em longo prazo. Mas, se sentirmos confusos, com mentes atribuladas, fechemos seus olhos e nos entreguemos nas mãos daquele que nos conhece bem: Deus. Mas façamos isso de verdade, usemos essa nossa parte imaterial desconhecida de todos nós: o espírito. Só Deus sabe do nosso amanhã, quando decidirá ou imporá sobre nós, mas vai certamente nos colocar uma luz para clarear nosso caminho e nos indicar qual deles devemos escolher. Eu aprendi que na vida a gente deve se habituar a tudo e somente as pessoas que se amam será capaz de entenderem. Então, usemos nossos espíritos altruístas e o livre arbítrio nos dado por Deus e tentemos encontrar o equilíbrio entre o que diz seu coração e a razão, mas sabendo sempre que a vida não é um corredor reto e tranquilo que a gente percorre livre e sem empecilhos, mas um labirinto, onde devemos encontrar entre os caminhos perdidos e confusos ou presos num beco sem saída, o certo.


Simplesmente cansei II

domingo, 18 de junho de 2017


Todos nós somos fortes o suficiente pra suportar a falta que alguém nos faz. No tocante a mim sempre procurei ser forte pra nunca voltar atrás e jamais me arrepender do que fiz e ou mesmo daquilo que deixei de fazer. No entanto, quando escrevia este texto comecei a pensar que não era tão forte assim, e queria apenas entender o que ainda me prendia aqui no meu recanto. Por que razão? Será assim tão forte? Eu procurava fazer de tudo do meu tudo, mas nada aliviava a falta que sentia talvez indecifrável, incompreensível para mim mesmo. Quem deveria se importar com meu tudo se desconhecia fatos e razões, mas isso não me importava, porque simplesmente estava me cansando de ser forte, todavia, sem me tornar totalmente fraco, pois a estrutura que adquiri durante minha existência não me deixou jogar fora a chance que dei e continuo dando a mim de me fazer feliz. Tudo, do meu tudo mesmo eu me abstinha de absorver em sua totalidade era para não sofrer diante de um acontecimento qualquer, inusitado. Hoje, entender o que acontece com a gente é o mais essencial para cada um de nós. Às vezes ignoramos o que nos transmite um olhar, um aceno, um afago, um sorriso, uma mensagem postada. Rimos e choramos, mas, possivelmente, expressando no rosto risos ou choros superficiais.

Cansei, mas não é de caminhar. O meu cansaço não é físico, é espiritual. Tão espiritual que não consigo me achar nos meandros de uma mansa correnteza, nem os meus devaneios imaginários que escrevia em folhas de papel, e de outra parte, recuperar os sonhos sonhados em noites primaveris ou aquietar-me diante de tantos pesadelos. Não obstante isso, cansado ou não, procuro sempre trazer um sorriso no rosto, mas acho que com o passar dos tempos estou me tornando uma imagem turva. Mas existe o tal do bem-querer que tenta deixar a gente forte, mas como ser humano que sou, fraquejo, e fraco, às vezes não consigo; não consigo nem sonhar com frio olhar de alguém que se esconde por detrás um muro intransponível.

Cansei de ser forte, porque ultimamente tem sido difícil manter tudo ao meu redor congelado. Esbarro nas pessoas como se fossem seres estranhos, mas sabendo que não são. Mas o mundo fez e continua fazendo grandes mudanças em nós e a gente tem dificuldade de aceitar alguém como uma pessoa comum, normal, que às vezes se destoa, não deixando bem o final de sua história. Torna-se ainda mais estranho é o jeito frio, jeito de não se importar muito com as coisas que se seguem até os dias de hoje, todavia, temos de acreditar que exista alguém, um Ser Supremo, com capacidade para mudar tudo isso.

Em busca de memórias boas e reflexivas para inserir neste texto, lembrei-me de muitas. Na verdade, mesmo cansado de tudo, eu nunca me esqueci de nada, apenas tirei do meu foco as mazelas e iniquidades que vem ocorrendo no mundo e em nosso País. Não foi tão foi difícil retirar isso e até me confortou, mesmo estando cansado disso e de tudo mais. É estranho quando alguém que estamos acostumados a dialogar discorda da gente, se contraria com qualquer coisa dita e escrita, e até some da nossa vida, mas deixam os rastros, gestos e palavras como lembranças. Acredito que foi através delas que encontrei forças para não deixar outras pessoas irem e dar valor às mais próximas, sem sentimento de culpa por ter sumido por um tempo de suas vidas. Só que hoje, de alguma forma, estou pagando por ter deixado algumas irem, e foi assim que descobri que ainda me restavam forças, que eu não sabia de onde tirava, mas certo de que elas chegavam para ocupar espaços que não eram meus, mas que eu amei ocupá-los.

E por mais que eu tentei enterrar o meu passado, acredito que sempre irá despertar reações estranhas em mim porque ele foi mais positivo que negativo. Tenho de convir que não seja somente eu, mas todo ser humano em geral precisará mais do que uma imagem para se satisfazer de seus anseios e vontade própria para consecução de seus sonhos e objetivos.

Até onde cheguei tive que ser ou mostrar-me forte, aliás, tive que aprender a ser forte e para isso passei por grandes tempestades, tive muitas decepções, engoli muita coisa, deixei de engolir outras e passei por cima de tantas e tantas outras sem ferir ninguém. Em determinados momentos me vi obrigado a construir a minha própria muralha. Se não bastasse, fui obrigado a andar sobre pedras pontiagudas, passar por barreiras quase intransponíveis que encurtavam o meu caminho e ainda, driblar todas as outras que foram aparecendo durante minha existência. Aprendi a ensinar meus ouvidos a ouvirem somente aquilo que me interessava e que fosse útil; aprendi a ensinar minha boca a falar somente o necessário e quando não ocorria me calava deixando apenas que o meu silêncio falasse por mim. Guardei segredos, ocultei palavras e às vezes as escondia em compartimento onde só eu e Deus tinha acesso. Por isso caro leito e leitora podem não gostar de meus textos que acredito serem às vezes sem nexo, mas não me julgue sem a devida sensatez, nem arremesse pedras ou palavras que me firam, pois poucos não viveram o que eu vivi, não passaram por tudo aquilo que eu passei, não sabe o quanto eu lutei para realizar um bom combate, chegar até onde cheguei e nem mesmo sentir na pele o que eu sentia. Eu posso dizer que já pensei até em parar de escrever e que cansei de tudo aquilo que passa ao meu redor, principalmente em relação à política rasteira e o dividido e conturbado judiciário brasileiro, mas é normal que todo mundo cansa, mesmo os esquerdistas e outros que se dizem contrários, mas antes que a gente fale um do outro, voltemos no tempo e caminhemos pela estrada da nossa vida, aquela que construímos durante toda nossa existência, pois só ela é capaz de repaginar a nossa história, e caminhando, teremos condições de dizer se praticamos o bem e alcançamos o sucesso e objetivos que tanto almejamos.


Voto de minerva e o de impedimento

quarta-feira, 14 de junho de 2017

No Reino da Fantasia chamado Brasil a voz das ruas não repercutiu nas discussões da Corte. Talvez aquele Poder Judiciário continue indiferente ao clamor popular, todavia, não se pode deixar que essa indiferença prejudique o clamor e nem contamine a independência judicial exclusivamente vinculada à obediência dos juízes à lei e ao Direito. Os juízes devem aplicar a Constituição e as leis e demitem-se de suas funções quando se submetem a outras “demandas” construídas sob fatos reais, provas cabais e notórias, de suma importância para o Reino e jamais serem decididas por um simples voto de minerva de uma votação empatada e ou mesmo de um voto de um Ministro impedido por Lei.

Assisti a tudo, perplexo. Perplexo porque eram tantas as provas apresentadas pelo nobre e competente relator, e tão convincentes que não me deixava dúvida quanto à cassação da chapa. Terminava a votação fiquei com "cara de tacho". Incrédulo! Aí perguntei a mim mesmo: Quem vai entender os petistas que clamam nas ruas ou nós, patriotas, que queriam também a saída de Temer: Nas manifestações de rua eles clamam, seja através de faixas ou grito: FORA TEMER! Mas como acreditar nesse pessoal, pois no TSE, um Ministro petista e ex-advogado de Dilma votou pela não cassação da chapa, mantendo-se assim, o Presidente Temer no poder. Realmente fiquei sem entender o posicionamento daquele Ministro diante de tantas provas acostadas no processo. Ademais por ser ele ex-advogado de Dilma em 2010, não importava qual ano, naquele processo tratava-se de julgamento de Dilma e Temer, no qual, entendia que ele devia alegar-se impedido, conforme preceitua a legislação pertinente à matéria, mas não o fez.

Para os petistas de plantão bastava o voto dele para tirar Temer do Poder e salvar a nação dos corruptos já denunciados pela PGR, homologado pelo STF que circulam nos corredores palacianos, e quiçá, termos a sensação de novas eleições... O Ministro ao emitir seu voto procurou fugir das provas cabais e convincentes constantes dos autos. Fiquei perplexo porque senti que aqueles juízes do TSE que votaram contra a cassação pareciam que estavam articulados para frustrar as expectativas democráticas dos brasileiros. Decidiram fechar os olhos aos fatos, provas e evidências que levariam a chapa Dilma - Temer à cassação num tribunal decente. Se tivesse ocorrido dessa forma estariam ajudando a fazer história, colocando-se ao lado da nação, cujo povo vão às ruas para acabar com a impunidade dos crimes de colarinho branco. E ao confirmar aquele voto perguntei novamente a mim mesmo: Será que os petistas agora vão gritar: "fora Ministro Admar Gonzaga!" Será que o vídeo mostrado na delação da JBS não incriminava mesmo o outro Ministro que ficou nervozinho e quase deu um “xilique” durante a apresentação de seu voto?

Desde os bancos da Faculdade ouço falar a expressão "Voto de Minerva", sem entender às vezes sua origem ou a história que se escondia por trás dessa expressão. Ela tem sua origem em uma história pertencente à mitologia grega. Agamenon, o comandante da Guerra de Tróia, ofereceu a vida de uma filha em sacrifício aos deuses para conseguir a vitória do exército grego contra os troianos. Sua mulher, Clitemnestra, cega de ódio, o assassinou. Com esses crimes, o deus Apolo ordenou que o outro filho de Agamenon, Orestes, matasse a própria mãe para vingar o pai. Orestes obedeceu, mas seu crime também teria que ser vingado. Em vez de aplicar à pena, Apolo deu a Orestes o direito a um julgamento, o primeiro ocorrido no mundo. A decisão, tomada por 12 cidadãos, terminou empatada. Atena, a deusa da sabedoria, que presidia o julgamento proferiu seu voto, desempatando o feito e poupando a vida de Orestes. Neste momento, o voto de desempate passou a ser conhecido como “Voto de Minerva”. Triste não!

Mas por que Minerva se está falando da deusa Atena? Porque Minerva era a deusa romana das artes e da sabedoria, correspondente à deusa grega Atena. O direito romano, que influenciou todo o sistema jurídico ocidental, incorporou a deusa romana à expressão. Eis a razão da expressão Voto de Minerva, também conhecida como "voto de desempate" ou "voto de qualidade". Mas pergunto novamente: Quanto ao voto de desempate no TSE, foi de qualidade? Entendo que não e acompanhando através de jornais e TV vi que as maiorias dos comentaristas políticos estão indignadas com tal decisão. Para mim foi um voto mais político que judicial e explico em face das ligações do Ministro Gilmar Mendes com o Presidente Temer: Em janeiro, os jornais noticiaram que o Ministro viajou a Portugal e no mesmo avião seguia a comitiva presidencial para assistirem o funeral do ex-presidente português Mario Soares. Meses depois Temer e outros políticos participaram de jantar oferecido pelo Ministro em sua residência em Brasília, sempre negando que essa proximidade tivesse influência no julgamento e que as relações com o Palácio eram apenas institucionais, todavia, é sabido que ele é um dos Ministros do Supremo que mais expressam sobre política. Um fato relevante, que me deprime ao ver o seu voto de minerva é que durante do governo Dilma foi um duro crítico do PT, a quem acusou, em 2015, de ter “um plano perfeito” para se “eternizar no poder” – plano este “estragado” pela operação Lava Jato, da qual é publico e notório que o Ministro nutre uma antipatia descomunal. Por fim, cito aqui duas frases para reflexão: Elias Murad disse tudo em poucas palavras: “O Brasil progride à noite, enquanto os políticos estão dormindo.” E o saudoso Jânio quadros: "Aprendi no berço com minha mãe, que não há homem meio honesto e meio desonesto. Ou são inteiramente honestos ou não o são."



Redemoinho, o filho do vento.

terça-feira, 6 de junho de 2017


Zé Bigorna andava meio triste lá pelas bandas da Vila Tamanduá quando certo dia um redemoinho passou pela rua poeirenta tangendo folhas secas, papéis, sacolas plásticas, espantando pássaros e levando toda a sujeira local. Zé nasceu na cidade de Cabribó no sertão da Paraíba e há tempos vinha tentando esquecer-se das terras secas nordestinas e morar de vez nas produtivas regiões do sudoeste goiano, onde sobreviveria plantando soja e milho. Ia até bem na vida, mas um dia tudo se foi por “água a baixo”, pois começou a dever pra muita gente e se enroscar com a justiça local, e o jeito foi fugir da Vila Tamanduá da próspera cidade de Mandruvá. Passou a viver de roça em roça, de cidade em cidade, mas certo dia quando vagava pelo centro da cidade de Mamoeiro, sem as suas inseparáveis peças, o famoso alforje que carregava sobre os ombros e uma algibeira, todos vazios, e ao seu lado, o cão Peralta e mais nada. Diante de um redemoinho que surgiu do nada, sentiu-se como se fosse uma simples folha papel. E sufocado por uma densa poeira, sentiu o seu corpo rodopiar-se e ser engolido junto com o de Peralta e outros incontáveis pedacinhos de papel. Tentou escapulir, mas de nada adiantou. Sucumbiu-se à força daquele vento e ao próprio desalento. Junto às sobras dos papéis recortados e sacolas voadoras levadas aos céus, Zé Bigorna desapareceu transformando-se apenas em mais que uma obra efêmera da natureza. Tão efêmero como aquele vento circulante que formava um redemoinho.

Nem bem longe dali vivia um tipo estranho e sempre usava um gorro na cabeça, jeito de quem dominava a natureza e caminhava em direção à rua poeirenta. Era matuto como Zé Bigorna, como aquelas pessoas que descambam para a cidade e para sobreviver faz de tudo um pouco. Estabelecera na cidade de Mamoeiro exercendo uma função também estranha e só se firmava quando os ventos eram bons e fortes, pois como dizia o povo: o danado era criador dos redemoinhos e chamado “filho do vento”. Com sua força sobrenatural viu a aristocracia, vestiu a fantasia e tornou-se um ser surreal naquela região, principalmente quando os ventos mudavam de rumo, pois ao invés continuar girando sobre si aquele ser estranho tornou-se um encantador em ruas e campos poeirentos. Diziam que lutou muito para escapulir do feitiço, mas não conseguiu safar-se e nem mudar a direção do vento, pois mesmo sendo feiticeiro, começou a entender que a vida destoa, voa, assim como ele, Redemoinho, o filho do vento.

E por falar em redemoinho, não tão diferentemente do filho do vento, ele surge quando há aquecimento em determinado ponto, transferindo-se esse calor à porção de ar que está parada logo acima dele, e, quando atinge uma determinada temperatura, esse ar sofre rápida elevação, subindo em espiral e cria um mini centro de baixa pressão, ganhando velocidade e acaba levantando a poeira do solo, fazendo com que um funil de “sujeira” se torne visível. Pois bem, o estranho de nome Redemoinho parecia conhecer de tudo isso e dizia as más línguas que ele era realmente o filho do vento. A população sabia que a grande euforia dele era quando surgia o vento que vinha do sul, seja para fazer o bem, ou para o mal. Todos tinham certeza de que o vento sul era o seu pai e que, com sua força descomunal, levantava poeira, sacudia mares, brincava com os oceanos e fazia surgir grandes ondas todas em redemoinho tudo como forma de homenagear o filho

Ouvindo essa história ou estória sei lá, como escritor e poeta, passei entender o fascínio que tenho pelo vento, até mesmo quando ele abate os galhos das árvores e faz planar as folhas secas caídas no chão. Sempre que o vejo soprando, seja forte, manso, ou em redemoinho, me vem o desejo de parar num campo aberto e arremessar o meu chapéu para o alto só para ver qual direção ele tomaria, mas sempre esperançoso de que o sopro do vento me levasse junto e me deixasse num lugar qualquer, e que a distância não apagasse a minha existência No fundo entendia que não era necessário compreender quando o vento sopra em nossa direção, mas saber que a razão é capaz de compreender o sucedido, pois as feridas no coração com o passar dos tempos já estão extremamente profundas. No entanto, para mim não me importava qual direção ou distância o vento nos levaria, só sabia que eu iria junto com meu chapéu. Sem volta.


 
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