Amigo leitor (a)

Amigo leitor (a). Quando lemos um livro, ou qualquer texto, publicados ou não, que são sinônimos do prazer, por mais simples que forem, sejam reais ou surreais, nos permite exercitar a nossa memória, ampliar nossos conhecimentos e nos faz sentir as mais diversas emoções, por isso, sensibilizado, agradeço a sua visita ao meu Blog, na esperança de que tenha gostado pelos menos de um ou que alguns tenha tocado o seu coração. Noutros, espero que tenha sido um personagem principal e encontrado alguma história que se identificasse com a sua. PARA ABRIR QUALQUER CRÔNICA OU ARTIGO ABAIXO É SÓ CLICAR SOBRE O TÍTULO OU NA PALAVRA "MAIS INFORMAÇÕES. Abraço,Vanderlan

Voando sem asas.

terça-feira, 27 de novembro de 2012


Sentado no moirão da porteira agucei meus olhos rumo ao horizonte no afã de enxergar o imprevisível. Aos poucos o brilho do sol foi desaparecendo e o céu não querendo estragar aqueles momentos de prazer ofereceu-me a lua, que soberba, nascia detrás dos montes. Abri a janela de minha alma e rocei com meus pensamentos as relvas úmidas da vida sem precisar me privar de admirar os últimos resquícios do pôr sol. A beleza da natureza era um bálsamo para o meu espírito inquieto, mas transparente como a uma bolha de sabão, que muitas vezes levou meus sonhos certos e incertos, imagináveis e inimagináveis, como se fosse uma nave espacial desgovernada e sem plano de voo.

Quantas lembranças vieram à minha mente. Naquele mesmo moirão, ainda menino, aprendi vislumbrar o bonito que céu oferecia. À noite que tinha medo da escuridão enchia-se de estrelas reluzentes; o dia renascia carregado de nuvens brancas feitas flocos de lã, parecendo carneirinhos, e quando se tornavam escuras prestes a desabarem em temporais, nem me importava, pois tudo me ensinou que beleza existe em qualquer desses céus.  Muitas vezes o tempo passa veloz sem a gente perceber, mas, Deus percebe e está presente em todos os nossos momentos de dificuldades, fraquezas, sucesso e insucesso. É Ele que faz o sol brilhar, que faz a noite cobrir de estrelas o céu que hoje volto a admirar com meus olhos no mesmo lugar. É Ele quem dá o frio do inverno, as chuvas e o calor estressante do verão; faz as folhas secas de outono cair, e a fascinante primavera encher-se de flores e despedirem-se deixando saudades nos primeiros solstícios de verão.

Então, hoje, pare, pense, reflita sobre si mesmo. Tem um poeta dentro de você basta querer. Os poetas têm alguma coisa em comum: têm os pés na terra, mas seu olhar, seu coração, seu pensamento estão cravados no céu, e assim, não pense duas vezes, crave o seu e mire o azul do céu, ouça os cânticos dos pássaros, aprecie a lua e todo o seu esplendor e aí escreva o que sentiu. Escreva o que fluiu de seu pensamento e terás a certeza de que sua alma renascerá e começará a viver o bonito, o prazer que vem das palavras e todos te entenderão. Não tenha preguiça física ou mental. Fale coisas que possamos entender, sejam reais ou imaginárias. Quando ler meus escritos, mesmo sendo de tempos idos, com as páginas amareladas pelo tempo, podem até parecer que foram escritos dias atrás, mas não foram, porque aquilo que imaginamos será atualizado pelo próprio tempo e os manterão vivos e reais.

Se sempre ler e escrever suas fontes de inspiração nunca se dissipará. Ao devorar livros, engula-os saboreando toda a escrita que sua mente percebeu que possa vitaminar o seu saber. Aos poucos, sua ânsia por coisas novas crescerá a ponto de todos os livros te encantarem, despertarem em você aqueles olhos que outrora não varavam sequer dez páginas, enquanto outras pessoas devoravam várias. Ao ler, faça compassadamente. Seu pensamento voará às alturas e absorverá o néctar da sapiência e aí, tudo se tornará mais fácil e a inspiração poética fluirá naturalmente.  Quando você começar uma frase mesmo sem nexo, pode ter a certeza que ao final, revisando cada palavra, você finalizará com sucesso o seu texto, portanto, não se aquiete, pegue uma folha de papel ou sente-se à frente do seu computador, use o teclado e digite. Pense no mundo que o rodeia, pense naquela beleza inspiradora que a gente destacou no preâmbulo, e fazendo isso, notará que seus dedos correrão a uma velocidade incrível e martelarão as teclas com desenvoltura e no monitor, aparecerá automaticamente um amontoado de palavras e nelas, brotarão sentimentos que só um poeta é capaz de sentir e ter a inspiração necessária que certamente, jorrará aos borbotões e que serão gravadas em sua memória para sempre.

Hoje estou voado sem as asas da imaginação porque achei não ser necessário usá-las. Porque em toda parte encontro palavras para lhe incutir o saber. Sabemos que até para se entrar numa Universidade um dos pontos prioritários é saber escrever, é interpretar textos. Então porque não exercitar a memória e saber que tudo está sobre o seu alcance e você com vontade de aprender. Existem as realidades e mistérios decorrentes de cada coisa escrita, por um mínimo que seja e não importa o autor, sempre existirão. Realidades e mistérios dos quais agora também você fará parte se começar a escrever. É claro que vamos entender quando escrever o seu primeiro texto, romance, contos, crônicas ou poesias; entender de que não existirão neles como realidade, o palpável, mas sabendo que existirá a importância do começo e a partir daí viverás a dimensão do seu próprio saber sem precisar de asas para voar.

O cego e o vaga-lume

terça-feira, 20 de novembro de 2012


Ninguém melhor que aquele cego sabia como fluir. Usava movimentos coordenados, sensitivos, ponteava sua bengala de alumínio sobre o chão com um propósito de achar o equilíbrio entre a luz e a escuridão. Também, ninguém melhor que o vaga-lume para entender o quão importante é para ele a noite e que todo seu ciclo começa justamente com a escuridão, assim como a noite é o começo do dia e dá lugar à sua luz, o outro ciclo vale somente para despertar o mundo ao amanhecer. Aqueles que enxergam, mas se mantém escuridão, não estão cônscios de onde estão, ou que existe uma presença de luz com que eles podem se conectar, mas, insensíveis, não conectam. É como se estivessem com os olhos vendados sem o real desejo e a coragem de tentar retirar a venda. Diferententemente do vaga-lume o cego vive a escuridão, mas está cônscio do lugar em que se encontra, não importa o lugar, seja dia ou noite; ele tateia paredes, ouve sons e vozes e sabe onde está; sobe escadas e ainda tem a sensibilidade de enxergar aquilo que a gente não vê. Como diz o ditado popular: “O pior cego é aquele que não quer ver”, porque ver o que é óbvio todo mundo consegue, e assim podemos afirmar que vivemos num mundo onde a aparência e o status contam muito. Mas, é pura ilusão! Uma satisfação temporária. Muitos não veem que os sentimentos são coisas mais preciosas e duradouras do que o egoísmo e a mesquinharia que estão embutidos na ambição de se dar bem a qualquer custo, mas que, como num flash sabem que pode desaparecer num pestanejar de olhos.

O vaga-lume desfaz toda essa teoria de cegueira humana, pois quer enxergar, não obstante tenha apenas a noite para testemunhar a sua luminosidade. A luz que sai do seu corpo na verdade, são “lanternas” que usa para iluminar o habitat onde circula. A luz que emite é contínua. Na lanterna torácica, a luz tem uma tonalidade esverdeada. Na lanterna abdominal, é amarelo-alaranjada. Então sob este prisma, a experiência vivida pelo cego e o vagalume precisa ser concluída com eficácia antes que possa haver um ensaio de luz e enseje uma progressão gradual da escuridão para que ela aconteça dentro de cada um de nós, de acordo com o nosso desejo e do nosso poder-viver na escuridão.

Certa noite, ao descer do ônibus, o cego perdeu o seu trajeto costumeiro e andou a esmo. Passou pelo mesmo caminho várias vezes. O vaga-lume observava aquele transeunte que manuseava uma vara com uma ponta de alumínio para se locomover e condoeu-se. Convocou outros vaga-lumes formando um verdadeiro exército e centenas de lanterninhas iluminaram a estrada. Sensitivo, que é peculiar aos cegos, contornou a estrada, voltou ao seu trajeto normal e em poucos minutos já estava abrindo o pequeno portão. Foi uma demonstração clara de que não queria ser “o pior cego” tão decantado pelos preconceituosos, que muitas vezes cegam-se diante do seu próprio mundo, tornam incapacitados, limitados ao ponto de não conseguirem repensar suas vidas ou falar sobre si mesmos. A ação dos vaga-lumes e o cego mostram quão poderosos podem ser a escuridão, uns temem a luz porque acreditam que se trocarem a escuridão pela luz, precisam também trocar o poder pela fraqueza. Outros nunca fazem essa escolha não obstante saber que esse é o seu papel na Terra, porque há os que precisam manter a escuridão, visto ser uma escolha que cada um pode fazer, e a escuridão precisa estar presente para equilibrar a luz. Cada um tem o seu contrato firmado com o destino, e o compromisso para o bem servir, e isto é pura verdade. 

Há pessoas que só escolhem a luz porque temem a escuridão. Há pessoas que adotam a paz e a quietude da luz, mas ignoram o seu poder, porque acreditam que o poder faz parte da escuridão. Entretanto, ambas as energias têm poder, mas, ditam normas e modos diferentes. O poder da escuridão é controlador e maléfico ao ser humano; o da luz é solidário e bondoso. A escuridão governa por meio do medo, endivida-nos com o mal e nos leva ao divã; a luz reina através da natureza divina que não exige dispêndio. Então, pode-se afirmar que, se a pessoa humana souber receber a verdadeira luz, se tornará poderosa e lhe permitirá brilhar como o vaga-lume faz no seu habitat.

Sabemos que a escuridão cumpre a sua finalidade, como o de fazer brilhar os vaga-lumes, as estrelas, a lua, as lâmpadas, os faróis e cada coisa no Universo. O seu propósito é alinhá-los internamente com o seu ego e assim a luz se expande para o seu espírito. A escuridão faz com que se lembrem das limitações e controle pessoal como aconteceu com aquele cego; a luz é ilimitada e os convida a render-se. Eu já me rendi. Então pergunto: Qual é a sua escolha mais poderosa? É essa que é a realização de cura e do desejo de totalidade da sua alma a cada momento, que pode ser escuro ou claro, ou ambos. Não julguem as suas escolhas e não seja como aquele que mesmo sabendo existir alguma coisa não quer ver, ou então, tente pelos menos permanecer com a consciência naquilo que deseja criar e deixe que as energias fluam, luz e escuridão, à medida de sua própria realidade, do jeito que sempre sonhou em viver na Terra, mas sabendo que o nosso Pai Celestial pede, a livre arbítrio, que você acolha essa luz em toda sua plenitude. 

O Vacilão

terça-feira, 13 de novembro de 2012


Ildo Marcel sabia escrever e bem. Algumas vezes lia com curiosidade parte de jornais que achava jogados nas calçadas e fazia algumas notações no seu caderno comentando sobre as notícias e cenas horripilantes do dia-a-dia, retratadas em letras e fotos garrafais. No seu pequeno caderno tinha a sensibilidade de descrever, mesmo nas horas mortas, as sombras que se movia nas esquinas, sobre o cheiro das flores que vinham dos jardins e o gosto dos frutos que retirava dos quintais. Com a caneta presa na orelha, caminhava olhando para os lados, arqueando as sobrancelhas grossas, enquanto os cabelos anelados nem se mexiam com o vento. Há dias não os lavavam. Em cada vulto, procurava retratar a sua mãe, a quem não via há mais de cinco anos. Cabisbaixo e com a saudade estampada no rosto, deu uma baforada, escondeu o cachimbo no tronco de uma árvore e seguiu em direção ao Condomínio Residencial que ficava a pouco mais de dois quilômetros do centro cidade, forçando a perna esquerda prejudicada por uma paralisia infantil. Sabia que a sua mãe e irmã ainda moravam lá, mesmo diante das dificuldades financeiras.

Cansado de tantas andanças, Ildo tomou uma decisão. Resolveu voltar para casa, pedir perdão e viver ao lado da mãe. O suor escorria pelo rosto enquanto espremia as mãos, deixando à mostra as unhas sujas de terra e manchas escuras sobre os dedos deixadas pela fumaça da maconha que saiam do seu adaptado cachimbo. Perambulando pelas ruas às vezes conseguia um cantinho para dormir mais tranquilo, sem a perturbação de outros meninos de rua que muitas vezes queriam esculachá-lo, mas, esperto, sempre conseguia se safar.

Pensava muito na sua mãe e queria estar com ela. Sabia que ao deixá-la para procurar a tão sonhada liberdade, fora um vacilo seu. Morou nas ruas, drogou-se.  Sentiu raiva e saudade, e às vezes, dominado pelo vício, chorava. Começou a sentir-se só e ele tinha consciência da burrada que dera. Tinha um lar perfeito, uma mãe carinhosa, mas os “amigos” o drogaram e convenceram-no a ter a tão propalada liberdade. No caminho de retorno, furtou de um quintal uma camisa e trocou com a sua já maltrapilha que também furtara há meses. Com a calça caindo sobre a bunda e tênis surrado, continuou andando pelas ruas e avenidas enquanto o povo o olhava com certo desdém. Sentia-se um “João Ninguém” e até o sol que queimava o seu rosto imberbe parecia indiferente. 

A maior parte do tempo ficava usando drogas para esquecer a vida, roubava para manter o próprio vício, apanhou e estava sempre sendo observado pelos traficantes e os olhos sisudos da lei. Foi preso por uso de drogas e depois que saiu do reformatório logo voltou para a rua. Dizia alto e em bom som que não era passarinho para ficar preso em gaiola. Às vezes, ficava vendo garotas e garotos indo à escola, achava bonito e até pensava que se tivesse ido talvez a sua vida fosse diferente e hoje não estaria usando drogas, roubando e dormindo em becos sujos, entregue a própria sorte e de certa forma, esperando a cortina do tempo se fechar sem antes tomar uma atitude de mudança. Ainda era em tempo, pois tinha apenas dezesseis anos e ademais, era herdeiro de um lar que outrora vivia em crise, hoje não.

Ao entrar na casa viu sobre a estante a fisionomia de uma infância feliz imortalizada numa fotografia: Era ele de cabelos castanhos encaracolados, com oito anos de idade, fazendo pose em cima da porteira de uma fazenda que sequer lembrava qual. O sorriso eternizado no único retrato de sua infância conta um pouco de sua história. A foto foi tirada dias antes da separação dos pais, uma perda não superada pelo menino. Com a separação começaram as fugas que se tornaram rotina. Era jovem demais para entender. A sua mãe tentou explicar o motivo da separação. O marido era alcoólatra, agressivo, lhe batia e perdera o emprego em razão do alcoolismo. Era visível que as marcas da violência incomodavam sua mãe toda vez que ela se olhava no espelho. 

Ildo, mesmo arredio, recebeu o abraço carinhoso da mãe. Depois subiu aos aposentos e tomou banho, deitou-se sobre o lençol branco estendido sobre a cama. Depois, diante do sorriso angelical de sua mãe, saboreou o que gostava: arroz carreteiro, feijão preto e um suculento frango a molho pardo com pequi. Ainda arredio subiu novamente ao quarto, olhou pela janela e viu o dia ser engolido pela noite e cansado, deitou novamente sobre a cama. Dormiu. Quando despertou, começou a desenhar tudo o que vira durante o lapso de tempo em que se tornara um menino de rua. Usando formas coloridas, reproduzia com fidelidade os detalhes de cada peça, as copas das árvores floridas e suas sombras, sejam formadas pela luminosidade solar ou pela lua; reproduzia os meninos e meninas de rua deitados sobre as calçadas, os canteiros das praças e jardins, as aves que se alvoroçavam nos galhos, as quais, alegres e cantantes, pareciam querer motivá-lo a lutar pela vida, mas, tudo de certo modo parecia ser em vão. Deixou os desenhos de lado e mirou a mochila que estava sobre a escrivaninha. Abriu-a. Manuseou os velhos cadernos e junto deles colocou aquele que carregara durante aqueles anos. As aulas começariam na segunda-feira, Ildo ficou pensativo por instantes e aí, repentinamente, sentindo um desejo incontrolável que lhe produzia suor, ansiedade e que corroíam suas entranhas, pegou a mochila, olhou pela janela e antes do sol se pôr, surrupiou alguns reais na bolsa de sua mãe e fugiu. Da nada adiantou o carinho dela. Vacilou mais uma vez. Lá fora, algo mais poderoso o esperava, não resistiu à falta do famigerado crack. Meses depois a televisão noticiava sobre um corpo franzino que jazia num beco escuro com uma perfuração no peito, apenas uma bala tirou-lhe a vida. Era Ildo que vacilou mais uma vez não pagando a um traficante.


Simplesmente Cansei!

terça-feira, 6 de novembro de 2012


Hoje levantei sem otimismo e não conseguia ver as coisas do modo que elas são. Senti-me cansado e ”p” da vida. Cansado de tudo, do mundo real, do palpável, do prático, do imaginário, do surreal. Cansei da visão fantasiosa sempre contrária ao mundo real. Cansei do trabalho maçante e de tudo aquilo que estressa; cansei de reclamar do errado e das coisas erradas, cansei daqueles que fazem denúncias vazias, caluniosas, difamatórias e não enxergam o seu próprio umbigo ou o umbigo do Órgão, Entidade ou Ministério em que trabalham. Cansei da escada tortuosa construída até aquele andar onde esperava alguém descer, apenas descer. Cansei de passar pelo mesmo trajeto onde passam os imprudentes que irresponsavelmente fazem zigue-zague com seus veículos na avenida. Cansei do bonito que a natureza mostra, mas sempre é desrespeitada; cansei da ilusão de beleza que se vê em cada rosto. Cansei, cansei mesmo! Cansei das mesmas notícias que são veiculadas diariamente nas telas de TV e das novelas que levam mau exemplo aos lares brasileiros. Cansei da leitura de páginas de jornal, das vozes de alguns radialistas e apresentadores que judiam de nossa língua portuguesa, as quais surfam nas ondas do rádio maltratando nossos ouvidos. Cansei das desgraças que são repetidas nessas parafernálias eletrônicas, onde uns copiam cenas de outros e outros, querendo ser mais engenhosos, encenam o mesmo ato criminoso só que usam apenas outras posições, fazem montagens inversas, destacam o choro em outros tons e destoa a comoção no verso e anverso da fita gravada. Destacam um surpreendente julgamento que ao final sabem que ele poderá tornar-se uma pizza, recheada de votos “pensados”, extraídos de códigos defasados que são descritos na plácida sentença que se o povo tiver juízo não aceitará. Cansei da forma em que retratam a comoção de um povo, do falso novo, do falso velho e principalmente, do anverso dos dois porque quando colocados inversamente são definidos pelo Aurélio como falsos. Cansei do que os olhos são capazes de enxergar perto ou à longa distância. De perto, tenho que usar óculos de grau, e isto me cansa; de longe, enxergo coisas que não deveria enxergar; coisas que não presta e aí me constranjo, canso.

Hoje eu quero é algo diferente que vai além daquilo que penso. Quero o poder da premonição, de ver o futuro, sem desfazer do presente. No teatro da vida quero a inversão de papéis entre atores e atrizes, sem que haja a inversão de valores e o texto na tela interpretado não vire realidade e a realidade mostrada, não vire sonhos amorais ou imorais, e se virarem, que sejam distante de minha realidade. Entendo que devemos respirar novos ares, ter novos hábitos, ideias, emoções, desejos, pensamentos, isto é tudo que quero. Quem sabe se isso vir a acontecer tudo possa ser diferente em relação ao que temos hoje, se não pudermos ter, então serei obrigado a desejar que o hoje renasça novamente.

Mas, quão difícil ser diferente e não cansar de tudo. Quando chegamos à casa a primeira coisa que ouvimos é o zunido do elevador, o tic-tac do relógio, a torneira que mesmo fechada insiste em soltar gotas fazendo barulho sobre um vasilhame, um som rouco: tum... tum..., nem paro para contabilizar os ruídos. É justo. Estou cansado. Nunca importei muito com o que acontecia ao meu redor, mas, hoje, dou atenção aos mínimos detalhes. É o cansaço. Quando sento à mesa e sirvo-me com um pouco de café adoçado com algumas gotas dietéticas e pão francês, então aí me acalmo. Ainda bem que a gota dietética é silenciosa.  Tomo o café e com um sorriso inacabado ligo a TV. Novamente aparecem as desgraças de ontem reprisadas hoje. Mudo de canal e lá vêm outras notícias e digo: espera ai! Eram as mesmas cenas do outro canal, e então percebo que a minha mente poderia estar atabalhoada. Aquela reprise não era real. Desligo a maldita TV. Vou ao quarto e olho no espelho para ver se estava apresentável, pois o trabalho me esperava. Mirei fundo nos meus próprios olhos que se arregalavam diante do espelho e vi-me vítima da rotina que eu mesmo criei. Eles também estavam cansados. Coloquei a gravata e sai. Pode ter sido só mais um dia ou poderá ser o último se pudesse prever o meu futuro, mas o que importa é que eu nada planejei.

Quando disse no preâmbulo que cansei do imaginário, não posso afirmar isso em relação aos amigos e amigas imaginários, pois eles são como os sonhos: estão com a gente aonde quer que estejamos; aonde a gente quer estar, e ninguém pode podá-los ou impedi-los de existir, pois só nós o vemos e acreditamos neles. Os amigos que me acompanham pelas ruas solitárias da vida nunca me deixam no meio do caminho e me impedem de ficar sozinho, porque somos pessoas que correm atrás de um propósito, de um desiderato para continuar andando em busca de um caminho cheio de luz, não só os iluminados pelos raios do sol ou pelo os da lua, mas também, em busca daquela luz que brota dos lindos olhos de alguém, alguém que nos espera diariamente e nunca nos cansará. À bem da verdade, acreditar no improvável, no impossível e no imaginário sempre foi meu norte. É bom viver no mundo dos sonhos, mas hoje eu cansei.

Realmente cansei. Parece que estou com uma grade em meus olhos. Uma grade embaçada que me impede de enxergar e de ver o óbvio. E assim sou obrigado a me manter parado, sem dar um passo à frente ou para trás, talvez por medo de cair num precipício que a própria vida constrói. Essa grade está repleta de memórias insolúveis, indecifráveis, uma grade que me isola do mundo, que impede meu coração de bater como antes batia. Tudo isso me fere. Neste lapso de tempo posso ter caminhado por estradas tortas e deitado sobre relvas sombreadas por galhos secos de árvores milenares, sem esperança de obter certezas e ouvir melodias tocadas e cantadas por alguém que não existia e que eu mesmo inventava. E olha que me preocupo com o vozerio de vozes e sons que vem das ruas, do zuído do elevador, de cada gota que cai da torneira, do chuveiro, do tic-tac do relógio ou dos noticiários dos jornais, rádios e TV, mas, tudo isto, não faz de mim um ser insensível, incapaz de enxergar o sorriso angelical de alguém ou as lágrimas que saem dos olhos da minha amada que dada a sua firmeza de espírito jamais as deixa cair ao chão. Leitor, não se deixe sangrar por essas palavras. Não se deixe sangrar mesmo, pois no fim a verdade sempre aparecerá, e as que tento expressar, pode ser apenas uma situação momentânea a mim postergada por alguma coisa surreal ou um ente estranho, que me cansou e fez com que eu criasse situações fantasiosas extraídas de um mundo que não se sabe se é ou não real. 

 
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